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abril 28, 2009
Aos interessados na elaboração de políticas públicas para as Artes Visuais por Tatiana Ferraz
Plano Nacional de Artes Visuais
Aos interessados na elaboração de políticas públicas para as Artes Visuais,
Recentemente fui procurada para retomar as deliberações ocorridas junto à Câmera Setorial de Artes Visuais sobre a formatação de diretrizes e linhas de ação que integrarão o Plano Nacional de Cultura (em cujo processo muitos de vocês colaboraram direta ou indiretamente).
Para quem não sabe, o processo foi ativado pelo próprio governo que deu abertura para que a sociedade civil e membros da classe artística reunissem um conjunto de idéias e reivindicações a serem encaminhadas por um representante eleito (em cada núcleo regional do pais onde se dessem as discussões) nas reuniões nacionais das Câmeras Setoriais. Após aproximadamente um ano de discussões no âmbito regional, os representantes trataram de reelaborar conjuntamente um documento que reunisse os principais pontos elencados pela sociedade civil e por agentes culturais (dentro do universo das Artes Visuais), ao longo de cerca de seis meses de trabalho com reuniões ocorridas na Funarte (RJ) e no MINC (Brasília). Obs.: Para quem se interessar, existe um breve histórico das CS no documento anexo.
O resultado do processo de trabalho junto às Câmeras Setoriais foi encaminhado ao MINC, ao que este ficou de reeditar o documento considerando sua adaptação a uma “linguagem técnica” que pudesse transformar futuramente as diretrizes em leis.
Eis que há uma semana o governo federal encaminhou uma minuta do Pré-Plano Nacional de Artes Visuais, elaborado a partir dos resultados obtidos na respectiva Câmara Setorial, e revisada pela equipe ministerial. Para que vocês tenham uma idéia dos resultados, anexo a minuta neste e-mail, contando com a apreciação e manifestação de todos. Peço que divulguem este documento para interessados.
Atualmente, o MINC dispõe de um novo coordenador, o qual convocou os representantes das CS para a Reunião do Colegiado Setorial de Artes Visuais em Brasília no início do mês de maio:
Gustavo Vidigal
Coordenador-Geral do CNPC (Conselho Nacional de Política Cultural)
Ministério da Cultura
61-3316-2237/2096 ou cnpc@cultura.gov.br
Infelizmente não poderei tomar parte nesta empreitada como representante temática da CSAV (tema da ”Assimilação social”), por motivos de saúde (atualmente gestante de 8 meses). Sendo assim, solicitei ao coordenador que disponibilizasse os resultados da próxima reunião no site do MINC, ao que me respondeu que podemos acompanhar pelo endereço: www.cultura.gov.br/cnpc
Espero que o governo tenha fôlego (e nós também) para levar a empreitada adiante!
Abs a todos,
Tatiana Ferraz
Clique aqui e baixe o arquivo com o Plano Nacional de Artes Visuais.
Debate da Folha sobre a Lei Rouanet no YouTube
Debate promovido pelo jornal Folha S. Paulo, originalmente publicado pela WebTV Cultura e Mercado no Youtube.
A Folha promoveu no dia 2 de abril um debate sobre a reforma da Lei Rouanet com a participação do ministro da Cultura, Juca Ferreira. Também fizeram parte da mesa o secretário da Cultura do Estado de São Paulo, João Sayad, o diretor da Apetesp (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de SP), Paulo Pélico, o superintendente de Atividades Culturais do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron, e o consultor de patrocínio empresarial, diretor-geral da Significa e da Articultura, Yacoff Sarkovas.
Arte para toda parte por Beth Carvalho, Ivaldo Bertazzo e Lula Quiroga, Folha S. Paulo
Matéria de Beth Carvalho, Ivaldo Bertazzo e Lula Quiroga originalmete publicada na seção Opinião no jornal Folha S. Paulo, em 27 de abril de 2009.
Chegou finalmente a hora de colocar a cultura no centro do debate político e da discussão sobre qual país queremos construir
AS ARTES são o oxigênio da cultura de um país. No caso do Brasil, refletem a grande diversidade de nosso povo. Refletem as vivências no campo, nas metrópoles, nos periferias, na floresta, na caatinga, no cerrado e no pantanal. São também um de nossos principais produtos de exportação e, com o futebol, o que nos identifica em todo o mundo como um povo original e único.
Um patrimônio dessa qualidade precisa de um incentivo econômico à altura de sua importância. Precisa também estar na ordem do dia do debate público nacional e das definições estratégicas de nosso país. E deve ser visto como um elemento vital para nosso desenvolvimento como nação num mundo em que a produção simbólica e de conteúdo ganha importância econômica. Principalmente em um momento de crise financeira como o que vivemos agora -em que a produção cultural pode ser um dos elementos para alavancar o crescimento do país.
Uma política de Estado para as artes deve levar em conta tudo isso e, mais, garantir a valorização dos nossos artistas consagrados ao mesmo tempo em que amplia as oportunidades para quem está começando. Nas periferias, nos centros urbanos e também no interior, em todos os cantos do Brasil surgem a cada dia novos talentos. E que, muitas vezes, não têm acesso aos recursos públicos de incentivo à cultura. Para dar oportunidade a todos esses artistas, chegou a hora de atualizar a Lei Rouanet. Precisamos de um instrumento legal que permita novas formas de fomento para a cultura, especialmente para as artes, que permitam uma gama maior de recursos para o setor.
A renúncia fiscal é um mecanismo importante, mas nitidamente insuficiente para dar conta da quantidade e diversidade de demandas culturais de nossos músicos, produtores, artesãos, dançarinos, atores, diretores, artistas circenses e de tantas formas de expressão de nossa diversidade de sermos brasileiros.
Em todo o país, o enorme volume de projetos aprovados no Ministério da Cultura e que não conseguem captar recursos é uma prova viva dessa insuficiência. É necessário, portanto, oferecer novas oportunidades de financiamento para todos os tipos de artista.
A proposta do governo federal para a reformulação da Lei Rouanet está aberta para consulta pública, numa grande e inédita convocação ao debate democrático.
O acesso aos recursos públicos precisa ser qualificado a partir de critérios de avaliação transparentes, específicos para cada setor e região de atividade cultural. Discutir esses critérios à luz do dia, como estão propondo o ministro Juca Ferreira e sua equipe em todas as suas aparições públicas, é um expediente democrático da maior importância para a saúde da República. E nós, artistas, estamos e continuaremos participando disso.
Outro avanço é a criação do Fundo Setorial das Artes, que deve fortalecer o financiamento de projetos de diferentes áreas, como música, dança, artes visuais, teatro e circo.
Assim como vem sendo feito pelo Fundo Setorial do Audiovisual. Mas esperamos que os projetos sejam avaliados por nós próprios, artistas, produtores e especialistas com vivência específica de cada linguagem artística.
Consideramos necessário, também, fortalecer o orçamento público da cultura no Brasil. Oxalá o Congresso Nacional seja sensível a essa necessidade e aprove a proposta de emenda constitucional 150, que exige dos governos federal, estaduais e municipais um mínimo de investimento em cultura.
A cultura sempre fez parte do dia a dia de todo cidadão brasileiro e vem ganhando cada vez mais peso na economia do país. Chegou finalmente a hora de colocá-la no centro do debate político e da discussão sobre qual país queremos construir. E essa conquista é uma missão de todos nós: artistas, público, produtores, trabalhadores da cultura, governo e patrocinadores.
A discussão da nova lei de fomento à cultura é a consagração desse esforço. Esperamos que a sua aprovação pelo Congresso Nacional também o seja.
BETH CARVALHO , 62, é cantora.
IVALDO BERTAZZO , 58, é coreógrafo e diretor.
LULA QUEIROGA , 48, é compositor e cantor.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Resposta do MinC ao artigo do secretário-geral da Fundação Roberto Marinho
Texto originalmente publicado no site do MinC, em 27 de abril de 2009.
O secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, escreveu artigo em O Globo sobre a Nova Rouanet. A íntegra do texto foi publicada há dias na página do MinC.
Abaixo, seguem alguns trechos, também com a visão do MinC.
“A fricção provocada pelo calor de uma discussão pode gerar luz, mas também um incêndio de lamber o prédio inteiro. O bem-construído edifício da Lei Rouanet pede reformas, é certo, mas, na ânsia de discuti-las, ideias são misturadas, água é confundida com gasolina, boas soluções são apontadas como causas de problemas com os quais não têm ligação. Nessa hora, um mal-entendido pode ser a fagulha fatal, que destrói o prédio e paralisa a atividade cultural brasileira (história trágica, que vivemos no governo Collor, cujas feridas assopramos até hoje).”
Visão do MinC: Concordamos de partida em um ponto: “o bem-construído edifício da Lei Rouanet pede reformas”. O calor da discussão sobre a Nova Rouanet, no entanto, vem gerando mais luz que fogo. Além do mais, processo à luz do dia de consulta pública pela internet e a discussão que ainda virá no Congresso Nacional permitirão que nenhuma fagulha destrua esse prédio.
“Ao defender o seu projeto que visa a substituir a Lei Rouanet, o ministro da Cultura disse a uma plateia de produtores culturais no Rio: “Apenas 3% dos usuários da lei ficam com 50% dos recursos.” E em seguida: “Vejam os casos do Museu do Futebol e o da Língua Portuguesa: feitos com recursos públicos da lei de incentivo e divulgados como projetos privados.” Donde se conclui: os dois museus seriam usurpadores do dinheiro público.
Visão do MinC: Em seu contexto original, as duas declarações não têm ligação entre si. A visão do Ministério da Cultura não é de que os dois museus não são “usurpadores do dinheiro público”. No entanto, não há a percepção popular de que projetos e obras realizadas por meio da renúncia fiscal são fruto, sim, de dinheiro público.
“Há distorções no setor cultural brasileiro? Claro que há. A Lei Rouanet é a culpada? Claro que não. Talvez seja, senão uma rima, uma solução. A Lei Rouanet trabalha em duas dimensões: a do fomento e a da renúncia fiscal. Fomento é a aplicação direta de recursos via Fundo Nacional de Cultura. Renúncia é quando parte do Imposto de Renda, em vez de ir para o fisco, vai para um projeto aprovado pelo próprio MinC. Fomento serve para equalizar as distorções ou carências do mercado; renúncia serve para induzir o mercado a se interessar pelo setor. Ambos combinados, como na lei atual, e se bem calibrados pelo gestor, são a solução: este engenhoso mecanismo dinamiza o setor e, por sua pulverização, impede qualquer dirigismo por parte do governo vigente; já o fomento, controlado pelo Estado (governo mais sociedade civil), corrige distorções, estimula novas linguagens, a formação de talentos e a cultura popular. As ferramentas atuais possibilitam isso. Cabe indagar por que não ocorre, mesmo na área de fomento, apesar do forte desejo do ministro.”
Visão do MinC: A Lei Rouanet não é a causa inicial das desigualdades regionais do país. No entanto, não é papel de uma política pública reforçá-las. A aplicação de dinheiro público na cultura, via renúncia fiscal, é pior que a distribuição de renda.No caso do Fundo Nacional de Cultura, há realmente concentração. Mas ela não chega nem perto da concentração via renúncia.
“Reduzir a atratividade do mecenato e, portanto, o interesse das empresas pelo mercado cultural só interessa a quem acredita que cultura não precisa de mercado. Ou talvez ao Leão. Mas este tem presas mais suculentas, pois a Cultura consome menos de 1,5% de toda a renúncia fiscal do país. É uma opção ideológica, mas é preciso saber se os brasileiros que trabalham no setor, hoje um dos mais dinâmicos do país, concordam.”
Visão do MinC: Não há opção ideológica. O governo federal tem interesse em estimular o investimento privado em cultura. Mas, para isso, é necessário que haja investimento privado. Aplicação com 100% de renúncia não se justifica.
“Imaginem se, no lugar deste, um governo autoritário venha a gerir a vida cultural do país, passando a ter o direito de definir o que é arte e quais projetos teriam “relevância cultural”. Nesse incêndio morreríamos todos. Asfixiados.”
Visão do MinC: Num hipotético e futuro “governo autoritário”, a lei garante que as Comissões Nacionais de Incentivo à Cultura terão espaço paritário para representantes de artistas e empresários para fiscalizar a aplicação de recursos.
Controle cultural socialista por Ipojuca Pontes, O Estado S. Paulo
Matéria de Ipojuca Pontes originalmente publicada na sessão Opinão no jornal O Estado S. Paulo, em 27 de abril de 2009.
Conforme determina cláusula pétrea, um dos primeiros passos de Lenin na rota da "construção do socialismo" dentro da URSS foi estabelecer o controle dos "meios sociais de produção", nele incluído, óbvio, o completo domínio sobre os veículos de comunicação, os estabelecimentos de ensino e a produção cultural. Mas antes de adotar qualquer medida, demonstrando grande senso de objetividade, logo depois de desfechar seguro golpe sobre o governo provisório de Kerensky, o mentor da "ditadura do proletariado" tomou a iniciativa de mandar um bando armado se apossar das chaves do cofre do banco do Estado russo. Ele queria, desde logo, o controle da grana.
(Só a título de ilustração, o historiador inglês Orlando Figes, no seu bem documentado livro sobre a Revolução Russa, A Tragédia de um Povo - Record, Rio, 1999 -, relata episódio, considerado a um só tempo grotesco e brutal, do infeliz diretor do banco oficial que, ao negar a entrega das chaves da caixa-forte ao bando revolucionário, levou um tiro na nuca depois de perder parte da mão, arrancada por uma dentada.)
Ao impor o seu sistema de governo, de caráter totalitário, Lenin, amparado no poder dissuasório da coerção e da violência, tinha por objetivo a tomada (e a destruição) dos "meios de produção e expressão do pensamento burguês" (em russo, burzhooi), tidos historicamente como ultrapassados. Caberia à ordem emergente estabelecer os padrões de supremacia dos valores do pensamento proletário e fazer dos meios de comunicação e da produção cultural instrumentos ideológicos a serviço da propaganda e das metas revolucionárias sob o controle burocrático do Partido Bolchevique (leia-se comunista).
O modelo de "organização da cultura" imposto por Lenin nos primeiros anos do regime, embasados na censura e no patrocínio estatal, só atingiu o patamar da excelência na era Stalin, univocamente voltada para a expansão da ideologia comunista no seio da sociedade. Para consolidar tal projeto e manter o ativo controle do aparato burocrático sobre a difusão das ideias e da criação artística Joseph Stalin, então considerado "Guia Genial dos Povos", não precisou chafurdar muito: ele tinha ao seu dispor, alojado no Comitê Central do Partido Comunista (PC), a figura de Andrei Aleksandrovich Jdanov, o estrategista da política cultural do regime e mentor do "realismo socialista", o preceito estético, de "valor universal", que tinha como princípio comprometer a criação artística - notadamente no cinema, teatro, na literatura, música e pintura - com "a transformação ideológica e a educação do proletariado para a formação do novo homem socialista".
Desde logo, com as chaves do cofre nas mãos, Jdanov disse a que veio: fiel intérprete do espírito revolucionário, deixou a entender que dali em diante a atividade cultural seria uma empresa voltada para a implantação do socialismo. Dentro deste escopo, Jdanov selecionou artistas e burocratas afiliados ao PC e estabeleceu as novas regras para obtenção dos financiamentos oficiais no terreno das artes. Para avalizar os projetos culturais (ou censurá-los) e distribuir as benesses ele fixou critérios, organizou comissões e conselhos e, no controle seletivo da produção cultural, em vez de arte, criou a mais formidável máquina de propaganda jamais imaginada, capaz de fazer o mundo acreditar que Stalin era Deus e que o povo russo, submetido a eternas cotas de racionamento, vivia no paraíso terrestre.
Pensadores e artistas genuínos pagaram caro pelo processo cultural acionado pelo stalinismo, decerto mantido até hoje em várias partes do mundo (vide Cuba, China e adjacências). A partir da "seletividade" imposta por Jdanov no campo da produção cultural, centenas de criadores foram marginalizados da atividade artística. Outros foram presos ou ficaram loucos. Outros tantos foram cortados da lista de distribuição de benesses oficiais e segregados como "formalistas", "reacionários", "cosmopolitas" e "inimigos do povo".
No reino discricionário da cultura oficial soviética, por exemplo, a notável poetisa Anna Akhmátova (para Jdanov, "meio freira, meio meretriz") foi levada à miséria; Maiakovski, ao suicídio; Soljenitsyn e Boris Pasternak, aos campos de concentração. Dostoievski, por sua vez, foi banido das bibliotecas públicas. O próprio Serguei Eisenstein, o inventivo cineasta da propaganda stalinista, amargou o diabo depois que exibiu para o crivo crítico de Stalin a sua versão de Ivan, o Terrível (parte dois), morrendo em seguida.
Em tempos recentes, depois da morte de Stalin, aos preceitos do jdanovismo foram adicionados, no campo da "organização da cultura" socialista, os ensinamentos de Antonio Gramsci (Il Gobbo), teórico comunista italiano, criador da estratégica "revolução passiva". O modelo traçado por Gramsci para a construção do socialismo, em vez do apelo ao mito da força proletária, privilegia o papel da cultura e o poder multiplicador dos meios de comunicação, fundamental para a difusão de um novo "senso comum" no seio da sociedade. Sem a "revolução do espírito", diz Gramsci, "a ser disseminada pelo intelectual orgânico, não se pode destruir o Estado burguês" (leia-se democrata).
No Brasil, ao assenhorear-se do poder, Lula e seus agentes passaram a laborar, dia e noite, aberta ou veladamente, na "construção do socialismo". Para consolidar tal projeto se faz necessária, como o presidente-sindicalista já deixou claro, a expansão do "Estado Forte", em que ao indivíduo cabe pouco mais do que o papel de burro de carga, a alimentar uma colossal e dispendiosa estrutura burocrática.
Na esfera da cultura, desde a proposta de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), em 2004, o governo, sempre tentando o controle total sobre os recursos tomados à sociedade, busca a ingerência direta no processo da criação artística. Nada leva a crer que a atual investida na revisão da Lei Rouanet tenha outro objetivo. Caberia ao Congresso ficar atento a essa ameaça totalitária.
Ipojuca Pontes, cineasta e jornalista, é autor do livro Politicamente Corretíssimos
abril 27, 2009
Vik Muniz e sua pesquisa sobre a imagem interativa por Camila Molina, O Estado S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado S. Paulo, em 23 de abril de 2009.
Artista apresenta no Masp sua retrospectiva de 20 anos de trajetória, que evidencia a relação da fotografia com o desenho por meio de mais de 130 obras
Depois de passar pelos EUA, Canadá e México, a mostra retrospectiva de 20 anos de carreira de Vik Muniz chegou ao Brasil. Primeiro, a exposição foi apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio e, a partir de hoje, é exibida em São Paulo, no Masp, onde será inaugurada para convidados e amanhã para o público. A relação da fotografia com o desenho é o mote principal da mostra, como diz o artista. "Quero mexer com a ideia de imagem como interação", diz Vik Muniz, celebrado criador que é ao mesmo tempo bem-sucedido comercialmente e em termos de público.
Ver que ele criou a imagem, fotográfica, de um menino a partir de grãos de açúcar, da atriz Elizabeth Taylor com diamantes, de uma criança, com soldadinhos de brinquedo ou uma versão de O Nascimento de Vênus de Botticelli com sucata incita uma curiosidade direta nos espectadores. Aliás, o artista reforça que faz essencialmente suas obras para o espectador não-específico. "Se a relação da arte continuar a ser incestuosa, só entre seus pares, ela para de existir", diz o artista, de 47 anos, que vive nos EUA, mas também tem ateliê no Rio. Ele escolheu até mesmo colocar como título da exposição apenas seu primeiro nome, Vik. "Algo informal para que seja um convite."
São 131 obras, todas fotografias, mas não do gênero fotográfico puro, deve-se dizer, perpassando criações de desde 1988 até os dias atuais. Vik Muniz explora propositalmente um caráter híbrido e ambíguo da imagem, o que torna suas obras sedutoras. "Enfatizo o diálogo entre material (os objetos simples que ele usa para fazer as composições) e imagem, destilo a ideia do desenho com coisas muito práticas, ou a natureza da arte mesmo. Sou ambicioso, mostro esse processo", diz Vik. Ele se refere ao fato de querer desmistificar "uma arte muito ligada a deuses" e aliar sua vontade de fazer o espectador questionar a imagem a partir das camadas de significados que propõe em seus trabalhos, sempre feitos a partir de "ícones, estereótipos, arquétipos digeridos".
A exposição Vik, realizada pela Aprazível Edições e Arte, de Leonel Kaz e Nigge Loddi - a mostra é acompanhada de livro -, não abarca todas as séries do artista, mas pontua a relação da fotografia e do desenho com conjuntos temáticos precisos, alguns deles, inéditos, como Imagens de Papel (a partir de fotografias p&b) e Quebra-Cabeças. Vik começa com as primeiras obras de sua trajetória em torno da imagem, desenhos que fez a partir de fotos que via na revista Life e que fotografou. A partir daí, vemos sua pesquisa se problematizando cada vez mais, expandindo, inclusive, em escala.
"Precisamos dialogar sempre" por João Luiz Sampaio, O Estado S. Paulo
Matéria de João Luiz Sampaio originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado S. Paulo, em 27 de abril de 2009.
Cláudia Toni fala de congresso que vai reunir profissionais de 35 países para discutir papel do gestor cultural
De 10 a 13 de junho, São Paulo será o palco do 23º Congresso Internacional da ISPA - International Society for the Performing Arts. Sob o tema Brasil: Imersão na Diversidade, cerca de 350 profissionais de 35 países vão se reunir em debates, palestras e seminários para discutir a gestão de instituições culturais. Representantes de instituições como a Filarmônica de Londres, o Concertgebouw de Amsterdã, o Lincoln Center de Nova York ou o Conselho de Arte da Coreia já confirmaram presença.
A responsável pela iniciativa - patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura em parceria com o Sesc e o Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras instituições - é a brasileira Claudia Toni. Ela entrou para a ISPA em 2001, quando era diretora executiva da Osesp, cargo que deixou por divergências com o então diretor artístico John Neschling. Hoje, atua como assessora especial do secretário de Estado da Cultura João Sayad. Seu trabalho se dá nos bastidores, onde se afirma que foi a responsável por mudanças recentes na vida musical paulistana como a troca de comando na Osesp ou no Festival de Campos do Jordão. No posto de assessora, Claudia não fala. Como anfitriã do congresso, explica, em entrevista exclusiva ao Estado, os objetivos da iniciativa - e cutuca produtores culturais e sua incapacidade de dialogar entre si.
A NECESSIDADE DE UM FÓRUM
"A ISPA reúne não quem trabalha no comando artístico das instituições mas, sim, os responsáveis pela gestão. Por que isso é importante? O que eu mais aprendi com meus colegas da sociedade é que no Brasil falta disciplina. Cerca de 95% dos membros da ISPA são de países muito ricos - e todos trabalham de maneira cooperada, assumem projetos juntos, se reúnem para discutir problemas. E o Brasil, tão cheio de carências, não consegue fazer o mesmo. Se não mudarmos isso, não vamos crescer. Não há aqui, no entanto, um fórum para discutirmos nossas questões. O congresso é um início de caminho. O que é um produtor? É o cara que concebe uma programação ou aquele que vai comprar sanduíche para os artistas? Questões como essa não são discutidas por aqui. E precisam ser. Ao mesmo tempo, os estrangeiros que virão ao País terão a chance de conhecer a produção cultural brasileira de maneira mais concreta, contrária ao exotismo e à ênfase na cultura popular comercial."
DOIS TEMAS
"De cara, há dois temas específicos que surgiram nas discussões que tivemos para formar a grade do congresso. O primeiro deles é a formação de público,campo no qual estamos atrasados. Há iniciativas, como as da Osesp, dos grupos de teatro e de dança, mas estamos engatinhando. A questão da educação musical é polêmica, já ouvi artistas comentando: ?Fulano não é músico, trabalha com educação musical?. A outra diz respeito ao agenciamento artístico e a necessidade de um debate sobre esse aspecto da produção artística. Da mesma forma, poderemos mostrar campos em que somos pioneiros, como a inclusão social por meio da arte. Mas o fundamental é propor o diálogo. A cultura tem que deixar de ser o patinho feio da vida do País. Eu nunca me candidatei a dirigir um hospital. No entanto, todo mundo acha que pode gerir uma instituição cultural. Precisamos formar profissionais específicos para isso."
PAPEL HIGIÊNICO E MÚSICA NOVA
"Qual a cara de um teatro? O que há de interessante na busca pela integração de várias linguagens no processo de criação? Quais os grandes projetos educativos? Como avaliamos a reação do público? São questões que apontam para o futuro. E conversar com quem está lá fora é importante. Eles estão mais adiantados? Sim, mas então vamos aprender com eles e pular etapas. Se eu não discutir com o diretor do Barbican Center, de Londres, o melhor centro cultural do mundo, o mais provocante e ousado, se eu não entendo como ele pensa, não entendo meu lugar no mundo. Não vou copiar o que eles fazem, nem temos dinheiro para isso. Mas quero ser contaminada pela provocação do trabalho dele no que diz respeito, por exemplo, ao fomento da música nova. Há um certo conformismo em todas as instituições brasileiras com a música que estamos produzindo. O que é a música do século 21? Para onde vamos? Estamos passando ao largo dessas questões. Os diretores de teatro reagem a isso dizendo: ?Não temos nem verba para papel higiênico, como vou pensar nisso??. Criar um projeto consistente e relevante nos ajuda a comprar o papel higiênico. As programações se parecem demais, os artistas se repetem, as propostas são as mesmas. É tudo muito óbvio, uma mesmice."
LEI ROUANET
"A necessidade de profissionalização fica clara quando vemos as discussões em torno da Lei Rouanet, por exemplo. Tem diversos temas que aparecem ali, mas nada tem a ver com a lei, que vira a panaceia universal porque não temos outro fórum, que deveria ser o fórum do gestor cultural. Essa profissão é recente, eu sei, mas a inexistência de um fórum precisa ser resolvida para que as discussões sejam mais proveitosas. Veja, por exemplo, o conceito de marketing cultural. Entendê-lo no contexto da lei e do patrocinador é uma estupidez. Marketing cultural deve ser a busca por planos para vender ingresso. Estamos discutindo tudo errado. Por que temos vergonha de falar disso? Tenho sim que pensar em como chegar ao público e atraí-lo para o teatro."
E POR QUE NÃO DIALOGAMOS?
"Eu não acho que seja uma questão exclusiva da música e das orquestras. É algo mais amplo, que tem a ver com o mundo latino. Temos uma enorme dificuldade em nos juntar, somos pouco democráticos. Esse aspecto é muito importante no protestantismo, a ideia de que as pessoas precisam se unir em torno de objetivos comuns, dividindo tarefas, verbas. Mas acho que esse espírito está começando a nos contaminar. Fora da área cultural, por exemplo, há sociedades como a de cardiologistas, por exemplo. As profissões antigas já se deram conta da necessidade de união. Na área cultural, estamos engatinhando, apesar de iniciativas como a criação da Sociedade Brasileira de Etnomusicologia. Mas ainda falta reflexão, autoanálise. Em certo momento, décadas atrás, quando comecei nessa profissão, ninguém se juntava por ter medo de compartilhar ideias e perder o lugar. Hoje, o mercado é mais amplo, comporta múltiplas propostas. Os gringos já entenderam que ninguém consegue ser onipresente, que é necessário se associar. É daí que vem a força do mercado. Não adianta ter apenas uma boa orquestra em São Paulo, precisamos de várias. É a existência de diversas iniciativas consistentes que fortalecem essa faixa do mercado."
Frases
"Cerca de 95% dos membros da ISPA são de países muito ricos - e todos trabalham de maneira cooperada, assumem projetos juntos, se reúnem para discutir. E o Brasil, tão cheio de carências, não
consegue fazer o mesmo. Se não mudarmos isso, não vamos crescer. Não há aqui, no entanto, um fórum para discutirmos nossas questões."
"O que é a música do século 21? Para onde vamos? Estamos passando ao largo dessas questões. As programações se parecem demais, os artistas se repetem, as propostas são as mesmas. É tudo muito óbvio, uma mesmice."
"Não adianta ter apenas uma boa orquestra em São Paulo, precisamos de várias. É a existência de diversas iniciativas consistentes que fortalecem essa faixa do mercado."
CLÁUDIA TONI
A Escolha de Sophie por Teté Ribeiro, Folha S. Paulo
Matéria de Teté Ribeiro originalmente publicada na Serafina no jornal Folha S. Paulo, em 26 de abril de 2009.
Ela é a artista francesa contemporânea mais pop do mundo. Estava apaixonada por um escritor também francês, autor de um livro dedicado a ela. Ele rompeu o romance por e-mail. Ela transformou o fora em arte. O resultado? É a exposição "Cuide de Você", em cartaz em Nova York e que chega ao Brasil em julho, junto com sua autora
"Recebi uma carta de rompimento. E não soube respondê-la. Era como se ela não me fosse destinada. Terminava com as seguintes palavras: Cuide de você. Levei essa recomendação ao pé da letra. Pedi a 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão, para interpretar a carta do ponto de vista profissional.Analisá-la, comentá-la,dançá-la, cantá-la. Esgotá-la. Entendê-la em meu lugar. Responder por mim. Uma maneira de ganhar tempo antes de romper. Uma maneira de me cuidar."
(texto de apresentação da exposição "Cuide de Você", em cartaz em Nova York, que chega a São Paulo em julho)
Tudo começou assim: ela estava em Berlim e ouviu o bipe do celular avisando que tinha uma nova mensagem. Era um e-mail do namorado, amante, parceiro ou como você preferir se referir a um casal adulto que se relaciona romanticamente sem morar junto. Abriu para ler e descobriu que estava tudo acabado. Tinha sido trocada por outras. Sim, outras, no plural. Ah, mas ele a amava muito e só fazia isso porque ela havia imposto uma regra pouco razoável, do ponto de vista dele, segundo a qual não era permitido procurar outras mulheres enquanto os dois estivessem juntos. Como já havia procurado outras, e como ela era tão pouco flexível, sentia-se obrigado a romper o romance daquela maneira, apesar de sofrer muito com isso.
Se os sujeitos dessa história fossem pessoas comuns, talvez o desdobramento seria uma cena mais ou menos assim: crise de choro, desabafo com os amigos, bebedeira, telefonemas furiosos/tristes/chantagistas para o autor do e-mail, ressaca e uma depressãozinha que inevitavelmente passaria algum tempo depois. E fim.
Mas ela é Sophie Calle. E o pé na bunda virou a exposição "Cuide de Você", em que 107 mulheres interpretam, cada uma de acordo com sua profissão, o e-mail do rompimento. A maioria é desconhecida do público, foram escolhidas por suas profissões. Há filósofas, uma especialista em gramática, delegada, psicóloga, bailarina, uma atiradora de elite, uma taróloga, uma assistente social, uma criança de nove anos e uma carta escrita à mão por sua mãe, na qual ela diz "uma mulher linda, famosa e inteligente como você logo vai encontrar alguém melhor" -além de dois fantoches e de uma cracatua.
Mas tem gente famosa também, como as atrizes Jeanne Moreau, Maria de Medeiros e Victoria Abril, a compositora Laurie Anderson e a DJ Miss Kittin. Cada mulher - ou cracatua- foi fotografada ou filmada fazendo sua interpretação da carta. A exposição é cômica e dramática, catártica e exaustiva.
"Não fiz isso pensando em vingança", conta em entrevista à Serafina, em Nova York, no dia seguinte à abertura da exposição na cidade, há duas semanas. "Ao contrário, quando resolvi fazer um projeto artístico a partir do e-mail quis ter certeza de que o motivo por trás disso não era me vingar. Se a ideia não fosse artisticamente interessante não teria motivação suficiente para me dedicar tanto assim", afirmou, parecendo convicta.
Escrevo "parecendo" convicta porque Sophie Calle não se incomoda com o fato de ser algo contraditória. Ela diz coisas como: "meu maior medo é o de ser rejeitada, vivo esse pavor o tempo inteiro". Pouco depois, entra no estúdio improvisado na galeria pelos fotógrafos onde serão feitas as fotos que acompanham este texto e troca de roupa na frente de pelo menos quatro desconhecidos. Então me pergunta: "acha que eu preciso de maquiagem"
O jeito despojado dela me pega de surpresa. Quando aceitou o pedido de entrevista, tinha duas condições: uma, que eu visse a exposição antes de falar com ela. A segunda, que não queria ser fotografada. Logo Sophie, uma artista cuja obra é conhecida pela combinação de fotos e textos. Segundo sua assistente, ela gosta de ter controle sobre sua imagem e não estaria muito em paz com a aparência. Outra contradição, já que, aos 55 anos, mantém um jeito de menina e o corpo muito em forma -como eu, a dona da galeria, seu assistente, a diretora de arte e o fotógrafo pudemos ver. Várias vezes.
SE CUIDA
Sophie chegou para a foto com um vestido bege de seda emaranhado sob um suéter de lã, bota, meia-calça e um casaco de chuva, mas levava duas outras trocas de roupa dentro da bolsa, além de um sapato de salto. E trocou de figurino pelo menos quatro vezes no segundo andar da galeria, sem pedir privacidade nem ao menos checar em um espelho se o cabelo continuava em ordem.
Não foi tão desencanada com a tradução do título de sua primeira exposição individual a vir para o Brasil, primeiro no Sesc Pompeia, em São Paulo, entre 10 de julho e 7 de setembro, depois no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. "Ela contratou um tradutor para ter certeza de que o título seria fiel ao 'Prenez Soin de Vous', a última frase do e-mail original", conta a curadora Solange Farkas, da associação cultural Videobrasil, que realiza a turnê brasileira da exposição com o Sesc. Ficou "Cuide de Você", um pouco mais formal e mais carinhoso do que "se cuida".
A frase é fundamental na concepção do trabalho. "O e-mail não é nada especial, é um texto banal de uma pessoa que quer sair de uma relação, mas não sabe como dizer isso", diz Sophie. "Mas a frase final, 'cuide de você', é violenta, definitiva", continua. "E era exatamente o que eu tinha que fazer, cuidar de mim. E trocar o sofrimento por um projeto foi o meu jeito de me distanciar daquela dor", completa.
Misturar o que é público e o que é privado, assim como o observador e o observado, o autor e a obra, são marcas fundamentais no trabalho da artista. A sobreposição de textos e imagens é a forma que ela escolhe para apresentar seus pontos de vista, que mudam a cada trabalho, mas que acabam revelando uma proposta ousada de como se colocar no mundo, como musa e voyeur de sua própria obra. Até hoje, só teve problemas com os objetos de seus trabalhos mais anônimos uma vez, em 1983, quando encontrou uma agenda de telefones em uma rua de Paris.
Devolveu assim que pode para o dono, mas tirou cópia dos números e começou a ligar para as pessoas listadas na agenda e entrevistá-las a fim de construir um perfil daquele desconhecido sem falar com ele. Publicou as conversas em capítulos no jornal francês "Libération". O dono da agenda não gostou, processou a artista, que contra-atacou com a proposta de um acordo de paz. O homem disse que a única retratação possível seria ela publicar uma foto dela mesma, nua, no mesmo jornal. Sophie cumpriu sua parte, feliz da vida.
A NOBREZA IMPERA
A visita ao Brasil promete testar ainda mais seus limites artísticos e pessoais. No começo de "Cuide de Você", decidiu que iria proteger a identidade do autor do e-mail e em todas as fotos da exposição a mensagem termina sem assinatura, com um X no lugar do nome. Mas o segredo de Sophie foi tão preservado quanto sua decisão de não ser fotografada para esta revista. É que sua obra anterior é dedicada ao escritor francês Grégoire Bouillier, autor de dois livros. O último, um romance autobiográfico chamado "The Mistery Guest", lançado em 2006 e dedicado a ela, narra como começou o romance dos dois.
Grégoire Bouillier, 48, é um dos escritores convidados da próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece entre os dias 1º e 5 de julho. Assim como Sophie Calle. E lá os dois vão se encontrar pessoalmente pela primeira vez desde que o romance acabou. Mas, sendo ela quem é, um simples encontro privado não seria suficiente. Como a vida dela inspira sua arte, que por sua vez reflete a própria vida, Sophie e Grégoire vão participar de um debate aberto ao público. Tudo muito civilizado, com mediador, hora marcada, ingressos limitados e tradução simultânea para o português. Tudo muito nobre.
Vai ver é isso o que os franceses queriam dizer com "noblesse oblige".
Coleção suíça recruta trabalhos de 22 videoartistas latinos por Fabio Cypriano, Folha S. Paulo
Matéria de Fabio Cupriano originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha S. Paulo em 27 de abril de 2009.
Exposição seleciona a brasileira Lenora de Barros e o argentino Jorge Macchi
Inaugurada no sábado passado, a exposição "For You/Para Usted" (para você), título retirado de um trabalho da artista argentina Liliana Porter, reúne 35 vídeos de 22 artistas latino-americanos na Daros Exhibitions, em Zurique, na Suíça.
A coleção Daros foi composta nos anos 1980 principalmente a partir de obras de artistas norte-americanos (pop, expressionismo abstrato e minimalista) e foi herdada pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny. Desde 2000, sua mulher, Ruth, decidiu ampliar a coleção com uma vertente latino-americana, de onde saem todas as obras para esta mostra.
"O espaço limitado não permite que sejam exibidos todos os trabalhos em vídeo da Coleção Daros Latinoamerica e tampouco podemos dizer que seja uma pesquisa enciclopédica da produção em vídeo da América Latina, mas ao menos um olhar criterioso da pouco vista cena artística desse continente", diz o curador alemão Hans-Michael Herzog.
Entre os selecionados, participam da mostra a brasileira Lenora de Barros, o argentino Jorge Macchi, os colombianos Oscar Muñoz e Miguel Angel Rios, o uruguaio Martin Sastre e as mexicanas Ximena Cuevas e Claudia Fernandes.
A entrada para a exposição, que fica em cartaz até 6 setembro, custo 8 francos suíços (R$ 15), mas a renda será revertida para apoiar a Escola de Fotógrafos Populares, um programa educacional desenvolvido na Favela da Maré, no Rio.
Em 2010, a Daros irá abrir uma filial na cidade, num casarão de 12 mil m2 do século 19, reforma a cargo dos arquitetos Pedro e Paulo Mendes da Rocha. Segundo a assessoria de imprensa da Daros, é possível que "For You/Para Usted" seja exibida no novo espaço.
Abaixo-assinado: Queremos implantar Organizações Sociais (OS) no estado do Rio de Janeiro, petitiononline.com
Assinaturas atuais
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4; Adriana Gomes do Nascimento; rio de janeiro
5; Adriano Carneiro de Mendonça; Rio de Janeiro
6; Afonso Carlos Tostes Lima; Rio de Janeiro
7; Afonso Tostes; RIO DE JANEIRO. RJ.
8; Ailton Franco Jr.; Rio de Janeiro/RJ
9; Akemi Ono; Rio de Janeiro/RJ
10; Alberto Frega; Rio de Janeiro
11; alberto renault; Rio de Janeiro
12; Alda Porto Santos; Rio de Janeiro
13; ALessandra Vaghi; Rio de Janeiro
14; Alexandre Arraes; RJ/RJ
15; Alice Viveiros de Castro; Rio Claro RJ
16; Aline Brum; Niteroi / RJ
17; Amanda Barbosa Vilela; Niterói
18; Amaury de Souza; Rio de Janeiro - RJ
19; Ana Bonelli; Rio de Janeiro/RJ
20; ana carolina goulart de andrade; Rio de janeiro/ R.J.
21; Ana Cristina Mota; Rio de Janeiro
22; ana cristina nadruz; rio de janeiro rj
23; Ana Elisa Cohen Chaves; Rio de Janeiro
24; ana holck; rio de janeiro
25; Ana lucia de Abreu; RJ
26; Ana Lucia Torre Rodrigues; Rio de Janeiro
27; Ana Madureira de Pinho; Rio de Janeiro
28; ana maria murta; rio de janeiro
29; Ana Paula Corrêa; RIO DE JANEIRO
30; Ana Paula Macedo; NITEROI
31; Ana Paula Rocha; Rio de Janeiro
32; ana rosa viveiros de castro; rio de janeiro/RJ
33; Anatula da Silva Axiotelis; Rio de Janeiro/RJ
34; Andre De Athayde Quelhas; Niteroi / RJ
35; André de Queiroz Brunelli; rio de janeiro/ rj
36; andré leite de moraes senna; Sao Paulo
37; André Lopes Brandão Paraizo; Rio de Janeiro / RJ
38; André Urani; Rio de Janeiro/RJ
39; Andrea Alvim Corrêa; Rio de Janeiro/RJ
40; Andrea Fasanello; Rio de Janeiro
41; Andrea Gouvêa Vieira; RJ
42; Angela Delphim; RJ
43; Ângela Fatorelli; Rio de Janeiro
44; Angela Maria Carauta Serrano; Rio de Janeiro
45; Angela Pia Manfroni; Rio de Janeiro - RJ
46; Angela Ricciardi; Paty do Alferes / RJ
47; Angela Santos; São Paulo
48; Angelo Defanti; Niterói / RJ
49; Angelo Venosa; rio de janeiro
50; Aniela Jordan; RJ
51; anna helena moussatché; RJ
52; Anna Maria Niemeyer; Rio de Janeiro
53; anna paula sampaio da silva martins (Anna Dantes); rio de janeiro (RJ)
54; Antonio Adolfo; Rio
55; Antonio Alexandre Dutra; Petrópolis(RJ
56; Antônio Cãndido Daguer Moreira; Rio de Janeiro
57; Antonio Dias; Rio de Janeiro RJ
58; Arlete Lima; Rio de Janeiro
59; Arnaldo Jabor; Rio de Janeiro
60; Ary Fontoura; Rio
61; Augusto martins; Rio de Janeiro
62; Beatriz Caiado; Rio de Janeiro
63; Beatriz da Luz B. Lobo; Rio de Janeiro. RJ
64; Beatriz Ferreira Lessa; Rio de Janeiro
65; Beatriz P. S. Junqueira (Bia Junqueira); Rio de Janeiro
66; Beatriz Pinheiro de Andrade; Rio de janeiro/ RJ
67; Beatriz Sion; RJ
68; Berenice Xavier; Rio de Janeiro - RJ
69; Bernardo Curvelano Freire; Rio de Janeiro
70; bernardo mortimer; rio de janeiro/rj
71; Bernardo Sorj ; RJ
72; Bianca De Felippes; Rio De Janeiro
73; Brígida Moreira; Rio de Janeiro/RJ
74; Caio Mario Mutz; Rio de Janeiro - RJ
75; Camila Lucciola; Rio de janeiro-RJ
76; Carla Branco; Rio de Janeiro
77; Carla Camurati; Rj
78; Carla Faour; RJ
79; carla guagliardi; Rio de Janeiro
80; Carlos (Cacá) de Carvalho; Rio de Janeiro/RJ
81; Carlos Alberto de Mattos; Rio de Janeiro / RJ
82; Carlos Diegues; Rio de Janeiro
83; Carlos Eduardo Alvarenga Bezerra; Rio de Janeiro / RJ
84; Carlos Guimaraes; Rio de Janeiro
85; Carlos Henrique Juvêncio; Rio de Janeiro / RJ
86; Carlos Leonam; Rio
87; Carlos Maximiano Mafra De Laet; RIO DE JANEIRO
88; Carlos Townsend; Rio de Janeiro
89; Carmen Gonçalves Mangabeira; Rio de Janeiro/RJ
90; carmen luz; rio de janeiro
91; Carolina Sporleder Cortes; rio de janeiro
92; Cassia Maria Franco Arcoverde; Brasília/DF
93; Cecilia Modesto; rio de janeiro
94; Cecy Castro; Rio de Janeiro
95; Cesar Augusto de Macedo; RJ
96; César Balbi; Rio de Janeiro
97; Cesar Coelho; Rio de Janeiro
98; Charles Rossi; RIO DE JANEIRO
99; Cheyenne Pereira de Souza Melo; Rio de Janeiro
100; Chica Granchi; Rio de Janeiro
101; Clara Medeiros; Rio de Janeiro -RJ
102; Clarissa de C. H. Pimentel; Niterói / RJ
103; Clarissa Oliveira Nanchery; Niterói/ RJ
104; Clarisse Bokel Da Motta; RIO DE JANEIRO
105; Claudia Costin; Rio de Janeiro
106; Claudia Oliveira; Rio de Janeiro
107; Claudia Rocha de Almeida; Niteroi / RJ
108; Claudia Saldanha; Rio de Janeiro
109; Claudio Botelho; Rio de Janeiro
110; claudio coutinho; rio de janeiro/rj
111; Claudio Luiz Nogueira; Rio de Janeiro/RJ
112; Conceição Diniz; RJ
113; Concyr Formiga Bernardes; Rio de janeiro/RJ
114; Cristiane Maria Pinto Tavares ; Rio de Janeiro
115; Cristina Adam Salgado Guimarães (Cristina salgado); Rio de Janeiro
116; cristina bokel becker; rio de janeiro - rj
117; Cristina Felix; Rio de Janeira
118; Dado Amaral; Rio de Janeiro - RJ
119; Daisy Cabral Nogueira; Rio de Janeiro
120; Dalal Achcar; Rio de Janeiro
121; Daniel Becker; Rio de Janeiro RJ
122; daniel luz; rio de janeiro / RJ
123; Daniel Plá; Rio
124; Daniel Senise; Rio de Janeiro RJ
125; Daniel Zandonadi; Rio de Janeiro / RJ
126; Daniela Beigler; Rio de Janeiro/RJ
127; Daniela Gueiros; Rj
128; Daniela Mattos; Rio de Janeiro
129; Danielle Lacerda Reimao; Rio de Janeiro
130; Danillo Padua; Rio de Janeiro
131; danuzza sartori; rio de janeiro
132; David Zylbersztajn; Rio de Janeiro/RJ
133; Delphine Cordelia Fourneau De Mello Mourão; Rio de Janeiro RJ
134; Denise Mattar; Rio de Janeiro RJ
135; Denise Trindade; RJ
136; Diler Trindade; Rio de Janeiro / RJ
137; Domingos José Soares de Oliveira; RJ
138; Dora Pellegrino; Rio de Janeiro-RJ
139; Dora Silveira; niterói
140; Dr.Ricardo Barradas avaliadordearte; Rio de Janeiro - RJ - Brasil
141; Edson Luiz de Paula Pinto; RJ
142; eduardo ainbinder; rio de janeiro
143; Eduardo Amado; Rio de Janeiro
144; Eduardo Coimbra Simões; Rio de Janeiro
145; Eduardo Coimbra Simões ; Rio de Janeiro
146; Eduardo Rieche; Rio de Janeiro
147; Eduardo Roly; RJ
148; Elano Junior; Rio de Janeiro/RJ
149; Eleazar de Carvalho Filho; Rio de janeiro
150; Elena Guimarães; Petrópolis
151; Eliane Baptista de Souza; Rio de Janeiro/RJ
152; Elisabete Fidelis; Rio de janeiro
153; Elizabeth Jobim; Rio de Janeiro - RJ
154; Ellen Cristina Mendes Conceição; Rio de Janeiro
155; Emanuel De Melo Vieira; rio de janeiro
156; Emmanuelle Boudier; Rio de Janeiro/RJ
157; Erika Riba; rio de janeiro/RJ
158; ernesto neto; rio de janeiro
159; Estevão Ciavatta; Rio de Janeiro - RJ
160; Eva Doris Rosental; rio de janeiro
161; evangelina; rio de janeiro
162; Everardo Miranda; Rio de Janeiro
163; fabiana éboli santos; rio de janeiro rj
164; Fábio Freitas Buechem; Rio de Janeiro/RJ
165; Fabio Melo; Uppsala / Suécia
166; Fátima Araújo; rio de janeiro
167; Fatima Cristina Gonçalves; Niterói/RJ
168; fatima santiago; rj
169; Fátima Valença; Rio de Janeiro - RJ
170; Felipe Abdala; Rio de Janeiro / RJ
171; Felipe Augusto Dias; Rio de Janeiro/RJ
172; Fernanda Abreu; Rio de Janeiro
173; Fernanda Carvalho; Sao Paulo
174; fernanda Duclos Carisio; Rio de Janeiro - RJ
175; Fernanda torres; Rio de janeiro
176; Fernando Benites Molinari; Rio de JaneiroJ/RJ
177; Fernando Tranjan; Rio de Janeiro
178; flavia torres; Rio de Janeiro
179; flávio Ramos Tambellini; rio de Janeiro/RJ
180; francisco fabiano neto; Rio deJaneiro-RJ
181; Francisco Fortunato Montenegro Moreira; Rio de Janeiro/RJ
182; Francisco Saboya; RECIFE-PE
183; Franz Manata; Rio de Janeiro - RJ
184; Gabriel Rebello Esteves Areal; Rio de Janeiro/RJ
185; Gabriela Alcofra; Rio de Janeiro
186; Gabriela Dias Bevilacqua; Rio de Janeiro
187; Gabriela Fróes; RJ/RJ
188; Gabriele Ilse Leib; Rio de Janeiro - RJ
189; Gamaliel Borges Carreiro; Rio de Janeiro
190; gilberto leal; rio de janeiro
191; Gisele Mendonça do Nascimento; Rio de Janeiro / RJ
192; gleicel lemos; Rio de Janeiro
193; glicia de figueiredo; rio de janeiro
194; Gloria Blauth; Niterói - RJ
195; Gloria Calvente; Rio de Janeiro/ RJ
196; Gloria Ferreira; RJ
197; Glória Moog; RJ
198; Gloria Regina Salles de Oliveira; Niteroi
199; Guilherme de Souza Coelho Turqueto; Rio de Janeiro / RJ
200; Guilherme Fiuza; Rio de Janeiro - RJ
201; Gustavo Ariani; Rio de Janeiro
202; Gustavo da Rocha Lima; Rio de Janeiro/RJ
203; Hariom Porto Da Silveira Cavalcante; NITERÓI/RJ
204; Haroldo Costa; Rio de Janeiro / RJ
205; Helena Mourão; Belo Horizonte
206; Helena Vieira; Rio de Janeiro
207; Heloisa Buarque de Hollanda; RJ
208; Herbert Hasselmann; Rio de Janeiro
209; humberto leon baranek; rio de janeiro / RJ
210; Ida Vicenzia; RIO DE JANEIRO / RJ
211; Ilana Strozenberg; Rio deJaneiro
212; Inez Schachter - Pauta Produções; Rio de Janeiro
213; Irineu R. Frare; Rio de Janeiro / RJ
214; isabela santiago; rio de janeiro/rj
215; Isabele Delgado; Rio de Janeiro
216; Isis Proenca; rio
217; Ismael Batista de Oliveira; Duque de Caxias
218; Ivan Sugahara Pinheiro; Rio de Janeiro / RJ
219; Ivana Menna Barreto; Rio de Janeiro - RJ
220; jaíra josé farias; Rio de Janeiro - RJ
221; Janderson Carreiro Vilar; RJ/Rio de Janeiro
222; Janilza Borges Carreiro Vilar; São Gonçalo/Rio de Janeiro
223; Janine Carreiro Vilar; Itaborai/Rio de Janeiro
224; Jaqueline Vojta; Rio de Janeiro
225; Jeronymo Machado; RIO DE JANEIRO
226; Joana da Costa Martins Monteiro; Rio de Janeiro/RJ
227; Joana Stallivieri Neves; Rio de Janeiro/ RJ
228; João César Lima; Rio de Janeiro
229; Joao Fernando Moura Viana; rio de janeiro
230; João Guilherme Ripper; Rio de Janeiro/RJ
231; João Jardim; rio de janeiro
232; João Luiz Vieira; Rio de Janeiro
233; João Mauro Fonseca Senise; Rio de Janeiro - RJ
234; João Modé; Rio de Janeiro/RJ
235; Joao Paulo Tavares Coelho de Freitas ; Rio de Janeiro - RJ
236; João Vargas Penna; Rio de Janeiro
237; João Viotti Saldanha; Rio de Janeiro/RJ
238; Joaquim Assis; Rio de Janeiro - RJ
239; Joelson Gusson; Rio de Janeiro/RJ
240; Jorge Gustavo de Figueiredo Ciríaco; Rio de Janeiro
241; Jorge José Lopes Machado Ramos; Miguel Pereira - Rio de Janeiro
242; Jorge Luiz José Maria (DJ Jorge Lz); Rio de Janeiro
243; Jorge Maranhão; Rio de Janeiro/RJ
244; Jorge Vellos Borges Leão Teixeira - Barrão; Rio de Janeiro, RJ
245; Jorge ZLM Ramos; Rio de Janeiro/RJ
246; José AntonioAmeijeiras; Rio RJ
247; José Augusto Nepomuceno; Rio de Janeiro / RG
248; José Barros; Rio de Janeiro, RJ
249; José Damasceno; Rio de janeiro RJ
250; José Eduardo Castello Branco; Rio de Janeiro - RJ
251; José Emilio Rondeau; Rio de Janeiro - RJ
252; José Luiz Rinaldi; Rio de Janeiro
253; José Maria Rendeiro Correa Braga; Rio de Janeiro
254; Jose Reimao; Rio de Janeiro
255; José Roberto Afonso; Rio de Janeiro
256; José Wenceslau Caminha Aguiar Junior; Belo Horizonte
257; Julia Levy; Rio de Janeiro/ RJ
258; Juliana Bernardo Dias; Rio de Janeiro
259; Juliana Carapeba; Rio de Janeiro
260; Julio Calasso Junior; São Paulo
261; Julio Césrar Barroso; Rio de Janeiro
262; katia adler; Rio de Janeiro
263; Katia Guimarães Prado de Souza; São Paulo -SP
264; Keyna Mendonça dos Santos Van de Beuque; Rio de Janeiro
265; Laura Ribeiro Ferreira; RJ
266; Laura Samy de Castro; Rio de Janeiro/RJ
267; Lauro Lima dos Santos Filho; Rio de Janeiro
268; Leandro Luiz De Maman; Miguel Pereira / RJ
269; Leandro Raphael; Rio de Janeiro
270; Leidiane Carvalho; Rio de Janeiro / RJ
271; Leo Ayres; Rio de Janeiro / RJ
272; Leonardo Capper; Rio de Janeiro
273; Leonardo Correa do Carmo; Rio de Janeiro
274; Leonardo Feijó Sampaio; Rio de Janeiro
275; Leonardo Ferreira Gomes dos Santos; rio de janeiro
276; Leonardo Hallal Carvalhal; Rio de Janeiro
277; Leonardo Machado; Rio de Janeiro - RJ
278; Leonardo Monteiro de Barros; Rio de Janeiro / RJ
279; Leonardo Rosendo da Silva; Rio de Janeiro - RJ
280; Leonor de Souza Azevedo; Rio de Janeiro
281; Leticia Monte; rio de janeiro
282; leticia tandeta; rj
283; Lianna Codina; Rio de Janeiro
284; Lica Cecato; Rio de Janeiro
285; Lilian Vaz; Rio de Janeiro
286; Luìs Henrique; Rio de Janeiro
287; Lucas Ciavatta; Rio de Janeiro / RJ
288; Lucas Santtana; rio de janeiro (RJ)
289; Lucia Helena Vidal Mutzenbecher; Rio de Janeiro
290; Lucia Nascimento; Rio de Janeiro
291; Lucia Prado; Rio de Janeiro
292; lucia seabra; são paulo
293; Luciana Gonçalves; Cabo Frio-RJ
294; Luciana Luz; Rio de Janeiro/ RJ
295; Lucio Edi Chaves; Rio de Janeiro/RJ
296; ludmila rosa; rj
297; Luis Marcelo Mendes de Siqueira; Rio de Janeiro
298; Luiz Antonio S. L. de Macedo Junior; Rio de Janeiro
299; luiz aquila; rio de janeiro rj
300; Luiz Camillo Osorio; Rio de Janeiro
301; Luiz Claudio Prezia de Paiva; Rio de Janeiro
302; Luiz Eduardo Indio da Costa; Rio de Janeiro
303; Luiz Fernando de Carvalho Bastos; Rio de Janeiro
304; Luiz Fernando Zugliani; Rio de Janeiro
305; Luiz Henrique Cal Gonçalez; Rio de Janeiro/ RJ
306; Luiz Stein; Rio de Janeiro
307; luiz zerbini; rio de janeiro RJ
308; Luiza Mello; Rio de Janeiro
309; Lygia Marina Pires de Moraes; Rio de Janeiro RJ
310; Madalena Vaz Pinto; Rio de Janeiro
311; Malu Galli; Rio de Janeiro. RJ
312; Manoel A. de Almeida e Silva; Rio de Janeiro, RJ
313; Manoela Gonçalves Ramos; Cabo Frio
314; Manuel Thedim; rio de janeiro / rj
315; Manuela Berardo; Rio/RJ
316; Marcela Levi; Rio de Janeiro
317; Marcelina Silva; Rio de Janeiro
318; Marcelo Zavareze; Rio de Janeiro
319; Marcia Casturino; rio de janeiro
320; Marcia dos Santos Mermelstein; Rio de Janeiro, RJ
321; Marcia Eltz; Niteroi RJ
322; Marcia Florencio; Rio de Janeiro
323; Marcia Rubin; Rio de Janeiro
324; Márcia Silveira Bibiani; RJ
325; Marcio Debellian; Rio de Janeiro
326; Marcondi Marques; Rio de Janeiro / RJ
327; Marcos André R. Carvalho; Rio de Janeiro
328; Marcos Guimarães Sanches; Rio de Janeiro - RJ
329; Marcos Paulo Passos; Rio de Janeiro
330; Marcos Tavares; Rio de Janeiro
331; Marcos Tenenbaum; Rio de Janeiro / RJ
332; Marcos Torres da Silva Junior; rio de janeiro
333; marcosmendonca; são paulo
334; Marcus Paullus Guimarães Passos; Rio de Janeiro/RJ
335; Maria Angela Pecego Caetano; Rio de Janeiro
336; maria christina monteiro de castro; rio de janeiro - RJ
337; maria da gloria afflalo; rio de janeiro
338; Maria Izabel da Silveira Lobo Magalhães de Oliveira; Rio de Janeiro
339; maria juçá guimarães; rio de janeiro
340; Maria Luisa Noronha Krahl; Rio de Janeiro
341; Maria Luiza Lessa; Rio de Janeiro
342; Maria Ramos; Cabo Frio
343; Maria Regina Sales; Rio de Janeiro
344; Maria Rosa Ferreira de Freitas; Rio de janeiro
345; maria silvia bastos marques; rio de janeiro/rj
346; Mariana Varzea; Rio
347; Marilda Samico ; RJ
348; marina cunha de magalhaes couto; rio de janeiro RJ
349; Mario Cunha; Rio de Janeiro
350; Marisa Guaranys; Rio de Janeiro
351; Marlene Nunes de Oliveira; Rio de Janeiro-RJ
352; Martha Pagy; Rio de Janeiro
353; matilde sliachticas; rio de janeiro
354; Maura Marzocchi; Rio de Janeiro- RJ
355; Mauricio Blanco Cossío; Rio de Janeiro/RJ
356; Mauricio Junqueira; Rio de Janeiro
357; Mauro Bandeira de Mello; Rio de Janeiro/RJ
358; Max Robert; Rio de Janeiro
359; Maysa Britto; Niterói/RJ
360; Melissa Abla; Rio de Janeiro
361; Mercedes Lachmann; RJ
362; Michel Melamed; Rio de Janeiro
363; Michele Barzilai; Petropolis - RJ
364; Micheline Torres; RJ
365; Miguel N.Foguel; Rio de Janeiro
366; Mila Chaseliov Pereira dos Santos; Rio de Janeiro / RJ
367; Mislene Viana; BM
368; Morena Paiva; Rio de Janeiro
369; Murilo Rocha; Rio de Janeiro / RJ
370; Myrthes Martins Ferreira; Rio de Janeiro
371; nadia basto; rio de janeiro
372; nelson krumholz; rio de janeiro rj
373; Nelson Motta; Rio de Janeiro
374; Nelson Ricardo Ferreira da Costa; Petrópolis
375; Ney Sant'Anna Pereira dos Santos; Rio de Janeiro
376; Nina Becker Nunes; Rio de Janeiro
377; Nirda Portella da Silva; Rio de Janeiro / RJ
378; Norbert Glatt; Rio de Janeiro / RJ
379; olga maria esteves campista; rio de janeiro
380; Oscar José; Rio de Janeiro
381; oscar felipe gonçalves; rio de janeiro
382; oseas brito; Rio de Janeiro
383; Osíris Pereira Melo; São Paulo- SP
384; Pablo Benetti; Rio de Janeiro
385; Pablo Martin Seddon Markwald; Rio de Janeiro/RJ
386; Pablo Matos; Rio de Janeiro /rj
387; Paolo Giordino; Rio de Janeiro
388; Patricia Amelia Tomei; rio de janeiro
389; Patricia Canetti; Rio de Janeiro / RJ
390; Patricia Chueke; Rio de Janeiro
391; Patrícia dos Santos Quintão; Rio de Janeiro
392; Patrícia Koslinski; Rio de Janeiro
393; Paula Azem; Rio de Janeiro
394; paula canella; RJ
395; Paula Faour de Oliveira Rocha; Rio de Janeiro
396; paulo albert weyland vieira; rio de janeiro - rio de janeiro
397; Paulo Bicalho; Rio de Janeiro / RJ
398; Paulo de Azambuja Rodrigues; Rio de Janeiro/RJ
399; paulo henrique cardoso; RJ
400; Paulo Henrique Siqueira Born; Rio de Janeiro/RJ
401; Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio; Rio de Janeiro/ RJ
402; Paulo Pinheiro de Andrade; Rio de Janeiro, RJ
403; Paulo Sergio Duarte; Rio de Janeiro - RJ
404; Pedro Bulcão; Rio de Janeiro / RJ
405; Pedro Coelho Camará Martins; RIo de Janerio
406; Pedro Damasceno França; Rio de Janeiro / RJ
407; Pedro Köptcke Daudt de Lima Brandão; Belo Horizonte
408; Pedro Paulo Domingues; Rio de Janeiro
409; Pedro Saboya burgos; Rio de Janeiro/RJ
410; Pedro Victor Brandão; Rio de Janeiro
411; Perla Larsen; São Paulo
412; Priscila dos Santos Silva Marques; RJ
413; Priscilla Rozenbaum; RJ
414; Rachel Carneiro; RIO DE JANEIRO
415; rachel korman; rio de janeiro
416; Rafael Medeiros; RJ
417; Rafael Pinto Correia; Rio de Janeiro
418; Rafael Soares de Aquino; Rio de Janeiro, RJ
419; Ramon Mello; Rio de Janeiro
420; Raphael Alcides Cardoso da Silva; Niteroi / RJ
421; Raquel Amaral; RIO DE JANEIRO
422; Raquel Couto; Rio e Janeiro
423; Raul Mourão; Rio de Janeiro
424; Renata Monteiro de Souza; Rio de Janeiro
425; Renato Dantas; Rio de Janeiro
426; Renato Reder; Rio de Janeiro
427; Renée Amazonas Castelo Branco; Rio de janeiro
428; Reynaldo Mello; Rio de janeiro - RJ
429; Ribeiro artur; Rio de janeiro
430; ricardo de carvalho duarte; rio de janeiro
431; Ricardo Mendes P. de Vasconcellos; Rio de Janeiro / RJ
432; Ricardo Pessanha; Rio de JAneiro-RJ
433; Ricardo Schmitt Leal; Rio de Janeiro, RJ
434; Ricardo Simões; São Paulo
435; Ricardo Tacuchian; Rio de Janeiro, RJ
436; Rita de Cássia de Araújo Cunha; Niterói
437; Rita Mateus; Rio de Janeiro
438; Roberta da Cruz Vieira; Rio de Janeiro
439; Roberto Ainbinder; RJ
440; Roberto Cabot; Rio de Janeiro / RJ
441; Roberto Darze; Rio de Janeiro?RJ
442; Roberto Farias; Rio de Janeiro
443; Roberto Frota; rio de janeiro
444; Roberto Minczuk; Rio de Janeiro
445; Roberto Monsores; Mangaratiba
446; Rodrigo de Mello Vidal; Rio de Janeiro/RJ
447; Rodrigo Nunes; Rio de Janeiro
448; Ronaldo do Rego Macedo; Rio de Janeiro
449; Rosa Maria Barboza de Araujo; Rio de Janeiro / RJ
450; Rossine Antonio de Freitas; Rio de Janeiro
451; Rudi Rocha; Rio de Janeiro
452; Ruth Chindler; RIO DE JANEIRO
453; Sabrina Fidalgo; Rio de Janeiro
454; salvino jose de campos; rio de janeiro
455; Samuel SImões Oliveira Franco; Rio de Janeiro/ RJ
456; Sandra Maria Carreira Polónia Rios; Rio de Janeiro/RJ
457; Sandra Schechtman; Rio de Janeiro
458; Sergio Cavina Boanada; Rio de Janeiro
459; Sergio Laks; Rio de Janeiro/RJ
460; Sérgio Sá Leitão; Rio de Janeiro/RJ
461; sergio vilar lindemann; Rio de Janeiro
462; Sergio Voronoff; Rio de Janeiro/RJ
463; severo augusto fontes neves; belo horizonte
464; Silvia Fucs; Rio de Janeiro/RJ
465; Silvio Viegas; Rio de Janeiro
466; Simon Schwartzman; Rio de Janeiro
467; Simone Guimaraes; Rio de Janeiro
468; Simone Michelin; Rio de Janeiro
469; Sophie Bernard; Rio de Janeiro, RJ
470; soraia jorge; Rio de Janeiro / RJ
471; Suzan Guimarães Prado de Souza; São Paulo
472; Suzana Machado D'Oliveira; Rio de Janeiro, RJ
473; Suzana Villas Boas; São Paulo
474; Tainá Martins da Costa Gonçalves; Rio de Janeiro
475; Tania Andrade; Rio de Janeiro
476; Tania de Queiroz Grillo; Rio de Janeiro
477; Tatiana Vereza; RJ
478; Tatiana Vieira Assumpção Richard; Niterói/Rj
479; Teresa Karabtchevsky; RJ
480; Teresa Souza; Rio de Janeiro
481; Thabata Fernanda ; Cabo Frio
482; Thalis Guedes ; Cabo Frio
483; Thelma Maria Albuquerque Ono; Rio de Janeiro
484; Thereza Magalhaes; Rio de Janeiro
485; Tiago Baltar Simões; Rio de Janeiro
486; Tony Piccolo; Rio de Janeiro / RJ
487; Vandre Brilhante; Rio de janeiro
488; Vanessa Rosa; Rio de Janeiro
489; Vania Gomes Ferreira; Rio de Janeiro - RJ
490; Vania Petrucia Oliveira da Silva; Duque de Caxias
491; vera saboya ribeiro dos santos; rio de janeiro
492; Verônica Oliveira da Cunha; Rio de Janeiro
493; Vicente Bastos Ribeiro; Rio de Janeiro RJ
494; vicente viola ( vicente estevam); rio de janeiro
495; Victor D`Almeida ; Rio de Janeiro /RJ
496; viviane matesco; RJ
497; Wagner Oliveira Mattos; Niteroi-RJ
498; Walter Stephan Riedweg; Rio de Janeiro
499; Wellington Luiz Teles Ferreira da Silva; Rio de Janeiro
500; Ynaiá Dawson; Rio de Janeiro - RJ
Participação brasileira na Bienal de Veneza está em risco por Maurício Moraes, Folha de S. Paulo
Matéria de Maurício Moraes originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 24 de abril de 2009
Afundada em dívidas e em uma crise política, Fundação Bienal ainda não garantiu produção da tradicional mostra que acontece a partir de junho na Itália
O vazio que marcou a última edição da Bienal de São Paulo pode chegar ao pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza, o evento mais importante das artes plásticas no mundo. Até o momento, a Fundação Bienal não garante a produção da mostra, orçada em R$ 350 mil. Afundada em dívidas que ultrapassam R$ 4 milhões e em meio a uma crise política, a instituição pode esvaziar a representação artística e do Estado brasileiro em Veneza, já que o pavilhão é considerado território diplomático do país.
Para levantar fundos, a Bienal entrou às pressas com pedido no Ministério da Cultura para captação de recursos via lei Rouanet, mas não deve haver tempo hábil para os trâmites.
"Não aparecer em Veneza é lamentável, uma perda incrível para o circuito brasileiro", diz Ivo Mesquita, curador da representação brasileira e responsável pela última edição da Bienal de São Paulo. "Os reis escandinavos, por exemplo, vão representar seus países. É um dano na imagem do Brasil."
Os artistas selecionados para o pavilhão brasileiro são o fotógrafo paraense Luiz Braga e o pintor alagoano Delson Uchôa. Ambos seguem produzindo normalmente, apesar da incerteza sobre a mostra.
Segundo apurou a Folha, a Fundação Bienal protocolou em 17 de março um projeto de captação de fundos via lei Rouanet para custeio da representação brasileira em Veneza. O pedido está sob analise técnica e, na melhor das hipóteses, poderá ser votado apenas em maio, quando acontece a próxima reunião do Conselho Nacional de Incentivo à Cultura.
Somente a partir daí, a fundação estaria apta a buscar um patrocinador e fazer a captação. As obras, no entanto, deveriam ser despachadas no dia 5 de maio, para a produção da mostra, que será inaugurada no dia 7 de junho.
Sem decisão
O presidente da Fundação Bienal, Manoel Pires da Costa, que deve deixar o cargo em breve, reconhece que "por enquanto não há nenhuma decisão" sobre o pavilhão do Brasil em Veneza. "Não posso tomar a decisão do próximo presidente", esquiva-se. A Bienal procura há cinco meses um novo nome para substituir Pires da Costa, que está à frente da fundação há três mandatos.
O mais cotado para assumir é Andrea Matarazzo, secretário paulistano das Subprefeituras. Segundo o presidente do conselho da fundação, o arquiteto Miguel Alves Pereira "o Manoel [Pires da Costa] já não decide mais nada". Ele crê que haverá representação, mas não dá garantias nem sabe de onde poderia vir o dinheiro.
O Itamaraty, responsável pela manutenção do pavilhão do Brasil em Veneza, disse por meio de sua assessoria que trabalha com a possibilidade da representação brasileira.
Em nota, o Ministério da Cultura diz que desde outubro "vem buscando o entendimento com as instituições brasileiras e italianas para resolver esta situação extremamente delicada que se abriu com a crise administrativa da Fundação Bienal de São Paulo e o vazio institucional então decorrente". Segundo o comunicado, o ministério "não pode resolver de forma unilateral a questão, nem substituir administrativamente a instituição responsável".
Debate da Folha sobre reforma da Lei Rouanet: Ferreira e Sayad polarizam debate, Folha de S. Paulo
Matéria publicada originalmente no jornal Folha de S. Paulo, em 4 de abril de 2009
Ferreira e Sayad polarizam debate
Em evento na Folha, ministro da Cultura e secretário de Estado de SP defendem visões opostas sobre a Lei Rouanet Sayad classifica de inoportuna proposta do governo para mudar a lei; ministro diz que imobilismo teria efeito "nefasto"
DICA CANAL: procure por Lei Rouanet no www.youtube.com e veja trechos do debate.
"Fiz uma verdadeira ioga durante sua fala, para ficar calado. É preciso fazer esse esforço."
Assim, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, desautorizou um aparte do diretor da Apetesp (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de SP), Paulo Pélico, cujas críticas Ferreira replicava.
Era um entre os muitos momentos de exaltação -e alguma comicidade- produzidos pelo embate de visões antagônicas sobre a proposta do MinC (Ministério da Cultura) para reformular a Lei Rouanet, em evento promovido pela Folha, na noite de quinta, em SP.
A lei canaliza cerca de R$ 1 bilhão por ano para a produção cultural, por meio de renúncia fiscal. Mediado pelo editor da Ilustrada, Marcos Augusto Gonçalves, o debate entre Ferreira, Pélico, o secretário de Estado da Cultura de SP, João Sayad, o superintendente de Atividades Culturais do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron, e o consultor de patrocínio empresarial, diretor-geral da Significa e da Articultura, Yacoff Sarkovas, levou três horas e teve acalorada reação da plateia.
No centro do duelo entre Ferreira e Pélico estava o bumba-meu-boi, manifestação de arte popular, tomada como símbolo das distintas opiniões sobre a função da Lei Rouanet no financiamento da cultura.
"Não podemos demonizar o incentivo fiscal porque o bumba-meu-boi está sem apoio", disse Pélico, sobre análise de Ferreira de que, nos moldes atuais, a Lei Rouanet concentra recursos em projetos do Sudeste e em artistas consagrados.
"[Citar dessa forma o] Bumba-meu-boi é uma discussão pejorativa. Vocês vão acabar atraindo a antipatia do Brasil para São Paulo", reagiu Ferreira. O ministro disse que "quem tem acesso [à lei] evidentemente não quer perdê-lo. Não quer ter critério público. Não quer critério nenhum" e seguiu: "Qualquer brasileiro tem direito de acesso à cultura. Todos os brasileiros, inclusive os do Piauí", no que foi aplaudido.
Mas a plateia aplaudiu e gritou "bravo!" também quando Sayad expressou sua visão, contrária à reforma da lei, e questionou o senso de oportunidade do MinC ao sugerir a mudança. O secretário paulista polarizou o debate com o ministro.
"No momento em que temos expectativa de redução brutal do lucro das empresas, vamos adicionar uma incerteza a um setor com uma infinidade de pessoas? Elas vão ter que, além de viver a crise, viver uma mudança não conhecida na Lei Rouanet? Discordamos do projeto de lei. Achamos que é dirigista. Discordamos sobre a oportunidade e discordamos da estratégia [do MinC] para a cultura", afirmou Sayad.
A aura de insegurança que toma parte do setor cultural em relação ao projeto não escapou ao ministro. "É o velho medo. Nada de medo. Diante do medo, devemos ter compaixão e solidariedade. Mas, diante da mistificação para gerar medo, não tenho nenhum respeito".
Para reduzir temores de que a reforma leve à redução de recursos para os produtores culturais e ao aumento do financiamento de projetos governamentais, o ministro se comprometeu a alterar o projeto:
"Vamos deixar claro que, através do Fundo [Nacional de Cultura] não haverá captação nem para o governo federal, nem os estaduais, nem os municipais. Vamos nos comprometer agora com isso".
Além da defesa da reforma da lei (por Ferreira) e da avaliação de que ela é desnecessária (por Sayad), uma terceira opinião despontou no debate, com Sarkovas: "Acho que as leis de incentivo deveriam ser extintas, porque elas têm problemas estruturais impossíveis de ser corrigidos com ajustes". Para ele, é preciso estimular o mercado e deixar ao Estado a tarefa de investir de acordo com uma política cultural pública.
A seguir, os principais trechos do debate, cuja íntegra está disponível no endereço: www.folha.com.br/090931.
DIRIGISMO
Juca Ferreira - Na segunda etapa [do funcionamento da lei] tem dirigismo. Quem, em última instância, define o que é meritório para receber esses recursos são os departamentos de marketing das empresas. O Estado faz dirigismo. E o mercado faz dirigismo. Basta que a sociedade permita que o Estado faça dirigismo e que o mercado faça dirigismo.
João Sayad - Na medida em que existe grande propósito de aumentar recursos do Fundo Nacional de Cultura, em detrimento dos outros, e intenção legítima do ministério de ter mais poder de decisão dos recursos destinados à cultura, não há nada de errado, mas é efetivamente modificação discricionária.
Yacoff Sarkovas - Quem não teme dirigismo, censura, apadrinhamento? Estabelecer critério público não pode ser, a priori, chamado de dirigismo. Temos herança de um Estado corrupto, apadrinhador de interesses de pequenos grupos. É difícil aceitar a ideia de que recursos possam ser distribuídos com lisura na esfera pública. Ou a gente desiste da república ou enfrenta essa questão.
Paulo Pélico - Ao transferir para um decreto todos os poderes para montar as regras que iriam nortear esse processo [de seleção de projetos na Lei Rouanet], [o governo] cria grande brecha para o dirigismo cultural. Em mãos erradas, isso pode ser instrumento poderoso do alinhamento político e ideológico, na lógica do torrão de açúcar. Temos que nos precaver para que isso não venha a acontecer. Se tem que entrar no mérito [artístico dos projetos aspirantes ao patrocínio], de que jeito e para quem?
VERBA CONCENTRADA
Ferreira - Aponto como uma dificuldade que nem todos os produtores culturais, independentemente de onde estão localizados territorialmente têm acesso à renúncia fiscal em todo o território nacional. Temos concentração em certas regiões. Mas é falso chamar essa discussão para uma discussão puramente territorial. A desigualdade de acesso à cultura é enorme e boa parte da população está alijada.
Sayad - As informações que o senhor [Ferreira] apresenta sobre concentração [de recursos da Lei Rouanet] misturam muitas coisas e não são um diagnóstico correto. Já se confunde proponente [de projeto cultural] com artista. Não concordo com suas análises sobre a concentração. A arte paulista só é acessível aos paulistas? Se o proponente é a Natura ou o Itaú Cultural não quer dizer que ele vai financiar um artista só ou um artista da região Sudeste. Há confusão [de conceitos] sobre artista local e bem estadual. Se a Natura ou o Bradesco financiarem a Ivete Sangalo, onde o sr. vai colocar esse resultado? Se for um artista baiano, nós, paulistas, poderemos ouvi-lo? Esses índices são problemáticos. Não indicam a concentração que o sr. gostaria de apontar na lei.
Eduardo Saron - Faltam instrumentos que possam medir o impacto [da Lei Rouanet] na economia da cultura. Me parece fundamental que o ministério tenha um organismo nesse campo. Cada real empregado na cultura quanto gera na cadeia produtiva brasileira? Os dados são ainda muito pontuais e restritos a um universo. Temos que avançar nesse sentido, para ter ideias mais precisas sobre as injeções de verba na cultura. O desequilíbrio precisa ser equalizado não pela diminuição do mecenato.
A (NÃO) MUDANÇA
Sayad - A opinião pública, irritada com o governo, com os bancos, confunde os financiadores da cultura com os bancos ou as empresas associadas a ele. A lei de renúncia fiscal, do ponto de vista político pode ser facilmente criticada, como o caso do Cirque du Soleil [autorizado a captar R$ 9,4 milhões]. Esses erros, que ocorreram há muito tempo, não requerem mudança da lei, mas mudança do gerenciamento da lei, que está congestionada, como o sr. reconhece.
Ferreira - Assumam a responsabilidade sobre essa proposta, porque ela tem consequência desastrosa para a área cultural. Estamos vivendo uma dificuldade objetiva, que é a crise econômica que chegou ao Brasil. Desde outubro passado há retração de adesão à Lei Rouanet. As empresas recuaram. Essa proposta imobilista é nefasta. Dá aparente segurança, mas é o desastre da área cultural. É um erro, e eu estou denunciando aqui.
A FAVOR
A atriz Maria Alice Vergueiro, 74, concorda com o ministro Juca Ferreira: "A lei beneficia um círculo vicioso das empresas, que usam a verba para projetar a sua imagem. O resultado são produções raquíticas, que ficam apenas dois meses em cartaz, enquanto peças experimentais e grupos que fazem pesquisa não têm vez", disse. "E foi pejorativo o que se falou sobre o Bumba Meu Boi. Sinto-me uma Bumba Minha Vaca, pois não tenho oportunidade."
CONTRA
Para o ator e produtor Odilon Wagner, 54, há uma má gestão do Fundo Nacional de Cultura (FNC) e o ministro tem confrontado "os setores da cultura entre si, enquanto o confronto deveria ser com os ministérios da Fazenda e do Planejamento para obter orçamento maior". Já a atriz Beatriz Segall, 82, disse que há, sim, dirigismo nas propostas de mudança. "Como ele pode propor transparência se ele mesmo não aceita o diálogo e não aceita as críticas?"
Em entrevista, Temporão defende a criação das fundações estatais por Luciana Abade, Jornal do Brasil
Em entrevista, Temporão defende a criação das fundações estatais
Matéria de Luciana Abade publicada originalmente em País no Jornal do Brasil, em 22 de março de 2009
BRASÍLIA - Está pronto para ser votado em plenário o Projeto de Lei Complementar 92/07, que cria as fundações estatais de direito privado. De autoria do Poder Executivo, a proposta possibilita a criação de instituições nos âmbitos federal, estadual e municipal que possam concorrer com a iniciativa privada nas áreas de saúde, assistência social, cultura, esporte, ciência e tecnologia, meio ambiente, comunicação social, turismo e previdência complementar do serviço público. Do ponto de vista jurídico, a principal novidade é que esses órgãos terão personalidade jurídica de direito privado.
Na última quinta-feira, os ministros da Saúde, José Gomes Temporão, da Educação, Fernando Haddad, do Turismo, Luiz Barretto e da Cultura, Juca Ferreira foram à Câmara dos Deputados pedirem prioridade na aprovação do projeto. O presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), garantiu que se o Supremo Tribunal Federal (STF) acatar seu pedido para que as medidas provisórias não tranquem, necessariamente, a pauta, a votação do projeto será breve.
O Ministério do Planejamento coordena a discussão do PL desde 2005 sob a alegação de que o novo modelo vai dotar o governo de agilidade porque a atual estrutura do serviço público conta com uma série de entidades, como as autarquias, que não possuem autonomia orçamentária. O projeto original recebeu substitutivo nas comissões de Trabalho, Administração e Serviço Público; e Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara que torna obrigatória a realização de concursos públicos para os quadros de funcionários.
O projeto é polêmico porque muitos o veem como a privatização dos serviços públicos. Na saúde, a proposta divide opiniões. Os profissionais da área não recebem de bom grado a possibilidade de serem contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho. Em entrevista ao Jornal do Brasil, Temporão garantiu que esse é um temor equivocado e que a população só tem a ganhar com um sistema que prezará pelas “competência dos gestores”, que serão responsabilizados pelas suas ações, ao contrário do que ocorre atualmente.
Quais as vantagens que as fundações podem trazer para o sistema de saúde pública brasileiro?
É uma mudança radical de paradigma da gestão, no meu caso, de hospitais. Você hoje tem o modelo de administração dos hospitais públicos no Brasil que continuam baseados em princípios da administração pública de 40, 50 anos atrás. Não houve nenhum tipo de atualização. Em alguns países do mundo como Inglaterra, Espanha e Portugal os governos testaram e adotaram modelos alternativos. Muitos países estabeleceram parcerias público privadas, outros encaminharam pelos caminhos da privatização, da terceirização e nós optamos por um caminho diferente, buscar dentro da estrutura do Estado, um modelo que fosse mais flexível no sentido da datação e remuneração dos profissionais de saúde, um modelo que profissionalize a gestão. Os gestores dessas unidades terão que ter qualificação para exercer essa função. E um modelo que inove também atuando com base em contratualização. Com estabelecimento de metas, indicadores de desempenho. Essa é a essência da proposta.
As fundações representam a privatização do serviço público de saúde?
Ao contrário do que alguns críticos dizem, não há nada de privatização nisso. A fundação é estatal, então ela pertence ao Estado, o orçamento vai estar no SIAF (Sistema Integrado de Administração Financeira), ela será controlada por órgãos como TCU (Tribunal de Contas da União), CGU (Controladoria-Geral da União). Mas as regras de contratação do seus funcionários passam a ser regidas pelos direito privado, ou seja CLT.
Os funcionários da saúde criticam o novo modelo porque ele põe fim a estabilidade proporcionada pelo regime jurídico único do servidor público?
Provavelmente. Mas me parece que é uma crítica descabida. Hoje grande parte do funcionamento do sistema único de saúde se dá com base em hospitais filantrópicos, conveniados todas as relações contratuais dos profissionais são distintas do RJU. Nós temos vários exemplos de hospitais públicos de qualidade como o instituto do coração em São Paulo, ou a Rede Sarah onde os médicos e enfermeiros trabalham regidos pela CLT e eu não conheço nenhum indício de que esse serviço tenha algum tipo de desempenho aquém ou de pior qualidade do que o hospital público padrão. Exatamente o contrário. Onde nós percebemos mudanças de modelo e introdução de novos mecanismos que exigência de desempenho, pagando melhor a quem produz mais, introduzindo critérios de monitoramento desse desempenho, é onde a população reconhece uma medicina e um atendimento de melhor qualidade.
Como ficará a situação dos atuais funcionários caso os hospitais em que trabalham migrem para o novo modelo?
Você vai ter uma carreira em extinção, composta pelos atuais servidores e uma nova carreira através de concurso público. Os que migrarem poderão receber uma complementação salarial dentro desse novo modelo. Os salários serão aumentados através de um cumprimento de jornadas e uma série e de indicadores.
Como será feito o repasse de recursos?
Por meio de um contrato de gestão. E isso é uma grande mudança. Hoje os hospitais públicos já tem o orçamento pré-definido, trabalhem bem, funcionem bem ou funcionem mal, o mesmo dinheiro vai para lá. Agora você vai fazer uma contratualização com essa fundação. Ela vai ser obrigada a dizer para o governo o que ela vai fazer. Quantas atividades, quais as atividades, com que qualidade, se vai fazer atividades de pesquisa, de formação de recursos humanos e ela vai ser obrigada a prestar contas dos recursos que ela vai receber para desenvolver essas atividades. Além disso, nós vamos ter o conselho de gestão e nós podemos até inovar. Esse conselho pode ter participação dos funcionários, do governo, dos usuários. Enfim, é um modelo muito mais transparente e, com certeza, muito mais eficiente.
O que acontecerá se os gestores não atingirem as metas?
Com certeza vamos introduzir punições. A visão hoje é que nada acontece. Se o hospital funciona bem ou funciona mal, nada acontece com os diretores e com os profissionais. Essa é a mudança importante. A partir de agora, o grau de responsabilização dos gestores e dos funcionários muda radicalmente. Eles assumem o compromisso de cumprir metas e hoje nada disso existe. Se o hospital público hoje deixar de fazer exame, se o equipamento quebrou e ele não cumpriu determinadas demandas da população, a pessoa pode até reclamar, a imprensa denuncia e tudo continua na mesma. Esse modelo que nós estamos propondo muda essas relações e a cultura institucional, essa é a questão central porque hoje a cultura institucional é uma cultura de apatia, de resignação. É um pouco assim: o governo finge que me paga e eu finjo que trabalho. É isso que queremos romper. É uma coisa lamentável, mas é isso que acontece hoje cotidianamente na maioria dos hospitais públicos brasileiros.
Como será feita a escolha dos gestores?
Por currículo, competência, cursos de especialização em gestão. Terá que ser especialista em administração hospital. E aí a gente vai superar também muitas vezes o fisiologismo e indicações que nada tem a ver com a finalidade da sociedade. Nós vamos privilegiar o mérito, a capacidade e a competência.
Se o PL for aprovado, como será feita a transferência dos hospitais paras as fundações?
Para cada nova fundação a ser proposta nós temos que ter um projeto de lei específico. Esse projeto de lei aprovado passa a autorizar a existência de fundações estatais. Para cada fundação estatal que a União, se for o caso, quiser criar, terá que ter um projeto de lei. O MEC, por exemplo, tem 48 hospitais universitários, então, em princípio, serão 48 projetos de lei. Eu tenho vários hospitais no Rio e mais um em Porto Alegre. Eu vou ter que encaminhar projetos de lei específicos para o Congresso Nacional. No caso de governadores e prefeitos, essas propostas também deverão ser aprovadas pelas câmara legislativas e de vereadores.
Então o processo não é possível a curto prazo?
O importante é que esse ano nós aprovemos esse projeto de lei no Congresso. Essa aprovação vai sinalizar para todo o país a possibilidade de que os governos de todos os estados e as prefeituras que administram hospitais de médio e grande porte possam aderir imediatamente e entrar nesse processo e, no caso do governo federal, o problema é meu e do MEC, por causa da administração dos hospitais universitários e o ministério da saúde tem uma rede própria no rio de janeiro e no rio grande do sul. Mas quero chamar atenção que alguns governos já tomaram iniciativas próprias adotadas por leis estaduais, como Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Sergipe.
Qual a principal diferença entre as fundações propostas e o modelo adotado por São Paulo de organizações sociais?
As organizações sociais são entidades privadas, que passam a ser gerenciadas por instituições privadas e estabelecem também um contrato de gestão com o estado. A filosofia é muito parecida. Mas o modelo jurídico-institucional é bastante distinto. O modelo que nós estamos propondo é um modelo público, embora gerido pelo direito privado. Já as organizações sociais são entidades privadas que fazem um contrato com o estado.
O novo modelo resolverá os problemas da saúde pública no Brasil?
Seria muita pretensão que nós pudéssemos mudar a saúde pública num passe de mágicas, mas, com certeza, o padrão de funcionamento dos hospitais públicos que migrem para o novo modelo, vai mudar radicalmente.
abril 20, 2009
Ministério Público analisa o resumo da ópera por Eduardo Fradkin, O Globo
Matéria de Eduardo Fradkin originalmente publicada no Segundo Caderno no jornal O Globo, em 18 de abril de 2009
Denúncia sobre montagens no Teatro Municipal gera processo, que Carla Camurati atribui à campanha contra OS
Está em circulação um e-mail que detalha denúncias feitas ao Ministério Público Estadual contra a gestão de Carla Camurati à frente da Fundação Theatro Municipal, por conta de supostas remunerações indevidas pagas a profissionais que trabalharam em espetáculos do ano passado na centenária instituição. O Ministério Público (MP) confirma que recebeu formalmente as denúncias e instaurou processo, na 7ª promotoria, para investigá-las, mas o encarregado do caso se recusa a comentá-lo por enquanto, pois nada foi comprovado até agora. A documentação recebida pelo MP para embasar as denúncias está sob sigilo, pelo mesmo motivo.
O e-mail começa dizendo que Carla está empenhada na transformação da Fundação Theatro Municipal numa OS (organização social), entidade de direito privado. O projeto de lei que propõe essa transformação, elaborado pela Secretaria estadual de Cultura, tramita na Assembléia Legislativa e tem provocado manifestações de revolta dos funcionários do teatro.
Em seguida, a missiva acusa Carla de conceder a si mesma cachê de R$60 mil pela direção da ópera “Carmen”, em novembro de 2007, e de R$20 mil pelo espetáculo “Stabat mater”, em março de 2008. O diretor artístico do teatro e regente de sua orquestra, Roberto Minczuk, também é citado por receber pagamentos extras e se afastar de suas atribuições naquela casa por períodos de mais de 15 dias sem autorização do governador. Por fim, é relatado que uma assessora da presidência da Fundação Theatro Municipal ganhou generosos cachês como cenógrafa e figurinista de “Carmen”, sendo que a ópera foi apresentada em forma de concerto.
Carla se mostrou surpresa ao tomar conhecimento das denúncias e disse que comentá-las equivaleria a dar crédito a acusações sem provas.
— Até agora, eu não fui procurada pelo Ministério Público, e não dá para ficar comentando correntes de internet. Assim que o MP me procurar, contará com todo meu apoio e colaboração para dar todas as informações necessárias e esclarecer qualquer dúvida que eles tenham. Minha administração no teatro é honesta e transparente. É fácil perceber, pelo teor do e-mail, que ele faz parte de uma campanha orquestrada por quem é contra o projeto de lei do governo sobre as OS. As pessoas, ao invés de discutirem as ideias e questões que o projeto propõe, estão atirando para todo lado para tentar desqualificá-lo, e agora procuram atingir a mim e ao meu trabalho. Além do mais, um texto que começa dizendo que eu influenciei o governador e a secretária para a implantação das OS é uma loucura — argumentou ela.
Novas ideias, velhos vícios por Nelson Motta, O Globo
Artigo de Nelson Motta originalmente publicado na seção Opinião no jornal O Globo, em 10 de abril de 2009
O que tem em comum:
- A Osesp, que sob a batuta de John Neshling se tornou uma das melhores orquestras do mundo. E sua sede, a Sala São Paulo, a melhor do país;
- A Estação das Docas, de Belém, que transformou o velho cais do porto em um moderno complexo turístico-cultural, que orgulha os brasileiros e se nivela aos seus similares de Buenoas Aires e de Lisboa;
- A lindíssima, por fora e por dentro, Pinacoteca do Estado, em São Paulo, seu acervo e sua programação;
- O Porto Digital de Recife, comandado por Sílvio Meira, com mais de 200 profissionais de ponta trabalhando na criação de softwares, que se tornou uma referência internacional como polo tecnológico;
Além da alta qualidade desses produtos, serviços e equipamentos culturais, que servem ao público em padrão internacional, o que eles têm em comum é a eficiência e transparência de sua gestão. Que não é feita pelo Estado, nem por empresas privadas ou ONGs, mas por OSs — Organizações Sociais, entidades sem fins lucrativos, qualificadas e especializadas, que o Estado contrata para executar seus programas nas áreas de educação, cultura, meio ambiente e tecnologia.
O contrato de gestão tem objetivos e metas definidos pelo Estado, que são fiscalizados e cobrados. Não cumpridos, são rescindidos e os gestores punidos. É a forma moderna de dar agilidade e eficiência à gestão cultural. Para diminuir a burocracia e a corrupção e fazer melhor uso do dinheiro público.
No Rio de Janeiro, o projeto que propõe o modelos das OSs para gerir teatros, museus, centros e projetos culturais foi enviado para a Alerj e está sendo bombardeado pelo funcionalismo, que teme perder espaços e privilégios. Mas se mostra incapaz de produzir melhor desempenho e não responde aos exemplos de eficiência, competência e sucesso dos projetos citados — todos geridos por OSs.
Os deputados sofrem a pressão, morrem de medo de perder votos do funcionalismo. E o Rio de janeiro corre o risco de ficar atrás de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul, e até de Sergipe, pela força do corporativismo e do atraso que dominam a política carioca.
EAV quer voltar a ser referência para as artes por Suzana Velasco, O Globo
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no Segundo Caderno no jornal O Globo, em 8 de abril de 2009
Com nova diretoria no Parque Lage, associação de amigos e secretaria de Cultura planejam seminários, intercâmbios e reformas
A escolha da crítica de arte Luiza Interlenghi como diretora da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no mês passado, marca o início de novos projetos para o espaço. O desejo de um enfoque maior na arte contemporânea vem da secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, e da direção da Associação de Amigos da escola (Ameav), que escolheram juntos o nome de Luiza para substituir o do gravurista Carlos Martins, diretor da escola desde janeiro de 2007. Eles têm projetos assumidamente ambiciosos para que a EAV volte a ser um centro de referência de artes no país. Concurso para comunicação visual da escola, seminários com profissionais de outras áreas da cultura, intercâmbio com instituições de outros estados e países, reformulação da biblioteca, reforma da mansão e das cavalariças e até a construção de um prédio anexo são alguns dos objetivos para os próximos anos.
Queríamos uma pessoa que fosse ao mesmo tempo o braço da secretaria de Cultura na EAV e capaz de dinamizar esse diálogo com a classe e a sociedade - diz Adriana Rattes. - A Luiza tem experiência com gestão de projetos e de equipamentos públicos, fez parte da Funarte na década de 1980 e tem uma formação robusta na área. Queremos ser referência para a arte contemporânea no Rio e no Brasil e conversar com a cena internacional.
Leilão arrecadou R$650 mil, usados na manutenção
Luiza ainda não foi oficialmente nomeada, mas já está conversando com os funcionários. A diretora quer manter os encontros mensais com os artistas aos sábados, que já começaram, e incentivar os workshops. Ela também destaca a vinda de Brett Littman, diretor do Drawing Center, de Nova York, que fará uma palestra no dia 28 deste mês e, no dia seguinte, analisará os portfólios dos estudantes da EAV. Apesar de não achar que a escola tenha se afastado da arte contemporânea, Luiza acredita que ela tem potencial para uma maior produtividade.
A escola mantém uma qualidade por décadas, principalmente a partir de Rubens Gerchman (que reestruturou a EAV a partir de 1975) - afirma ela, que é mestre pela PUC-RJ e pelo Bard College, em Nova York, e ex-diretora do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza. - Queremos que um número maior de artistas venha à escola, e que aqueles que foram importantes para a história da EAV voltem. Neste momento, sou uma articuladora entre funcionários, estado e associação de amigos.
Produtividade depende de dinheiro, e a escola, no ano passado, tinha um débito mensal de cerca de R$20 mil. Num leilão organizado pela Ameav, em novembro do ano passado, foram arrecadados R$650 mil - o que, segundo o artista Ernesto Neto, conselheiro da associação de amigos, permitiu que a escola passasse por um "momento de introspecção". É uma reserva, já que a EAV ainda não tem um orçamento definido pela Secretaria de Cultura.
O dinheiro arrecadado vem sendo usado para a manutenção da escola. Segundo o ex-diretor, Carlos Martins, quatro salas de aula foram reformadas após o leilão, com limpeza, pintura e ajuste de iluminação. Agora, a associação se concentra em regularizar a parte contábil e melhorar a informatização do Parque Lage.
Para informatizar a escola como queremos, por exemplo, é necessário mudar toda a carga elétrica. Não adianta sair fazendo eventos para aparecer sem ter essa infra-estrutura - diz Neto.
A longo prazo, desejo de anexo e satélites da escola
A programação do primeiro semestre será mantida, mas a associação quer novidades nos cursos a partir de agosto, de preferência já com um novo projeto de comunicação visual, que será escolhido por concurso público, e com a abertura da Ameav para a captação de recursos. Quando ainda estava sob a direção de Martins, a escola enviou sete projetos para uma parceria com o Oi Futuro, e dois foram aprovados: a recuperação dos equipamentos do ateliê de gravura e a ampliação de duas para dez escolas da periferia da cidade atendidas pelo Núcleo de Arte e Tecnologia (NAT) da EAV.
A restauração da sede e das cavalariças depende de recursos do Fundo Estadual de Meio Ambiente (Fecam). O imóvel pertence ao Ibama, mas a concessão para o governo estadual, vencida há quase um ano, está em processo de renovação. O objetivo é que, no ano que vem, o Parque Lage possa ser gerido por uma organização social, seguindo o modelo da administração privada de instituições públicas desejado por Adriana Rattes.
Pela primeira vez existe, no Parque Lage, uma confluência de discursos entre estado, associação de amigos e pessoas de fora. Queremos trazer novos alunos, professores, artistas, a sociedade como um todo. O leilão simbolizou essa vontade de abertura - afirma o diretor da Ameav, Paulo Vieira, colecionador e integrante do conselho do MAM. - Ainda acreditamos que o Rio seja o maior pólo de produção de arte. Queremos que ele volte a atrair alunos de excelência nas artes.
Vice-diretor da Ameav, Márcio Botner - artista e, junto com Ernesto Neto e Laura Lima, sócio da galeria A Gentil Carioca - frisa que a história do Parque Lage será respeitada, e seus professores, ouvidos. Ele cita, por exemplo, um projeto do professor Charles Watson de filmar palestras e encontros, para que a escola crie um registro de si própria. Já o prédio anexo, que seria ecologicamente sustentável, é um projeto a longo prazo. Ele abrigaria ateliês para alunos e artistas residentes. Os membros da Ameav reconhecem sonhar alto.
A longo prazo, queremos ter satélites da escola em outras áreas da cidade e do estado, ou através de programas que a EAV implante em outras escolas - diz Neto. - Nossa pequena ambição é simplesmente mudar a percepção do brasileiro do que é cultura e educação. Queremos apenas mudar o Brasil através da escola. Estou sentado nesta cadeira por isso. Porque a cultura é simplesmente a coisa mais importante da Humanidade.
Terceirização da cultura gera novas mobilizações por Eduardo Fradkin, O Globo
Matéria de Eduardo Fradkin originalmente publicada no Segundo Caderno no jornal O Globo, em 3 de abril de 2009
Servidores públicos do estado fazem protesto hoje, mas petição a favor da lei está em curso
'A discussão tinha esfriado, mas agora vai esquentar de novo". A avaliação, do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), deputado Jorge Picciani (PMDB), diz respeito aos dois projetos de lei (nº 1.974 e nº 1.975) elaborados pelo Poder Executivo estadual para terceirizar as instituições vinculadas à Secretaria de Cultura. Enviados à Alerj no início de fevereiro, eles provocaram protestos de servidores públicos do Teatro Municipal e da rede de teatros e museus da Funarj, que interpretaram a medida como uma tentativa de privatização. Alguns deputados, como Cidinha Campos, ficaram do lado deles e fizeram discursos contra a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes. Depois, o assunto esfriou.
O reaquecimento se deve a dois movimentos opostos. De um lado, aqueles funcionários públicos, que incluem músicos e bailarinos, farão novo protesto às 16h de hoje, na escadaria da Câmara Municipal. Enquanto isso, a Secretaria estadual de Cultura está organizando uma petição em favor da aprovação da nova lei. Anteontem, Picciani recebeu um e-mail do governo do estado anunciando que artistas e intelectuais de renome estão sendo procurados para assinar o documento.
- O debate estava polarizado entre o governo e os interesses corporativos dos funcionários das instituições do estado. O que estou fazendo é ampliá-lo para todo o meio cultural. Tive reuniões com diversos artistas e intelectuais para explicar os projetos de lei, e ficou acertado que seria confeccionado um documento para ser enviado à Alerj. Deverá ficar pronto em alguns dias - esclarece Adriana Rattes.
Segundo Picciani, a discussão na Alerj chegou a um impasse, pois havia uma divergência irreconciliável de opiniões entre os representantes do governo e os dos funcionários dos equipamentos culturais:
- Se a secretária conseguir mobilizar a classe artística, com nomes de peso da cultura assinando um manifesto a favor da lei das OS, isso vai ajudar a aquecer o debate, que vive um momento de impasse na Alerj. Podemos marcar uma nova reunião para discutirmos o assunto com os artistas que assinarem o manifesto, os representantes dos sindicatos e os do governo estadual.
Secretária diz que novo modelo será transparente
No e-mail, foram citados artistas como Fernanda Montenegro, Domingos Oliveira, Arnaldo Jabor, Cláudio Botelho e Luiz Stein. Nem todos, porém, já dão seu aval à petição.
- Fui a uma reunião, ouvi as explicações e achei que o projeto tem muitas qualidades e defeitos. Quero estudar melhor o assunto antes de tomar uma posição - disse o dramaturgo Domingos Oliveira.
- Fui convidado para as reuniões com a secretária, mas não pude comparecer. Não soube de abaixo-assinado algum - alegou Cláudio Botelho.
Segundo Adriana, a proposta, conhecida como lei das OS (organizações sociais), dará transparência e agilidade à administração dos equipamentos culturais do estado, numa gestão em que 50% dos membros de seus conselhos diretores viriam da sociedade civil, 10% por indicação dos funcionários e 40% seriam representantes do poder público. Os atuais funcionários públicos teriam seus benefícios garantidos, e o financiamento do estado continuaria.
George Vidor sobre as OSs do RJ, O Globo
George Vidor sobre as OSs do RJ
Nota de George Vidor originalmente publicada na Economia no jornal O Globo, em 2 de março de 2009
Quatorze unidades da federação já têm leis que autorizam instituições públicas a se estruturarem como organizações sociais. O modelo mantém a característica de entidades com fins públicos, porém com um pouco da flexibilidade do setor privado. As organizações sociais se adaptaram muito bem às áreas de saúde (hospitais, principalmente) e de cultura. Por isso, o Rio de janeiro — único dos principais estados a não ter ainda esse tipo de legislação — quer começar exatamente por essa última, o que tem dado muita dor de cabeça à secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes.
Quem já trabalha no Estado, como funcionário público estatutário, continuará como tal, mas no momento que instituições como o Theatro Municipal, a Biblioteca Estadual ou o Museu da Imagem e do Som passarem a ser geridos por organizações sociais, ficará mais fácil montar espetáculos, contratar pessoal qualificado para cada atividade etc.
O problema é que entre funcionários públicos é sempre enorme a resistência à qualquer mudança. Mesmo que na prática essa experiência já tenha se mostrado eficaz, o corporativismo reage à ideia e pressiona a Assembléia Legislativa para que o projeto de lei não seja aprovado.
Perdem o Estado do Rio, o Theatro Municipal (com 1.200 funcionários), e o público, que poderiam estar desfrutando de programações semelhantes às exibidas na Sala São Paulo ou na Pinacoteca, ambas geridas por organizações sociais na capital paulista.
Em crise, Bienal é adiada para 2011; instituição procura novo presidente por Catia Seabra, Folha S. Paulo
Matéria de Catia Seabra originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha S. Paulo, em 17 de abril de 2009.
Folha obtém minuta de balanço que evidencia situação insustentável; Andrea Matarazzo analisa dados para aceitar convite
Enfrentando severa crise, o conselho de administração da Bienal de São Paulo já trabalha com adiamento de um ano da mostra de arte. Pelo calendário apresentado ao secretário municipal Andrea Matarazzo -recém-convidado a assumir a presidência da fundação-, a próxima Bienal está programada para 2011. Não mais para o ano que vem, como originalmente previsto. Além disso, planejada para este ano, a Bienal de Arquitetura só deverá acontecer a partir de 2010.
Até lá, o futuro presidente ganharia fôlego para sanear as contas da fundação, negativas, pelo menos, há dois anos.
Segundo números obtidos pela Folha, a Fundação Bienal de São Paulo encerrou 2008 com uma dívida de curto prazo de R$ 4,657 milhões, sendo R$ 2,39 milhões com fornecedores e R$ 859 mil em empréstimos.
Ainda de acordo com o documento -encaminhado ao conselho fiscal e chamado de "minuta" pela presidência da Bienal- a fundação gasta, ao longo do ano, mais do que arrecada.
Em 2008, sua receita foi de R$ 13,9 milhões, e as despesas, R$ 15,6 milhões: um buraco de R$ 1,643 milhão. Em 2007, o déficit foi de R$ 1,551 milhão.
Procura-se
Desde outubro, o conselho da Bienal procura um sucessor para o atual presidente da fundação, Manoel Pires da Costa. Pelo estatuto, seu mandato estaria encerrado no dia 6 de fevereiro, dois meses depois da conclusão da Bienal.
Mas a debilidade financeira está afugentando os potenciais pretendentes. Presidente do conselho administrativo da fundação, o arquiteto Miguel Pereira conta que, antes de Matarazzo, outros cinco foram sondados para o cargo.
Os números da fundação, reconhece, os desencoraja. "A bienal está demorando a resgatar o prestígio e credibilidade. Sofremos um revés acentuado, principalmente nos últimos dois anos", afirma Pereira.
Também dedicado à escolha do novo presidente, o conselheiro Julio Landmann conta que a lista de convidados incluiu José Olympio, Rubens Barbosa e Suzana Steinbruch.
"Não me lembro de outra Bienal em que o novo presidente não estivesse conhecido até meados de março. Estamos no mínimo um mês atrasados", diz Landmann.
Aberta essa lacuna, o conselho está, segundo Landman, disposto a adiar a Bienal para 2011. "Eu jamais faria em 2010. Não me parece lógico. O conselho, por si só, já está convencido de que não seria ideal. Vamos dizer: não teria empecilho jogar ela para frente por mais um ano", admite Landmann.
Ao ser convidado pelo conselho, Matarazzo foi informado de que a intenção é montar a Bienal de artes somente em 2011. É a data que fixa o tamanho do mandato do novo presidente.
Consenso
"Há um consenso de que a mostra foi postergada para 2011. Estou trabalhando com esse prazo", afirma Matarazzo, à espera da revisão de uma auditoria sobre os números da Bienal. Até o presidente Manoel Pires da Costa reconhece: "Não é uma coisa absurda, em função do que está acontecendo na economia do mundo, deixar para fazer a Bienal daqui a dois, três anos".
Pires da Costa -que teve a minuta de balanço questionada pelo conselho fiscal- prefere generalizar a crise: "É um problema da economia do mundo".
Na semana passada, as contas da Bienal foram apresentadas para o conselho de administração. Contratada pela fundação, a empresa Deloitte Touche Tohmatsu apontou ressalvas nas demonstrações financeiras da fundação. A auditoria será revista.
O presidente da Bienal chegou a agendar uma entrevista com a Folha para falar sobre a saúde financeira da fundação. Mas, por orientação de seu advogado, o encontro foi cancelado. Em nota, a assessoria disse esperar o fim da auditoria.
Matarazzo, por sua vez, depende desses números para tomar sua decisão. "Nunca tinha cogitado isso. O que me sensibiliza é o risco de a Bienal terminar", acrescenta ele, que carrega o sobrenome de Ciccillo Matarazzo, fundador da instituição.
abril 16, 2009
Fundação Roberto Marinho contesta MinC por Silvana Arantes, Folha S. Paulo
Matéria originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha S. Paulo, em 15 de abril de 2009.
Entidade questiona mudanças da Lei Rouanet em documento ao ministro da Cultura
Críticas da fundação ao projeto do governo têm base em aspectos jurídicos; ministro diz que aceita o debate e dará respostas
A Fundação Roberto Marinho encaminhou ao Ministério da Cultura um questionamento, amparado em argumentos jurídicos, à mudança da Lei Rouanet proposta pela pasta.
A principal crítica da Fundação Roberto Marinho às alterações que o MinC propõe na lei é que elas a tornam "menos atrativa" aos empresários e, se efetuadas, resultarão na redução dos recursos injetados na área.
"Não vejo sentido em criar qualquer desestímulo. A cultura é que está sendo penalizada", afirma Hugo Barreto, secretário-geral da fundação.
O ministro Juca Ferreira diz que "o comentário é inócuo". Ele afirma que "em 18 anos de [vigor da] lei, só 4% do universo das empresas que podem contribuir com a Lei Rouanet contribuem; o resultado dessa parceria-público-privado redundou em 90% de dinheiro público e só 10% de dinheiro privado [movimentados pela lei]" e conclui: "É tapar o sol com a peneira não reconhecer que é preciso modificar as regras para que a gente de fato tenha uma parceria-público-privado no financiamento da cultura".
A fundação contabiliza 33 projetos financiados com recursos da Lei Rouanet, tendo reunido, desde que a lei está em vigor, R$ 81 milhões.
Mais da metade do montante captado pela Fundação Roberto Marinho foi para a implantação dos museus da Língua Portuguesa (R$ 25,2 milhões), aberto em 2006, e do Futebol (R$ 19 milhões), no ano passado -ambos em São Paulo.
A Lei Rouanet (1991) canaliza parte do Imposto de Renda devido para a produção cultural. Movimentou, em 2008, cerca de R$ 1,2 bilhão.
O MinC (Ministério da Cultura) apoia sua proposta de alterar a lei no argumento de que é preciso torná-la mais democrática, dotando-a de critérios que garantam amplo acesso ao mecanismo, cujos recursos hoje concentram-se na região Sudeste e num grupo de usuários.
Barreto afirma que os projetos da entidade "são todos de natureza pública". Ele cita que a Fundação Roberto Marinho "é ligada à família Marinho, e não às empresas Globo" e diz que os Marinho doam anualmente R$ 20 milhões "já tributados" à fundação, que "opera com recursos de terceiros".
A instalação dos museus da Língua Portuguesa e do Futebol foi feita em parceria com os governos municipal e estadual de São Paulo. "A gente tem um modelo de atuação atendendo a demandas do poder público", afirma Barreto.
Sobre a concentração de recursos da lei na região Sudeste apontada pelo MinC, Barreto afirma: "Não há quem discorde de que a Lei Rouanet não conseguiu distribuir recursos na intensidade adequada para o Norte e o Nordeste. Só que o anteprojeto [do MinC] não traz nenhuma proposta objetiva para essa questão, não traz nenhuma ferramenta para corrigir essa distorção".
Critérios
O ministro vê "razão parcial" na observação. "Na medida em que você vai ter critérios [a serem definidos futuramente por decreto], na elaboração dos critérios você propõe dois ou três critérios que sejam para garantir a proporcionalidade próxima de um distributivismo justo", afirma.
Para Barreto, ao ressaltar as diferenças regionais na distribuição dos recursos da Lei Rouanet, o MinC "cria essa dialética do impasse, do conflito" e não reconhece que a característica se verifica também na gestão de verbas do próprio MinC.
Ele cita estudo do Observatório Itaú Cultural segundo o qual 86% dos recursos distribuídos pela pasta por meio do Fundo Nacional de Cultura de 2002 a 2007 foram para as regiões Sul e Sudeste. O desequilíbrio seria, em sua interpretação, reflexo de uma condição macroeconômica, não indício de distorção específica da lei.
Ferreira diz que "até o final da semana" deverá emitir uma resposta a Barreto, "aceitando o debate e fazendo críticas a alguns aspectos do documento", com o qual afirma ter "discordâncias e concordâncias".
abril 13, 2009
Os rumos da Bienal em 15 páginas por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado de S. Paulo, em 10 de abril de 2009.
Curadores da polêmica Bienal do Vazio entregam à instituição um extenso relatório com sugestões, rumos e metas
Foi entregue na tarde de quarta-feira ao presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, e ao presidente de seu Conselho Administrativo, Miguel Alves Pereira, um extenso relatório, ao qual o Caderno 2 teve acesso. O texto está assinado pelos curadores da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen. No mesmo dia, foi realizada na Bienal uma reunião do conselho fiscal para apresentação das contas de 2008.
O relatório faz suas "recomendações" à instituição no que se refere a temas como administração, organograma, financiamentos, captação de recursos e serviço educativo (leia ao lado principais trechos). "A questão será sempre de organização, planejamento e recursos", escreveram os curadores. "Está claro que ela (Bienal de São Paulo) não pode continuar sendo uma benesse dada ao público por uma ação entre amigos, pois trabalha com dinheiro público", afirmaram, ainda, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen na conclusão de suas 15 páginas.
Esse relatório foi concebido a partir da experiência dos curadores e do material de discussões promovidas pelos seminários durante a última bienal, que ficou conhecida como a Bienal do Vazio, por ter deixado desocupado todo o segundo andar do pavilhão de exposições.
Em breve, ainda sem data definida, haverá uma reunião com todos os conselheiros para a eleição do novo presidente da instituição. O nome cotado é Andrea Matarazzo, secretário de Coordenação das Subprefeituras do município de São Paulo. "É um excelente administrador, ele tem meu convite pessoal", afirmou Pires da Costa. Antes, foi convidado para o cargo o diplomata Rubens Barbosa. Segundo Pires da Costa, Barbosa não aceitou a candidatura porque não teria o apoio formal do poder público.
A entrega de um relatório detalhado sobre a 28ª Bienal estava prevista no projeto curatorial de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen desde o início do evento, realizado entre 27 de outubro e 6 de dezembro. No relatório, o número de visitantes aparece como 162 mil pessoas.
PRINCIPAIS PONTOS DO DOCUMENTO
UMA DIVISÃO SEM SENTIDO: "No momento, é irrelevante se pode haver conselheiros vitalícios ou não. Antes, a questão é a composição do Conselho, como ele se articula para cumprir os objetivos da Fundação. Se os conselheiros não contribuem financeiramente para as operações da Fundação, conforme propunha o modelo de filantropia que criou o MAM e a Bienal nos anos 1950, então o que cabe ao Conselho é o gerenciamento dos trabalhos da instituição, a busca pela realização de seus objetivos. Assim, parece sem sentido a divisão entre Diretoria Executiva e a Presidência do Conselho."
MAIS EXPERIÊNCIA: "O que parece importante e procedente é uma nova composição do conselho, incluindo não apenas os amantes da arte e da cultura, mas também profissionais experientes como diretores de museus, curadores, artistas, galeristas, acadêmicos, que possam contribuir para um entendimento e uma presença mais orgânica da instituição na sociedade e no meio artístico brasileiro e internacional."
A FIGURA DO SUPERINTENDENTE: "O modelo de organograma que tem no topo um superintendente, no comando de setores e de profissionais para tarefas específicas como a curadoria, o planejamento e o desenvolvimento, a captação de recursos e marketing, produção, imprensa e RP, já foi adotado por gestões anteriores da Fundação. As 17.ª, 18.ª e 19.ª Bienais estão entre as poucas que, por exemplo, não apresentaram problemas de fluxo de caixa 60-90 dias antes da inauguração, graças ao planejamento do projeto."
A QUESTÃO DO ALUGUEL: "O uso do pavilhão para aluguel a feiras e eventos é o que parece garantir a folha de pagamento mensal de cerca de 30 funcionários, dedicados e colaboradores, que hoje trabalham na Fundação. Aparentemente, não há nenhum problema se for dentro de um processo criterioso, e também um meio de obter recursos para a exposição, arquivos históricos, benefícios ao prédio. Entretanto, esse procedimento parece ter gerado entre os funcionários (não todos, é claro) uma mentalidade que prioriza a feira, tomada como regra de organização, e a bienal como a exceção."
O DESGASTE DA IMAGEM: "A prática de realizar a mostra deixando dívidas para o próximo ano, a próxima bienal, não é boa para a imagem da Fundação, nem para o funcionamento de suas operações. Pior, algumas dívidas ficam sempre penduradas como, por exemplo, o prêmio recebido por Martin Puryear, em 1989, que até hoje não foi pago. O fato de a instituição se comprometer com projetos muito superiores à sua capacidade de captação de recursos parece evidente e é uma das causas de maior desgaste da imagem institucional da Fundação Bienal, afetando sua credibilidade como empregadora e pagadora."
PLANEJAR FINANCIAMENTOS: "Ao contrário de outras entidades que já trabalham a partir de estruturas profissionais e planejadas, dentro de programas definidos e regulares, a Fundação não tem quadros nem planejamento para esse setor, tão regulado e com dinâmica própria. Tampouco tem um cronograma adequado às suas atividades. Quando sai em busca de patrocínio para seus projetos, a Bienal sai em desvantagem, pois não pode oferecer um serviço regular ao patrocinador interessado. Faz isso apenas uma vez a cada dois anos. Por essa razão, ela muitas vezes recebe o que sobra de uma quantia anual definida pelas empresas."
MANTER A PERIODICIDADE: "De tempos em tempos surge a ideia de que a bienal deveria ser transformada em trienal ou quadrienal. O maior espacejamento entre as mostras não resolve questões financeiras e eventuais crises institucionais. Ao contrário, seria mais difícil ainda a captação de recursos. Apenas daria maior respiro entre o sufoco de duas exposições."
Young Artists, Caught in the Act por Holland Cotter, New York Times
Matéria de Holland Cotter originalmente publicada no New York Times, em 9 de abril de 2009.
The sweet bird of youth, alert as a robin, hungry as a gull, alights once again in Manhattan with the inauguration of “The Generational: Younger Than Jesus” at the New Museum, the latest local survey of contemporary art — this one a triennial — to challenge the pre-eminence of the Whitney Biennial.
The show is large, buzzy, international in scope and age-specific. As the title implies, only artists 33 or younger were considered for inclusion, a restriction that could be ruled age-ist in a court of law, but it’s business as usual for a museum ever conscious of its clientele.
Big-statement surveys generate big expectations: they will tell us what and who is hot, important, exciting. What we get in this case is a serious, carefully considered show, but one that, apart from a few magnetic stand-alone entries — a killer video by Cyprien Gaillard, an animation by Wojciech Bakowski, a madcap Ryan Trecartin installation — feels awfully sedate and buttoned-down for a youthfest. Kids R Us it ain’t, but that’s O.K.
Youthfulness doesn’t carry quite the cachet in the art world that it did a decade or so ago. The routine of dealers hustling talent straight from the classroom has made exhibitions of 20-somethings the wearying norm. Nor does “international’ have much glamour any more. Art fairs have seen to that.
So it’s no surprise to find that, even with the introduction of some new names, “Younger Than Jesus” feels familiar, like a more-substantial-than- average version of a weekend gallery hop in Chelsea and the Lower East Side, right down to the token Asian and African imports.
The show was put together very fast; in a year. The initial selection was done Facebook-style, with the curatorial groundwork outsourced to 150 art world experts — artists, critics and teachers — who submitted names of artists for consideration. Three New Museum curators — Lauren Cornell, Massimiliano Gioni and Laura Hoptman — made the final cut of the 50 artists, with the critic Brian Sholis assigned to create a resource center to supplement the show. (It’s on the museum’s fifth floor and well worth a visit.)
Most international surveys are assembled this way. The positive difference in this case is that all the sources are credited by name, and the runner-up artists — nearly 500 — are included in a book called “Younger Than Jesus: Artist Directory,” a kind of exhibition in print, and a terrific idea.
The exhibition catalog is also a compendium, mostly of musings from the popular press on Generation Y, or the Millennials, with each curator contributing necessarily impressionistic profiles of a generation still very much in formation.
Characteristics assigned to these artists include having a second-nature relationship to digital media; a preference for sentiment over irony; an aesthetic interest in reorganizing existing materials rather than trying to invent from scratch; and so on.
A brief glance at the show makes one thing clear: most of its participants are committed multitaskers. The artists Tala Madani, born in Iran, and Jakub Julian Ziolkowski, from Poland, do oil-on-canvas pictures of a conventional sort; Emre Huner, from Turkey, combines painting with animation; the German-born artist Kerstin Brätsch uses hers as performance aids; and the New York artist Josh Smith treats his like prints, churning out dozens of pictures at a time and stacking them for distribution.
Ryan Trecartin uses paint cosmetically, as an extreme form of makeup. Applying it directly to the body, he transforms himself and the other performers in his videos into frenetically walking, talking surrealist abstractions. Born in Texas in 1981, Mr. Trecartin is probably the best-known artist in the show, though with his extroverted, look-at-me spirit, among the least representative.
He’s certainly one of the most versatile. A blogosphere baby, a child of the chat room, a YouTube native, he shifts effortlessly among realities while pushing sculpture, film, performance, music and language — so much language — through digital scramblers and mixers. There is some danger of his motormouth wizardry sliding into shtick, but right now it’s mesmerizing.
Some of the more interesting pieces in the show share its hyped-up mode. A rapid-fire video by the Armenian artist Tigran Khachatryan alternates scenes from Sergei Eisenstein’s “Battleship Potemkin” and clips of skateboard catastrophes to rethink the concept of revolution. A short, impressive film by the Israeli artist Keren Cytter has characters spitting out malign non sequiturs in the quick, jerky sequences.
In a live audiotaped performance, the British artist Tris Vonna-Michell begins telling a story at a leisurely pace, then gradually accelerates the delivery until the words turn into a coloratura stream of leaps and repeats, all the while holding the narrative thread. The burst of applause that greets him at the end is fully earned.
The show has a generous amount of performance, some of it, as in that case, recorded. Two male models in space-age bikinis wordlessly rearrange chunks of black abstract sculpture in a film by the Polish artist Anna Molska. In a video by the British artist James Richards, a speech instructor delivers a soundless lesson in lip reading.
Live performance has a particular chic at present, and the show has some of that too. The most spectacular example, Liz Glynn’s “24 Hour Roman Reconstruction Project, or, Building Rome in a Day,” came and went before the opening. With a team of collaborators and a ton of cardboard, this American artist erected a model of the Eternal City in the museum’s lobby, then destroyed it, in one dusk-to-dusk marathon. A video of the whole process is on view.
Two other performances are continuing and almost invisible. The Chinese artist Chu Yun has hired women to sleep, one at a time and with the aid of medication, on a bed in the center of a gallery for the run of the show. The British conceptualist Ryan Gander has asked that whatever museum guard is on duty in the museum’s fourth-floor gallery wear a white Adidas track suit marked with embroidered spots of blood, fake evidence of a story of violence that we can invent.
The Millennials appear to be a story-loving breed. There are lots of narratives, implied or spelled out. There is Mr. Vonna-Michell’s, of course, and the scripted but inscrutable emergencies in Mr. Trecartin’s videos. Katerina Seda, a Czech artist, filmed her depression-crippled grandmother making drawings of household items, thereby regaining an interest in life. Both the film and the drawings are on view, crucial components of a family drama.
Through collages of newspaper and magazine clips, the artist Matt Keegan documents the tangled politics of the America he grew up in as a child in the 1980s, when President Ronald Reagan and AIDS shared the news. With the wise omniscience that marks much of his work, he seems to be asking how we keep the lessons learned from this particular history alive and usable.
Emily Roysdon, a founder of the feminist collective LTTR (Lesbians to the Rescue), asks similar questions more directly, out loud. Her silkscreens-on-wheels are movable props for impromptu speeches, by her or by anyone moved to give one. Like certain other young American artists — Ms. Cornell writes about them in her astute essay — Ms. Roysdon makes art and activism one thing: you make history by living it, saying it, giving it form.
Those forms are pretty awesome in the extraordinary video by Mr. Gaillard, a French artist born in 1980. His three-part visual essay in aestheticized violence opens with a slowly building fight-club clash between two crowds of young men; continues with a fireworks display over a French housing block minutes before it is demolished; and concludes with a jittery flight above Soviet-era apartment towers that stand, crushingly huge and blank, in a bleak Russian landscape.
More often in this show, though, history is internalized, a state of mind, half-hallucinated, as it is in the animated film by Mr. Bakowski, an artist from Poland, who accompanied his flickering watercolor images of toilets, tired feet, detached sexual organs, rotted fruit and faded flowers with a half-whispered litany of spoken phrases. The results are reminiscent of William Kentridge’s films on South Africa, but also suggested a string of diary jottings that end with a prayer: “Dead Angel God Mother, Care for us Dear Queen. If only there was no evil, illnesses and cripples.”
The apocalyptic tone of this piece, and of Mr. Gaillard’s, was sounded in an earlier exhibition, “After Nature,” which Mr. Gioni organized last summer and is still the best thing the museum has done since its move to the Bowery. It drew its power primarily from its imaginative generational mix of artists, with undervalued figures like William Christenberry and Nancy Graves at one end of the spectrum, 30-something figures like Klara Liden and Tino Sehgal on the other.
The two younger artists, both Millennials, are hot market properties, probably too hot for this conspicuously low-key group show (though both appear in the “Artist Directory”). Mr. Christenberry, born in 1936, and Ms. Graves, who died in her 50s in 1995, are underappreciated figures, with long-developing, multifaceted careers. It was the combination of new and old that made “After Nature” work, gave it a psychological unity and resistant texture, lifted it above business as usual.
“Younger Than Jesus” doesn’t have a comparable sense of unity, texture or lift. It is, despite its promise of freshness, business as usual. Its strengths are individual and episodic, with too much work, particularly photography, making too little impact. But my point is that beyond quibbles about choices of individual works, it raises the question of whether any mainstream museum show designed to be a running update exclusively on the work of young artists can rise above being a preapproved market survey. Removed from a larger generational context, can such a survey ever become a story, part of a larger history? (The same question applies to museum exhibitions that leave young artists out of the picture.) I’m asking. It’s a complicated subject. I don’t know the answer.
In any case, a generational challenge has already been taken up elsewhere. A small commercial gallery called BLT, on the Bowery across from the New Museum, has announced that its May exhibition will consist exclusively of artists born before 1927. Louise Bourgeois, Lucian Freud and Ellsworth Kelly will be among the participants. The show will be called “Wiser Than God.”
Caldo Bourriaud na Tate, UbuWeb e Arte Capital
Vídeos e entrevistas atuais e passadas com Nicolas Bourriaud para nos ajudar a acompanhar as propostas do crítico francês e subsidiar também a discussão sobre o Panorama da Arte Brasileira de Adriano Pedrosa.
Vídeos com Bourriaud no evento Tate Triennial
Introdução dos temas da exposição
Arte Relacional é um "ismo"? / Relational Art: Is it An Ism?
Entrevista com Ben Lewis e vídeo do documentário Art Safari da BBC4, transmitido em julho de 2004.
O premiado escritor e diretor Ben Lewis, uma auto-confesso "art geek", dá uma volta pela arte contemporânea.
Enquanto todos os olhos nos anos 90 estavam centrados nos nossos próprios jovens artistas britânicos, um diferente movimento de arte global estava evoluindo. O importante crítico francês Nicolas Bourriaud descreveu-o como "Arte Relacional". Armado com o livro Estética Relacional de Bourriaud, Ben vai em busca do que ele espera que possa ser um novo "ismo".
Mas problemas aparecem no caminho: muitos dos artistas cujas reputações foram trabalhadas nas exposições e escritos de Bourriaud recusaram-se a ser entrevistados, negaram ser relacionais, ou uma vez entrevistados, tentaram proibir Safari Art de mostrar seus trabalhos.
Entrevista com Nicolas Bourriaud sobre o Altermoderno e a Trienal da Tate
Entrevista de Sílvia Guerra publicada originalmente na Arte Capital em Novembro-Dezembro de 2009.
Nicolas Bourriaud (n. 1965) é um dos filhos pródigos da arte contemporânea francesa. É simultaneamente curador, ensaísta, crítico de arte e globe-trotter. A sua carreira como curador adquiriu visibilidade a partir de algumas exposições internacionais em que participou, tais como: “Aperto 93” (Bienal de Veneza, sob curadoria geral de Achille Bonito Oliva), “Traffic” (CAPC, Bordéus, 1996), “Experience de la Durée” (Bienal de Lyon, 2005), e Bienal de Moscovo (2005 e 2007). Teorizou as novas práticas artísticas que eclodiram no final dos anos 90 e inícios do século XXI, com artistas como Philippe Parreno, Dominique Gonzalez-Foerster ou Rirkrit Tiravanija. Publicou diversos livros assumindo a autoria de novas teorias sobre a arte, como a da estética relacional. Aumentou a sua notoriedade quando, entre 2001 e 2004, protege a especificidade do Palais de Tokyo, lugar dedicado à criação contemporânea da cena cultural parisiense: que co-dirigiu com Jérôme Sans. Recentemente, em 2008, comissariou “Estratos” em Murcia, Espanha, e “La Consistance du Visible” na Fundação Ricard, em Paris. Em 2006 foi nomeado curador da Trienal da Tate, que decorre de 3 de Fevereiro a 26 de Abril de 2009. Foi sobre o conceito camaleónico de modernidade que trocámos aqui algumas ideias.
P: Para a Trienal da Tate, em Londres, propôs um novo conceito, que é o de “Altermodern”. Esta outra modernidade é a chave de interpretação desta grande exposição colectiva. Gostaria de saber se com este novo neologismo inventado por si, procura medir o nosso afastamento em relação ao movimento histórico da modernidade?
R: O “Altermodern” significa um duplo afastamento, seja em relação ao “pós-moderno”, seja em relação ao período moderno do século XX. Hoje a palavra “moderno” evoca duas coisas: o período histórico delimitado pela arte moderna, e a modernização do mundo, sob a égide do “progresso”. Ora aquilo a que chamamos moderno é um estado de espírito recorrente na história, que assume diferentes formas segundo as várias épocas.
P: Como se liga o “altermodern” à contemporaneidade? É um seu sinónimo ou é uma maneira de repensar a noção de contemporâneo?
R: O “Altermodern” é, para mim, a forma emergente e contemporânea da modernidade, ou seja, a de uma modernidade que corresponde aos desafios do século XXI, e especificamente ao momento histórico que vivemos e no qual nos inscrevemos, para o bem e para o mal: a globalização. Ser moderno, no século XX, correspondia a pensar de acordo com formas ocidentais; hoje, a nova modernidade produz-se segundo uma negociação planetária. Doravante, na sua reflexão plástica, os artistas tomarão como ponto de partida uma visão globalizada da cultura, e já não as conhecidas “tradições”: servem-se destas para se conectarem com o universal, para experimentarem novas vias. Por exemplo, Pascale Marthine Tayou utiliza os padrões culturais africanos para questionar os valores a partir dos quais os vemos a partir de Nova Iorque ou Berlim.
P: Como poderíamos definir o significado dessa noção para re-interpretar outras práticas culturais?
R: “Alter” significa outro, mas o prefixo evoca igualmente a multitude. Em política, a alter-globalização é uma constelação de lutas locais que visam combater a homogeneidade mundial. No domínio cultural, “alter-moderno” significa algo semelhante, é como um arquipélago de singularidades conectadas umas às outras.
P: A Documenta 12 de Kassel foi também um momento no qual se perguntou se a modernidade não seria a nossa Antiguidade. Por seu lado, o antropólogo Bruno Latour defende a ideia de que nunca fomos modernos. Mas, hoje em dia, poderemos ser algo para além de modernos?
R: Infelizmente, sim… O planeta inteiro está a ser percorrido por crispações identitárias, por retornos fundamentalistas, por radicalismos religiosos e políticos, e todos colocam em primeiro plano as raízes das assim chamadas “ identidades culturais”, que são um dogma. Deste facto, nasce hoje a necessidade e importância de fazer a recomposição de uma modernidade, cujo gesto primordial é o do desenraizamento do solo, do exôdo das tradições identitárias e das comunidades constituídas. No que diz respeito à Documenta, não podemos esquecer que o regresso à Antiguidade foi o sinal durante um longo período de tempo, do aparecimento da modernidade, cujo exemplo mais evidente é o Renascimento italiano. É certo que o modernismo do século XX constitui a nossa Antiguidade – aonde temos de regressar – mas para dar um mais efectivo passo em frente. Hoje irritarmo-nos com este revival modernista que pesa nas grandes exposições mas, na minha opinião, ele é apenas mais um fetichismo.
P: Entre os artistas que convidou para esta Trienal, estão alguns que trabalham sobre dois vectores que você considera irreductíveis do conceito de “Altermodern”: o tempo e a história, como um novo continente. Poderia apresentar-nos o trabalho de alguns desses artistas?
R: Os artistas procedem hoje por encadeamento de objectos visuais. Esta é a sua metodologia, e fazem-no através de obras que constituem arrêts sur l’ image” de um enunciado em perpétuo crescimento. Para fazer referência à obra de um artista emblemático, como é Seth Price, posso dizer que as suas formas permanecem em estado de cópia, mas sem adquirirem um estatuto como transitórias. As imagens são instáveis, estão à espera, entre duas traduções, de serem perpetuamente transcodificadas. Price desmotiva uma vã necessidade de classificar as suas obras, de lhes atribuir um lugar preciso na cadeia de produção e de tratamento da imagem. Os mesmos motivos são retomados com mais ou menos variantes em obras distintas. Outros como Nathaniel Melliors ou Spartacus Chetwynd, exploram a história como se ela fosse um espaço. Charles Avery, pelo contrário, cria a ficção de um universo inteiro que aboliu toda a noção de contemporaneidade. Todos eles fazem um mix de épocas e de estilos, tal como “semionautas” que produzem percursos através de diferentes épocas e estilos e a partir dos signos que pertencem a espaços-tempos afastados uns dos outros.
P: Numa entrevista disse que quando tinha perguntas fazia exposições, e que quando tinha respostas, escrevia livros… Que conclusões se pode tirar dessa metodologia? Como vê a articulação do seu trabalho com o momento histórico (ele mesmo tão volátil)?
R: O meu trabalho consiste em tentar fazer aparecer figuras no caos da produção contemporânea, ou seja, inventar chaves de leitura, utensílios teóricos que permitam ver a arte de hoje segundo um certo prisma. Esse trabalho efectua-se de forma discursiva num livro e transforma-se quando se trata de uma exposição: detesto a ideia de alinhar obras, uma após outra num museu, de forma a que se conformem ao que esperamos delas. Sabendo que toda a (boa) obra de arte é semionautas, obviamente que resiste à classificação sob a égide de uma teoria. Uma exposição é então um espaço-tempo de diálogo, um filme no qual me contento em fazer a montagem e para o qual escrevo as legendas.
P: Conhecemos as suas útimas obras, Esthétique relationnelle e Postproduction, que permitiram teorizar a arte após a morte da história da arte dos anos 90. Com o seu proximo livro Radicant, em que analisa a nova geração, o que nos é dado a conhecer?
R: A Trienal “Altermodern” e o ensaio Radicant, completam-se e respondem um ao outro, já que foram concebidos em conjunto. Em “Altermodern”, onde procuro descrever as suas condições de emergência, existe a articulação em torno de noções como a de precariedade (a arte que chama a atenção para a fragilidade de todas as construções sociais e mentais), de errância (como porta de saída do pós-moderno), de forma-viagem (na qual a obra se apresenta como percurso, e não mais como uma superfície ou volume), ou de implicação de temporalidades (a tessitura de espaços-tempo heterogéneos na obra).
P: Poderia explicar-nos como trabalha com os artistas e criadores que acompanha? Qual é o seu modus operandi enquanto curador?
R: Cada exposição tem a sua própria história. Esta foi concebida no quadro de uma série de discussões com actores do mundo da arte: por exemplo, a série de quatro “Prólogos” que precederam a Trienal, e que implicaram a participação de outros teóricos, de artistas e de críticos de arte. Depois, poderia dizer que, de uma forma mais geral, esta exposição foi concebida como se fosse um debate alargado.
P: E qual é o papel do crítico de arte nos nossos dias?
R: Hoje, mais do que nunca, é indispensável designar as coisas e fazer a sua análise. Perante um mundo como o actual, que progressivamente se reduz mais às dimensões de um supermercado de imagens e de signos, é urgente reafirmar o valor do comentário e da selecção. Isto poderia resumir-se deste modo: eu, um indivíduo entre outros, vou mostrar este objecto, que me parece mais interessante do que outros; e vou-lhes explicar porquê, e a partir de que valores emito este julgamento. Será que é necessário relembrarmo-nos de um velho adágio talmúdico, segundo o qual um texto (e por extensão, qualquer outro objecto) não adquire o seu real valor senão a partir do momento em que foi sujeito a um comentário?
P: Em Portugal, onde fazem falta mais revistas em papel consagradas à arte contemporânea, apropriámo-nos do formato digital para existir. A Artecapital existe desde há três anos… Poderemos dizer que fazemos parte de uma “alter-modernidade”? As diferentes velocidades de crescimento nos países europeus são uma das razões para que nos continuemos a sentir tão “far away so close”…
R: A verdadeira virtude do pós-modernismo foi a de equalizar filosoficamente, e mesmo juridicamente, as diferentes versões dos espaços-tempo que compõe o nosso mundo, e do qual certas versões eram precedentemente consideradas pelo mundo modernista como simplesmente “em atraso”. A “alter-modernidade”, é a coordenação estrutural produtiva das diferentes velocidades, com a finalidade de criar novas visões do mundo, uma modernidade que seja finalmente planetária e não simplesmente pseudo-Ocidental, que seja um arquipélago e deixe de ser “continental”, no sentido em que deixe de ambicionar a totalidade.
P: José Saramago escreveu, em 2008, um livro intitulado A Viagem do Elefante, no qual o seu protagonista paquiderme, proveniente da Índia, atravessa a Europa do século XVI. Nessa viagem “moderna” a palavra de ordem é: chegamos sempre ao sítio onde nos esperam. O que pensa desta visão da viagem? Ainda tem sentido?
R: A errância é, antes de mais, encontrar o que não se procura. É este o verdadeiro luxo intelectual num mundo onde se fabricam dóceis consumidores a partir de perfis-tipo.
LINK
ALTERMODERN – Tate Triennial 2009
Tate Britain, 4 Fevereiro – 26 Abril 2009
www.tate.org.uk/britain/exhibitions/altermodern/
BIBLIOGRAFIA
NICOLAS BOURRIAUD
Radicant
_Nova Iorque, Sternberg Press & Berlin (Merve Verlag), 2009.
Postproduction
_Dijon, Les presses du réel, 2004.
_Nova Iorque, Lukas & Sternberg, 2001.
Formes de vie. L’ art moderne et l’ invention de soi, _Paris, Denoël, 1999.
Esthétique relationnelle
_Dijon, Les presses du réel, 1998.
abril 11, 2009
Manifesto Altermoderno - O pós-modernismo está morto por Nicolas Bourriaud
Daniela Labra publicou no artesquema o texto de Nicolas Bourriaud da Trienal da Tate em inglês e traduziu um parágrafo. Achei que este texto era importante para a discussão sobre o Panorama da Arte Brasileira de Adriano Pedrosa, que está sendo comentado no Como atiçar a brasa, e aproveitei o feriado para traduzi-lo.
Peço ajuda para a revisão da tradução e também do meu português. É só comentar.
MANIFESTO ALTERMODERNO – PÓS-MODERNISMO ESTÁ MORTO
Viagens, intercâmbio cultural e análise da história não são apenas temas em moda, mas marcadores de uma profunda evolução na nossa visão de mundo e na nossa maneira habitá-lo.
Mais genericamente, a nossa percepção globalizada exige novas formas de representação: a nossa vida quotidiana se dá num enorme cenário mais do que nunca, e depende agora de entidades transnacionais, de viagens de curta ou longa distância, em um universo caótico e prolífico.
Muitos sinais indicam que o período histórico definido pelo pós-modernismo está chegando ao fim: multiculturalismo e o discurso de identidade estão sendo ultrapassados por um movimento planetário de “creolização”. O relativismo cultural e a desconstrução, que substitui o universalismo modernista, não nos dão armas contra a dupla ameaça da cultura de massa uniforme e de uma regressão tradicionalista de extrema-direita.
Os tempos parecem propícios para a recomposição de uma modernidade no presente, reconfigurado de acordo com o contexto específico em que vivemos - crucial na era da globalização - entendido em seus aspectos econômicos, políticos e culturais: uma altermodernidade.
Se o Modernismo do século XX foi sobretudo um fenômeno da cultura ocidental, a altermodernidade decorre de negociações planetárias, discussões entre agentes de diferentes culturas. Desprendido de um centro, ele só pode ser poliglota. A Altermodernidade caracteriza-se pela tradução, ao contrário do modernismo do século XX, que falava o idioma abstrato do ocidente colonial e do pós-modernismo, que resumia o fenômeno artístico às origens e identidades.
Estamos entrando na era da legendagem universal, da dublagem generalizada. Hoje, a arte explora os laços que texto e imagem tecem entre si. Artistas percorrerem uma paisagem cultural saturada com sinais, criando novos percursos entre múltiplos formatos de expressão e de comunicação.
O artista se torna "homo viator", o protótipo do viajante contemporâneo cuja passagem por signos e formatos remete a uma experiência de mobilidade contemporânea, viagens e transpassagens. Esta evolução pode ser vista na maneira como as obras são feitas: um novo tipo de forma está surgindo, a forma-viagem, feita de linhas traçadas tanto no espaço e como no tempo, materializando trajetórias em vez de destinos. A forma do trabalho exprime um curso, um vaguear, em vez de um espaço-tempo fixo.
A arte altermoderna é assim entendida como um hipertexto; artistas traduzem e transcodificam a informação de um formato para outro, e passeiam pela geografia, assim como pela história. Isto dá origem a práticas que podem ser referidas como "time-specific", em resposta ao "site-specific", trabalho dos anos 60. Rotas de voo, programas de tradução e cadeias de elementos heterogêneos articulam-se mutuamente. O nosso universo torna-se um território em que todas as dimensões podem ser percorridas tanto no tempo como no espaço.
A Tate Triennial 2009 se apresenta como uma discussão coletiva sobre esta hipótese do final do pós-modernismo e da emergência de uma altermodernidade global.
Nicolas Bourriaud
Texto em inglês publicado no E-flux.
ALTERMODERN MANIFESTO - POSTMODERNISM IS DEAD
Travel, cultural exchanges and examination of history are not merely fashionable themes, but markers of a profound evolution in our vision of the world and our way of inhabiting it.
More generally, our globalised perception calls for new types of representation: our daily lives are played out against a more enormous backdrop than ever before, and depend now on trans-national entities, short or long-distance journeys in a chaotic and teeming universe.
Many signs suggest that the historical period defined by postmodernism is coming to an end: multiculturalism and the discourse of identity is being overtaken by a planetary movement of creolisation; cultural relativism and deconstruction, substituted for modernist universalism, give us no weapons against the twofold threat of uniformity and mass culture and traditionalist, far-right, withdrawal.
The times seem propitious for the recomposition of a modernity in the present, reconfigured according to the specific context within which we live – crucially in the age of globalisation – understood in its economic, political and cultural aspects: an altermodernity.
If twentieth-century modernism was above all a western cultural phenomenon, altermodernity arises out of planetary negotiations, discussions between agents from different cultures. Stripped of a centre, it can only be polyglot. Altermodernity is characterised by translation, unlike the modernism of the twentieth century which spoke the abstract language of the colonial west, and postmodernism, which encloses artistic phenomena in origins and identities.
We are entering the era of universal subtitling, of generalised dubbing. Today's art explores the bonds that text and image weave between themselves. Artists traverse a cultural landscape saturated with signs, creating new pathways between multiple formats of expression and communication.
The artist becomes 'homo viator', the prototype of the contemporary traveller whose passage through signs and formats refers to a contemporary experience of mobility, travel and transpassing. This evolution can be seen in the way works are made: a new type of form is appearing, the journey-form, made of lines drawn both in space and time, materialising trajectories rather than destinations. The form of the work expresses a course, a wandering, rather than a fixed space-time.
Altermodern art is thus read as a hypertext; artists translate and transcode information from one format to another, and wander in geography as well as in history. This gives rise to practices which might be referred to as 'time-specific', in response to the 'site-specific' work of the 1960s. Flight-lines, translation programmes and chains of heterogeneous elements articulate each other. Our universe becomes a territory all dimensions of which may be travelled both in time and space.
The Tate Triennial 2009 presents itself as a collective discussion around this hypothesis of the end of postmodernism, and the emergence of a global altermodernity.
Nicolas Bourriaud
abril 8, 2009
Alternative Modernism via South America por Roberta Smith, The New York Times
Matéria de Roberta Smith originalmente publicada no jornal The New York Times, em 2 de abril de 2009.
At least one work in “Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel” at the Museum of Modern Art should raise some hackles. It is “Last Judgment” by Mr. Ferrari, an Argentine artist born in 1920 who is still active. It consists of a large reproduction of Michelangelo’s “Last Judgment” fresco in the Sistine Chapel that Mr. Ferrari left sitting beneath a cage of pigeons.
The whitish substance dotting much of the image has a beautiful softness reminiscent of volcanic ash; damp, blossoming plaster; and loosely brushed oil paint. A mechanical reproduction of the best-known depiction of the world’s end becomes an object that is either riddled with decay or luxuriantly hand-worked. Michelangelo may have populated his fresco with the minions of the Devil, but Death itself seems to be seeping gently through the walls of Mr. Ferrari’s version.
First made in 1985, “Last Judgment” neatly combines Process Art, appropriation art and political provocation. A violated ready-made (like Duchamp’s mustachioed Mona Lisa), it hangs in the final gallery of the Modern’s show a few feet from a polar opposite: “Still Waves of Probability (Old Testament, I Kings 19)” by Ms. Schendel (1919-1988), a Brazilian artist.
The sheer simplicity of “Still Waves” may also raise hackles. It consists of thousands of strands of nylon thread hanging to the floor from tiny jeweler’s eye-hooks covering a 12-by-14-foot area in the gallery’s 18-foot-high ceiling. In such quantity, the threads form a silvery, wafting, quasi-visible shaft that could almost be light or rain. Hanging nearby, a sheet of clear plexiglass is printed with a quotation from I Kings 19 concerning the voice of God, which is not found in wind, earthquake or fire, but is simply “a still small voice.” The religious subject matter is not as embedded as it is in the Ferrari piece, but “Still Waves,” from 1969, is an early and rather monumental instance of Post-Minimalism.
“Tangled Alphabets” is the Modern’s latest attempt to explore modernisms beyond the narrow Euro-American version that it did so much to lock in place. Organized by Luis Pérez-Oramas, the museum’s curator of Latin American art, it is essential viewing for anyone interested in 20th-century art and often displays a taut aesthetic repartee. But it also sometimes feels halfhearted.
The news release lauds Ms. Schendel and Mr. Ferrari as “two of the most important South American artists of the 20th century.” But the combined retrospectives suggest an unwillingness to commit. Wedging a double survey into galleries usually occupied by single ones doesn’t help.
Still, “Tangled Alphabets” brings together more work by Ms. Schendel and Mr. Ferrari than has been seen in a North American museum. It opens a window on a complex regional artistic history similar to that of the United States in its assimilation of European models, embrace of both abstraction and popular culture and oscillation between purity and politics. Expect to find analogies here to Abstract Expressionism, Fluxus, word art, Arte Povera, appropriation art and even Neo Geo.
Ms. Schendel and Mr. Ferrari knew each other only slightly and exhibited together only once in a large group show. They represent, at heart, very different sensibilities. Mr. Ferrari is extroverted, even grandiose, and peripatetic, hitting so many different notes over the course of his career that inevitably more than a few are off key. Ms. Schendel was more consistent, an introverted purist, a focused student of Eastern mysticism and a Post-Minimalist before the fact.
They both emerged in the 1960s, when progressive ideas flourished in art and politics, albeit beneath the gathering clouds of military juntas. Their alignment is closest during these years, when both worked extensively with ink and paper, in vocabularies that mixed words, letters, illegible writing and line, as well as aspects of transparency and automatism. In the show’s center gallery, it is sometimes hard to know who did what.
But they arrived at this common ground from different directions. Ms. Schendel, a Jew and onetime poet, survived World War II, emigrating in 1949 from Sarajevo to Brazil, where she began to paint. Living in São Paulo after 1953, she met a German bookseller named Knut Schendel who became the father of her only child and then her husband. Her earliest works at the Modern are stiff, abstracted, Morandi-like still lifes from the mid-1950s.
Contact with the Brazilian Neo-Concrete artists is reflected in the quirky, textured, nearly monochromatic paintings she made in the early 1960s. But, striving for something less rational and more ephemeral, she found her true voice in a Zen-like visual poetry. It was created by pressing down — often with only her fingernail — on Japanese rice paper laid on glass laminate covered with ink and lightly sprinkled with talc.
The technique unleashed an immense range of seismographic marks, symbols, letters, word fragments and phrases that soon spread to the imposing two-sided works she called Graphic Objects. Here multiple sheets of rice paper dotted with regiments of little marks and letters, as well as big press type, are sandwiched between sheets of plexiglass. The disembodied, translucent patchworks and textures suggest different layers of sound caught on scrims — black on white, red on white and white on white.
By 1964, Ms. Schendel was using her rice paper sculpturally, evolving forms that, concurrent with Eva Hesse’s, achieved a resonant fusion of organic and geometric. Weaving and knotting twisted strands of it, she made odd, flexible forms that she called Little Nothings. These spheres and irregular nets evoke brains, vines, relaxed bodies and collapsed grids; they hover eerily between animate and inanimate.
Mr. Ferrari came to drawing from sculpture, his route first visible in ceramic vessels from around 1960, whose tapering curves evoke women’s bodies, then in delicate wire sculptures that seem like 1950s period pieces but were made a decade later. Most of his efforts swing wildly between out of date and prescient, genuine and stagey.
His spidery ink drawings from the early 1960s lack the innate sense of scale that informs even Ms. Schendel’s slightest works. Better are more carefully composed works, also from the 1960s, in which jubilant profusions of line suggest incoherent musical scores, flamboyant alphabets, manically pretentious script. A kind of studied Art Nouveau automatism prevails.
Sometimes the looping calligraphies heave like layers of sediment. Occasionally they are legible. Three works from 1963 titled “Letter to a General” signal the growing political consciousness that would inspire some of Mr. Ferrari’s work for more than a decade. In 1976, as Argentina’s military dictatorship tightened its grip, Mr. Ferrari and his family relocated to Brazil for 15 years; one son, Ariel, stayed behind and soon “disappeared.”
One of Mr. Ferrari’s most interesting political works is unfortunately represented in this exhibition only by a collage, although it appears twice in the catalog. It is the 1965 “Western Christian Civilization,” a found-object assemblage and protest against the escalating Vietnam War. It consists of a nearly life-size figure of Jesus mounted, as on a crucifix, on the underside of a large, inverted model of an American bomber. Included in the 2007 Venice Biennale, it is polemical to say the least, but also remarkably ahead of its time.
This show encourages you to suspend many of your assumptions about postwar art in the Americas. But it also leaves other things up in the air. Concentrating on one artist or the other might have provided a fuller, messier account of either’s achievement. Putting them together seems to have made for a larger tidiness by maintaining a certain Minimal/Post-Minimal orthodoxy. To shake things up really, the Modern may have to expand more than just its geographical purview.
A nova lei está na mesa por Marcelo Miranda, O Tempo
Matéria de Marcelo Miranda originalmente publicada no jornal O Tempo, em 5 de abril de 2009.
Política cultural. Modificações na Rouanet, abertas para consulta pública, geram apreensões e dúvidas na classe artística
Em consulta pública desde o último dia 24 de março na Internet, a nova proposta da Lei Federal de Incentivo à Cultura - a Lei Rouanet, principal mecanismo de financiamento cultural no país - tem gerado as mais variadas dúvidas, opiniões e controvérsias.
Segundo informações oficiais do Ministério da Cultura, a iniciativa visa tentar minar os efeitos da crise financeira internacional no patrocínio cultural em território brasileiro. Porém, é notório que o ministro Juca Ferreira - na pasta desde a saída de Gilberto Gil, no ano passado - já vinha sinalizando há mais tempo a vontade de mexer na Rouanet quando ainda era secretário executivo da pasta.
A principal reclamação de Juca é quanto à distribuição dos incentivos e o excesso de renúncia fiscal. "Criamos um vício de mecenato com dinheiro público. O índice de 100% [de abatimento de impostos para incentivo] deveria se tornar uma exceção", disse Juca, em entrevistas recentes. O ministro também tem destacado que um número reduzido de projetos recebe muita verba (no ano passado, entre 4.334 projetos inscritos, 130 ficaram com metade do patrocínio).
Para Eduardo Saron, superintendente de atividades culturais do Instituto Itaú Cultural, o pensamento de Juca Ferreira é válido, mas deveria ser equitativo para cada forma de financiamento permitida pela Lei Rouanet. "O orçamento do MinC é frágil, e o Fundo Nacional de Cultura também é frágil. Como o mecenato ganhou um tamanho muito maior na capacidade de investimento em relação ao próprio ministério, a discussão tem sido toda em cima justamente do mecenato", aponta Saron, referindo-se às outras duas formas de financiamento cultural permitidas pela Lei Rouanet.
De fato, a leitura da nova proposta permite entender que o governo está diminuindo das empresas privadas a possibilidade de investirem em cultura através do abatimento de impostos. Se hoje as faixas de isenção fiscal são de 30% e 100%, de acordo com o projeto e com o lucro das empresas, a nova Rouanet criaria outros quatro segmentos (de 60% a 90%), mesclados à avaliação crítica e artística do projeto - diferente de hoje, quando a seleção da proposta a ser incentivada segue caráter estritamente técnico.
"A avaliação sem caráter subjetivo, como é hoje, permite aberrações, como o Cirque du Soleil poder captar recursos para se apresentar no Brasil", aponta Chico Pelúcio, integrante do Grupo Galpão em Belo Horizonte. Ele defende a formação das comissões setoriais, como está proposto pelo MinC. "Haveria possibilidade de análise do conteúdo e do interesse do projeto. O que vai obrigar a criação de critérios e ajudar no direcionamento dos próprios proponentes quando decidirem o que pedir."
O que tem preocupado membros da classe artística e dos produtores é um certo obscurantismo em alguns pontos do projeto, em especial a formação das comissões setoriais (na nova Rouanet, seriam criados grupos para escolher projetos em audiovisual; memória e patrimônio; cidadania e diversidade; artes; e equalização - abarcando áreas fora destas quatro enumeradas).
"A meu ver, o novo conceito da Rouanet traz uma forte carga de estatização ao patrocínio cultural", crê o produtor Lúcio Oliveira, da ArtBHZ. "Ainda é cedo para falarmos em detalhes, mas me parece que está ficando tudo mais concentrado nas mãos do governo", acrescenta.
Orquestra defende isenção
Maior receptora recente de patrocínio via incentivos fiscais pela Lei Rouanet, a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), sediada no Rio de Janeiro, está de acordo com mudanças no atual mecanismo, mas faz ressalvas à possibilidade de diminuir a isenção de impostos. "Não entendemos que seja necessário ou mesmo saudável tirar força da captação por incentivos fiscais", diz Julio Guerra, integrante do setor financeiro da OSB. A entidade, que trabalha com plano anual de atividades, temporadas de concertos e projetos educacionais, aprovou, em 2007, um total de R$ 29,5 milhões. Desse bolo, a OSB captou R$ 17,38 milhões. (MM)
Política cultural
Produtores tentam entender nova lei
Na tentativa de entender as modificações pelas quais passa a Lei Rouanet, produtores culturais de Belo Horizonte criaram um grupo de estudos e análise das novas diretrizes e possíveis sugestões durante a consulta pública de 45 dias (contando a partir do último dia 24) que o Ministério da Cultura está fazendo.
"Não enxergamos com maus olhos as possibilidades de mudança na lei nem a de se abrir outros mecanismos de financiamento para a cultura", garante Marcela Bertelli, produtora da Duo Comunicação e Cultura. "A nossa maior preocupação é isso estar sendo colocado em consulta no meio de uma crise financeira e de retração imediata de investimentos, o que demanda outros tipos de esforços simultâneos. Em vista disso, 45 dias para se entender a lei e enviar propostas é muito pouco."
Para Tatyana Rubim, da Rubim Produções, o discurso do Ministério da Cultura tem sido "muito agressivo" em relação à iniciativa privada e à renúncia fiscal realizada pelas empresas. "Atualmente, a Vale e a Tim cortaram seus investimentos em diversos projetos de Minas. Como vamos conseguir dialogar e nos reaproximar das empresas desse jeito?"
Afonso Borges, da AB Comunicação, acredita que o Ministério da Cultura está se concentrando demais em dados sociais para defender a descentralização dos recursos, ao afirmar que Estados menos favorecidos pelos incentivos da lei devam receber mais recursos. "Existem fatores econômicos e culturais que contam nessa suposta concentração. Outras variáveis devem ser pesadas", diz ele.
O superintendente de atividades culturais do Itaú Cultural, Eduardo Saron, sugere que o Ministério da Cultura faça escalonamentos no lucro real de empresas de médio e pequeno porte, para facilitar o recebimento de incentivos fiscais e realizar a tal desconcentração. "O mecenato é concentrado no eixo sul-sudeste justamente porque o abatimento de impostos depende de um lucro real que tenha teto de 4% sobre o ganho da empresa. Então, se o Amazonas tem 1% de lucro real no país, é natural que ele receba menos investimento, enquanto Minas, que tem 9%, fique com aproximadamente 11% do incentivo."
Ajustes. Para "funcionar", a nova Lei Rouanet precisará de uma série de acertos que independem simplesmente da boa vontade do Ministério da Cultura, como o aumento do orçamento para a pasta e o funcionamento da chamada "loteria da cultura".
"O MinC precisa ter um alinhamento único com o governo, para que não fiquemos brigando por recursos, mas, sim, podermos ir ao Ministério da Fazenda ou do Planejamento e exigir mais recursos para a Cultura, para além do 0,6% do orçamento federal. Só assim o setor passará a funcionar, de fato, como estratégia de desenvolvimento para o país", afirma Saron.
Chico Pelúcio, do Galpão, tem temores semelhantes. "Ainda não consigo vislumbrar como o ministério vai sofisticar tanto a Rouanet se a operacionalidade dentro do governo é tão caótica. É uma contradição: antes de arrumar a casa, eles já propõem um mecanismo de difícil implementação e operação, ainda que com várias boas ideias."
O que diz o MinC
'Vamos ampliar os recursos'
Em conversa com o Magazine, o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Roberto Nascimento, diz que o principal objetivo do MinC é "ampliar o volume de recursos" sem ter que contar com a lucratividade das empresas privadas, especialmente num período de crise. "No atual cenário econômico, as empresas tendem a ser mais conservadoras, sem perspectiva de lucro e, logicamente, maior redução da possibilidade de renúncia fiscal", afirma o secretário.
Nascimento informa que, para 2009, está previsto no orçamento do governo federal aproximadamente R$ 1,3 bilhão para renúncia fiscal pela Lei Rouanet. "Se este teto não se confirmar, e o MinC perceber que houve retração do investimento das empresas, usaremos o bolo restante para o Fundo Nacional de Cultura (FNC), previsto na mudança da lei."
Em suma: o Ministério da Cultura garante que todo este recurso previsto seja utilizado, ou por isenção de impostos, ou por investimento direto. "A nova Rouanet prevê o fortalecimento da dotação orçamentária do Ministério da Cultura, o aumento de recursos ao FNC e às outras faixas de renúncia, para além das atuais 30% e 100%", diz.
Sobre como o FNC iria gerir a escolha dos projetos a ser financiados, Nascimento conta que será mantido o atual modelo utilizado na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura. "Vamos trabalhar com colegiados que tenham representatividade nos setores a serem avaliados, garantindo a melhor distribuição dos recursos."
A respeito da possibilidade de descentralização do patrocínio cultural, o secretário afirma: "Ter outras faixas de renúncia fiscal permite que se controle e acompanhe melhor o tipo de manifestação cultural proposta e se agregue uma maior quantidade de possibilidades de patrocínio".
As cores de Beatriz Milhazes em Paris, O Tempo
Matéria originalmente publicada no jornal O Tempo, em 5 d abril de 2009.
Paris, França. Um dos monumentos mais emblemáticos da arquitetura contemporânea de Paris ganhou as cores de uma carioca. Coube a Beatriz Milhazes ser a primeira artista a realizar uma verdadeira fusão entre as obras expostas na Fundação Cartier e o incrível prédio todo em vidro, com uma levíssima estrutura metálica, realizado pelo premiado arquiteto Jean Nouvel. Beatriz, que abriu sexta-feira, no local, uma excepcional exposição, superou o desafio de criar dois coloridos painéis em vinil especialmente para o prédio.
As instalações sobre a fachada e sobre uma gigantesca parede de vidro interna, visível também da rua, interagem perfeitamente com a obra do arquiteto francês e chamam a atenção de quem passa em frente à Fundação Cartier.
Quem está acostumado a passar pelo local, onde o único elemento de decoração é um sofisticado jogo de luzes naturais e reflexos sobre o prédio, onde predomina a total transparência, vê agora, associado a isso, um amplo efeito de cores. Antes mesmo da abertura da exposição, alguns curiosos fotografavam a novidade.
As instalações sobre os vidros, realizadas com adesivos de vinil, não são as únicas obras da artista ali. A Fundação Cartier apresenta até 21 de junho uma retrospectiva da carreira de Beatriz Milhazes e expõe suas pinturas mais emblemáticas dos últimos 14 anos, além de "livros de artista", como ela chama seus livros com colagens, editados, por exemplo, pelo MoMA de Nova York, em edição limitada.
Uma colagem de cinco metros de largura por quatro metros de altura, a maior até hoje realizada pela artista, também foi encomendada pelo museu parisiense para a mostra. "Na Europa, esta é a maior exposição que já realizei. É uma combinação entre a quantidade de obras expostas e a importância da instituição", diz Beatriz, que fez mostra semelhante a essa, com pinturas, colagens e trabalhos sobre o vidro, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, em 2008.
O diretor da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, Hervé Chandès, antecipava o tom de deslumbramento que as telas de Beatriz devem provocar no público: "Essa exposição é muito importante em relação à maneira como esse belo prédio passa a ser habitado pela arte e pela pintura. A maneira como a obra de Beatriz Milhazes entra em harmonia com a construção de Jean Nouvel é um sucesso exemplar" disse Chandès, que tem forte ligação com a arte brasileira. No local, já foram exibidos trabalhos de Tunga, Adriana Varejão e Alair Gomes.
Para expor as pinturas da artista no amplo andar térreo da Fundação, sem paredes internas, apenas vidros por todos os lados, e onde normalmente são exibidas instalações, o museu construiu diversas "paredes" em um branco imaculado, uma para cada tela.
Tudo foi estudado, durante dois anos, para avaliar a incidência da luz natural sobre as obras e também o jogo de luzes que a colagem da fachada, a "Casa de Baile", teria sobre os quadros na parte interna do prédio.
"Construímos tudo aqui. Foi uma experiência espetacular. Primeiro porque foi necessário desenhar o espaço onde a exposição seria montada. Normalmente, os locais já estão prontos", diz Beatriz, para quem interagir com a obra de Jean Nouvel foi uma experiência única. "O trabalho na Fundação Cartier reage muito com a luz. É um movimento constante."
Pelo mundo
Beatriz Milhazes é hoje uma das artistas brasileiras mais cotadas no exterior: uma de suas obras foi vendida por cerca de US$ 1 milhão em um leilão da Sotheby’s. Entre seus projetos está uma mostra em Londres no próximo ano e a apresentação da exposição da Pinacoteca de São Paulo no Malba, em Buenos Aires. Também em 2010, ela continua trabalhando no lançamento do livro da editora alemã Taschen e em um projeto "secreto" da joalheria Cartier.
Artistas cobram política de uso mais eficiente, Zero Hora
Matéria originalmente publicada no jornal Zero Hora, em 6 de abril de 2009.
Parte das mais interessadas na implantação de novos centros culturais, a classe artística de Porto Alegre se mostra cética quando o assunto é a região central da cidade.
Uma certa negligência para com a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e a falta de segurança são os principais pontos negativos apresentados por músicos, atores e artistas plásticos, embora vantagens evidentes, como sistema de transporte, estrutura e público constante sejam razões suficientes para que o Centro continue a receber investimentos do gênero.
O artista plástico Leandro Selister faz parte do grupo que, apesar de aplaudir os novos espaços, alerta para o esquecimento de alguns pioneiros.
– É preciso reverenciar uma iniciativa como o Multipalco, que acabou de inaugurar sua concha acústica. mas não se pode relegar a CCMQ como se faz atualmente – aponta, sobre o espaço que abrigou sua primeira exposição, em 1990.
A mesma crítica faz Giancarlo Carlomagno, integrante do grupo de teatro Oigalê, para quem não adianta criar espaços – é preciso uma política coerente de utilização.
– A CCMQ tem salas de teatro, cinema, multiuso, mas, se houvesse mais investimento direto, sua programação poderia ser bem mais ampla – diz, apontando que segurança e falta de locais para estacionar já o fizeram deixar de ir ao Centro.
Por outro lado, as calçadas por onde caminharam Mario Quintana ainda merecem mais prestígio do que qualquer outra, na opinião do músico e compositor Nelson Coelho de Castro, veterano de noites no Centro. Depois de uma histórica debandada, os complexos culturais teriam o papel de trazer as pessoas de volta. Diz ele:
– O Centro é o centro, é o marco zero da cidade. Ele precisa se reconhecer, ter uma vida própria, um jeito próprio. É fundamental para a manutenção da identidade cultural.
Selister, que já expôs em outros espaços centrais como a Usina do Gasômetro, ressalta a praticidade e visibilidade que o Centro proporciona como grande mérito.
– Como eu, muitos artistas querem que um número cada vez maior de pessoas vejam o que fazem. E no Centro isso é possível, dada a concentração dos espaços.
A ideia de reunir centros culturais numa só região pode não ter sido planejada, mas é uma realidade. Reconhecida como benéfica pelo diretor do Centro Municipal de Dança, Airton Tomazzoni:
– Minha impressão é de que temos um bom percentual de gente que frequenta os lugares porque eles fazem parte do seu trajeto cotidiano, então tornam-se uma opção que não existiria de outra maneira, embora também exista um público que venha especialmente para usufruir dessas casas.
Cinema experimental, Zero Hora
Matéria originalmente publicada no jornal no Zero Hora, em 8 de abril de 2009.
“Dois Vazios” leva à Usina filmes rodados no interior do Estado e no sertão nordestino
Ciclo em cartaz a partir de hoje, na Sala P. F. Gastal, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, conjuga as linguagens do cinema e das artes visuais. O projeto, intitulado Dois Vazios, exibe quatro filmes experimentais, realizados por artistas. O título do projeto não alude diretamente a essa fronteira entre dois campos da imagem. Evoca antes os lugares onde os filmes foram rodados: dois deles na região pampiana, no interior do Rio Grande do Sul, e os outros dois no sertão, no Nordeste do país.
Contemplados pelo edital Arte & Patrimônio 2007, do governo federal, os filmes exploram tanto as paisagens como o imaginário que as acompanha, descolados – paisagens e imaginários – dos grandes centros urbanos, ancorados na ideia de um Brasil profundo. Não são narrativas tradicionais. Vigília, por exemplo, rodado pelo gaúcho André Severo, vai se fixar em gestos que se repetem sem uma finalidade aparente além da própria repetição do gesto. Os outros filmes são Siempre, do mesmo André em pareceria com Paula Krause, Ó, do pernambucano Marcelo Coutinho, e Cabeça de Peixe, do também pernambucano Ismael Portela.
O ciclo também assinala a estreia da Nau Produtora, voltada a projetos na área de artes. As sessões de Dois Vazios vão de hoje a domingo, sempre às 19h, com exceção da sexta-feira, quando a sessão será às 17h (confira a programação dia-a-dia no roteiro de cinema do Guia hagah).
abril 6, 2009
O que constrói e educa uma sociedade por Paulo Sérgio Duarte, Gazeta Mercantil
Matéria de Paulo Sérgio Duarte originalmente publicada no jornal Gazeta Mercantil, em 3 de abril de 2009.
É muito difícil escrever para um órgão da imprensa - não se trata do catálogo da exposição ou de um informe de divulgação - sobre uma exposição de arte da qual você não apenas participou como um dos organizadores, mas coordenou toda uma equipe de quatro curadores e oito assistentes. Tratando-se de arte na qual os juízos são sempre subjetivos não existe ninguém mais suspeito do que eu para falar dessa exposição porque o leitor, naturalmente, espera, ao ler o jornal, uma avaliação crítica. Peço que a visite e a avalie por si mesmo.
Tratando-se de uma escolha que não é pessoal, mas de uma equipe de treze pessoas, posso apenas garantir que se trata de uma relevante amostragem da produção de artes visuais do Brasil contemporâneo de Norte a Sul, de Leste a Oeste. E um evidente testemunho da vitalidade dessa produção que há muitos anos nos coloca de igual para igual com o que de melhor se faz no planeta. E depois dessas afirmações, vejam como não sou suspeito.
Mas é importante essa oportunidade para informar o leitor do que se trata o programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. E quem lhes escreve dirigiu órgãos públicos federais, estaduais e municipais, e tem alguma experiência com entidades privadas. Hoje, o Rumos Artes Visuais é o mais importante programa realizado por meio de um edital público na área de artes visuais voltado especialmente à produção emergente. Nenhum outro órgão público ou privado desenvolve um programa como esse.
Nessa edição 1617 artistas se inscreveram. Quarenta e cinco foram selecionados. Os artistas selecionados recebem recursos criteriosamente estabelecidos para realizar suas obras quando estes são necessários. Mas não é mais um salão de arte. Muito além do concurso público e da exposição que agora pode ser visitada o programa é todo um processo complexo e variado.
Percorre o País em diversas cidades do Norte ao Sul, promovendo conferências e debates, visita ateliês, entra em contato com os artistas, distribui livros para enriquecer bibliotecas com títulos de arte, realiza oficinas de trabalho, promove seminário e bolsas de residência no exterior e no país. Acima de tudo, promove um intercâmbio de experiências entre artistas, curadores, críticos; cada edição do Rumos Artes Visuais é um encontro, em muitos capítulos, que dura dois anos. A exposição ora apresentada em São Paulo receberá quatro recortes por cada um dos quatro curadores - Alexandre Cerqueira, de Belém; Marília Panitiz, de Brasília; Christine Melo, de São Paulo e Paulo Reis, de Curitiba - e será exibida em Rio Branco, no Acre, em Brasília, em Salvador, e em Curitiba e, depois, será mostrada na íntegra no Rio de Janeiro. Os artistas selecionados têm uma ocasião única de ter sua obra em contato com um público muito variado.
Agora vem o momento crítico: e para quê tudo isso? A mentalidade instalada no poder em nosso País, e isto não agora, mas desde nossa fundação, não compreendeu o papel da arte na construção de uma nação. No nosso caso de País periférico a indústria do entretenimento pegou pesado por meio da televisão. Produzimos uma das melhores televisões abertas do mundo. Mas lembre-se, a meu ver, apenas um canal aberto apresenta alta qualidade de conteúdo e forma, o resto é sofrível quando não deprimente.
Esse canal de melhor audiência e qualidade desenvolve um trabalho cultural evidente, criticável em alguns aspectos, mas de longe uma das melhores coisas que já vi quando sintonizo a TV nos hotéis em qualquer País. Mas arte não é só cultura, e muito menos cultura eletrônica. É isto que a elite brasileira não introjetou, não botou para dentro. As castas superiores da sociedade brasileira têm uma enorme dificuldade em diferenciar arte de cultura. E tanto faz castas de esquerda e de direita, todas pensam igual.
Pode ser que alguém pergunte: mas o que esse cara entende por casta? Entendo por casta no Brasil esse ajuntamento de proprietários, de investidores pesados. Seus assessores e, sobretudo, essa burguesia de Estado formada por tecnocratas e recém-chegados ao poder que ocuparam desde os fundos de previdência das estatais até órgãos da cultura. Esta é a casta superior da sociedade brasileira. É esta casta que não diferencia arte de cultura. E não interessa diferenciar porque cultura - esta coisa genérica - rende politicamente, arte é mais complicado.
Não vou falar da Europa, porque vou ser considerado muito antigo. Vamos aos Estados Unidos que têm a maior indústria cultural do mundo: Hollywood, a Broadway, as maiores redes de TV e uma produção imensa de pacotes de exportação. O que eles fazem? Exportam indústria cultural, entretenimento e importam arte. Têm absoluta ciência do papel da arte na construção de uma nação. Basta pensar nos seus maiores museus.
Em Merion, na Barnes Foundation, um subúrbio da Filadélfia, entre outras preciosidades existem 52 óleos de Cézanne, repito, 52 de Cézanne. Não falemos de Washington, Nova York, Filadélfia, ou Chicago. O país que deu ao mundo o blues, o jazz e o rock não abdicou de formar grandes coleções de arte. Por quê? Sem confundir arte com cultura os norte-americanos sabem o que constroem e educam uma sociedade.
Em nosso País é deplorável a situação das artes visuais. Passados 13 presidentes da República entre ditadores e democratas - não contando os dois interregnos - o Museu de Arte de Brasília é a antiga sede do Clube das Forças Armadas, depois transformada em Casarão do Samba, para, finalmente ser destinada ao Museu. Vive, em lugar ermo, ao lado de um conjunto hoteleiro de arquitetura pífia chamados, et pour cause, de Fort Lauderdale e Key Biscayne.
O Rumos Itaú Cultural Artes Visuais faz todo esse trabalho, para quê? Para ser complementado por programas públicos de bolsas de trabalho para artistas e programas de aquisições de obras de arte para enriquecimentos de acervos nacionais e locais. Mas para isso é preciso abrir o olho para a arte e diferenciá-la da cultura. E sobretudo parar com a discurseira reformista e fortalecer o que está dando certo.
Inventores da abstração por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 1 de abril de 2009.
Brasília abre mega-exposição da vanguarda russa e Kandinsky ganha retrospectiva em Paris
Virada russa: a vanguarda na coleção do Museu Estatal Russo de São Petersburgo/ Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/ de 6/4 a 7/6
Kandinsky/ Centro Georges Pompidou, Paris/ de 8/4 a 10/9
Algumas das obras primas de artistas hoje reconhecidos como integrantes da “vanguarda russa” foram criadas a partir de uma fértil combinação entre tradição e modernidade. Em 1928, quando começou a pintar personagens sem rosto, Kasimir Malevich tinha em mente cenas de lavoura, colheita e outros temas freqüentes ao trabalho no campo. Essas figuras “semi-abstratas”, como Malevich as definia, parecem visões futuristas e robóticas do povo russo. De fato, os camponeses de Malevich têm as feições modernas do futurismo italiano, o movimento que foi uma das referencias na formação do jovem artista russo, antes que ele inventasse seu próprio idioma artístico, o suprematismo, que logo se tornaria universal.
Essa historia será contada ao vivo e em cores através das 123 obras realizadas entre 1890 e 1930, expostas em Virada russa, no CCBB-Brasília. A exposição mostra como os artistas russos assimilaram as propostas revolucionárias das vanguardas européias para então “inventar” a pintura abstrata. O fascínio pela geometrização das formas cubistas foi o que conduziu Malevich e os colegas Vladimir Tatlin, Alexandre Rodchenko e Vassily Kandinsky ao desligamento completo da arte como representação do mundo real e à busca de uma forma, pura, original, suprema. Em 1915, quando artistas da Europa ocidental pintavam cenas urbanas e temas sociais, Malevich radicalizava e restringia-se ao essencial, pintando um quadrado negro, um circulo negro e uma cruz negra sobre fundo branco. Rodchenko, forte referencia para o concretismo brasileiro dos anos 50, naquele mesmo ano pintou seu “Circulo branco”, antecipando em décadas os efeitos óticos das pesquisas da optical art.
A exposição promete ser uma boa aula, já que traz também nomes pouco freqüentes nos livros de história, como Vladimir Lebedev, Ivan Puni, Olga Rozanova e Lyubov Popova. De Kandisnky, há apenas três telas dos anos de formação, quando ele ainda pintava paisagens, sob forte influência dos fauvistas franceses e do expressionismo alemão. Sua fase abstrata de fato não pertence ao Museu Estatal Russo, de onde vem a mostra Virada russa, mas divide-se entre coleções públicas e privadas da Europa e dos Estados Unidos, já que o pintor emigrou cedo. Para um conhecimento definitivo da obra completa de Kandinsky recomenda-se a visita à retrospectiva que inaugura dia 8 no Centre Georges Pompidou, em Paris. A mostra, que vai para o Guggenheim de Nova York em 18 de junho, cobre toda sua vida em um percurso cronológico: os anos do grupo Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul), em Munich; a atuação na Bauhaus em Weimar; a volta a Moscou; a passagem por Berlin; a vida e o trabalho em Paris a partir de 1934. Kandisnky talvez seja o que hoje reconhecemos como um “cidadão do mundo”. Nasce em 1866 na Rússia, mas em 1928 adquire a cidadania alemã e em 1939 se naturaliza francês.
Roteiros
Navegar é preciso, viver não
Nuno Ramos - Mar morto / Anita Schwartz Galeria de Arte, RJ/ até 16/5
Dois barcos encalhados um no outro, encobertos de sabão, aos quais foram acoplados dois conjuntos de caixas de som. De um desses equipamentos, emana um coro masculino que às vezes mimetiza um apito muito grave, como o de um navio. Assim Nuno Ramos explica sua nova instalação no texto que escreveu e entregou ao cuidados do ator Marat Descartes. Trechos de relatos de naufrágios portugueses, de monólogos de tragédias gregas e divagações sobre clássicos de Mallarmé e Conrad compõem esse texto, que tem como centro a figura masculina. A instalação Mar Morto (Soap Opera 2), construída em cinco meses por 15 homens e com 2200 kg de sabão endurecido, apresenta um humor sutil, relativamente novo na obra do artista paulistano.
Na instalação anterior, Soap Opera 1, o humor era o elemento predominante. Exposta no CCBB-Brasília, em 2008, a obra era composta de duas caixas de som encerradas em sebo endurecido em formato de cachorros. Os objetos transmitiam latidos em forma de canto lírico, a fim de reproduzir a “voz do sabão”. “Eu estou mais velho e, com a idade, a gente aprende que tem que rir um pouco, né?”, diz Nuno Ramos.
A temática - o mar - e o material – sabão -, já haviam aparecido em trabalhos anteriores. “O mar representa o contínuo, como uma sopa onde se misturam coisas. O sabão agüenta misturar muita coisa e me atrai pelos extremos: das ossadas, na fábrica, ao sabonete. Essa passagem entre imundo e limpo me interessa muito”, diz. Na individual na galeria Anita Schwartz, no Rio, a instalação está acompanhada de duas novas pinturas da série Relevos e com o vídeo Cascos, de 2004. Neste último, uma parceira com o videoartista Gustavo Moura, aparecem também os barcos cortados e a força destruidora do mar. “A violência é uma forma de juntar coisas que não se juntam. Toda violência quebra parâmetros que nos são, ou nos parecem, necessários”, diz Nuno Ramos.
Fernanda Assef
Um lugar ambíguo por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 25 de março de 2009.
Objetos do cotidiano ganham lugar na retrospectiva de Sergio Romagnolo
Sergio Romagnolo - O corpo denso da imagem / Instituto Tomie Otake, SP / até 10/5
Embalagens de sucrilhos, personagens de seriados de televisão, heróis dos quadrinhos, ícones do barroco mineiro. Nenhum clichê da industria cultural escapa. Com um corpo de trabalho que inclui as atividades da escultura, da pintura e do desenho, Sergio Romagnolo é um investigador da condição reincidente e repetitiva da imagem contemporânea. Mas, apesar de assumir que sua vontade de reprocessar os ícones do cotidiano surgiu depois que assistiu a um filme de Andy Warhol (1928-1987), em 1982, o artista paulistano não se considera influenciado pela arte pop. “Nasci num mundo de propagandas. A mídia de massa não é pop, ela é a vida. Minha obra não fala da indústria pop, mas da minha vida. É autobiográfica e até nostálgica. Me sinto mais inspirado por Duchamp do que por Warhol”, afirma Romagnolo, que faz uma retrospectiva de cem obras produzidas em quase trinta anos de trabalho, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
A referência a Marcel Duchamp (1887-1968) aparece nas esculturas que poderiam ser readymades – objetos comuns, apropriados do cotidiano e transformados em obras de arte -, como o Fusca de ponta cabeça e a Bateria com pantufa amarrada. “A idéia é sobrepor coisas diferentes. Sagrado e profano, instrumento musical e sapato. Por quê? Porque eles nunca estiveram juntos; combinam, mas não combinam. A intenção é confundir, provocar relações ambíguas. O mundo moderno é muito pragmático, mas a arte ocupa o lugar do não-prático, não-óbvio, do inacabado”, diz. Para sintonizar com a confusão, a montagem da exposição, a cargo do curador Agnaldo Farias, permite-se uma certa “desorganização” cronológica, alinhando obras produzidas em diferentes épocas, e aproximando-as menos pelo vinculo temporal e mais pela relação temática. Esse é o caso da pintura Batmóvel, de 1981, que aparece junto aos trabalhos sobre a série A Feiticeira, de 2006-08.
Colaborou Fernanda Assef
Bate papo: Jorge Macchi
Artes do discurso
Para construir a imagem do cartaz de apresentação da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, o artista argentino Jorge Macchi utilizou aspas recortadas de frases impressas em jornais. Ao banir as informações contidas entre as aspas e utilizar somente o símbolo gráfico, Macchi apropriava-se e desarticulava o discurso produzido pela mídia. O jornal continua sendo sua matéria prima durante sua participação no Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura, do Instituto Iberê Camargo. A partir da matriz realizada em Porto Alegre, será produzida uma tiragem de 60 cópias.
Que relação você tem com a gravura?
Me interessa na gravura a possibilidade de reproduzir imagens que preservam uma qualidade artesanal apesar da serialização.
Qual será seu trabalho no ateliê?
Levo um material para submeter à análise dos técnicos do instituto. É uma imagem que eu gostaria de reproduzir, mas não sei exatamente qual é a técnica apropriada. Trata-se de uma página de jornal, da qual eu extraí o texto, mas na qual percebe-se parte do texto da página posterior por transparência. Parece uma composição geométrica que, no entanto, preserva detalhes que denotam a origem dessa estrutura. O que me interessa aqui é o processo, que leva de um objeto serializado a outro.
Como vê o transito artístico entre Brasil e Argentina?
Não creio que os artistas argentinos estejam muito presentes no Brasi e tampouco é comum ver artistas brasileiros na Argentina. Mas vejo uma proposta mais integradora no Brasil, como demonstram a Bienal do MERCOSUL, a Bienal de São Paulo, ou o centro de Estudos Brasileiros em Buenos Aires. Na Argentina, tudo depende mais da energia, da iniciativa e da sorte dos próprios artistas.
Critica
Reality show às avessas
Os sete intelectuais na floresta de bambu/ Paço das Artes, SP/ até 5/4
Por Juliana Monachesi
Na contracorrente da arte chinesa para exportação, Yang Fudong é um artista em ascensão – entrou para o círculo de artistas experimentais chineses com o vídeo Backyard – Hey, Sun Is Rising!, de 2001, e, no ano seguinte, apresentava An Estranged Paradise na Documenta 11. Mas é um artista que preza a perspectiva de um tempo longo, em oposição àquilo que ele próprio denomina o “estilo rápido” dos artistas atuais. A instalação Os Sete Intelectuais na Floresta de Bambu, exposta no Paço das Artes, levou cinco anos para ficar pronta. Com cinco videoprojeções, a obra é uma proposta de refúgio no movimento taoísta da “conversação pura”, encenada por sete jovens convidados pelo artista a seguir os próprios impulsos em meio à natureza.
A temporalidade dilatada da obra de Fudong não se restringe ao tempo de criação e desenvolvimento da pesquisa que resultou na instalação, pois perpassa toda a narrativa da jornada coletiva de formação intelectual. Filmado em 35mm, o trabalho imprime no espectador uma sensação de distância e tempo expandido pelo uso do filme preto-e-branco e de figurinos que remetem aos anos 1940. Inspirada na lenda dos sete sábios chineses, um grupo de estudiosos e poetas que fugiram dos problemas da transição entre as dinastias Wei e Jin na China do século 3º reunindo-se em um bosque para filosofar, a obra Os Sete Intelectuais na Floresta de Bambu trata da busca de sentidos para a vida – explicitada nos diálogos filosóficos que lembram o cinema francês existencialista de Godard– e do embate com o vazio de sentido nas relações entrecortadas pela paisagem (seja urbana ou rural) – referenciado no enquadramento à maneira de Antonioni, que privilegia a arquitetura e os espaços vazios em detrimento dos próprios personagens.
Em uma inversão da lógica espetaculosa dos reality-shows que proliferam na grade televisiva, a reencenação audiovisual do movimento taoísta roteirizada por Yang Fudong deixa o filme à deriva das improvisações dos protagonistas no confronto com cada etapa da jornada, consciente de que esta nunca terá fim.
Juliana Monachesi é critica de arte e jornalista
Brasil urbano por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 18 de março de 2009.
Relação do artista com as cidades é tema da quarta edição do Rumos Artes Visuais
Rumos Artes Visuais – Trilhas do desejo/ Instituto Itaú Cultural, SP/ de 12/4 a 10/5
Programa de mapeamento e fomento da produção artística brasileira, com cobertura de todo território nacional, o Rumos Artes Visuais é referencia obrigatória para a identificação dos novos talentos e das diversas tendências da arte contemporânea. Após um ano de pesquisas, envolvendo (tantos) profissionais de diversos estados, que trabalharam em colaboração com o curador geral Paulo Sérgio Duarte, o programa chega à sua quarta edição, apresentando no Itaú Cultural 72 obras de 45 artistas de 11 estados.
A exposição produz um retrato do momento atual. De acordo com essa instantânea, o jovem artista brasileiro faz do perímetro das cidades a sua temática e o seu campo de trabalho. Nessa arte de contornos urbanos, é possível detectar, por exemplo, aqueles que trabalham sobre a recriação e a reconfiguração de espaços arquitetônicos, domésticos e sociais. Esse é o caso do paulista Nino Cais, que ao instalar colunas produzidas com cabos de vassoura na sala de exposição instaura um dialogo entre a arquitetura urbana e o mobiliário domestico. Esta é também a proposta da videoinstalação Contra-muro, da carioca Ana Holck, que insere o espectador entre projeções que alteram imagens de construção e desconstrução de um muro de concreto.
Entre as escolhas desse jovem artista revelado no Rumos apresenta-se também o uso de matéria prima industrial urbana. O capixaba Rafael Alonso prefere os elásticos de escritório coloridos e fita adesiva às tintas e pincéis. Já Yana Tamayo reconstrói a imagem de edifícios de Brasília com objetos plásticos de uso cotidiano.
Embora a curadoria observe que os artistas selecionados revelam um Brasil mais urbano do que rural, deixando de lado a temática social, impossível não detectar esse tipo de preocupação nas fotografias de Barbara Wagner, que mapeiam duas gerações de mestres do maracatu da Zona da Mata brasiliense; ou do paraense Alan Campos, que registra minorias indígenas do Amazonas; ou mesmo na videoinstalação Cronópios, da gaúcha Leticia Ramos, com imagens do Largo de Pinheiros paulistano. Sinais de que o jovem artista tem um impulso documental na abordagem do social.
Roteiros
Meus livros, meus discos
Vânia Mignone/ Casa Triângulo, SP/ até 28/3
Geralmente composta por uma pintura de traços econômicos, cores fortes e textos curtos, a obra de Vânia Mignone tem uma relação de parentesco – ainda que distante – com o universo gráfico dos posters de cinema, dos cartazes de rua, das placas de sinalização. Nesta sua exposição individual na galeria Casa Triângulo, as pinturas de formato quadrado remetem às capas de discos de vinil e apresentam-se como uma coleção de imagens alçadas de um repertório pessoal e intimista. Em cada tela, uma personagem realiza uma ação solitária: uma mulher experimenta um vestido para um baile, um rapaz agacha-se junto ao sofá da sala de sua casa. Cada uma dessas situações poderia significar um fragmento narrativo qualquer: o capítulo de um livro, o prólogo de um conto, um ato de peça teatral, a letra de uma música.
A relação entre a pintura e a narrativa de histórias é evidente na obra desta artista paulista, que atualmente também exibe um trabalho na exposição coletiva Nova Arte Nova, no Centro Cultural banco do Brasil, em São Paulo. “Gosto muito desses jogos de palavras criando imagens”, diz Vânia. “Mas como eu não sei fazer poesia, nem construir uma imagem através das palavras, eu uso o meu recurso, que é a pintura, ou o desenho. Mas incorporo essas palavras porque gosto muito delas”.
Colaborou Fernanda Assef
Reunião tenta acalmar os bolsistas do salão por Olívia Mindêlo, Jornal do Commercio
Matéria de Olívia Mindêlo originalmente publicada no Caderno C do Jornal do Commercio, em 6 de abril de 2009
O Salão de Artes Plásticas de Pernambuco tem uma certa vocação para a polêmica. Ao mesmo tempo em que figura entre as iniciativas mais interessantes no circuito de artes brasileiro, o evento realizado pelo Governo do Estado, através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), costuma ser também um motor de controvérsias. Quem acompanhou as últimas edições deve se lembrar das reclamações em torno do critério de avaliação para selecionar os artistas bolsistas. Iniciada no fim do ano passado, a 47ª versão do projeto se vê diante de novos rumores, agora desencadeados por problemas com a verba das bolsas.
Depois de inúmeras cobranças, a organização do salão resolveu juntar os bolsistas numa reunião de emergência, realizada na última sexta-feira, no Museu do Estado. O intuito foi tentar abrandar a insatisfação dos contemplados pelo edital público, procurando esclarecer o que está por trás do grande incômodo: o atraso nas parcelas da premiação e o desconto tributário maior do que o previsto sobre os recursos.
A respeito da primeira questão, a coordenadora geral do evento, Luciana Padilha, explicou que até a sexta desta semana as bolsas atrasadas “devem estar saindo”, pois já foram empenhadas. “No governo, toda mudança de ano começa com prestação de contas para só depois começar a fazer os pagamentos”, procurou justificar a gestora, referindo-se à causa da lentidão na liberação das bolsas que a Fundarpe deve há três meses.
Dos 21 bolsistas selecionados nas áreas de artes plásticas, fotografia, videodocumentário e pesquisa, sete nem sequer receberam os dois pagamentos empenhados em dezembro de 2008. “Foi problema na documentação”, disse Luciana.
Já quem recebeu as duas parcelas acumuladas no fim do ano acabou tendo que lidar com um novo contratempo: o desconto de cerca de 30% referente ao Imposto de Renda. Os bolsistas contavam com R$ 1,5 mil referentes a cada prestação das dez parcelas do prêmio de R$ 15 mil, mas acabaram recebendo R$ 450 a menos em cada. Somando a mordida, a perda fica em R$ 4,5 mil no total. Como o edital não especificou o percentual a ser retido, por não variar segundo a tabela do IR, teve bolsista que chegou a anunciar a desistência do projeto. Foi o caso da dupla de artistas Marcos Costa e Carlos Mascarenhas, que ainda assim teve de voltar atrás na decisão, porque para isso teria de devolver em dobro as duas parcelas recebidas. “Um dos artigos do edital previa a penalidade, então não tinha como desistir. O que é um prêmio vira um castigo”, reclamou Costa, com a ressalva de que ao menos vê alguma boa vontade da Fundarpe.
Entre as promessas anunciadas na reunião, está o pagamento de um aditivo correspondente aos 30% dos cortes tributários. Segundo Cláudia Moraes, produtora executiva do evento, nem ela podia prever que a mordida ia ser tão alta, por ser uma determinação da Receita Federal, que interpretou as bolsas do salão numa categoria de prêmio diferente. Por isso, anunciou ela, a Fundarpe resolveu compensar o prejuízo com esse adicional. Por enquanto, contudo, a tentativa de acalmar os ânimos fica no compromisso verbal. Pena que só quatro bolsistas puderam ir à reunião. Grande parte estava fora da cidade.
Fundarpe negocia com bolsistas do Salão por Tatiana Meira, Diário de Pernambuco
Matéria de Tatiana Meira originalmente publicada no caderno Viver do jornal Diário de Pernambuco, em 6 de abril de 2009.
Até sexta-feira desta semana devem começar a ser pagas as parcelas em atraso das bolsas mensais dos contemplados no 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. O compromisso foi assumido publicamente na última sexta-feira, numa reunião no Museu do Estado de Pernambuco, onde compareceram quatro dos 21 artistas selecionados, para conversar com representantes da Fundarpe, que organiza o evento. Também está sendo providenciada uma complementação orçamentária para suprir os 30% de desconto, referentes a tributos, que foram aplicados às duas primeiras parcelas (pagas no final de dezembro) e também serão retirados das três parcelas seguintes. A partir daí, o restante da verba será pago a cada mês de forma integral (em parcelas de R$ 1,5 mil). O desconto de 30% é referente ao imposto de renda e ocorre pois o edital foi enquadrado na categoria de prêmio.
"Esta é uma solução imediata para garantir que os artistas não tenham prejuízo e possam continuar suas pesquisas. No próximo edital, esperamos que estes trâmites burocráticos e jurídicos já estejam resolvidos", pontua Cláudia Moraes, responsável pela produção executiva do Salão de Artes Plásticas. Embora esteja orçado em R$ 1,5 mihão, com rubrica única a partir do Funcultura Estadual, o cronograma de pagamento das bolsas está atrasado em seis meses e existem sete bolsistas que ainda não começaram a receber sua parte, pois havia documentos pendentes.
Segundo Luciana Padilha, coordenadora do Salão, o cronograma foi mudado diversas vezes, o que tornou o processo mais vagaroso. Além disso, explica ela, na mudança de ano, o governo estadual necessita fazer a prestação de contas, o que emperrou ainda mais a liberação dos recursos. "Temos tentado conseguir respostas e afirmações, mas dependíamos da Receita Federal, da Receita Estadual e do jurídico da Fundarpe. Queremos amarrar dois encontros entre os orientadores e os bolsistas, para setembro", afirma Luciana, acrescentando que é provável que o Salão ocorra em novembro, mas ainda não é possível oficializar prazos.
Até agora, foram realizadas seis oficinas artísticas dentro da programação do Salão, além da exposição Presença da xilogravura popular nas obras de Samico e Narrativas em madeira e muro, de Derlon. Luciana diz que não falta comunicação entre a equipe da Fundarpe e os artistas, que estão sendo contatados por e-mail e por telefone. "É uma cobrança pertinente deles, mas pedimos também que formalizem os documentos e tudo sobre o que tiverem dúvidas, pois isso será um instrumento para nos dar agilidade e que pode defendê-los", ressalva Cláudia Moraes.
Os artistas Marcos Costa e Carlos Mascarenhas, selecionados com o projeto Ópera crua, revogaram a desistência do projeto, pois entenderam que não estavam dispostos a devolver em dobro o total da premiação (de R$ 15 mil), como está previsto no artigo 21 do regulamento do Salão. "Numa postura radical, não haveria ganhos para nenhum dos lados. Estamos sentindo a boa vontade da equipe do evento em resolver o problema e vamos dar este crédito e ver como funciona", pondera Marcos Costa, reforçando que apesar de já ter iniciado a etapa do mapeamento de seu projeto, foi obrigado a parar no primeiro mês, pois não tinha recursos para comprar equipamento de audiovisual necessário para realizar Ópera crua.
Nova Lei Rouanet prevê "quebra" de direito autoral por Silvana Arantes, Folha de S. Paulo
Matéria de Silvana Arantes originalmente publicada na Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo, em 2 de abril de 2009.
Texto do MinC dá ao governo direito de uso dos bens e serviços financiados pela lei
Proposta, que será debatida hoje na Folha, também elimina veto à avaliação do mérito artístico dos projetos que aspiram ao patrocínio
A proposta do Ministério da Cultura (MinC) para alterar a Lei Rouanet prevê a suspensão da reserva de direitos autorais dos bens e serviços realizados com benefício da lei (de renúncia fiscal), em favor do governo.
O texto estabelece que, um ano e meio após a realização da obra financiada com recurso público, "a administração pública federal" poderá dispor dela "para fins educacionais".
O embargo é de três anos nos casos em que o uso pelo governo for para "fins não comerciais e não onerosos". Isso permitiria, por exemplo, que a TV Brasil exibisse numa faixa de programação educativa a produção audiovisual feita com incentivo da lei. Quase todos os longas realizados atualmente no país são financiados por meio das leis Rouanet e do Audiovisual.
"Contrassenso"
O secretário-executivo do Ministério da Cultura, Alfredo Manevy, diz que, "uma vez explorado o processo econômico de um bem cultural financiado com dinheiro público, proibir ou limitar o seu acesso numa TV pública ou educacional é um contrassenso que a gente busca sanar com essa medida".
A medida caracteriza-se como "licença compulsória", segundo especialista em direito autoral ouvido pela Folha.
A Lei Rouanet contempla também a edição de livros, a produção de CDs e DVDs musicais, a montagem de espetáculos de artes cênicas e de exposições de artes visuais, entre outros produtos culturais.
O MinC estima que, com o fim da reserva de direitos, o MEC poderá reimprimir, para fins pedagógicos, livros de valor artístico financiados pela lei, mas cuja tiragem é restrita.
Outra mudança significativa no anteprojeto de lei formulado pelo MinC, que está em consulta pública (www.planalto.gov.br/ccivil-03/consulta-publica/programa-fomento.htm) e é tema de debate que a Folha promove, hoje, com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, é o fim da proibição de uso do "mérito artístico" como critério para avaliar os projetos submetidos ao crivo da lei.
Compete ao MinC autorizar (ou negar) a obtenção de recursos via Lei Rouanet -em que o patrocinador aplica em projeto cultural parcela de seu Imposto de Renda devido.
Da forma como é feita hoje, a avaliação dos projetos inscritos na Lei Rouanet -em torno de 9.000 por ano- obedece apenas critérios técnicos, como a coerência entre seu orçamento e as realizações previstas.
O texto em vigor, de 1991, determina que "os projetos enquadrados nos objetivos desta lei não poderão ser objeto de apreciação subjetiva quanto ao seu valor artístico ou cultural". Esse trecho foi suprimido no anteprojeto do MinC.
Manevy diz que, em nome da objetividade almejada pela atual formulação da lei, "muita coisa sem relevância foi feita" e afirma que "não entrar na discussão sobre a qualidade dos projetos e não premiar os que têm qualificação maior é neutralizar o sistema de avaliação".
Para o secretário-executivo, "a questão da subjetividade é inerente ao processo de avaliação, ainda mais no campo da cultura". O que o governo pretende, diz ele, é que as avaliações se façam com "regras claras, republicanas, com um sistema de contrapesos, para evitar qualquer tipo de dirigismo".
Pelo novo texto, "os critérios de avaliação serão aprovados pela Cnic [Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, com número paritário de representantes do governo e da sociedade civil] em até 90 dias antes do início do processo seletivo".
Segundo o MinC, a Lei Rouanet movimentou em 2008 cerca de R$ 1 bilhão. O anteprojeto prevê que a pasta possa utilizar até "5% dos recursos arrecadados" para gerir o uso da lei.
Manevy diz que a medida "vai permitir mais dinamismo" na análise dos projetos inscritos na lei e a "qualificação dos estudos" sobre sua utilização, já que "a Cnic vai ter o poder de decidir, para contratar pareceristas [que avaliem os projetos] e realizar estudos de impacto da lei em determinado setor.
O MinC prevê levar mais 45 dias após o fim da consulta pública -em 6/5- para arrematar o texto do anteprojeto e encaminhá-lo ao Congresso.
Folha realiza hoje debate com ministro
A Folha promove às 19h de hoje um debate sobre a proposta de mudanças na Lei Rouanet. Participam o ministro da Cultura, Juca Ferreira; o secretário da Cultura do Estado de São Paulo, João Sayad; o diretor da Apetesp (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de SP), Paulo Pélico; o superintendente de Atividades Culturais do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron, e o consultor de patrocínio empresarial, diretor-geral da Significa e da Articultura, Yacoff Sarkovas. A mediação do debate será do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustrada.
O evento será realizado no auditório da Folha. As inscrições para a participação, gratuita, foram encerradas ontem, quando o número de inscritos atingiu a capacidade da sala.
Lições de Wesley por Silas Martí, Folha S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 2 de abril de 2009.
Mostra em SP revive clima do ateliê em que Wesley Duke Lee, um dos mestres do pop no país, deu aulas a Carlos Fajardo, Frederico Nasser, José Resende e Luiz Baravelli
Na manhã seguinte ao primeiro "happening" na história da arte brasileira, Carlos Fajardo acordou cedo para prestar vestibular. Fez a prova pensando nas penas de galinha, bolhas de sabão e nas obras eróticas que Wesley Duke Lee mostrou no João Sebastião Bar. Meses depois, Fajardo passaria a frequentar, como aluno, o ateliê do mestre do pop no país. José Resende, Frederico Nasser e Luiz Paulo Baravelli também participavam dos encontros, que foram de 1963 a 1968. "No primeiro dia, ele explicou a obra do Marcel Duchamp", lembra Fajardo, 67. As lições de Duke Lee aos quatro artistas são mote da mostra que o Centro Universitário Maria Antonia abre hoje, tentativa de reviver o clima do ateliê em que cinco dos nomes mais relevantes da cena brasileira trabalharam lado a lado. "O Wesley era um difusor de informação fina sobre arte contemporânea aqui em São Paulo", afirma João Bandeira, 48, um dos curadores da mostra. "Era antenadíssimo, foi o cara que colocou as coisas na roda." Hoje aos 77, Duke Lee briga com o mal de Alzheimer e costuma esquecer boa parte dessa história. Mas há 40 anos, depois de viver na Europa, onde viajou de Vespa até a Suécia para encontrar o cineasta Ingmar Bergman, e se formar em Nova York, onde conheceu Duchamp, ajudou a atualizar a arte contemporânea no Brasil. Fundou, com Geraldo de Barros, Nelson Leiner, Fajardo e José Resende, o anárquico grupo Rex, um ponto de partida para a retomada da figuração e a vertente brasileira da pop art.
Desenho expandido
"O que orientava tudo era uma proposta de desenho", diz Bandeira. "Eles queriam uma noção expandida de desenho." De fato, as linhas de Duke Lee ganham corpo e transbordam para outros materiais, reaparecem também nas paisagens de Baravelli, na estrutura lúdica que Nasser conferiu a seus quadros e nas releituras e esboços de Fajardo e Resende. "O ponto de partida de tudo que ele fez era o desenho", diz Fajardo, que reinterpretou uma tela erótica de Duke Lee. No lugar do nu frontal claro e direto do original, Fajardo transforma o corpo em paisagem mecânica, como as engrenagens que Duchamp fez em "O Grande Vidro" e chamou de noiva e seus pretendentes. Resende se liga menos às ideias e mais ao corpo. Noutro eco do nu "Preparation Drawing for Drawing (10)", de Duke Lee, ele monta em "Eu, Ela, Ela, Ela e Ela" um políptico de mulheres nuas, estampando a própria mão sobre o quadro. "É um erotismo mais tátil", diz Rafael Vogt Maia Rosa, 34, outro curador da mostra. "Ele é menos ligado à figuração, usa o corpo como ferramenta." Da mesma forma que Duke Lee usou o corpo como estratégia. Um dos quadros da polêmica série erótica "Ligas", recusada pela Bienal de São Paulo, em 1961, mas presente no famoso "happening" do bar na Major Sertório, está na mostra, escondido numa sala de trás, sob a luz de uma lanterna -do jeito que estava quando tudo começou.
Colaborou MARIO GIOIA , da Reportagem Local
DUKE LEE, BARAVELLI, FAJARDO, NASSER, RESENDE
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 31/5 Onde: Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3255-7182); livre
Quanto: entrada franca
Cao Guimarães junta presente e passado em vídeos e fotografias por Silas Marti, Folha S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 3 de abril de 2009.
Artista mineiro tem individual aberta hoje na galeria Nara Roesler, em SP
No meio da paisagem que avança, um retrovisor mostra o que ficou para trás. São tempos perdidos, indissociáveis e ao mesmo tempo cindidos, que Cao Guimarães gosta de visitar.
Na individual que abre hoje na galeria Nara Roesler, o artista revisita o interior mineiro que dilatou e contraiu nas sequências de seu longa "Andarilho". À beira da estrada, fotografou placas cobertas de pó, "buracos negros na paisagem", enquanto, num vídeo que fez na Grécia, tenta recortar o passado dentro do presente.
"Você está indo em direção a alguma coisa, mas tem no meio algo que ficou para trás", descreve Guimarães, 44. "É uma relação imediata entre o futuro, o passado e o presente." No vídeo, um espelho retrovisor colado no meio de um para-brisa parece navegar pela paisagem, desconectado do mundo, alheio, como uma janela teimosa para a lembrança.
Do mesmo jeito que na série das placas cobertas de pó um vão geométrico se forma no horizonte, bloco maciço de cor que esfacela a perspectiva e a própria noção de tempo.
"Eu sou esse tempo lento, rural, esse tempo mais morto", diz ele. "Prefiro a paisagem com menos ruído, a profundidade chapada, as placas que desorganizam o ponto de fuga." A série, aliás, são só pontos de fuga. Quebrando o movimento do vídeo, Guimarães congela aqui só os pontos de interesse, os acúmulos de formas negativas que se prestam à fusão que faz do presente com o passado.
Na sala ao lado, 16 espantalhos de uma lavoura mineira são retratados em tom documental. Guimarães depois encomendou à dupla O Grivo, com quem trabalhou em seus filmes, uma trilha sonora, dessa vez para as imagens paradas. Escolheram o canto dos pássaros e o barulho do vento para ninar os espantalhos -congelados em série, fora de qualquer narrativa, são só instantes privilegiados, as ervas daninhas e as pragas da memória.
Milhazes expõe colagens em Paris por Gabriela Longman, Folha S. Paulo
Matéria de Gabriela Longman originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 3 de abril de 2009
Uma das principais pintoras brasileiras, artista carioca faz intervenção em vidros da Fundação Cartier
Esqueça o cubo branco. É dentro de um retângulo envidraçado, cercado por um jardim e iluminado pela luz natural que a pintora carioca Beatriz Milhazes expõe a partir de amanhã em Paris.
Treze obras ocupam o andar principal da Fundação Cartier -centro de arte contemporânea na zona sul da capital francesa- buscando recapitular as linhas principais do seu percurso plástico a partir dos anos 90.
Em dez pinturas, uma colagem e duas grandes intervenções sobre a fachada de vidro, ela apresenta seus arabescos, círculos, exuberância cromática e grafismos para um novo público. Com trajetória internacional consolidada, Milhazes já realizou instalações murais em Londres e Nova York, expôs em Tóquio, Berlim e Veneza, mas essa é sua primeira mostra importante na cidade.
"Não sei o que esperar da audiência francesa. A Inglaterra foi e ainda é o meu centro na Europa. Com sua tradição de op art e pop art, acho que eles captaram com uma certa rapidez o meu trabalho", disse a artista à Folha, durante a montagem. "A França é outra coisa. A história da arte moderna foi toda centrada aqui, e a arte contemporânea preferiu então fugir da pintura via arte conceitual, foto, vídeo... Acho que o que eu faço tende a ser recebido mais lentamente."
Milhazes vê pontos de contato entre sua obra e o modernismo. "Matisse, Mondrian e Tarsila são referências importantes para o meu trabalho. É a minha velha ideia de "cultura comendo cultura". Vamos ver como isso vai ser entendido."
O momento, de todo modo, foi bem escolhido. Com a chegada da primavera, os franceses costumam sair feitos loucos atrás de roupas, objetos e paisagens coloridas. As telas de Milhazes tendem a captar o olhar do espectador pela conjunção dos seus múltiplos universos de influência: da abstração geométrica ao barroco, com títulos que remetem à vegetação e à música brasileiras.
Uma colagem de 4 m x 5 m foi encomendada especialmente para a mostra. Nela, a artista manteve sua técnica de intercalar diferentes papéis a outros materiais. Já as instalações na fachada são feitas com vinil adesivo e interagem diretamente com a arquitetura "transparente" do prédio de Jean Nouvel e com as mudanças de luminosidade ao longo do dia. O procedimento é similar ao que adotou para as janelas da Estação Pinacoteca, em mostra no ano passado.
"Procurei criar uma harmonia entre três aspectos: as pinturas, os trabalhos nos vidros e o jardim lá fora", explicou a artista, que há dois anos pensa e prepara a exposição, com final marcado para 21 de junho.
"A pintura de Beatriz é sofisticada, em termos visuais e mentais. Complexa, tem uma dimensão de bricolagem que eu gosto", disse o diretor da fundação, Hervé Chandès.
A última artista brasileira a expor na Cartier foi Adriana Varejão, em 2005. Um ano antes, o espaço abrigou uma mostra sobre os ianomâmis, "estes artistas grandiosos", nas palavras do diretor. Marcada para julho, uma grande mostra coletiva sobre grafite tem nomes brasileiros já na lista -passagem curiosa da vegetação carioca à periferia paulistana.
Léger no Brasil por Fabio Cypriano, Folha S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 4 de abril de 2009
Mostra na Pinacoteca esmiúça relação do modernista francês Fernand Léger com a brasileira Tarsila do Amaral e com museus e colecionadores do país
Apesar de nunca ter vindo ao Brasil, o artista francês Fernand Léger (1881-1955) é um dos poucos modernistas de renome internacional que manteve estreitos vínculos com o país, como se poderá observar, a partir de hoje, nas duas situações apresentadas pela mostra "Fernand Léger - Relações e Amizades Brasileiras", na Pinacoteca do Estado.
Situação um: as relações pessoais. Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade viajam a Paris, em 1923, e vão bater na casa do poeta Blaise Cendrars. Amigos, o poeta os introduz à intelectualidade francesa, incluindo Fernand Léger. Tarsila, então, não só passa a frequentar o ateliê do artista como adquire obras suas, além de estimular que outros brasileiros, como sua amiga Olivia Guedes Penteado, assim o façam.
"A Xícara de Chá", obra de Léger de 1921, por exemplo, é uma das obras que foi adquirida por Tarsila e está na mostra na Pinacoteca. "Foi uma das pinturas que a artista manteve durante muito tempo em sua casa, até vendê-la a colecionadores suíços", diz Brigitte Hedel-Samson, curadora da mostra e até o mês passado diretora do Museu Fernand Léger, em Biot, na França. Essa pintura, segundo a curadora, teria influenciado obras de Tarsila, como "Estudo (Academia nº 2)", de 1923, também na mostra.
Outra peça importante é "Charlotte Cubista", uma colagem em madeira com quatro exemplares, inspirada em Charles Chaplin e que fez parte do filme "Ballet Mécanique" (balé mecânico), de 1924. Léger presenteou Tarsila com um exemplar em agradecimento à ajuda financeira que a artista teria dado para o filme. O exemplar que está na mostra, contudo, não é o que pertenceu à artista, mas o filme, uma das mais importantes peças experimentais da época, estará lá.
Essas relações mostram, por um lado, a influência de Léger sobre a formação de Tarsila, mas não o inverso. "Léger via Tarsila como uma colecionadora, ele chegou a escrever que por meio dela encontrou um novo filão de colecionadores brasileiros", conta a curadora.
Situação dois: as relações institucionais. Em meados do século 20, a cena artística brasileira já está muito mais amadurecida, com a existência de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo e a própria Bienal de São Paulo. Léger participou da mostra inaugural do MAM, em 1949, com "Composição Dom Aloés", de 1935, da primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951, com "O Vaso Azul", de 1948, e na 3ª Bienal, de 1955, que apresentou uma retrospectiva de sua produção, ganhou o Grande Prêmio da Pintura. Obras exibidas em todas essas mostras estão agora na Pinacoteca.
Até com Assis Chateaubriand, do Masp, Léger se envolveu. Junto com o arquiteto francês André Bruyère, ele projetou uma residência para artistas na França, que nunca foi realizada. A maquete e desenhos também podem ser vistos na Pinacoteca. Todas essas relações estão na primeira sala da mostra. Nas demais, a curadora selecionou uma série de obras -no total, são 30- que dão um panorama da carreira de Léger.
Quando: abertura, hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 7/6
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
Coleção de Lina é restaurada e ganha mostra por Mario Gioia, Folha S. Paulo
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 5 de abril de 2009.
"Matéria-prima: o lixo." A frase de Lina Bo Bardi que faz parte da apresentação de "Nordeste", mostra de arte popular idealizada e organizada por ela no Solar do Unhão, em Salvador, no ano de 1963, sintetiza muito do que ela entendia como arte. Ex-votos, carrancas, estátuas de barro, objetos de cerâmica, entre outras peças, atraíram o seu olhar.
Depois de mais de 40 anos, vários dos objetos presentes naquela exposição voltam à tona em "Fragmentos", que foi aberta no final do mês passado no Centro Cultural Solar Ferrão, em Salvador.
Em viagens nos anos 50 e 60, Lina coletou cerca de 2.000 objetos de arte popular em três Estados (Bahia, Ceará e Pernambuco), dos quais 850 foram recuperados pela Dimus (Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Estadual e Cultural da Bahia), órgão estadual. "Escolhemos 700 para expor, mas muita coisa se perdeu", conta Daniel Rangel, 33, diretor da Dimus.
"Em muitas coisas, não teve jeito, o tempo agiu", conta a museóloga Mary Rodrigues do Rio, 80, que teve contato com a coleção em 1978. "Eu enrolava em jornal, em paninhos. Fiz de tudo para mantê-las", conta ela, que, assim, salvou centenas de peças, abrigadas em toda sorte de locais inadequados. (MG)
Novo museu no Ibirapuera muda projeto por Mario Gioia, Folha S.Paulo
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 5 de abril de 2009
A partir de outubro deste ano, Pavilhão das Culturas Brasileiras irá ocupar prédio no parque onde funcionava a Prodam
Antes mais concentrado em folclore, novo espaço tem conceito alterado, incorporando arte urbana e outras coleções
Até outubro, o parque Ibirapuera reforça a condição privilegiada de abrigar museus, com uma "prévia" da próxima instituição que ganhará sua sede em um de seus prédios.
Anunciado em junho do ano passado, o Pavilhão das Culturas Brasileiras irá ocupar o edifício da antiga Prodam (a companhia de processamento de dados do município), ao lado do Museu Afro Brasil, e mudou a sua proposta inicial.
Na versão anterior, as duas coleções-base do museu seriam a do antigo Museu do Folclore, elaborada por Rossini Tavares de Lima; e a da Missão de Pesquisas Folclóricas, organizada por Mário de Andrade em 1938.
O espaço agora vai incluir também uma coleção de arte indígena, que vem do acervo do indigenista Orlando Villas-Bôas (veja quadro ao lado). As três estão sob a guarda da prefeitura. O Pavilhão também incorporará uma faceta urbana, destacando manifestações como o grafite e a street dance.
Além disso, o prazo de entrega aumentou -antes previsto para o final do ano passado, deve ser inaugurado em 2011.
"Vai ser um museu vivo", afirma a futura diretora do museu, a crítica de design Adélia Borges, 57, que foi diretora do Museu da Casa Brasileira até 2007. "A ideia é um espaço contemporâneo, onde não haja apenas mostras das coleções municipais. Haverá um intenso diálogo com a cultura urbana."
"Criar um outro Museu do Folclore não seria o caso. A gente parte dessas coleções e cria um vetor de expansão, que vai discutir o traço brasileiro, não interessando se é rural, urbano, espontâneo, erudito", diz o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, 57, que promete até outubro deste ano uma espécie de cartão de visitas do novo espaço.
"A cultura urbana de cunho popular é mal compreendida. O pavilhão pode funcionar para compreendermos melhor o grafite, o hip hop, a street dance. Tudo isso estará no museu."
Calil pretende inaugurar até o início de 2011 a nova instituição. Até lá, devem ser feitas grandes reformas no telhado e em todos os caixilhos do edifício, com orçamento estimado em R$ 5 milhões. Os órgãos de patrimônio também terão de aprovar as intervenções, já que o prédio é tombado.
Borges planeja fazer diversas aquisições ao acervo do futuro museu e investir em atividades que dinamizem a instituição. "Por exemplo, traremos um grupo de maracatu de algum lugar do Nordeste. As atividades deles no museu serão registradas, eles farão workshops, nós compraremos objetos e peças que consideremos importantes para o nosso acervo", explica.
Lina Bo Bardi
Calil germinou a ideia do novo museu paulistano em 1969, ainda jovem, quando viu a exposição "A Mão do Povo Brasileiro", no Masp, que se tornou uma referência em montagens de arte popular. O nome inicial do pavilhão seria Museu A Mão do Povo Brasileiro.
Organizada pela polêmica arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992), parte das peças que estiveram expostas naquele ano foram restauradas e estão sendo mostradas em Salvador.
"Certamente a inspiração foi a mostra de Lina, em 1969. Foi um acontecimento na cidade. Tinha uma força enorme e uma vibração fantástica", avalia Calil. "São Paulo tem uma rede sofisticada de museus, mas ainda não se deteve sobre a arte popular. Faltavam instituições. Com o pavilhão, não haverá mais essa lacuna."
Saiba mais sobre o novo museu
Conheça o projeto da instituição que vai abrigar coleções e mostras de arte popular no Ibirapuera
A COLEÇÃO DE MÁRIO DE ANDRADE
700 peças
1.000 itens, entre gravações e fotografias
>> ex-votos
>> arte plumária
>> instrumentos musicais
>> cadernetas de campo da equipe
>> registros musicais
>> utensílios de cerâmica
>> objetos religiosos
>> fotografias
A COLEÇÃO ROSSINI TAVARES DE LIMA
3.800 objetos
9.700 itens na biblioteca
>> ex-votos
>> instrumentos musicais
>> utensílios de barro, para cozinha
>> esculturas
>> rendas e bordados
A COLEÇÃO DE ARTE INDÍGENA
750 peças
>> arte plumária
>> bancos
>> máscaras
>> cestos
>> arcos, flechas e lanças
fonte: Secretaria Municipal da Cultura
CCBB de Brasília mostra coleção de vanguarda russa por Johanna Nublat, Folha S. Paulo
Matéria de Johanna Nublat originalmente publicada na sessão Ilustrada da Folha de S.Paulo, em 6 de abril de 2009
Com obras de museu de São Petersburgo, exposição "Virada Russa" começa amanhã
Mostra reúne nomes como Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov
Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov integram uma exposição inédita de obras do Museu Estatal Russo de São Petersburgo que chega agora ao Brasil.
"Virada Russa" começa amanhã para o público no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e depois segue para o Rio e São Paulo. A mostra busca traçar uma genealogia da vanguarda russa das duas primeiras décadas do século 20, sob impacto dos movimentos revolucionários de 1905 e 1917, até o realismo socialista.
Trabalhos importantes do movimento já foram trazidos ao Brasil, mas é a primeira vez que o país recebe uma exposição com esse conjunto de 123 obras. O único a merecer uma sala própria na exposição é Kazimir Maliévitch (1878-1935), apresentado em suas diversas fases e com uma de suas obras mais marcantes: a trilogia de 1923 em que se insere o "Quadrado Negro".
Suprematismo
Esse quadrado negro com um fundo branco "abriu um novo conceito de pintura" e representa "a essência da vanguarda e o suprematismo radicalizado", diz o idealizador da exposição, Rodolfo de Athayde. O chamado suprematismo é uma das correntes dentro do movimento de ruptura, criada pelo próprio Maliévitch e que tirou a arte russa da expressão figurativa, usando novas relações de espaço e dimensão. Segundo Athayde, talvez por trabalhar com arte conceitual, Maliévitch seja o menos conhecidos dos três russos que integram em geral a lista dos grandes artistas do século 20 -junto com Chagall e Kandinski.
A tentativa de Maliévitch de se aproximar do público foi feita em momento posterior, com a volta a um certo figurativismo que o manteve, no entanto, ainda na arte abstrata. Essas peças podem ser vistas na mesma sala que exibe a trilogia: quadros coloridos, com figuras de pessoas não identificadas e de certa forma desumanizadas.
Outra artista que pode ganhar um olhar mais apurado é Gontcharova (1881-1962), apresentada na sala dedicada ao início da "Virada". Nas telas da artista, incluindo a polêmica série de apóstolos, está condensada uma das características desse momento inicial: a influência do camponês e das artes populares. Outra presença forte é a do ícone bidimensional, figura forte na arte russa que mostra a influência do místico e do religioso.
Na mesma sala, em destaque, estão telas de Filónov (1883-1941), uma boa surpresa na exposição, com suas cenas de sofrimentos cotidianos e graus diferentes de abstracionismo.
Divide o espaço com Filónov o "Contra-Relevo de Esquina" (1914), de Vladimir Tátlin (1885-1953), nome central do construtivismo.
Aleksandr Rodtchenko (1891-1956) também pode ser visto em telas e em um vídeo que reconstrói objetos do artista não preservados.
Misturadas entre as obras que podem ser menos conhecidas para o público estão as populares telas de Vassili Kandinski (1866-1944) e "Passeio", de Marc Chagall (1887-1985).
Pressão do totalitarismo
A rápida transformação da arte nas duas primeiras décadas do século 20 foi rejeitada com a emergência do stalinismo e o fortalecimento do realismo socialista, nos anos 30.
"Os artistas sentem a pressão do totalitarismo. Todas as tendências formalistas são excluídas de forma radical. São obrigados a voltar de forma brutal ao figurativismo e à aplicação industrial", diz Petrova.
No realismo socialista, o entendimento do que deveria ser a arte se torna "limitado", salienta Evandro Salles, curador de uma exposição de cartazes russos em 2001. "Queriam instrumentalizar a arte, transformar o artista em publicitário."
A exposição retrata o início desse período, com obras que mostram experiências em cartazes, louças, roupas e tecidos e que trazem incrustadas as inovações das vanguardas -postas a serviço do Estado totalitário soviético. Os artistas que não seguiram a nova linha acabaram sumindo para o grande público. As vanguardas só viriam a ser "redimidas" nos anos 80.
No fim do mês, em Brasília, o CCBB também vai exibir filmes de cineastas envolvidos na vanguarda, como Dziga Vertov. Não há confirmação se os filmes seguem também para o Rio e São Paulo.
Mercado de arte, cada vez mais global por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
Mercado de arte, cada vez mais global
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado de S. Paulo, em 28 de março de 2009.
Apesar da crise, estudo sobre os efeitos da globalização no setor é otimista
Vista como uma espécie de termômetro mundial da arte, a Feira Europeia de Belas Artes (The European Fine Art Fair/Tefaf) de Maastricht, na Holanda, fez a temperatura subir em sua 22ª edição, encerrada no dia 14 com um recorde de vendas de obras-primas assinadas por velhos mestres como Rubens, Frans Hals e Lucas Cranach, pintores da Escola de Paris como Léger, escultores como Giacometti e contemporâneos como Louise Bourgeois. Num mercado internacional como o de arte, que movimenta anualmente 43 bilhões de euros, a Tefaf firmou sua reputação vendendo obras raras para museus e colecionadores particulares, como pinturas de Rembrandt (Retrato de um Jovem, de 1632, adquirida por um museu por US$ 4,8 milhões, em 1996) e desenhos de Michelangelo (Mulher de Luto, vendido por 13 milhões de euros para um colecionador americano, em 2001).
De lá para cá, a feira cresceu de tamanho, reunindo 239 marchands de 14 países e atraindo para Maastricht não só colecionadores europeus e americanos como de países emergentes como China, Índia e Rússia. Foi justamente a entrada desses últimos que levou a direção da feira a encomendar à economista Clare McAndrew, fundadora da Arts Economics, um estudo sobre efeitos da globalização no mercado de arte. As conclusões, a despeito da crise financeira mundial, são animadoras, particularmente para chineses, que já respondem por 8% das vendas anuais, transformando o mercado asiático no quarto do mundo, seguido do americano (41%), inglês (30%) e franco-germânico (11%).
Os russos ainda não contam, porque o número estimado de milionários no país ainda é relativamente modesto (140 mil) e o de bilionários (apenas 27) ainda menor. Desses, duas centenas de privilegiados russos são importantes colecionadores ou investidores. As vendas globais de arte russa movimentam mais de 700 milhões de euros anuais, contra 243 milhões de euros dos indianos (70% captados em leilões realizados em Londres, Nova York e Dubai). Para os artistas contemporâneos, os indianos contam mais, devido às restrições de comércio de arte antiga na Índia. Já para os chineses, como essas restrições são menores, o que eles buscam em feiras como a de Maastricht é mesmo a arte antiga da China, disputada peça a peça com colecionadores europeus. Nesta última edição, os últimos levaram vantagem: cerca de 50 objetos da dinastia Tang (618-906) foram vendidos por 100 mil euros a um novo cliente da Ben Janssens Oriental Art, um dos grandes antiquários londrinos. Um pequeno biscuit de porcelana também foi comprado por um colecionador belga por 40 mil euros.
São valores quase inexpressivos, comparados aos preços estratosféricos da pinturas negociadas na Tefaf deste ano, nunca inferiores a 1 milhão de euros, caso de dois pequenos óleos do holandês Cornelius Springer (paisagens pintadas em 1851 e 1889) vendidos pela galeria holandesa Kusnthandel A.H. Bies, de Eindhoven. Ou seja, quase o dobro do que o pop Andy Warhol atingiu com retrato pintado em 1974 e vendido para um colecionador holandês por 550 mil euros. A temperatura começa a baixar para artistas contemporâneos. Na feira holandesa, só veteranos, como a escultora de origem francesa Louise Bourgeois, atingem o patamar dos velhos mestres (uma escultura sua foi vendida por 1 milhão de euros). É pouco, se comparado aos preços de três velhos mestres vendidos pela conceituada galeria Bernheimer-Colnaghi, de Munique, que este ano levou (e vendeu) para a feira uma tela de Lucas Cranach, pintada em 1534 e avaliada em 5,5 milhões de euros, um autorretrato de Rubens (vendido por valor equivalente) e um retrato de Frans Hals (quase 6 milhões de euros). "Neste momento, o colecionador precavido tem de comprar o melhor de cada artista", aconselha Bernheimer, orgulhoso de sua valiosa mercadoria. "Não é exagero dizer que 80% do que há de melhor na arte mundial passa pelas mãos dos galeristas que estão na Tefaf."
Um passeio pela feira comprova a qualidade alardeada por Bernheimer. Uma pintura de Van Gogh que pertenceu a uma coleção particular por quase meio século foi colocada à venda por 25 milhões de euros pela galeria Dickinson e provocou frisson entre colecionadores, que disputaram com importantes museus a tela, pintada em 1889, quando o artista holandês estava internado no hospital de Saint-Rémy.
PAISAGEM INVERNAL
Holandeses mais antigos, como o barroco Jacob van Ruisdael (1628-1682), também estão em alta no mercado. A galeria Noortman Master Paintings, de Maastricht, vendeu uma paisagem invernal do pintor para um colecionador americano da costa leste por 3,5 milhões de euros, quase o mesmo preço de uma natureza-morta de Brueghel ou do pequeno esboço de Millet para sua célebre tela O Semeador (4 milhões de euros). Acima disso, galerias ofereciam pinturas de Canaletto por 12 milhões de euros e esculturas de Giacometti por preço equivalente. Já os contemporâneos, como se disse, sofrem com a crise: Damien Hirst foi esnobado pelos colecionadores. A queda nos preços parece inevitável. Colecionadores estão usando a arte como investimento alternativo e buscam os velhos mestres, de liquidez garantida como o ouro ou os diamantes vendidos nos leilões da Christie?s.
O surgimento de novos colecionadores vindos de economias emergentes, segundo o relatório da economista Clare McAndrew, pode proteger o mercado - até certo ponto - de uma queda, deixando-o menos vulnerável à recessão. Em contrapartida, novos centros de negócios como Hong Kong e Dubai já aparecem como sérios concorrentes de Londres e Nova York. Ambos ainda não venderam nada comparável ao retrato do doutor Gachet de Van Gogh (vendido em 1990 pela Christie?s por US$ 82,5 milhões para o empresário japonês Ryohei Saito). Mas devem chegar lá daqui a quatro ou cinco anos, segundo projeções do relatório da Tefaf.
Revisões e propostas para o circuito de arte em debate por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Revisões e propostas para o circuito de arte em debate
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado de S. Paulo, em 28 de março de 2009.
Evento tratou da criação de estratégias para área voltada à minoria da população
O Instituto Inhotim, centro de arte contemporânea aberto ao público em 2006 em Brumadinho, em Minas Gerais (a 60 Km de Belo Horizonte), não é um museu, como diz seu criador, o colecionador Bernardo Paz, "é uma ideia", e não há nada igual no País. É um lugar privilegiado, com milhões de metros quadrados imerso em bela paisagem e em expansão, em que galerias abrigam obras de arte contemporânea da coleção particular de Paz, com predomínio de instalações, criadas por artistas nacionais e estrangeiros de destaque - como Cildo Meireles, Tunga, Doris Salcedo, Olafur Eliasson e Hélio Oiticica - e se espalham pelo grande parque com projeto paisagístico de Burle Marx (1909-1994).
Nesse centro, onde os artistas são convidados a criar obras especialmente para o local, assim como é uma "coleção viva" de centenas de espécies botânicas, ocorreu na semana passada o seminário Revisões e Propostas: Desafios para o Circuito de Arte Brasileiro, que contou com a participação de personalidades do meio, foi aberto ao público e ganhará uma versão impressa.
Num momento em que se pedem ações concretas para além do debate - em âmbito maior, as mudanças na Lei Rouanet são o tema principal, mas no meio das artes visuais vê-se uma profusão de seminários que ficam, infelizmente, só na esfera da discussão, como o que ocorreu durante no ano passado para tratar da crise da Bienal de São Paulo dentro da 28ª edição do evento - Revisões e Propostas, realizado pela parceria entre Instituto Inhotim, Ministério da Cultura (MinC) e Fundação Athos Bulcão, teve, na fala da maioria dos palestrantes e nas incursões veementes de Bernardo Paz ao longo dos debates, a preocupação com a urgência.
"O governo acha que arte é para a elite e que museu é museu de artesanato", disse Paz, que afirmou em outro momento gastar R$ 18 milhões por ano em Inhotim sem uso de incentivos fiscais - segundo ele, um pedido para o MinC de ajuda de R$ 4 milhões para manutenção do centro de arte foi recusado pelo Iphan por causa dos custos com jardinagem. Ao mesmo tempo, um dado levado por Afonso Henrique Luz, representante do ministério, permeou todo o seminário: 93,4% dos brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nunca foi a uma exposição e o desafio é o de transformar o cenário em que apenas 6% participam, uma expressa minoria.
A primeira mesa do evento foi oportuna, com a presença dos críticos Paulo Sergio Duarte, Glória Ferreira, Celso Fioravante, Luisa Duarte e o jornalista Marcelo Rezende. Sob o tema Crítica de Arte e Projetos Editoriais: Estratégias de Inserção, ficou ???vigente que o campo é de faltas: a de críticos especializados - Paulo Sergio usou de ironia para falar que neste momento de crise talvez fosse melhor "corrigir o tráfico de conceitos" -; a de meios e publicações; de bibliotecas para se encontrar as informações e fontes. Rezende também lançou provocação: "É possível o circuito de arte se emancipar de si mesmo?", indagou sobre uma hierarquia dos censos de ignorância e de sabedoria - afinal, grande parcela do público acredita que o que há no museu não é para eles.
A segunda mesa sobre a crise da Bienal se tornou redundante, mas a terceira, sobre Estratégias de Formação de Acervo, com falas de Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, e de Ricardo Resende, que acaba de assumir o cargo da coordenador de artes visuais da Funarte, rendeu propostas. Araújo falou das estratégias de parcerias e doações (colecionadores, artistas e galerias) que ajudaram a Pinacoteca nos últimos cinco anos a aumentar em 40% seu acervo. Já Resende investiu sua fala na importância dos editais, "o meio mais democrático".
A repórter viajou a convite do Instituto Inhotim