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outubro 27, 2008
Temas modernos, com ecos do Brasil, por Carol Kino, The New York Times
Temas modernos, com ecos do Brasil
Matéria de Carol Kino, originalmente publicada no The New York Times no dia 24 de outubro de 2008
Num espaço expositivo aos fundos da Galeria James Cohan em Chelsea (NY), a artista brasileira Beatriz Milhazes parece uma rigorosa construtivista enquanto fala sobre suas quatro últimas pinturas, apoiadas nas paredes.
"Esta é baseada em quadrados, como uma grade", ela diz, apontando para "Mulatinho", cujos blocos de cor são delimitados por pontos, listras estriadas, ornamentos estampados, flores estilizadas e uma fruta delineada cuidadosamente.
Mr. Cohan, seu marchand, que acabara de entrar na sala, começou a rir. "Você e Mondrian", disse.
Ainda que Milhazes nitidamente se considere uma abstracionista geométrica, estas dificilmente seriam as primeiras palavras a vir à mente para definir seu trabalho, com base no que se pode ver na presente individual.
Quadrados podem surgir amarrados a linhas ou pontos, círculos quase sempre se transformam em alvos espocando aos olhos e tudo está impregnado da cultura multifacetada de sua cidade de origem, o Rio de Janeiro. Há arabescos, rosas e desenhos tomados de empréstimo do Barroco, da arte colonial ou da arte popular brasileira; flores e plantas inspiradas no Jardim Botânico, que fica próximo ao seu estúdio; e grossas listras onduladas - um aceno à inspiração da Op Art que levou Burle Marx a criar, em 1970, o mosaico do calçadão da Praia de Copacabana.
Ainda assim, Beatriz Milhazes afirma que suas composições são essencialmente geométricas. "Às vezes, eu coloco o quadrado atrás", ela diz, referindo-se ao ponto de partida da pintura, "e desenvolvo as coisas por cima deles. Os quadrados possivelmente somem, mas eles ainda são uma referência para mim quando penso na composição. E eu sempre fui muito fiel às minhas idéias".
Leia a matéria completa no sítio do The New York Times.
Bienal sofre ataque de 40 pichadores no dia da abertura, por Camila Molina, O Estado de São Paulo
Bienal sofre ataque de 40 pichadores no dia da abertura
Matéria de Camila Molina, originalmente publicada no Estadão Online no dia 26 de outubro de 2008
No dia da inauguração do evento, prédio sofre ação de vândalos que picharam as paredes do segundo andar
Neste domingo, às 19h35, primeiro dia de visitação aberta ao público da 28.ª Bienal de São Paulo, um grupo formado por cerca de 40 pichadores invadiu o pavilhão no Parque do Ibirapuera e pichou parte de seu segundo andar, durante o visitação. Nesta edição da mostra, o segundo piso do prédio foi mantido propositalmente vazio e mesmo antes da inauguração ganhou o apelido de Bienal do Vazio. Os pichadores aproveitaram-se desse fato para no local fazer seu protesto, preenchendo as paredes com frases do tipo: “Isso que é arte.” “Abaixa a ditatura.” “Fora Serra.” Além dos nomes das gangues, como eles mesmo se denominam, Susto, 4 e Secretos.
Dos cerca de 40 pichadores, apenas uma jovem de 23 anos foi detida. Ela foi levada para o 36º DP, na Rua Tutóia. Houve tumulto no prédio. A ação já estava prevista pela Curadoria e organização do evento, que disseram anteriormente terem tomado providências para que a pichação não ocorresse no prédio. “Entramos pela porta. Normal. Conseguimos. A segurança é merda”, disse a menina detida que não quis se identificar. “É o protesto da arte secreta.” Segundo ela, vários grupos estavam envolvidos na invasão e esta foi uma continuidade das ações de protesto que ocorreram neste ano na Faculdade de Belas Artes e na Galeria Choque Cultural, lideradas pelo artista Rafael Guedes Augustaitiz, o PixoBomb. Virão outras.
Os demais pichadores saíram no meio do tumulto se misturando aos outros visitantes da mostra, quebrando vidros do prédio. E conseguiram escapar. Até que a Polícia Militar chegasse só depois das 20 horas. Os visitantes que estavam dentro do prédio tiveram de permanecer ali e ninguém mais pôde entrar. Segundo o artista Ricardo Basbaum, que estava no local quando ocorreu a pichação, “a Bienal tem de saber lidar com isso”. “É um modo de expressão em estado bruto. Não acho graça. Acho feio, mas é parte da sociedade. E a Bienal tem de estar aberta para a sociedade”, afirmou.
Ainda não há informações sobre o que será feito com as pichações - se o piso será pintado ou não. Apesar do incidente, o domingo foi de intensa movimentação, com exposição aberta desde as 10 horas. Às 21 horas, foi realizado o show da banda Fischerspooner, com atraso de meia hora.
Arte escorregadia, por Rosane Pavam, Carta Capital
Arte escorregadia
Matéria de Rosane Pavam, orginalmente publicada na Carta Capital no dia 24 de outubro de 2008
O visitante depara com as performances do pavilhão, passa pela catraca na altura da rampa, percorre o primeiro andar onde há vídeos, biblioteca e serviços e alcança o segundo andar vazio. Caminha por ele e chega ao terceiro andar. Lá, relaciona-se com instalações, pinturas e esculturas e ganha o prêmio final neste ciclo de divertimentos. Por um tubo imenso e externo ao prédio, escorrega até o térreo de novo, onde artistas dançam, cantam, interpretam e celebram a 28ª Bienal Internacional de São Paulo.
A organização do evento, que começa no domingo 26 com 42 artistas de 21 países e segue até 6 de dezembro, espera a atitude festiva de seu público. Gratuita, a Bienal transparece vocação popular, de combate a uma tendência numérica observada nas suas últimas edições. Em 2006, foram 535 mil visitantes, ante os 917 mil de 2004 e os 670 mil de 2002, quando o evento ainda cobrava ingresso.
Ana Paula Cohen, curadora-adjunta desta edição, formada em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo, profere as palavras com cautela e um sem-número de interdições. O rigor dessa acadêmica de 32 anos parece excessivo, dada a natureza do evento, intitulado em vivo contato e com o propósito simples de aproximar o público. O térreo da Bienal virará uma praça onde o povo se encontrará e exercerá “fricções”. O restante do prédio ficará destinado a “interações”.
Em 1975, o escritor Tom Wolfe escreveu A Palavra Pintada para mostrar como o conceito dominou a arte depois do impressionismo. Segundo Wolfe, o crítico tomou o lugar do artista, ou se tornou ele próprio. Neste formato, a palavra precede, forma e suplanta a obra, o que transformaria o curador, vezes várias, em uma espécie de falador. Antigamente, a curadoria apenas cuidava para que um acervo de museu não se deteriorasse. Agora, determina, com raciocínio que pode parecer brincante, mas é articulado, por onde a arte caminhará.
Ana Paula surge certeira em suas palavras. Não quer, por exemplo, que chamem de contemplativo o prestigioso terceiro andar que prepara, no qual as obras de 26 artistas de todo o mundo, 13 deles brasileiros, refletem sobre a história da Bienal de São Paulo sustentados pelo mobiliário do colombiano Gabriel Sierra. “Tudo o que desejamos é um público menos contemplativo para este evento”, disse em entrevista por telefone, na segunda-feira 20.
A contemplação está na base da arte, mas, se Ana a rejeita, é porque a associa à passividade. Como ficar indiferente, diz, a um coletivo de estilistas, artistas plásticos, designers e ilustradores como o avaf, assume vivid astro focus? De nacionalidades múltiplas, os performáticos (Ana prefere dizer performer artists) espalham adesivos coloridos, grafites e pichações pelo ambiente expositivo, se deste modo se pode chamá-lo. É natural que esperem do público alguma agitação em troca.
Qual seria a razão, contudo, para que os curadores nos desejassem sempre agitados?
Depois de tamanha troca de energias entre o artista e o público no térreo, talvez fosse natural aguardar a quietude dos observadores no terceiro andar. Lá eles estarão diante de obras que relêem itens do arquivo histórico Wanda Svevo. Não parece estranho, por exemplo, contemplar uma peça do brasileiro Iran do Espírito Santo. O artista faz com que olhemos não o interior de um quarto, mas nossa própria imagem em uma fechadura. “Contemplar significa ver com atenção e, sobretudo, especular. Nada há de passivo nisso. Pelo contrário: é ação que requer enorme empenho”, acredita o professor Teixeira Coelho, curador-coordenador do Masp. Para ele, trata-se do exato oposto da “impaciência visual” anotada pelo crítico Harold Bloom em feiras de arte, bienais e em toda a cultura visual de nossos dias. Teixeira observa uma curiosidade: “Para a cultura da impaciência de hoje, é preciso remover o obstáculo, skandalon em grego, e o escândalo parece ser, para muitos, a contemplação”.
Bienal paralela, por Silas Martí, Folha de São Paulo
Bienal paralela
Matéria de Silas Martí, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 26 de outubro de 2008
Grande mostra off-Bienal, a Paralela será aberta hoje com trabalhos de 61 artistas de 11 galerias em galpão reformado do Liceu de Artes e Ofícios, em SP
Logo na entrada do galpão reformado para receber a exposição Paralela, está uma foto do segundo andar do pavilhão da Bienal, vazio como ficará durante esta edição da mostra. É um elo quase irônico entre a exposição monumental no Ibirapuera -que, com a crise, teve sua escala reduzida- e a reunião de obras de 61 artistas de 11 galerias paulistanas, que ocupam este espaço da cidade até agora vazio -os galeristas por trás do evento reformaram os galpões do Liceu de Artes e Ofícios, construído em 1912 e desativado desde 1990, que recebe a partir de hoje a mostra.
Mas não é bem o vazio que ocupa a Paralela, e sim a idéia de uma ausência como motor, a influência do espaço sobre o artista. "Eu refuto a idéia de Bienal do Vazio, que é, na verdade, um gesto muito cheio", afirma o curador da Paralela, Rodrigo Moura. "O segundo andar do pavilhão é o lugar mais importante da arte brasileira no século 20. Deixar aquilo tudo vazio é um "statement" [afirmação]."
Da mesma forma que, vazios ou não, as cidades, os prédios e as paisagens conseguem dar fôlego e sufoco às obras dos artistas na Paralela, principal mostra do circuito off-Bienal, neste ano em sua quarta edição. E essas obras falam da relação com a arquitetura, da vida dentro dos espaços projetados e do que fazer quando nada mais importa, a festa acaba e a poesia escorre pelo ralo.
Junto da entrada, Renata Lucas instalou um tapete verde, grande demais para o espaço e, por isso, enrolado em enormes ondas aveludadas, que ligam o lado de fora ao de dentro do galpão, como se anunciassem tudo que segue como a interpretação de cada artista desse espaço cru, seco e sem retoques.
É uma poça viscosa de óleo negro que reflete, aliás, teto e paredes do Liceu. Nuno Ramos esculpiu no chão uma gravura de Oswaldo Goeldi e encheu de óleo os vãos em baixo relevo. "O que é preto no desenho vira óleo, e o que é branco fica chão", descreve Ramos. "É um mundo solar por fora e outro triste por dentro."
E são as janelas do Liceu objeto de outras duas obras: Lúcia Koch separa o galpão do edifício anexo reconstruindo padrões e treliças sobre aberturas que já existiam, enquanto Nicolas Robbio toma imagens dos vitrais geométricos do prédio e as projeta justapostas entre quatro paredes, como se tornasse vivas as "Fotoformas" do concretista Geraldo de Barros.
Arquitetura íntima
E a vida, de fato, resiste à aridez do galpão. Brígida Baltar faz um jardim suspenso com plantas que crescem dentro de tijolos trazidos de sua própria casa para uma sala do Liceu que recebe luz natural. "A gente esquece que o tijolo é terra pura", lembra a artista. "O trabalho fala dessa coisa viva dentro do espaço, uma arquitetura íntima."
Essa intimidade solitária também consegue resumir a obra de Sara Ramo, que arruma e desarruma objetos de um banheiro, numa alusão ao mesmo tempo lírica e irônica à rotina corroída pelo tédio e à falta de propósito, sensação que se alarga com o passar das horas.
Parece ser a mesma elasticidade temporal que faz do trabalho de Thiago Rocha Pitta uma obra viva, que se forma diante do observador: uma calha que derrama cristais de sal sobre uma tela, formando manchas de nuvens e chuva -uma espécie de tempestade abstrata.
Mais literal e estática, Márcia Xavier monta um paredão com 600 garrafas d'água em plástico transparente, que separa o galpão da continuação da mostra num prédio anexo. É um dilúvio interrompido, que serve de preâmbulo à violência melancólica que fecha a exposição.
Sem água, 2.000 barquinhos de papel dobrado da artista Sandra Cinto encalham numa onda seca sob uma mesa. Na mesma instalação, um desenho de ondas do mar esconde a reprodução que a artista fez do quadro "A Balsa da Medusa", do romântico francês do século 19 Théodore Géricault, a imagem trágica de cadáveres num barco em frangalhos.
É a mesma violência, um tanto escondida, é verdade, das trouxas ensangüentadas de Artur Barrio, aqui mostradas em 48 fotografias e um filme em 16 mm. Na última sala da mostra, um vídeo de Rivane Neuenschwander mostra formigas que mastigam pedaços de carpaccio na forma do mapa-mundi -e o mundo dos artistas se reconstrói neste espaço paralelo.
Bienal de arte, da politização ao ´vazio´, por Márcia Abos, O Globo
Bienal de arte, da politização ao ´vazio´
Matéria de Márcia Abos, originalmente publicada no Globo no dia 25 de outubro de 2008
Evento que abre ao público amanhã em São Paulo busca provocar reflexão a partir da ausência de obras
O segundo andar vazio do prédio da Bienal ganhou o nome de “ planta livre” , enquanto a atração principal da 28aBienal Internacional de Arte de São Paulo é um tobogã de aço inoxidável de 14 metros criado pelo artista belga Carsten Höller. Ninguém mais duvida da crise que se abate sobre um dos três principais eventos do circuito artístico internacional, ao lado da Bienal de Veneza e da Documenta de Kassel. Há dois anos, aconteceu a mais politizada Bienal da História, que reuniu 118 artistas, e, apesar de ter sido gratuita, atraiu apenas 508 mil pessoas. Desta vez, os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, criadores da proposta “em vivo contato”, que reúne 42 artistas, não falam em estimativa de público.
Ele garante que o número reduzido de artistas na mostra não foi provocado por falta de tempo hábil ou dinheiro. - Não é preciso juntar 152 artistas para se fazer uma Bienal. Quanto menos artistas tiver, melhor vai ficar o argumento conceitual. Eles estão divididos em dois grupos. Os que fazem performances na praça (no térreo do prédio) e os que trabalham com o arquivo, no terceiro pavilhão - explicou Mesquita, respondendo a rumores de que vários artistas recusaram e desistiram de participar desta Biena
Nu, artista vai sobreviver do que receber do público
Entre as performances, está a do brasileiro Maurício Ianês, que chega à Bienal nu e vai sobreviver no prédio, durante 13 dias, somente com alimentos, roupas e agasalhos que receber do público. O bailarino Ivaldo Bertazzo vai dar aulas de dança no térreo e o grupo americano Fischerspooner, um duo de electroclash, vai tocar amanhã, quando o evento abre ao público. O artista plástico brasileiro Almir Mavignier, de 83 anos, radicado na Alemanha, conta que participou da primeira e da sétima bienais de São Paulo.
Ele está na capital paulista para inaugurar sua primeira exposição individual no Brasil e vai à “Bienal do vazio”, como ele mesmo chamou o evento. - Sim, ouvi falar desta misteriosa “Bienal do vazio” e lembrei de uma resposta do poeta Murilo Mendes sobre a obra de uma pintora: “Não vi e não gostei”. Mas é só brincadeira. Vou ver, mesmo que seja para apreciar a beleza do prédio de Niemeyer. A Bienal tem uma tradição grande e é importante, cheia ou vazia - disse o artista, lembrando que a Documenta de Kassel também está em crise e vivendo um momento no qual “os curadores têm sido mais importantes que os artistas”.
Para o curador Teixeira Coelho, diretor do MASP, o modelo de bienal está esgotado. - A lógica das bienais está historicamente vinculada à história das feiras industriais. A evolução deste modelo são as feiras de artes. Num mundo saturado pelas feiras, e que já tem museus o bastante, onde o público tem acesso rápido a informações, as bienais já perderam muito de seu sentido. O curador independente Ricardo Resende concorda com o colega e é até mais enfático. - O modelo de bienal está esgotado, como qualquer tipo de megaexposição. É uma questão de tempo, custos e demanda de trabalho que inviabilizam cada vez mais este tipo de grande exposição. Acho que a proposta do Ivo Mesquita já é uma resposta a isto.
“O curador fez o que pôde”, diz diretor do MASP
Teixeira Coelho explica que a Bienal foi criada no Brasil quando não existiam museus e que, hoje, ela pode continuar a ter um papel no país, mas é necessário que haja uma mudança de gestão: - A Bienal era o grande pólo divulgador da arte. O Brasil não se desenvolveu tanto quanto outros países em relação ao sistema de museus. Talvez ainda tivesse espaço para uma bienal, mas em outros moldes de gestão. Não vejo mais sentido, hoje em dia, em uma Bienal ser dirigida assim se temos três ou quatro museus que poderiam geri-la por meio de um consórcio, levando esse projeto adiante de uma maneira mais tranqüila e eficaz.
Mesmo com um pavilhão totalmente vazio, Teixeira Coelho acredita que nenhuma bienal é capaz de chocar. - A arte não choca mais. Infelizmente não é por aí. Nós sabemos que o fato de a Bienal estar sendo feita assim devese a um problema econômico da entressafra - diz ele. - O curador fez o que pôde. Eu preferiria que a Fundação Bienal discutisse seus problemas no intervalo entre os eventos, e não na realização da Bienal, mas acho possível que o curador encontre uma maneira criativa de fazer as duas coisas: discutir as questões da Bienal e ao mesmo tempo propor um evento, uma manifestação artística com aquilo que ele tem ao alcance.
outubro 24, 2008
'Bienal do vazio' começa neste sábado e pode ser alvo de pichadores, por Márcia Abos, Globo Online
'Bienal do vazio' começa neste sábado e pode ser alvo de pichadores
Matéria de Márcia Abos, originalmente publicada no Globo Online no dia 23 de outubro de 2008
"Carinhosamente" apelidada pelos paulistanos de "Bienal do vazio", a 28ª Bienal de São Paulo, cujo tema é "em vivo contato", foi apresentada nesta quinta-feira para a imprensa. A surpresa é que, antes mesmo de ser aberta ao público, a mostra já é alvo de ameaça de pichadores liderados pelo mesmo suspeito que invadiu a galeria Choque Cultural em setembro deste ano.
Ivo Mesquita, o curador da mostra que será aberta neste sábado para convidados e no domingo para o público, parecia constrangido na hora de defender seu corajoso projeto. Falava baixo e foi difícil entendê-lo a princípio. Diferente do que fez em dezembro, quando apresentou pela primeira vez suas idéias, a palavra vazio desapareceu de seu vocabulário. Em substituição, surgiu "planta livre", para denominar o segundo pavilhão do prédio, onde nenhuma obra de arte será exposta.
"Quis propor uma reflexão sobre o sistema das bienais, a Bienal de São Paulo como um estudo de caso"
- Quis propor uma reflexão sobre o sistema das bienais, a Bienal de São Paulo como um estudo de caso. O térreo é uma espécie de praça, um ponto de encontro, com atividades desenvolvidas pelos artistas. No primeiro andar, um espaço de serviços e o vídeo lounge. O segundo andar, a planta livre, que enfatiza a arquitetura do edifício, rompendo com o formato tradicional. O terceiro andar é o plano de leituras - explicou o curador.
Os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen explicaram que seu projeto questiona o modelo de grandes exposições, mas nunca se colocou como uma negação da Bienal, que perdeu sua vocação ao longo da história.
- Antes era parte de um museu e gerava acervo para ele, agora ficou dona de um edifício enorme - disse Ivo Mesquita. - Não aceitamos fazer o projeto porque havia uma crise pontual. Aceitamos por acreditar que a Fundação Bienal tem ainda uma função de formar profissionais como eu e Ivo Mesquita - completou Ana Paula Cohen, que divide a curadoria com Mesquita.
Os curadores esperam, ao final da mostra, em 6 de dezembro, apresentar ao conselho da Fundação Bienal um relatório, apontando os "sintomas" causadores da doença da Bienal.
"Se há um desinteresse, é porque nós merecemos a instituição que temos. Nós não estamos preocupados com o número de público"
Ao ser questionado sobre a reação negativa do público à "Bienal do vazio", Mesquita respondeu:
- Não sinto desinteresse sobre a atual Bienal. Vejo, na verdade, interesse por parte de especialistas. As pessoas virão. Programamos coisas para as seis semanas. Este é um projeto de amadurecimento. Se há um desinteresse, é porque nós merecemos a instituição que temos. Nós não estamos preocupados com o número de público.
Enquanto muitos jornalistas se levantavam no meio da entrevista, Ana Paula Cohen fez uma revelação surpreendente: ela foi avisada que o mesmo pichador que vandalizou a galeria Choque Cultural e a faculdade de Belas Artes reúne um grupo para atacar a Bienal após a abertura.
- Estamos sabendo, tomamos providências e estamos aguardando - avisou Ivo Mesquita.
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 24 de outubro de 2008
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação; Grupo que fez ações em galeria e em universidade pretende atacar andar vazio; "É um absurdo", afirma curador de evento; em entrevista, presidente da Fundação Bienal diz que instituição não vive crise
A Fundação Bienal de São Paulo preparou um esquema de segurança especial para os primeiros dias da exposição, que será inaugurada amanhã para convidados e no domingo para o público, por conta de uma ameaça de pichação.
A ação seria promovida pelas mesmas pessoas que picharam a galeria Choque Cultural, no mês passado. A ação dos pichadores está sendo convocada pela internet para ser feita no segundo andar da mostra, que permanecerá vazio durante o evento, e até mesmo em obras.
"Estamos esperando esse tipo de ação e tomamos providências para evitá-la. Isso é um absurdo", disse ontem o curador da 28ª Bienal, Ivo Mesquita, na entrevista coletiva de apresentação do evento.
"Nós sabemos que eles estão convocando gente da periferia da cidade para fazer isso, e essas pessoas não sabem o que elas vão encontrar. Em geral, quem faz esse tipo de ação o realiza à noite, mas aqui eles não sabem no que vão estar se metendo. É um lugar público e que terá muita segurança", afirmou a outra curadora da Bienal, Ana Paula Cohen.
Para ela, "o que quem lidera isso quer fazer é aparecer na imprensa. E ele está até mesmo violando um código de ética dos pichadores que é não pichar em cima do trabalho de outros, caso eles venham pichar obras aqui".
Em junho passado, um grupo de 40 pichadores fez no Centro Universitário Belas Artes ação semelhante à pretendida na Bienal e à ocorrida na galeria Choque Cultural.
Planta livre
De resto, de acordo com o clima da coletiva de ontem, ao menos entre os curadores e o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, não há o menor sinal de crise econômica ou moral na instituição.
"Esta Bienal me satisfaz profundamente", disse Pires da Costa. "Quando digo que há um problema de gestão na Bienal, eu não me refiro ao presidente mas à macrogestão, de como está estruturada a instituição."
"Nós aceitamos realizar essa Bienal não por conta de uma crise localizada, mas porque acreditamos que ela tem tido a capacidade de formar profissionais da área, como o Ivo e eu mesma, e pensamos então que o projeto seja em relação às grandes mostras e sua inserção na indústria cultural e no consumo", afirmou Cohen. Já o segundo andar vazio, que marcou todo o debate inicial sobre a mostra, fazendo com que o título Bienal do Vazio se sobrepusesse a "Em Vivo Contato", nome original da mostra, ganhou novo título: agora se chama "Planta Livre".
"O vazio foi mal-entendido desde o início. Com ele, queremos discutir o princípio da arquitetura moderna no pavilhão e, como ele está aberto, propostas podem surgir", disse também a curadora.
De 41 artistas que tomam parte da mostra -a lista oficial apresenta 42, mas anteontem o brasileiro Rodrigo Bueno retirou-se do evento por discordar da curadoria-, apenas 23 apresentam obras no edifício. Os demais estarão presentes em performances e ações que ocorrerão na praça, localizada no térreo. Ontem, no percurso para a imprensa, não havia ainda nenhuma obra totalmente acabada, o que, contudo, não é incomum nas vésperas de exposições de grande porte. A diferença, entretanto, é que essa não é uma mostra de grande porte.
O universo sensorial de Cildo Meireles, O Globo
O universo sensorial de Cildo Meireles
Matéria originalmente publicada no Globo no dia 24 de outubro de 2008
´The Independent´ põe de lado sentido político de obras na Tate Modern
Em crítica no jornal inglês“ The in de pendent”, Michael Glover analisou anteontem a exposição do brasileiro Cildo Meireles na Tate Modern, em Londres, ressaltando suas “relações imersivas com os objetos”, em vez dos significados políticos e conceituais que costumam permear as considerações sobre o artista. Glover citou instalações como “Volátil”, em que o visitante precisa pôr uma máscara de papel, tirar os sapatos e vestir botas, pisando em algo que, para o crítico, parece ser farinha, mas depois descobre ser talco: “Está escuro e abafado, e meus pés se afundam em algo profundo e pegajoso. Viro uma esquina, numa área onde há a luz de uma vela no meio do chão. A sensação é de estar num santuário, mas que coisa estranha é esta em que estou afundando?
Explicações conceituais limitariam fruição da mostra
Essa imersão em objetos “bizarros”, diz Glover, é o mérito da exposição: “Uma investigação sobre a natureza paradoxal dos objetos é como Meireles descreveu sua aproximação estranhamente prazerosa com a arte. Para nós, é dito que se trata de arte conceitual, o que pode proceder se você tiver uma noção das idéias a que essas peças tentam dar forma. Na verdade, você poderia reduzir cada uma das obras a um resumo de seu significado, e muito seria relacionado a parábolas de repressão política. Mas isso limitaria os prazeres desta exposição, que continuamente nos prega uma peça, mandando-nos numa direção, para então nos arremessar a outro lugar”.
outubro 23, 2008
A falta que a Bienal nos traz: o que o Canal Contemporâneo colocaria no vazio?
A falta que a Bienal nos traz: o que o Canal Contemporâneo colocaria no vazio?
No dia 26 de outubro, domingo, tem início a 28a. edição da Bienal de São Paulo, o mais importante evento da arte na América Latina. Em meio a uma grave crise institucional, a Fundação Bienal usa a oportunidade para fazer uma confissão pública: Ivo Mesquita, curador da mostra, decidiu ocupar com nada um andar inteiro do Museu de Arte Moderna para ilustrar o momento. A Folha de São Paulo perguntou a artistas, críticos e curadores, em sua edição de quarta-feira, o que cada um colocaria no espaço. De "imaginação" a "sofás", as respostas tentam dar conta do conteúdo estético e político do ousado gesto de Mesquita.
Como uma comunidade focada na tematização da arte contemporânea, o Canal amplia esta pergunta a seus participantes: o que você colocaria no vazio da 28a. Bienal de São Paulo?
Um espaço de vínculos poéticos, por Suzana Velasco, O Globo
Um espaço de vínculos poéticos
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Globo no dia 23 de outubro de 2008
Waltercio Caldas cria relações entre obras suas e de Amilcar de Castro
Conceitos prévios, textos herméticos e ligações de causa e conseqüência foram substituídos por uma intuição plástica. Em “Múltiplos sentidos”, a partir de hoje na galeria Silvia Cintra, o artista Waltercio Caldas escolheu criações suas para se relacionarem com peças de Amilcar de Castro. Apesar da diferença geracional - Amilcar, morto em 2002, era 26 anos mais velho -, os dois foram amigos e sua obra se aproxima, segundo Waltercio, na procura por um espaço poético. - Compartilhávamos uma visão do que é ser artista, embora com soluções diferentes para problemas diferentes - afirma Waltercio. - Ele é um dos artistas de uma geração que não buscava se adaptar à realidade, mas procurava novos caminhos para uma ocupação espiritual, que é o que acho que a arte é, mais do que uma profissão. Nesse sentido, a função do artista é melhorar um pouco a qualidade do desconhecido.
"Detestaria ter um estilo que me caracterizasse”
Waltercio escolheu obras de Amilcar norteado pela variedade, levando o vidro, a madeira e a tela à companhia do aço cortén, material de suas esculturas mais conhecidas. Criou um outro grupo de obras e deixou que se relacionassem os dois conjuntos, Waltercio e Amilcar, sem preocupações explicativas.
Mas os vínculos estéticos existem. A preocupação com o espaço e a delicadeza na interação com ele são inegáveis em ambos os artistas - Amilcar, um dos grandes nomes do neoconcretismo, e Waltercio, que começou tendo aulas com o concretista Ivan Serpa, mas tem uma obra que, entre livros-objetos, esculturas e desenhos, não se encaixa num movimento.
- Detestaria ter um estilo que me caracterizasse. Se há algo que se reconheça em comum nas minhas obras, é porque a gente está condenado a ser quem é - diz o artista, sem negar o peso construtivista em sua formação e na arte brasileira. - O Brasil tem uma tradição construtiva muito forte. Para mim, foi fundamental ver a construção de Brasília, a vontade moderna dos anos 1950. A importância do construtivismo é ainda causar questionamentos, manter seu grau deflagrador.
Esse poder deflagrador da arte, para ele, está em escassez: - Hoje, muitos artistas relegam sua subjetividade ao mundo, esperando que ele dê significado a suas obras. A melhor maneira de respeitar o espectador é ele ter certeza de que o que vê é uma afirmação do artista sobre algo, mesmo que não goste do trabalho. Essa presença inequívoca da obra está sendo substituída pela vontade de significação.
Waltercio diz que a maioria de seus trabalhos é, hoje, mais vista no exterior do que no Brasil.
São raras, por aqui, exposições do porte das que estão em cartaz na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela - ocupando mais de mil metros quadrados, e cinco a seis meses de exibição: - Só em uns 10% das mostras lá fora há algum investimento brasileiro, e, ainda assim, privado.
outubro 22, 2008
Projetos do Parque Lage continuam após a saída da diretora, O Globo
Projetos do Parque Lage continuam após a saída da diretora
Matéria de Rodrigo Fonseca originalmente publicada no Globo no dia 22 de outubro de 2008
Pólo de ensino e debate, a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage terá uma nova direção. Atual coordenadora das escolas de arte da Secretaria de estado de Cultura, Claudia Saldanha, que foi professora da instituição, assume o cargo de diretora, substituindo a crítica de arte Luiza Interlenghi, escolhida em abril pela secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, e pela direção da associação de amigos da escola (Ameav). - O cargo é determinado pela secretária. Ela marcou uma reunião para pedi-lo de volta, e eu o entreguei. Procurei trabalhar da maneira que considerei mais produtiva para a escola - diz Luiza, que entrou na direção substituindo o gravurista Carlos Martins. - Acredito que o grupo de trabalho que formamos para discutir a reforma da escola será mantido.
Um novo plano de metas à vista para a EAV
Via assessoria de imprensa, Sophie Bernard, subsecretária de Projetos Especiais da Secretaria de Cultura, afirmou que a mudança não altera o atual arranjo da escola, que ganhará um novo plano de metas nos próximos meses. - Os projetos da escola não serão afetados, assim como as obras de restauração do Parque Lage. Esta foi uma substituição apenas para o alinhamento das diretrizes da secretaria - diz Sophie.
"Há um problema de gestão na Bienal", entrevista de Ivo Mesquista, Folha de São Paulo
"Há um problema de gestão na Bienal"
Entrevista de Ivo Mesquita a Marcos Augusto Gonçalves e Fábio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 22 de outubro de 2008
Curador, que chegou a deixar o cargo em edição anterior, avalia o evento
O curador Ivo Mesquita nasceu em 1951, mesmo ano em que surgia a Bienal de São Paulo. Nos 57 anos da existência da instituição, ele já participou de nada menos do que oito edições da mostra, duas delas como curador -embora, em 2000, tenha deixado o cargo em meio a uma das crises da fundação.
E foi uma nova crise que o levou, recentemente, de volta à função. Nome reconhecido no meio da arte, Mesquita apresentou-se como uma tábua de salvação para a desgastada presidência da Fundação Bienal, que enfrentava dificuldades para levantar os recursos necessários para a mostra deste ano.
"Eu me sentiria muito mal se tivéssemos fechado as portas", disse ele à Folha, em entrevista na semana passada.
Com poucos recursos e pouco tempo, Mesquita optou por criar um debate em torno da crise da instuição, que se entrelaçaria com uma crise mais ampla, a do próprio modelo agigantado das bienais internacionais. O curador deixou um piso inteiro do prédio vazio, promoveu encontros para discutir o papel da instituição e, ao final, criou uma mostra reduzida, que ocupa meio andar.
FOLHA - Depois de realizar 15 encontros com pessoas do circuito da arte, quais foram as conclusões sobre o papel da Bienal?
IVO MESQUITA - O que ficou patente é que há um problema de gestão.
FOLHA - Qual é o modelo ideal? Seria melhor uma trienal?
MESQUITA - Essa questão, se é bienal ou trienal, se é com curador ou sem curador, me parece menor. O problema principal é a necessidade de adequar a instituição à sua finalidade. E isso é uma questão de gestão e de organograma. O Júlio Landmann [ex-presidente da Bienal] falou nos encontros justamente sobre isso: a estrutura que ele ajudou a construir a partir da 22ª Bienal, e que se desfez. Era uma estrutura administrativa extremamente profissional, com um superintendente, um captador de recursos, um responsável pelo educativo.
Hoje, a fundação não tem uma estrutura semelhante. Os problemas de 40 dias atrás [um pedido de corte de 40% do orçamento, por parte do presidente] ocorreram em seis das oito bienais em que trabalhei. É sempre assim, 60 dias antes da abertura, há um problema de "cash flow" [fluxo de caixa].
FOLHA - E por que isso não é resolvido de uma vez por todas?
MESQUITA - Ah, essa pergunta quem tem que responder é o conselho. O que estou mostrando é que o problema não é novo. Não existe uma estrutura para resolver este evento.
FOLHA - Mas esse conselho não é desinteressado por arte? Apenas três ou quatro conselheiros apareceram nos encontros...
MESQUITA - Essa é uma pergunta que deve ser feita a eles. Mas não é um modelo muito diferente do que existe em museus como o Masp ou o MAM do Rio, instituições criadas na mesma época, que vivem problemas semelhantes.
FOLHA - O fato de a Bienal ter por tema ela mesma parece uma espécie de imposição da instituição sobre a arte. Como você vê essa hipervalorização da instituição que quase bane a arte de seus domínios?
MESQUITA - Eu vejo essa questão de modo diferente. A idéia do vazio e esse projeto da Bienal são sobre a instituição e não sobre a produção artística.
Poder suspender um processo para falar de uma crise que se percebe cíclica na instituição me parece um meio de aprimorar o circuito.
FOLHA - Mas, pela presença nesses encontros promovidos pela Bienal, que não tiveram mais que 30% de lotação em média, poderíamos concluir que as pessoas do circuito não se interessam muito por essa discussão...
MESQUITA - Eu acho que há uma falta de hábito. Cada vez que há uma crise do Masp, a Folha faz um monte de artigos, mas efetivamente acontece o quê? Nós temos tido uma atitude muito passiva, é preciso pensar nas causas do problema.
FOLHA - Talvez as pessoas acreditem que essa instituição já deveria funcionar direito, que não é papel delas ter que discutir esse assunto a essa altura da história...
MESQUITA - É talvez o que tenha feito o Zé Resende [artista], quando veio ao encontro, mas ficou quieto. Agora, eu também acho o seguinte: talvez as pessoas não queiram discutir. Então, fechamos as portas.
FOLHA - Mas, se você não tivesse aceitado participar, talvez as portas tivessem fechado mesmo. Você de certa forma salvou a instituição de uma crise mais grave, não deixou o negócio quebrar de vez, funcionou como se fosse o "circuit-breaker" da Bolsa, que interrompe a queda das ações quando a coisa fica feia...
MESQUITA - [Risos] Não sei... Essa decisão foi uma coisa minha com minha história com essa instituição. Eu acredito que a Bienal tem possibilidades e, como profissional, eu acredito que tinha que tentar dar essa resposta. É o que eu posso fazer. Eu me sentiria muito mal se tivéssemos fechado as portas sem ter tido essa oportunidade.
Eu sabia que era super-arriscado, mas considerando a reação que houve, foi muito esperançoso, e as pessoas se importaram.
Novo estatuto reduz poderes de presidentes, por Fábio Cypriano
Além de Ciccillo Matarazzo, fundador da Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa é o único presidente com três mandatos na Fundação Bienal e, de acordo com o novo estatuto da instituição em discussão, será o último. Preparado por uma pequena comissão do Conselho da Fundação, cujo relator foi o jurista Carlos Francisco Bandeira Lins, o estatuto prevê a diminuição drástica dos poderes do presidente-executivo, entre eles a possibilidade de reeleição por uma única vez.
"Não queremos que aconteça aqui o que aconteceu com o Masp. Queremos proteger a Fundação e, por isso, o Conselho precisa ser a bússola, não é mais possível que o presidente-executivo tenha poderes absolutos", diz o presidente do Conselho da Fundação Bienal, o arquiteto Miguel Pereira.
Na nova proposta, não está prevista a mudança de periodicidade da mostra, mas sua realização a cada três anos não é descartada por Pereira: "Estamos em processo constituinte e nada impede essa discussão, afinal o biênio é um período mesmo exíguo".
Há cerca de um mês, em reunião do Conselho, que tem cinco vagas para membros, Pires da Costa tentou indicar nomes para completar o quadro, mas foi impedido até que vigore o novo estatuto. Na nova proposta, que, segundo Pereira, deve ser implementada em 2009, também não será mais o presidente quem terá a prerrogativa de indicar o curador da Bienal.
[o que colocar no vazio?], Folha de São Paulo
[o que colocar no vazio?]
Matéria originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 22 de outubro de 2008
A 28ª Bienal de São Paulo, que será aberta no domingo, terá um andar vazio para simbolizar sua crise; a Folha perguntou a artistas e curadores com o que preencheriam o espaço -as respostas, abaixo, vão de "ar" a "sofás"...
A imaginação. A idéia de vazio ativo (Mira Schendel) e de vazio pleno (Lygia Clarck), que fazia parte de um dos 4 núcleos que propus no meu anteprojeto da 28ª Bienal contemplava a idéia de que o vazio é uma instância fundamental para a criação. Quando propus ao Ivo Mesquita de juntarmos os nossos projetos e ele sugeriu a idéia do andar vazio, que eu chamei de manifesto espacial, eu aceitei com a condição de que fosse um sinal para a segunda etapa da 28ª Bienal (que trataria do tema do vazio) e que durante essa primeira etapa fosse utilizado como um espaço educativo.
Minha proposta era ocupar o vazio com a imaginação das crianças. O importante para mim era fazer com que as pessoas percebessem que o vazio é uma instância fundamental do processo criativo. Meu desejo era ocupar o espaço com um projeto educativo (inclusive para adultos) que revisitasse a história da Bienal de São Paulo, criando, desta forma, um elo como o terceiro andar onde estariam os arquivos da Bienal e sua memória. Pensei que a solução seria utilizar recursos auditivos; circuitos auditivos associados a imaginação (como na música), inclusive convidando artistas que fizessem obras sonoras especificamente para o 2º andar de forma a "esculpir" ou dar forma ao andar vazio.
Penso que mais importante do que a idéia fenomenológica de suspensão é de ancorar o vazio como um elemento fundamental da realidade. O vazio do segundo andar deveria ser articulado como um espaço de concentração e não de dispersão.
Para mim, o importante era indicar como nos diz Strindberg que: "Tudo é possível e provável. Sob a fina base da realidade a imaginação tece novas formas".
Márcio Doctors, curador
Arte.
Paulo Venâncio Filho, curador
Ar.
Beatriz Milhazes, artista
Vejo-o como metáfora da inexistência de uma política cultural ampla, sólida, regular, constante, civil, sem viés ideológico-partidário. Eu preferia ver o vazio da bienal discutido na entressafra, entre as bienais e não dentro dela. Tal como está, e se ficar de fato vazio, pode ser, no limite, uma proposta poética - e no poema dos outros não se mexe. Se esse vazio servir para arrancar a Bienal da inércia que a estrangula, terá sido um sucesso.
Teixeira Coelho, curador e diretor do Masp
Eu colocaria uns 500 sofás no andar vazio, assim pelo menos a gente poderia sentar um pouco.
Leda Catunda, artista
Se o Duane Hanson não tivesse morrido há 12 anos, o convidaria para fazer esculturas de alguns brasileiros de colarinho branco que freqüentaram a crônica policial e estiveram atrás das grades nos últimos anos. Fica a idéia para algum hiperrealista nativo. Vai ser uma mostra bem popular.
Paulo Sérgio Duarte, curador
O vazio é apenas ilusório, não há esvaziamento que nos leve ao grau zero, que anule ou cancele todos os significados, pois, ao contrário do que as aparências revelam, com o vazio descortinam-se as estruturas, mas o que fazemos com elas? Como transformá-las em questões realmente pertinentes?
Como evitar que o vazio seja apenas a falta de algo? Então, é necessário um outro gesto capaz de radicalizar a experiência para instaurar a consciência crítica. Portanto, ao esvaziarmos o Pavilhão da Bienal temos diante dos olhos a arquitetura modernista brasileira e suas utopias. E parece-me que isso ficou de lado em todas as discussões a respeito dessa Bienal. E foi a partir dessas idéias que, a convite de Ivo Mesquita para desenvolver o Projeto Educativo para esta Bienal, propus, em colaboração com Jorge Menna Barreto e Vitor César, desestabilizar a noção do Vazio como "síntese da negação e da ausência", conforme proposto pelos curadores.
Dentre outras questões, o projeto (abortado nas últimas semanas) visava potencializar o vazio a partir da construção do que chamo 'Parede Niemeyer', revestindo toda parede do fundo do segundo andar com espelhos para reverberar não só a arquitetura, mas nossas utopias, nossa história, para torná-la abismal. Niemeyer dentro de Niemeyer. O espelho, a meu ver, síntese da utopia moderna do arquiteto brasileiro, é também vigilante. O espaço destinado à grande mostra bi-anual de arte no Brasil seria esvaziado para, com o espelho, se fazer perguntas. Como um grande ambiente oco, funcionaria como tímpano para uma operação de escuta. As reverberações no espelho forneceriam as bases para o questionamento crítico sobre nossa condição. Novamente a pergunta: Para onde olhamos? Para onde vamos? Todo projeto Educativo estaria então ancorado na idéia de que, se não incluirmos o contexto, se não questioná-lo, ficaremos sempre reféns de nossa própria história ou dependentes da história que nos chega de longe.
Ana Maria Tavares, artista
Nada. É claro que não faltam obras para uma exposição, mas não é isso o que está em questão. Cada um faz a sua bienal e nas condições que lhe forem dadas. Não fazer é sempre uma delas. Assumir o vazio, nas circunstâncias em que se deu, foi uma decisão corajosa e deve ser respeitada.
Luiz Camillo Osório, curador
Talvez eu colocasse uma zona de sensibilidade imaterial do Yves Klein. Sabemos que o espaço vazio adquire uma prioridade marcante com implicações estéticas e desdobramentos políticos. Mas neste caso, o vazio não é da arte, o vazio é da instituição que está com sérios problemas circunstanciais, porque é mal gerida e não consegue perceber o seu papel.
Solange Farkas, curadora e diretora do MAM da Bahia
Acho que o fato de um andar do prédio da Bienal ficar vazio durante o período da mostra é absolutamente adequado para o projeto curatorial de Ivo Mesquita. Ele é metáfora eloqüente da crise pela qual a instituição passa (que efetivamente limita as dimensões físicas do evento) e da vontade expressa de seu curador na presente edição em discuti-la e enfrentá-la. Minhas expectativas e meu desejo são de que esse espaço vazio realmente assuma a dimensão crítica com que foi pensado e que não seja reduzido à mera experiência imersiva na arquitetura do edifício.
Moacir dos Anjos, curador
Ou talvez perguntando de forma mais abrangente: o que de fato deveria pertencer ao vazio da Bienal?
José Rezende, artista
Não colocaria coisa alguma, o espaço vazio proposto deve mostrar ainda a que veio: se de um lado ele é conceitual, precisa manter-se mesmo vazio e funcionar como metáfora espacial de um ponto zero de atitudes e decisões, sem o que não ha espaço para renovação. De outro lado ele é um vazio físico, concretamente o espaço desocupado dos mil metros quadrados de um dos andares, dando presença apenas ao edifício ou a seus fantasmas. Este vazio arquitetônico é a própria corporificarão da circunstancia difícil de organizar um mega evento com prazos e recursos excessivamente curtos.
Entendi que Ivo Mesquita aceitou a curadoria desta Bienal para não deixar soçobrar uma instituição cuja importância e história ele respeita. Confio que a partir do que esta versão se propõe, como critica e reflexão com o olho no futuro, o vazio seja um lugar para a projeção de idéias conseqüentes das quais se possa extrair um modelo mais ativo, social e culturalmente.
Regina Silveira, artista
outubro 20, 2008
Desvio do lugar-comum, por Paula Alzugaray, ISTOÉ
Desvio do lugar-comum
Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na Revista ISTOÉ edição 2030 Cultura - Artes Visuais no dia 1 de outubro de 2008
Aclamado como um dos principais expoentes da arte conceitual internacional, Cildo Meireles expõe na Tate Modern
Cildo Meireles - Tate Modern, Londres de 14/10/08 a 11/01/09
Vermelho-sangue
Embora diversas interpretações da instalação Desvio para o vermelho (1968-1984) associem a obra à violência militar, Meireles afirma que o trabalho fala mais de cor do que de política
Há muitos atalhos possíveis para o entendimento da obra de Cildo Meireles. Mas a entrada mais evidente se dá pelo reconhecimento de objetos que nos são familiares: relógios de parede, picolés, garrafas de coca-cola, mobiliário doméstico. Essa normalidade sofre um abalo quando o espectador se dá conta de que os relógios não respeitam o tempo, os sorvetes são apenas água congelada, as garrafas contêm a inscrição “yankees go home” e a mobília é inteiramente vermelha. As instalações de Cildo Meireles provocam um desvio da ordem natural das coisas.
Aos 60 anos, o artista carioca terá oito de suas grandes instalações, concebidas entre 1967 e o começo dos anos 2000, em uma exposição antológica organizada pelo museu Tate Modern, de Londres. O ano será marcado pelo reconhecimento internacional de sua obra: ele recebeu tembém o Prêmio Velázquez, na Espanha, e o Ordway, do New Museum de Nova York.
Alguns dos momentos mais impactantes e contundentes da arte brasileira estarão da Tate. Ao primeiro caso, aplica-se Babel (2001), uma torre de 5 metros de altura composta por centenas de rádios sintonizados em diferentes estações de vários países. O trabalho impressiona não só pela escala monumental, mas pela eficiência de sua metáfora do hibridismo cultural contemporâneo. Já Missão/missões (1987), produzido com 600 mil moedas, 800 hóstias e 2 mil ossos, é uma espécie de encenação poética de massacres de indígenas gerados por interesses econômicos e religiosos. É uma obra que traduz a faceta antropológica do artista e, talvez uma herança do pai, indianista que denunciou sucessivos crimes contra tribos do centro do Brasil. Esse cunho etnográfico já se revelava no início dos anos 1960, quando o jovem artista se dedicava a desenhar máscaras africanas com um traço expressionista. Seu engajamento político começou em 1969, depois da invasão do Dops à exposição Pré-Bienal de Paris, no MAM RJ. “Me senti impelido a começar a tratar de política e meu desenho começou a se referir a aspectos sociais. Mas sempre preocupado em não produzir uma arte panfletária”, conta à Istoé.
A política se articula em seu discurso de forma incisiva, mas nada óbvia. Aparece em obras como Inserções em circuitos ideológicos (1970) – as garrafas de Coca-Cola e as cédulas de dinheiro carimbadas com mensagens subversivas – ou em gestos. Sua recusa em participar da 27ª Bienal, em 2006, em protesto contra a reeleição de Edemar Cid Ferreira ao Conselho da Fundação foi uma ação política de repercussão internacional, que acabou destituindo o então banqueiro. Mas novas denúncias surgiram, indicando a continuidade de uma situação. “Esse tipo de estrutura administrativa vai dar alguma solução para a Bienal? Essa é uma pergunta que tem que ser colocada quando se discute a Bienal”, afirma Cildo Meireles referindo-se ao projeto da 28ª Bienal, que propõe uma reflexão sobre o modelo da bienais. “Não há sombra de dúvida de que a Bienal precisa se pensar. Compreendo a posição do Ivo (Mesquita), ter aceito trabalhar numa circunstância como essa, mas não sei se isso não é uma maneira de dar uma espécie de sobrevida a um modelo administrativo que não parece que está funcionando muito bem, polemiza.
Interfaces matemáticas
João José Costa - Galeria Berenice Arvani, São Paulo até 3/10
Esta é a última semana para ver em São Paulo a antologia de João José Costa, “o mais rigoroso concretista do Grupo Frente”, segundo o crítico Mário Pedrosa, ou “um dos elementos mais valiosos do grupo de artistas concretos brasileiros”, segundo Ferreira Gullar. Reconhecido pelos críticos mais influentes de sua época como um dos principais representantes do movimento neoconcretista, João José Costa é um artista a ser redescoberto. Nesta, que é apenas sua quarta exposição individual em 55 anos de carreira, contempla-se o cerne de uma produção de matriz geométrica, que dialogou com Ivan Serpa, Aluisio Carvão, Lygia Clark, Franz Weissmann, Abraham Palatnik, entre outros integrantes do Grupo Frente, no Rio dos anos 1950. Além do apontado rigor de suas projeções geométricas, é possível vislumbrar na pintura do arquiteto João José uma interface com a atual produção de matriz matemática. A maneira com que pequenos ícones deslocam-se sobre suas linhas pintadas em guache sobre cartão remete ao comportamento de cursores que avançam sobre a tela luminosa do computador. Entende-se que no desenho do concretista anunciavam-se as representações tecnológicas.
Crítica
Filmar é igual a filosofar
No estranho mundo dos seres audiovisuais - Canal Futura - Março de 2009
O programa No estranho mundo dos seres audiovisuais, que exibiu um piloto na segunda 22, é um eficiente modelo de como extrair imagens inteligentes de um mundo dominado por câmeras. A fim de explicar ao público da tevê paga “o que é, o que foi e o que será” o audiovisual, o programa dirigido por Cao Hamburguer lança mão de um vasto repertório de imagens da cultura audiovisual de todos os tempos, passando pelo filme noir, o seriado enlatado, o filme iraniano, o clipe, a comedia pastelão, a reportagem e, já que é televisionado pelo Canal Futura, o programa educativo. Convém destacar que o fator inteligência aqui não está na imagem escolhida, mas no uso que se faz dela, isto é, na maneira como é editada e a serviço de que idéias opera. Comodiz o teórico Arlindo Machado, o audiovisual é um veículo da filosofia. Na era da convergência das mídias, também é arte contemporânea.
Novos editais para as diversas áreas da cultura, por João Pimentel, O Globo
Novos editais para as diversas áreas da cultura
Matéria de João Pimentel, originalmente publicada no Globo no dia 18 de outubro de 2008
Secretaria estadual contemplará também grupos carnavalescos
A Secretaria estadual de Cultura anunciou esta semana 10 editais para seleção pública de projetos nas áreas de audiovisual, mídias digitais, artes visuais, culturas populares, dança, teatro e carnaval. A iniciativa da política de fomento à cultura prevê um investimento de R$ 7,6 milhões. Um edital e um programa chamam a atenção: o edital de apoio aos blocos, ranchos, afoxés e escolas de samba do interior e mirins, para os quais serão destinados R$ 600 mil, e o Programa Banda Larga, que rastreou 95 bandas de todo estado, que dividirão R$ 750 mil. Este programa promoverá cursos intensivos de atualização para músicos que atuam em bandas civis e inclui cursos de regência e manutenção e reparo de instrumentos de sopro
Intenção é de preservar manifestações populares
Os editais terão pré-requisitos próprios e os projetos inscritos serão selecionados por uma comissão julgadora formada por profissionais de cada área. Segundo a superintendente de Fomento da secretaria, Mariana Várzea, a intenção da nova política é estimular a criatividade e a produção artística em vários segmentos. - Estamos também preocupados em criar políticas de longo prazo que ajudem a preservar grupos e artistas de todo o estado. A íntegra dos editais está disponível no site www.cultura.rj.gov.br, onde os participantes podem se inscrever gratuitamente e acompanhar o resultado da seleção. Inscrições também podem ser feitas nas agências dos Correios.
Exposição faz panorama da 'nova arte nova', por Suzana Velasco, O Globo
Exposição faz panorama da 'nova arte nova'
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Globo do dia 20 de outubro de 2008
Mostra ocupa os três andares do CCBB com obras de 57 artistas que despontaram na última década
Em cinco meses, o crítico de arte Paulo Venancio Filho tinha a tarefa de ocupar os três andares do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com a mais recente produção artística brasileira. Sem a pretensão de fazer uma mostra conclusiva, ele acabou sendo, mais do que um curador, que propõe um recorte específico da arte, um coordenador entre obras diversas. Ele reuniu mais de cem trabalhos de 57 artistas na exposição “Nova arte nova”, que será aberta amanhã para o público, seguindo para São Paulo em janeiro do ano que vem.
- Procurei suspender um critério curatorial. A mostra não trata de um assunto, não tem um título muito enfático. A idéia é pôr à vista a produção de artistas que se formaram nos últimos dez anos, alguns nem tão jovens, mas que entraram em evidência nesse período - afirma Venancio Filho. - Não é uma exibição de uma geração, como em outros momentos da história da arte brasileira, em que havia uma unidade entre as propostas. Agora há uma diversidade muito grande.
Venancio Filho tentou equilibrar, na seleção, nomes já reconhecidos no meio artístico e outros de visibilidade menor. Assim, artistas como Laura Erber, Matheus Rocha Pitta, Thiago Rocha Pitta, Ana Holck, Alice Miceli, Otavio Schipper, Felipe Barbosa, Sara Ramo e Marilá Dardot - todos representados por galerias importantes - unem-se a nomes como Bruno Miguel, Tatiana Ferraz, Bianca Tomaselli, Maria Lynch, Romano, Gaio Matos e Lívia Moura, que, por enquanto, não têm galeria.
- A arte surgida nessa última década tem uma fluência global, uma contemporaneidade forte que vem desde o neoconcretismo. Os artistas estão mais conscientes da História da arte brasileira - diz o curador. - E acho que isso acontece também dentro do Brasil, não se vê uma diferença regional entre as obras. É claro que ainda há uma concentração de artistas de Rio e São Paulo. Mas a idéia de regionalismos caducou, hoje se podem fazer exposições como esta sem concessões a regiões.
Catálogo terá textos de cinco novos críticos de arte
Para Venancio Filho, o mais importante era usar a mostra para dar visibilidade a uma produção geralmente restrita a instituições de arte. A pluralidade de temas e meios - vídeos, fotografias, pinturas, instalações, esculturas, objetos, desenhos - se mistura pela coleção, que não está dividida por suportes. A escolha das obras, segundo o curador, foi compartilhada, num diálogo com os artistas. E a montagem foi intuitiva, em função do espaço e das relações estéticas entre as criações, e não de um conceito prévio: - Não quis montar uma feira de arte, com apenas um trabalho de cada artista. E procurei espaços livres, para as obras respirarem.
O catálogo de “Nova arte nova”, bilíngüe, será uma espécie de obra de referência sobre cada artista, com biografia e imagens - como nos registros de grandes feiras e bienais. Além de um texto de Venancio Filho, o catálogo terá escritos de cinco novos críticos de arte: Luisa Duarte, Guilherme Bueno, Cauê Alves, Marisa Florido e Daniela Labra.
- Não é a geração em que eu me formei, por isso quis reunir textos de novos críticos, dando a eles toda a liberdade de falar de artistas que não estão na exposição - conta o curador.
Os cinco críticos e Venancio Filho participarão de uma mesaredonda no CCBB, em data a ser definida. Haverá ainda uma palestra de Ann Gallagher, curadora da Tate Modern, no próximo dia 28; e outra de Briony Fer, professora de história da arte da University College London, em 6 de novembro.
Mostras fazem painel da arte pós-1950, por Caio Jobim, Folha de São Paulo
Mostras fazem painel da arte pós-1950
Matéria de Caio Jobim, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 20 de outubro de 2008
"Nova Arte Nova" e "Arquivo Geral", ambas no Rio, compõem recortes abrangentes da produção brasileira até hoje; "Arquivo Geral" quer "potencializar" o mercado carioca para colecionadores estrangeiros que visitam a Bienal de São Paulo
Dois prédios antigos no centro do Rio, com menos de cem metros a lhes separar, abrigam a partir desta semana recortes abrangentes da produção artística brasileira dos anos 1950 até os dias de hoje.
"Nova Arte Nova" ocupa todo o espaço expositivo do Centro Cultural Banco do Brasil. São mais de cem obras de 55 artistas que, nos últimos dez anos, vêm explorando e atualizando linguagens e técnicas da arte contemporânea.
Já a terceira edição de "Arquivo Geral" é uma iniciativa de 11 galerias da cidade com o objetivo de potencializar o mercado de arte carioca a partir da movimentação de curadores, colecionadores e visitantes, do Brasil e do exterior, gerada pela Bienal de São Paulo -cuja abertura acontecerá no próximo sábado. Neste ano, a mostra reúne trabalhos de 96 artistas e terá como sede o térreo do Centro Cultural da Justiça Eleitoral.
Mostra coletiva
"Em geral as curadorias hoje são muito determinadas, então eu não quis estabelecer uma separação temática. A idéia foi ocupar o espaço de uma maneira fluida, sem fronteiras", explica Paulo Venancio Filho, curador de "Nova Arte Nova".
Segundo ele, a exposição vai demonstrar a abolição das diferenças regionais entre os artistas e o trânsito da arte produzida no país dentro de um contexto global. O curador prefere não destacar este ou aquele artista. Ou falar sobre obras específicas. "Trata-se de uma mostra coletiva em que o que prevalece é a diversidade", justifica.
"Nova Arte Nova" será montada também no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, a partir de janeiro e até abril do ano que vem.
Sugestões
O curador de "Arquivo Geral", Fernando Cocchiarale, escolheu os trabalhos que compõem a mostra a partir das sugestões de cada galeria. "Você começa a ver os trabalhos e forma grupos a partir de questões que são recorrentes", diz Cocchiarale.
São peças produzidas nas últimas décadas. Esculturas em acrílico de Ruben Ludolf dividem uma sala com outros exemplares da "tradição geométrico-construtivista". Já as instalações de arte sonora de Paulo Vivacqua dialogam com a arquitetura da edificação, erguida em 1892, que combina elementos de neoclássico e do barroco com toques do art nouveau.
"Muitas vezes, a interferência da arquitetura do edifício pode ser até um elemento favorável em um mundo que não valoriza mais a pureza, mas sim a contaminação", afirma Cocchiarale.
outubro 17, 2008
´Eu fui exilado do governo federal´, entrevista de Antônio Grassi, O Globo
´Eu fui exilado do governo federal´
Entrevista de Antônio Grassi a André Miranda, originalmente publicada no Globo do dia 17 de outubro de 2008
Ex-presidente da Funarte, Antônio Grassi diz que Juca Ferreira sempre quis o cargo de Gilberto Gil
Depois da saída de Celso Frateschi da presidência da Funarte, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, anunciou mudanças no órgão, que incluem reformulações na Lei Rouanet e a criação de uma presidência colegiada. Ex-presidente da Funarte, na gestão anterior à de Frateschi, o ator Antônio Grassi, porém, acredita que o problema da instituição é orçamentário. Em entrevista ao GLOBO, Grassi fala de sua conturbada demissão, em janeiro de 2007, ainda na gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (MinC), e analisa os rumos da Funarte
O GLOBO: Na semana passada, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o ministro Juca Ferreira disse que você queria o lugar do Gil. É verdade?
ANTÔNIO GRASSI: A declaração do Juca me surpreendeu, mas também esclareceu finalmente, em público, qual foi o motivo da minha saída: o fato de que supostamente eu queria o lugar do Gilberto Gil. Além de não ser verdade, imagina o que aconteceria se o presidente Lula fosse demitir todos os ministros que quiserem o cargo dele. Ele iria começar pela Dilma (Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, pré-candidata à sucessão de Lula).
O que aconteceu então?
GRASSI: No fim do primeiro mandato, o Gil começou a dizer que tinha dúvida sobre se ficaria ou não no MinC. Aí o PT, através de sua Secretaria Nacional de Cultura, assumiu uma posição: o partido apoiava a permanência do Gil; mas, se ele quisesse sair, o PT gostaria de indicar um nome. Esse movimento gerou a indicação do meu nome, caso o Gil não continuasse. A gente não sabia que, com isso, o ministério iria achar que havia conspiração. Eu mesmo dei declarações de que era a favor da permanência do Gil e que não tinha o menor interesse no cargo.
E como foi sua demissão?
GRASSI: Eles não tiveram a hombridade de falar comigo diretamente. Mandaram um recado, no mês de dezembro, de que o ministro queria me ver. Mas, só depois que a história começou a vazar, um assessor, o Alfredo Manevy (atual secretário executivo do MinC), veio falar comigo. E eu só fui conversar com o Gil depois de a imprensa toda ter noticiado. Na época, eu fiquei muito surpreso, porque pensei que o movimento “Fica Gil”, o qual nós apoiamos, não significava a permanência de uma pessoa, mas de uma política, da qual eu fazia parte.
Depois da Funarte, o senhor não participou de mais nada no governo federal?
GRASSI: Não. Eu trabalhei em todas as campanhas do presidente e, hoje, tenho uma dificuldade grande de explicar para as pessoas como posso estar exilado num governo do Lula.
O senhor guarda mágoas?
GRASSI: Nenhuma. Minha militância continua. Eu só acho estranho ter sido exilado do governo federal. Mas eu acho que aconteceu o que estava caminhando para acontecer. Quem queria o cargo conseguiu.
O senhor acha que Ferreira trabalhou para substituir o Gil?
GRASSI: Sempre. Eu nunca concordei com essa história de “política Gil” ou “política Juca”. Quem sempre tocou o MinC foi o Juca. Até por razões óbvias, pela própria ausência do Gil. Eu torço sinceramente para que o MinC dê certo, mas fico muito reticente quando vejo a demora para que as coisas aconteçam, sendo que uma delas é em relação à Lei Rouanet.
Fala-se, hoje, em mudanças na Lei...
GRASSI: O MinC anunciou os Diálogos Culturais, para rever a Lei Rouanet. E eu pergunto: de novo? Na época em que o Lula foi eleito, eu participei da coordenação de um programa chamado Imaginação a Serviço do Brasil, em que nós já apontávamos os problemas da Lei, com indicações do que deveria ser feito. E hoje, seis anos depois, o MinC está novamente circulando pelo Brasil para discutir a mesma coisa? Esse trabalho que foi feito anteriormente parece que não valeu de nada.
Quais o senhor considera os seus maiores feitos como presidente da Funarte?
GRASSI: Nós assumimos o desafio de nacionalizar a Funarte. Todos os editais que criamos foram editais nacionais. Outro ponto foi o Pixinguinha, um projeto que retomamos na minha gestão. Ao contrário do que dizem, de que era um projeto produzido no Rio e exportado para o resto do Brasil, o Pixinguinha era uma articulação envolvendo todas as secretarias de cultura dos estados e municípios.
O que representa acabar com as caravanas do Pixinguinha, como ocorreu este ano?
GRASSI: Acabar com as caravanas e investir em gravação de CDs é uma descaracterização. O problema da cadeia produtiva da música não é gravar CD. Qualquer pessoa grava CD hoje em dia, até em casa. A dificuldade é fazer a produção artística circular pelo Brasil, que é o que o Pixinguinha conseguia fazer.
O ministro diz que vai criar um colegiado para gerenciar a Funarte. Isso pode dar certo? GRASSI: A Funarte já é um órgão colegiado em seu estatuto. As decisões têm que ser tomadas em colegiado, reunindo todos os diretores, com atas das reuniões. Para se reestruturar a Funarte de verdade, o órgão precisa estar à altura do que ela merece em relação ao investimento. A batalha da Funarte começa dentro do próprio MinC, por um orçamento maior.
O senhor continua envolvido com alguma atividade de gestão cultural?
GRASSI: Eu aceitei um convite do governo de Minas para fazer assessoria em programas especiais. Faço parte do comissariado mineiro do Ano da França no Brasil, em 2009. Estou, também, trabalhando na representação do governo de Minas no Rio, para divulgação de projetos. E estou criando para Minas uma bienal, focada em artistas com deficiência física, que é a extensão de um programa que fizemos na Funarte. Ah, e eu sou mineiro.
Tate Modern abre retrospectiva de Cildo Meireles, O Globo
Tate Modern abre retrospectiva de Cildo Meireles
Matéria originalmente publicada no Globo no dia 16 de outubro de 2008
Museu em Londres reúne obras emblemáticas do artista, como ´Desvio para o vermelho´ e ´Missão/Missões´
O artista plástico Cildo Meireles inaugurou anteontem uma retrospectiva na Tate Modern, em Londres, com obras pouco vistas por aqui, ainda que ele seja reconhecidamente um dos maiores nomes da arte nacional. A exposição faz um caminho pela trajetória de Cildo desde o fim dos anos 1960, momento em que ele se destacou como um artista conceitual, motivado pelas questões políticas brasileiras. E chega até 2004 através de 80 obras, mostrando que esse envolvimento político nunca foi panfletário, mas vinculado a questões formais, estéticas
Instalações antológicas não serão reunidas no Brasil
Com curadoria do espanhol Vicente Todoli, diretor da Tate, e co-curadoria do britânico Guy Brett, a mostra exibe algumas das instalações monumentais de Cildo, como “Desvio para o vermelho”, na qual um quarto e todos os seus objetos são pintados de vermelho, enquanto tinta e água vermelha escorrem de outros ambientes; e “Missão/Missões (como construir catedrais)”, em que cerca de dois mil ossos no teto se comunicam, por um fio de hóstias, a um tapete de 600 mil moedas. O trabalho se refere às missões dos jesuítas na América do Sul, que causaram a morte de milhares de índios.
Outras obras importantes de Cildo são exibidas, como “Eureka/Blindhotland”, adquirida pela própria Tate no ano passado, “Volátil”, “Fontes” e “Babel”, uma torre de aparelhos de rádio de modelos e tamanhos diversos, sintonizados ao mesmo tempo em diferentes estações. A Tate vai receber ainda, no próximo dia 25, uma versão de “Malhas da liberdade”. E Londres terá outra obra de Cildo, no Chelsea College of Art & Design, que a partir do dia 21 exibe “Ocasião”, inédita no Brasil. A mostra na Tate seguirá para Barcelona, Houston, Los Angeles e Toronto, mas é muito cara para ser realizada no Brasil. Em 2010, Cildo fará outra grande exposição, no Museu Reina Sofía, em Madri, fruto do Prêmio Velázquez de artes plásticas, recebido este ano.
Arte brasileira ocupa vários espaços londrinos
Seis nomes estrearam este mês
Além de Cildo Meireles, muitos outros artistas brasileiros expõem, neste momento, suas obras de arte em Londres. No dia 3 deste mês, foram inauguradas instalações de Rivane Neuenschwander na South London Gallery. O destaque é um site-specific chamado “Suspension point” que dividiu o salão principal da galeria em dois pisos e, num deles, criou um ambiente mágico que evoca montanhas, luas e chuva. Fica lá até 23 de novembro.
Desde o último sábado, a instalação “Drive thru #1”, de Matheus Rocha Pitta, está em exibição na Sprovieri Gallery. Nela, o artista se apropria de uma paisagem e a movimenta fazendo com que um carro parado atravesse uma fronteira. No mesmo dia, ocorreu a vernissage do carioca Marcos Chaves na Butcher’s, marcando sua estréia na capital inglesa. Ele apresenta o vídeo “Laughing mask”, em que sua cabeça flutua numa tela negra usando uma máscara que cobre sua boca. O vídeo fica exposto 24 horas por dia, durante os sete dias da semana, visível para quem passa na rua.
Ontem, a embaixada do Brasil em Londres inaugurou a coletiva “Landscapes in perspective”, na Gallery 32, reunindo trabalhos dos brasileiros Fabiano Marques, Fernanda Chieco e Victor Lema Riqué e dos britânicos Matt Lewis e duo FrenchMottershead. Esses artistas participaram (ou estão participando) do Artist Links, programa residência artística do British Council entre Brasil e Inglaterra.
Projeto Acervo vende pacote de obras de arte sem o intermédio de galerias, por Suzana Velasco, O Globo
Projeto Acervo vende pacote de obras de arte sem o intermédio de galerias
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Globo do dia 17 de outubro de 2008
Criador da série, Leonardo Videla diz que deseja estimular a circulação extra-oficial
Desafiando a consolidação das galerias de arte como o intermediário entre artistas e colecionadores, Leonardo Videla decidiu reunir dez artistas, incluindo o próprio, para venderem, juntos, uma obra de arte de cada um. Exposto por um fim de semana, o pacote seria vendido previamente a um colecionador por R$ 5 mil, divididos igualmente entre os artistas. No início do ano, a idéia se transformou no Projeto Acervo, que chega à sua quinta edição com uma exposição de hoje a domingo, no Espaço Bananeiras, em Santa Teresa, com obras de Arjan Martins, Ricardo Ventura, Pedro Meyer e Bianca Tomaselli, entre outros.
- Existe uma insatisfação no ar entre os artistas. Há muita coisa boa acontecendo que não está sendo mostrada pelo circuito oficial - diz Videla. - O mais importante é o trabalho circular e se relacionar com outros. A insatisfação começou pelo próprio Videla, em relação à representação que algumas galerias fizeram de sua obra. O projeto reúne artistas que são representados por galerias, ainda que muitos não tenham exclusividade, o que facilita a venda fora do espaço oficial.
- Tirando alguns artistas muito reconhecidos, o compromisso da galeria é zero no desenvolvimento dos trabalhos. Para a maior parte, o mecanismo é muito cruel - dispara ele, que questiona o percentual de 50% que elas recebem sobre as vendas. O projeto reúne artistas que vêem na iniciativa uma forma de democratização das coleções de arte. Para Ricardo Basbaum, que já participou de três edições, um dos aspectos mais atraentes é o fato de o colecionador - geralmente alguém que não teria dinheiro para comprar em galerias - adquirir as obras sem vê-las previamente, apostando na produção dos artistas. - Acho totalmente equivocado o colecionador que fica escolhendo porque gosta disso ou daquilo. O papel dele é estimular a produção do artista, confiar que ele vai produzir um trabalho importante de ser arquivado ou protegido numa coleção - afirma Basbaum.
- O projeto é um estímulo a formar novos colecionadores, que, se tiverem mais interesse, vão procurar uma galeria depois. Por isso não acho que haja um conflito. O Projeto Acervo é uma pequena plataforma de ação de um artista, não dá a chance de o comprador conhecer um período de produção. Isso é papel da galeria. Basbaum é representado pela galeria A Gentil Carioca, a mesma de Alexandre Vogler, Guga Ferraz e Simone Michelin, que já participaram do projeto ou participam desta edição. Com um perfil mais aberto, a galeria costuma fazer parcerias com outros projetos e instituições, e um de seus sócios, Márcio Botner, vai participar do próximo Acervo, previsto para novembro.
Também artista, ele vai incluir uma das obras que cria com Pedro Agilson, na dupla Botner e Pedro. - Quando participa de um projeto, o artista agrega um valor de cultura à obra dele e, conseqüentemente, será mais valorizado, filosófica e economicamente - afirma Botner, que aposta na galeria como um meio de estímulo à produção e ao pensamento de um artista. - É um casamento. Você divide a produção das exposições, das obras, e também na hora da venda.
Galeristas não se vêem como simples comerciantes
Basbaum, entretanto, acredita que a divisão deveria, pelo menos simbolicamente, ser de 51% para o artista e 49% para a galeria. Para a maior parte dos galeristas, a conta não é tão simples assim. Silvia Cintra, da galeria de mesmo nome, e Ricardo Rêgo, da Lurixs, destacam a tal relação de casamento entre galerista e artista, que tornaria reducionista a visão de que 50% é muito para o primeiro. Eles lembram que a galeria arca não apenas com custos fixos - espaço, salários, contas, equipamento e IPTU -, mas também com um investimento direto na carreira dos artistas, levando-os a feiras e aos colecionadores, além dos prejuízos com apostas que não emplacam e exposições que não vendem. Para Silvia, é uma união solidificada, que não sofre ameaças.
- Minha galeria tem uma parceria fortíssima com os artistas, um acredita no trabalho do outro. Duvido que algum participasse de um projeto desses - afirma ela. - Mas o mercado está tão saturado que as pessoas acabam tendo que criar outros meios. Aqui, toda a carreira dos artistas está sendo acompanhada, eles não precisam disso.
Ricardo Rêgo, que também é colecionador, não sabe se permitiria que um representado pela Lurixs entrasse no pacote dos “dez por R$ 5 mil”: - A princípio não sou contra nada, mas teria que ver o caso concreto para refletir a respeito. O artista precisaria ter um propósito muito bom.
A arte sai do museu, por Suzana Velasco, O Globo
A arte sai do museu
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Globo do dia 17 de outubro de 2008
Intervenções artísticas ocupam as ruas do Rio, criando novos espectadores
A previsão do tempo para os próximos 18 dias, no Centro do Rio, é de céu claro com nuvens. Quem passar pela Praça Quinze poderá inclusive, de dia e de noite, passear entre as nuvens. Quem as levou para lá foi o artista Eduardo Coimbra, que, convidado por Martha Pagy, idealizadora do projeto Série Light: Ilumina, montou uma estrutura monumental na praça, formada por cinco caixas de luz (4,7m x 4,7m x 48cm) que convidam o espectador a percorrê-las. Antes de o tempo mudar, o carioca terá outras surpresas pela cidade, nas ruas de Flamengo, Catete e Glória, que a partir do próximo dia 24 receberão os dez trabalhos de arte pública vencedores do prêmio Interferências Urbanas, criado por Roberta de Alencastro.
A vocação do Rio para a vida nas ruas é a motivação de ambos os projetos, que buscam levar a arte para fora de museus e galerias, aproximando-a, democraticamente, de quem está e quem não está habituado a visitar exposições. A obra “Nuvem”, de Coimbra, é a primeira de uma série que Martha Pagy pretende que seja bienal, patrocinada pela Light. Ela se inspirou em projetos de outras cidades, como o Luci d’Artista, que, a partir de 1997, começou a chamar atenção para a arte contemporânea em Turim, na Itália, mobilizando a população e os empresários para a continuidade das intervenções públicas. - A idéia do projeto é trabalhar sempre com a luz como suporte e levar a arte para o espaço de convivência da rua.
Só o fato de estarmos lá, montando a obra, fez com que as pessoas parassem, tirassem fotos. Já se estabeleceu outra relação com a rua. É importante essa capacidade de provocar e transformar o olhar de quem está passando - diz Martha. - O Eduardo Coimbra está levando para a praça um céu que às vezes nem é olhado no espaço urbano. E de repente ele está ali, você tropeça nele. O artista passou uma semana montando a instalação, que pode ser vista pelos carros que passam pela Rua Primeiro de Março ou do alto, pelos que trafegam na Avenida Perimetral. Todos esses ângulos de visão foram pensados na montagem, que deixou um espaço de cerca de dois metros entre cada caixa de luz, para que os pedestres possam circular, sem que se perca a unidade entre as estruturas.
No alto e dos lados, a espessura das caixas é coberta por espelhos. À medida em que o dia escurece, a luz progressivamente intensifica a imagem das nuvens. - São só nuvens, espelho e luz, a idéia é tirar a materialidade. Só que cada caixa pesa uns 300 quilos - brinca Coimbra, que inaugurou a instalação ontem. - A escala é monumental para dar conta do espaço, para que a obra não seja um simples adereço. Gosto de ir ao encontro do espectador do cotidiano, do cara que está saindo da barca contando dinheiro e se depara com essas nuvens. A obra circula, não é para meia dúzia de pessoas.
Pijama de Vargas na saída de ar do metrô
A mesma idéia de circulação permeia o Interferências Urbanas, que, realizado entre 1999 e 2002, volta este ano com dez propostas, selecionadas por Fernando Cocchiarale, Marisa Florido, Adolfo Montejo Navas, Agnaldo Farias e Marcelo Campo. Foram 286 inscritos em edital, e escolhidos, segundo Roberta de Alencastro, pela qualidade do projeto, sem condições relativas a idade ou currículo. Cada um recebeu R$ 8 mil da Oi para desenvolver suas obras. - No Rio, a gente come churrasco na rua, faz carnaval na rua. Quero levar também as artes visuais para o cotidiano, porque o carioca, o brasileiro, não freqüenta exposições, especialmente de arte contemporânea - diz Roberta, que, nas outras edições do projeto, em Santa Teresa, gostava de observar a reação dos espectadores. - O que mais me interessa é ouvir as conversas de quem passa, do povo que está indo para o trabalho ou encostado num botequim.
Os projetos selecionados, que ficarão nas ruas até 2 de novembro - dia em que “Nuvem” também se despede -, relacionam-se com a História da cidade, suas condições sociais e sua arquitetura. No Catete, no respiradouro do metrô em frente ao Museu da República, uma camisa de pijama gigante, semelhante à que Getúlio Vargas usava quando se suicidou, será inflada como um boneco de posto de gasolina. O trabalho “Getúlio é pop”, da dupla Lady Campello, leva para fora do museu parte da história que ele expõe, como o suicídio de Vargas.
- Queríamos trabalhar com um objeto institucional, que é essa camisa. Estamos levando-a para fora do museu. Muita gente nem sabe que ela está lá dentro - diz Leidiane de Carvalho, que criou o projeto com Clarissa Campello. O SoundSystem, de Franz Manata e Saulo Laudares, vai instalar, no Aterro do Flamengo, caixas de som com o ruído de pássaros, que será eventualmente interrompido por interferências na transmissão. Felipe Varanda fará projeções de imagens do Rio Carioca numa tela de 20m, suspensa a cinco metros de altura na Rua do Catete, das 20h30m às 23h30m. Também haverá performances, como a do Fuso Coletivo, que levará um artista de circo para fazer malabarismos na esquina da Rua do Catete com a Rua Dois de Dezembro, das 17h30m às 20h30m. Mas os números de malabares serão todos errados, e os motoristas dos carros parados no sinal receberão R$ 1. Serão apenas algumas das surpresas que a cidade terá nos próximos dias.
Cores para a comunidade
Holandeses interferem na Vila Cruzeiro
Na Vila Cruzeiro, a Rua Santa Helena é uma escadaria de concreto. Desde janeiro, ela vem se transformando no “Rio Cruzeiro”, nome que os artistas holandeses Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn, da dupla Haas & Hahn, deram para a pintura de dois mil metros quadrados que será inaugurada com festa amanhã, no Instituto Brasileiro de Inovações Saúde Social. Com recursos do governo holandês e de um leilão das próprias obras na Holanda, os dois pintaram o rio com a ajuda de três jovens da comunidade, que foram pagos pelo trabalho.
- Essa rua era a mais feia daqui e agora os moradores falam que é a mais bonita. É uma idéia de como tratar seu próprio ambiente, do que podemos fazer por nosso bairro - diz Koolhaas, que pretende seguir para o Haiti, para fazer pinturas e filmagens, sempre trabalhando com jovens locais. Em 2005, três anos após trabalhar na comunidade Monte Azul, em São Paulo, Koolhaas chegou ao Rio para fazer um documentário sobre hip hop nas favelas. No ano seguinte, criou sua primeira pintura na Vila Cruzeiro, de um menino soltando pipa, e voltou este ano, com Urhahn, para continuar o projeto “Favela painting”. - A Vila sempre aparece no jornal em notícias ruins, de tiroteio, seqüestro, e agora todos estão muitos orgulhosos dela - afirma Koolhaas, que está morando no local e já vivenciou muitos conflitos entre traficantes e policiais. - Os tiroteios às vezes duram cinco, seis horas. A primeira pintura está cheia de balas. O garoto com pipa já morreu.
outubro 15, 2008
Petrobras Cultural lança edital com verba de R$ 42,3 milhões, por André Miranda, O Globo
Petrobras Cultural lança edital com verba de R$ 42,3 milhões
Matéria de André Miranda, originalmente publicada no Globo no dia 15 de outubro de 2008
Presente à cerimônia, o ministro Juca Ferreira admite que Cultura pode sofrer cortes com a crise econômica
Numa cerimônia em que o tema da crise econômica mundial pairou no ar, foram apresentadas ontem pela manhã as novas diretrizes do Programa Petrobras Cultural (PPC), maior edital de patrocínio de uma empresa a projetos culturais do país. As inscrições para o programa estão abertas a partir de hoje para as áreas de produção e difusão em audiovisual, artes cênicas, música, literatura e cultura digital, com um orçamento de R$ 42,3 milhões. No evento, a Petrobras anunciou, ainda, uma verba suplementar de pelo menos R$ 40 milhões, que serão destinadas a um pacote de projetos selecionados pelo Ministério da Cultura (MinC).
Para longas, aprovação prévia na Lei será exigência
A partir de agora, o PPC será dividido em dois editais, um aberto em outubro (produção e difusão) e outro em maio (patrimônio e formação). A maior mudança para esta edição é um acordo firmado entre a Petrobras e o MinC que cria uma nova etapa do processo de análise e seleção, em que os projetos finalistas serão avaliados para aprovação na Lei Rouanet, antes de serem anunciados os vencedores. A única exceção será no caso dos projetos de longa-metragem, para os quais o PPC vai exigir a aprovação na Lei do Audiovisual no momento da inscrição.
Outras novidades são os apoios específicos para festivais de música (R$ 2 milhões) e para projetos de cultura digital (R$ 2 milhões). A maior parcela desta fase do PPC ainda ficará com propostas de audiovisual (R$ 26,6 milhões), com a produção de longas-metragens em 35mm (R$ 13 milhões) à frente. Já os projetos de artes cênicas terão R$ 7,3 milhões; os de música, R$ 5,6 milhões; e os de literatura, R$ 810 mil.
Apresentada pela atriz Marieta Severo, a cerimônia de anúncio do PPC foi realizada no Museu de Arte Moderna, no Rio, e contou com as presenças do ministro da Cultura, Juca Ferreira, do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabriel li, e do gerente executivo de Comunicação Institucional da empresa, Wilson Santa Rosa. Gabrielli fez questão de ressaltar que o apoio ao PPC não pode ser afetado pela conjuntura econômica. Já Ferreira admitiu que a crise pode gerar cortes na cultura.
- É possível que, em algum momento, o estado brasileiro tenha que reduzir os gastos, e isso pode chegar à área cultural. Talvez tenhamos que nos adequar a essas condições de turbulência. Mas o presidente Lula já disse que quer poupar a área social, o que inclui a cultura. Então, acredito que seremos pouco afetados - disse Ferreira.
Coube, então, a Santa Rosa anunciar o investimento extra que a Petrobras fará em cultura, também citando a crise econômica mundial. - Muito embora a banca do cassino financeiro mundial tenha quebrado, o resultado da Petrobras é muito bom. Então vamos apoiar um novo pacote do MinC, com cerca de R$ 40 milhões, podendo ser mais, dependendo do resultado da empresa até o fim do ano - disse. Segundo Ferreira, o destino dessa verba será avaliado pelo MinC e deve ser anunciado em até três semana.
Zulu Araújo na Funarte
Solução definitiva sai em 20 dias
Após a cerimônia de lançamento do Programa Petrobras Cultural (PPC), o ministro da Cultura, Juca Ferreira, aproveitou para tratar do futuro da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Com o pedido de demissão de Celso Frateschi na semana passada, a Funarte será dirigida interinamente, durante 20 dias, pelo arquiteto e produtor cultural Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares. Araújo acumulará os dois cargos neste período, mas a idéia do MinC é criar um colegiado para presidir o órgão.
- A gente vai esperar passar a turbulência antes de tomar qualquer decisão e poder fazer a transição com calma. Ainda não há nada definido - disse Ferreira. - Paralelamente a isso, estamos trabalhando para desobstruir as aprovações de projetos da Lei Rouanet. Vamos investir em tecnologia para que possamos sair desta dificuldade em atender a demanda pela lei. A crise na Funarte estourou com o pedido de demissão do ator e diretor teatral Celso Frateschi do cargo de presidente. A demissão ocorreu dois dias depois de o GLOBO mostrar como um projeto do grupo de teatro Ágora, fundado por Frateschi, foi aprovado em tempo recorde para captar patrocínio pela Lei Rouanet.
outubro 14, 2008
Zero informação: imprensa brasileira ignora obra de Cildo Meireles
A notícia de que a artista norte-americana Laura Gilbert havia distribuído 10 mil cédulas de 'zero dólar' em frente à Bolsa de Nova Iorque na última terça-feira, dia 7 de outubro, rendeu várias chamadas na imprensa brasileira e internacional. Gilbert, que tinha a intenção de realizar um protesto à volatilidade do sistema financeiro em plena crise econômica global, estava, simplesmente, reproduzindo o gesto de Cildo Meireles: há trinta e um anos atrás, o artista brasileiro fez uma crítica incisiva ao poder da moeda, de suas instituições reguladoras e de seu estatuto no imaginário coletivo ao criar o 'Zero Cruzeiro' e o 'Zero Dólar'. Na leitura de Paulo Herkenhoff, "como obra de arte mercantilizável, a família monetária de Cildo Meireles porta uma ironia corrosiva sobre os agentes do mercado. Cildo Meireles materializa a idéia de imensurável do valor simbólico".
Seguem abaixo alguns exemplos de como a "criação" de Laura Gilbert foi saudada em matérias que nada falam sobre Cildo Meireles e sua trajetória, que ganha agora retrospectiva na Tate Modern, em Londres.
A artista plástica Laura Gilbert imprimiu e distribuiu 10 mil cópias da gravura "Dólar Zero" em frente à bolsa de Nova York, em um protesto contra a crise econômica dos EUA. Segundo ela, a idéia é chamar a atenção para o fato de a moeda ter enfraquecido.
A artista americana Laura Gilbert criou 10.000 notas falsas de "zero dólar". Ontem (7/10), ela distribuiu cópias em frente à Bolsa de Valores de Nova York. Segundo a artista, a obra trata do "papel destrutivo de várias instituições financeiras, e do declínio da moeda americana a ponto de parecer que não vale nada". Mas, se o dólar não vale nada, quanto vale o real?
Artista distribui notas de 'zero dólar' em protesto contra crise em Wall Street
Notas de mentira foram doadas ao público em frente à bolsa de Nova York. Segundo autora, objetivo é chamar atenção para perda de valor da moeda. A obra tenta chamar a atenção para o "papel destrutivo" de muitas instituições financeiras, para a inflação e para o fato de a moeda dos EUA ter enfraquecido até o ponto de parecer sem valor.
Artista protesta contra crise com nota de "zero dólar"
A pintora Laura Gilbert imprimiu notas de "zero dólar" e as levou para a frente do prédio da bolsa de valores de Nova York nesta terça-feira para protestar contra a crise econômica que atinge os Estados Unidos.
A artista distribuiu 10 mil das notas falsas, que tinham zeros impressos ao invés de um, a quem passava pelo local.
Gilbert explicou que o trabalho foi feito para chamar a atenção para "o papel destrutivo de muitas instituições financeiras, da inflação e do declínio da moeda dos EUA até o ponto dela parecer sem valor".
Exceção: Luciano Trigo em seu blog no Portal G1
A artista plástica americana Laura Gilbert criou a obra Zero Dollar para protestar contra a crise econômica e chamar a atenção para o “papel destrutivo” do sistema financeiro. Mas podia ter sido mais original. Em 1977, Cildo Meirelles teve uma idéia idêntica, em duas versões: Zero Cruzeiro e Zero Dólar. Como o jornal The New York Times deu destaque para Gilbert, daqui a pouco as 10 mil cópias assinadas da gravura vão valer uma grana. Cildo devia cobrar direitos autorais… em dólar!
outubro 13, 2008
Zulu Araújo assume a Funarte e promete diálogo com servidores, por Miguel Arcanjo Prado, Folha Online
Zulu Araújo assume a Funarte e promete diálogo com servidores
Matéria de Miguel Arcanjo Prado, originalmente publicada na Folha Online, no dia 9 de outubro de 2008
Foi publicada nesta quinta-feira (9), no Diário Oficial da União, a nomeação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, como presidente interino da Fundação Nacional de Arte (Funarte). Os dois órgãos são ligados ao Ministério da Cultura (MinC).
Presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo assume a Funarte.
O novo presidente esteve nesta quinta na sede do órgão federal no Rio e conversou com os funcionários, para se inteirar da atual situação da Funarte.
Em entrevista à Folha Online, por telefone, Araújo disse que quer reestabelecer o diálogo com servidores do órgão. "Minha mensagem para os funcionários da Funarte é que vou reestabelecer o diálogo com todos os setores: dirigentes, técnicos e servidores, além da representação dos servidores."
Araújo ocupa a vaga deixada por Celso Frateschi, que renunciou ao cargo após a denúncia feita pelo jornal "O Globo" de que ele teria favorecido a companhia teatral Ágora, grupo do qual foi fundador e que é dirigido por sua mulher, a cenógrafa Sylvia Moreira, e pelo diretor Roberto Lage.
Funcionários da Funarte comemoraram a saída de Frateschi com festa com direito a bolo e refrigerante. Apesar desse clima recente de hostilidade, os servidores receberam bem o presidente interino, que chegou com um discurso pacificador.
"Do mesmo modo que o ministro da Cultura Juca Ferreira disse quando ocupou a vaga deixada pelo ministro Gilberto Gil, eu pretendo ouvir, ouvir e ouvir", declarou Araújo.
"Os funcionários me procuraram hoje para se colocar à disposição. Todos me receberam muito bem. Quero fazer uma direção colegiada, como faço na Fundação Cultural Palmares, com a participação de todos, sem abrir mão de minhas responsabilidades."
Araújo afirmou que ficará à frente da Funarte "enquanto for necessário" e previu sua permanência no órgão por cerca de 30 dias, "até o ministro [Juca Ferreira] escolher um titular que contemple todas as propostas da administração do MinC e tenha legitimidade junto à classe artística". Ele disse que não acredita que será esse nome. "Estou muito bem na presidência da Palmares e ainda tenho uma missão a cumprir lá", declarou.
A assessoria da Fundação Cultural Palmares informou à Folha Online que, por enquanto, Araújo não deixa o órgão e acumula as duas funções.
Quem é Zulu Araújo
Baiano formado em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, Edvaldo Mendes Araújo, conhecido por Zulu Araújo, tem 55 anos e acumulou experiência na gestão de programas culturais voltados aos negros.
Entre outros cargos, foi conselheiro do Olodum e assessor especial da Secretaria de Cultura da Bahia. Ele foi responsável pelas atividades de comemoração dos 300 anos de Zumbi, em 1995. Ele assumiu a presidência da Fundação Cultural Palmares em março de 2007, órgão do qual já fazia parte da diretoria desde 2003.
outubro 8, 2008
Museus dentro da lei, por Jotabê Medeiros, Estadão
Museus dentro da lei
Estatuto que regulamenta instituições é objeto de embate no Senado; governo de São Paulo, insatisfeito, tenta mudar legislação e Iphan vê 'interesse pequeno'
Matéria de Jotabê Medeiros, publicada originalmente no Estadão no dia 8 de outubro de 2008
Fervilha de novidade e controvérsia a área de museus. Teria lugar ontem de manhã, no Senado Federal, reunião definitiva para a aprovação do Estatuto dos Museus (que prevê a criação de mecanismos de fomento, regras de segurança e a declaração de que determinados acervos nacionais são de interesse público). Mas, ao meio-dia, por conta de discordâncias ferrenhas entre governo federal e governo paulista, a decisão foi protelada. O tema, que seria debatido na Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal, foi retirado de pauta por conta da ausência da relatora, senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Um grupo de senadores oposicionistas resolveu convocar uma audiência pública para novembro, para reiniciar o debate.
Outras novidades que esquentam o setor: a iminente criação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), nova instituição a partir da qual será gerido o Sistema Brasileiro de Museus - atualmente, o setor é atendido por um departamento do Iphan. E os museólogos também comemoram a aprovação, no último dia 1º, da lei que regulamenta o ofício de Conservador e Restaurador de arte, fundamental para a profissionalização de uma das principais peças do setor.
Mas é bom conter a euforia, ao menos por enquanto. Embora debatido por museólogos, curadores e gestores de cultura de todo o País durante anos, engrossado por mais de 200 contribuições de especialistas e, finalmente, aprovado pela Câmara dos Deputados (que abraçou o projeto como seu), o recém-nascido Estatuto dos Museus - peça-chave de todas as mudanças - não conseguiu ainda unanimidade.
O governo de São Paulo enviou ontem um emissário especial a Brasília para cobrar mudanças imediatas no texto, o secretário-adjunto de Cultura, Ronaldo Bianchi. Ele quer alterar o artigo 20 da lei - acredita que determinada interpretação do estatuto significa mexer na autonomia dos Estados em relação aos seus museus e que o direito federativo não está sendo respeitado.
"Pedimos só duas coisas: a garantia de que Estados e municípios possam, por livre arbítrio, administrar seus museus", disse ontem o secretário-adjunto Ronaldo Bianchi, que está amparado em três estudos jurídicos. Ele também discorda do fato de que, pelo estatuto, as Sociedades de Amigos dos museus, que os administram, não vão mais poder remunerar seus diretores.
O governo federal discorda veementemente da tentativa do governo paulista de vetar o artigo. "Se mexer demais no texto, ele volta para a Câmara", explicou José do Nascimento Jr, diretor de Museus do Iphan. Nascimento diz que as discordâncias do governo paulista em relação ao Estatuto dos Museus têm relação com "apenas três das 2.588 instituições de todo o País", e que a argumentação de Bianchi é uma "falsa polêmica".
De acordo com Nascimento, remunerar diretores de Associações de Amigos "desvirtua o espírito que essa instituição adquiriu no mundo todo", já que é uma associação sem fins lucrativos e portanto não deveria pagar seus diretores. É o que reza o Código Civil. Diz também que a demanda do governo de São Paulo só visa preservar benefícios de três dos seus museus - pelo fato de que são geridos como Organizações Sociais (OS).
O projeto que cria o Estatuto dos Museus não prevê adesão compulsória ao sistema. Ninguém é obrigado a integrá-lo. Mas o fato é que, sem a adesão, os museus também não poderão pleitear recursos de incentivos fiscais federais. Só a Pinacoteca de São Paulo, por exemplo, pediu R$ 12 milhões este ano.
Nascimento acha que é um raciocínio egoísta o do governo de São Paulo, que busca manter seus museus com verbas federais, mas não quer submetê-los a regras comuns. Já Ronaldo Bianchi compara o raciocínio à pena de morte. "Sou contra a pena de morte por um motivo: porque, se ela matar um inocente, já não terá valido a pena." Ou seja: se um único museu for prejudicado, já será suficiente para rejeitar a legislação. "O Estatuto nasce anacrônico, tem de ser modernizado."
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), integrante da Comissão de Educação e Cultura do Senado, busca uma posição conciliatória em relação à lei. "Nós todos somos favoráveis ao projeto em si; são apenas pontos do projeto que dão margem a interpretações", ponderou. Segundo Azeredo, "é verdade" que a maior restrição vem do governo de São Paulo e ele crê que já é possível aprovar o texto do jeito que está. "O pessoal de Minas Gerais acha que já se avançou muito. Talvez somente precise de algum aprimoramento futuro."
O Estatuto impõe regras disciplinadoras para todos os museus, que a lei define como instituições sem fins lucrativos que mantêm ou expõem "conjuntos ou coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento". Essas instituições deverão "dispor das condições de segurança indispensáveis para garantir a proteção e a integridade dos bens culturais sob sua guarda, bem como dos usuários, dos respectivos funcionários e das instalações."
Os museus terão cinco anos para se adaptar ao Estatuto. A partir daí, as instituições que não cuidarem adequadamente de seu acervo sofrerão sanções. Entre elas estão as que, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), operam como figura jurídica privada. Se não cumprirem as obrigações estabelecidas, elas poderão ser punidas com multas, corte de repasse de recursos públicos e até suspensão de atividades.
Frases
"Esse Estatuto já nasce anacrônico e tem de ser modernizado. Se uma única instituição for prejudicada, já é o suficiente para não ter valido a pena"
RONALDO BIANCHI
SECRETÁRIO-ADJUNTO DE CULTURA DE SÃO PAULO
"Se mexer demais no texto, ele volta para a Câmara. Estão blindando apenas três das 2.588 instituições do País. A argumentação do Bianchi é falsa polêmica"
JOSÉ DO NASCIMENTO JR,
DIRETOR DE MUSEUS DO IPHAN
outubro 7, 2008
Celso Frateschi deixa presidência da Funarte, por Caio Jobim, Folha Online
Celso Frateschi deixa presidência da Funarte
Matéria de Caio Jobim, publicada originalmente na Folha Online no dia 7 de outubro de 2008
O ator Celso Frateschi renunciou à presidência da Funarte, ontem, em carta enviada ao ministro da Cultura, Juca Ferreira. Ele deixou o cargo -- que ocupou desde o início do segundo mandato de Lula, em 2007 -- dois dias depois de "O Globo" publicar reportagem sobre suposto favorecimento seu à Ágora, companhia de teatro que fundou e cuja coordenação está a cargo de sua mulher, a cenógrafa Sylvia Moreira, e do diretor Roberto Lage.
Também no sábado, a Associação de Funcionários da Funarte (Asserte) divulgou carta enviada a Juca Ferreira acusando a gestão de Frateschi de ser "autoritária" e de criar um "clima de intimidação e desrespeito para com os servidores".
"No momento em que se caracterizou uma série de eventos [a reportagem e a carta], e você sabe que em política não existe coincidência, então você percebe que estão armando, e eu, sinceramente, não estou aqui para disputar cargos, não é a minha praia", disse Frateschi à Folha, justificando seu pedido de demissão.
Secretário de Cultura de São Paulo na gestão de Marta Suplicy (2001-2004) e irmão do presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Paulo Frateschi, ele afirmou ainda ter acabado com "uma indústria de favorecimento" que funcionava dentro do órgão.
Ele disse que procurou descentralizar as ações do órgão tirando-as do eixo Rio-São Paulo, o que teria provocado insatisfação entre os servidores. "Nós mudamos a questão da territorialização, e hoje todos os Estados têm prêmios da Funarte. Não adianta a gente usar os projetos da Funarte e reproduzir a lógica da Lei Rouanet, onde 80% é de Rio e São Paulo", disse Frateschi.
Enviado à Funarte para ser submetido a parecer técnico em 30 de novembro de 2007, o projeto do grupo Ágora batizado "Machadianas 2", adaptação de contos de Machado de Assis para o teatro, foi aprovado pelos técnicos da entidade no dia 6 de dezembro.
Vinte dias depois, obteve junto ao MinC a autorização para captação de recursos. A tramitação foi extremamente rápida, de acordo com profissionais da classe teatral, ainda mais porque em 2007 houve uma greve dos servidores do MinC que durou 73 dias, contribuindo para o acúmulo de projetos a serem avaliados.
Frateschi argumenta que o ministério e a Funarte fizeram um "acordo de excepcionalidade" para analisar projetos cujos produtores já apresentassem cartas de intenções de patrocinadores manifestando interesse em apoiar a sua realização. Frateschi apresentou à Folha um e-mail da Petrobras como prova de que era o caso do espetáculo da Ágora.
Ontem mesmo, funcionários da Funarte comemoravam a saída de Frateschi em frente ao Palácio Gustavo Capanema, sede da fundação. "Foi a pior gestão que a Funarte já teve, na qual houve assédio moral aos funcionários e foram destruídos programas que deram certo", afirmou Paula Nogueira, presidente da Asserte, que negou qualquer "indústria de favorecimento" por parte dos servidores.
outubro 6, 2008
Presidente da Funarte, Celso Frateschi pede demissão, O Globo
Presidente da Funarte, Celso Frateschi pede demissão, O Globo
Matéria originalmente publicada no Globo Online no dia 6 de outubro de 2008
O ator e diretor teatral Celso Frateschi acaba de pedir demissão do cargo de presidente da Funarte. Frateschi estava na função desde o início de 2007, quando foi convidado pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil, para substituir Antonio Grassi. O pedido de demissão ocorre dois dias depois de O GLOBO ter publicado uma reportagem mostrando que o grupo de teatro Ágora, fundado por Frateschi, recebeu tratamento diferenciado na aprovação de um projeto na Lei Rouanet.
Ainda não há informações sobre quem vai substituir Frateschi.
Os servidores da Funarte enviaram no fim da semana passada um manifesto ao Ministro da Cultura Juca Ferreira, pedindo mudanças na direção do órgão. A carta foi votada numa assembléia geral realizada em 23 de setembro e chama a situação da Funarte de "caótica".
Segundo o texto, "a atual gestão tem-se mostrado extremamente autoritária, criando um clima de intimidação e desrespeito para com os servidores". O manifesto lembra, ainda, que a Funarte, presidida pelo ator e diretor teatral Celso Frateschi, exonerou 20 servidores de cargos comissionados. "A Funarte está praticamente reduzida à condição de mera repassadora de verbas, tentando conceder prêmios e bolsas por meio de editais mal elaborados", diz a carta.
No último sábado, reportagem do Segundo Caderno, do GLOBO, mostrou que um projeto do grupo teatral Ágora, fundado por Frateschi, foi avaliado em tempo recorde, pela própria Funarte, a fim de conseguir sua aprovação na Lei Roaunet.
Servidores pedem troca na direção da Funarte, O Globo
Servidores pedem troca na direção da Funarte
Matéria originalmente publicada em O Globo, no dia 6 de outubro de 2008
Manifesto enviado para o ministro da Cultura sugere a saída do presidente Celso Frateschi
Os servidores da Funarte enviaram, no fim da semana passada, um manifesto ao ministro da Cultura, Juca Ferreira, pedindo mudanças na direção do órgão. A carta foi votada numa assembléia geral realizada em 23 de setembro e chama a situação da Funarte de “caótica”.
Segundo o texto, “a atual gestão tem-se mostrado extremamente autoritária, criando um clima de intimidação e desrespeito para com os servidores”. O manifesto lembra, ainda, que a Funarte, presidida pelo ator e diretor teatral Celso Frateschi, exonerou 20 servidores de cargos comissionados.
“A Funarte está praticamente reduzida à condição de mera repassadora de verbas, tentando conceder prêmios e bolsas por meio de editais mal elaborados”, diz a carta.
Além da carta, os servidores prometem, para amanhã, uma manifestação na porta do Teatro Municipal, quando o ministro Juca Ferreira e o presidente Lula estarão no Rio, para a solenidade de condecoração da Ordem do Mérito Cultural. No último sábado, reportagem do Segundo Caderno, do GLOBO, mostrou que um projeto do grupo teatral Ágora, fundado por Frateschi, foi avaliado em tempo recorde, pela própria Funarte, a fim de conseguir sua aprovação na Lei Roaunet.
Parecer recorde, por André Miranda, O Globo
Parecer recorde
Matéria de André Miranda, originalmente publicada em O Globo, no dia 4 de outubro de 2008
Projeto de grupo teatral ligado ao presidente da Funarte recebe tratamento diferenciado na aprovação da Lei Rouanet
Em 30 de novembro de 2007, um projeto de um grupo de teatro foi enviado para parecer técnico da Funarte, a fim de conseguir sua aprovação na Lei Rouanet. Três dias depois, o gabinete da mesma Funarte pediu urgência para a análise do projeto, e, no dia 6 de dezembro, uma resposta favorável foi concedida. O tempo é considerado recorde, numa instituição em que pareceres técnicos, sobretudo no conturbado ano de 2007, demoram dois, cinco ou até 13 meses para sair. O projeto, inscrito na Funarte com o número 07-10101, era o do plano anual de atividades do Ágora, grupo de teatro fundado pelo próprio presidente da Funarte, Celso Frateschi, e atualmente coordenado por sua mulher, a cenógrafa Sylvia Moreira, e pelo diretor Roberto Lage.
O projeto do Ágora foi inscrito na representação regional do Ministério da Cultura (MinC) em São Paulo em 26 de outubro de 2007, com um pedido de patrocínio de cerca de R$ 1,3 milhão. Dali, depois de todos os procedimentos burocráticos para sua aprovação na Lei, o projeto foi autorizado a captar recursos em 26 de dezembro do mesmo ano, numa tramitação que levou apenas dois meses. O período é apontado pela classe teatral como o mais difícil para a aprovação de projetos, devido à greve de 73 dias dos servidores do MinC e do acúmulo de trabalho para os pareceristas — em dezembro de 2007, o corpo de pareceristas da Funarte contava com apenas sete técnicos externos e quatro servidores.
— Artistas do peso da Fernanda Montenegro e do Sergio Britto estão há quase um ano esperando a aprovação de um projeto. Mas o Celso Frateschi conseguiu aprovar a captação em dois meses. Ele deve ser uma pessoa muito bem relacionada. A classe teatral só fala nisso — afirma o diretor Flávio Marinho.
Enquanto tentava aprovar a proposta da montagem “Além do arcoíris”, Marinho conta que acabou perdendo o patrocinador, que destinou sua verba a outro projeto. O monólogo escrito por ele para a atriz Luciana Braga recebeu a autorização para captar recursos no dia 22 de setembro deste ano, 13 meses depois da entrada do projeto no setor de análise técnica da Funarte. Também em 2007, o grupo Armazém inscreveu o projeto de manutenção de sua companhia na Lei Rouanet. A proposta chegou ao setor de análise técnica da Funarte em 23 de novembro de 2007, mas o parecer só foi emitido no dia 10 de abril de 2008, quando a produtora foi finalmente informada sobre a pendência de uma certidão, sem a qual o projeto não seria aprovado.
— Esse limbo em que ficamos é extremamente desgastante. Passa-se muito tempo até chegar o retorno sobre o projeto. Depois disso, já mandei a documentação várias vezes. O tempo passou, e o grupo deixou de receber um patrocínio da Petrobras, que já estava garantido. Tentaremos fazer as correções pedidas novamente e reaproveitar o projeto para 2009, mas é sempre uma interrogação — queixase Simone Mazzer, atriz e produtora do Armazém. Já em 14 de janeiro de 2008, um projeto proposto pelo grupo paulista Teatro da Vertigem, para a montagem de seu espetáculo “BR-3”, chegou à Funarte para análise técnica. O parecer só ficou pronto e foi encaminhado para o Minc em 19 de junho.
— Até hoje, o projeto não foi aprovado. Tenho outras propostas com outros grupos de teatro na mesma situação. A demora e a burocracia são enormes. A Funarte diz que a greve do ano passado causou o acúmulo, mas o trabalho do órgão sempre foi muito lento. Neste ano, porém, houve duas melhoras: passamos a receber o número do processo do projeto em 48 horas; e também foi criada uma portaria que agiliza a prorrogação de projetos aprovado sem outros anos — conta Henrique Mariano, produtor do Vertigem.
No caso do Ágora, o projeto aprova dono fim de 2007 foi captado meses depois. O patrocínio veio de forma direta, sem a necessidade de edital, pela Petrobras, num contrato assinado em 4 de março de 2008. De acordo com a empresa de controle estatal, foram destinados R$ 300 mil para uma temporada, a preços populares, de cinco espetáculos do projeto Machadianas II, que transpôs para o palco contos de Machado de Assis.
— As regras deveriam ser iguais para todo mundo. Não pode ter uma regra exclusiva para um representante do MinC. É triste saber que, enquanto nós estamos penando com projetos, um colega que está temporariamente num cargo público tem um privilégio desses. É porque ele é presidente da Funarte? Se o projeto do Ágora foi aprovado em dois meses, eu quero que todos os produtores tenham seus projetos aprovados em dois meses. E ainda recebeu patrocínio da Petrobras sem edital. Os critérios têm que ser transparentes — diz o produtor teatral Eduardo Barata. A Petrobras informa, porém, que outros grupos importantes do país, como o Galpão, o Corpo e a Intrépida Trupe, também recebem verbas diretas da empresa, sem a necessidade de edital. No caso do Ágora, isso ocorreu em outras duas ocasiões: R$ 393 mil em 2006 e R$ 606 mil em 2007
´Não houve conflito de interesses´
Frateschi diz que outros projetos também foram adiantados
Celso Frateschi garante que o grupo de teatro Ágora não se beneficiou com o fato de ele ser presidente da Funarte. Ator e diretor teatral, Frateschi assumiu o cargo no início de 2007, em substituição a Antônio Grassi. Antes, suas principais experiências em cargos públicos haviam sido como secretário de Cultura das prefeituras de Marta Suplicy, em São Paulo, e de Celso Daniel, em Santo André. Em setembro, ele aproveitou suas férias na Funarte para dirigir pelo grupo Ágora a peça “ Tio Vânia” , de Anton Tchekhov.
— Eu nunca ganhei nada com o Ágora. Ele é uma entidade de pesquisa, sem fins lucrativos. Nem sequer salário tem lá — diz. — O projeto do Ágora não passou a frente de ninguém. Não houve conflito de interesses. O que ocorreu foi um atraso enorme nas aprovações e, por isso, vários projetos foram adiantados. Em dezembro de 2007, mais de 500 projetos foram aprovados para se tentar diminuir o estrago dos atrasos.
Como exemplo, Frateschi cita o projeto da peça “Hamlet”, em cartaz em São Paulo, que foi inscrita no Ministério da Cultura em 5 de novembro de 2007 e aprovada em 26 de dezembro. O presidente da Funarte afirma que, naquele período, recebeu dúzias de pedidos para agilizar processos por conta de garantia de patrocínios. — O Ágora tinha uma garantia da Petrobras, já que fomos patrocinados em outros anos. Por isso ele foi incluído entre os projetos aprovados com rapidez. A relação entre a Petrobras e o Ágora precede minha atuação na Funarte — diz. A Petrobras, porém, informa que só avisou ao Ágora que havia interesse de patrocínio em 11 de dezembro de 2007 — ou seja, depois do parecer da Funarte. Também não houve carta de intenção de patrocínio, procedimento que costuma agilizar a aprovação de projetos.
outubro 2, 2008
As galerias da FUNARTE ficarão vazias em 2009?, por Maria Beatriz de Medeiros
Prezados membros da diretoria da FUNARTE, colegas, artistas visuais, curadores,
Em primeiro lugar gostaria dar parabéns à FUNARTE pela iniciativa do Programa de Bolsas (Criação e Crítica), o Rede Artes Visuais, os Prêmios e a Residência artística em Pontos de Cultura. No entanto, uma questão fica em aberto? Não haverá edital para ocupação das galerias? O Prêmio Athos Visuais, Brasília, e o Prêmio Projéteis, Rio de Janeiro, acabaram? As galerias da FUNARTE ficarão vazias em 2009? Do meu ponto de vista, estas iniciativas que permitiram a tantos artistas mostrar seus trabalhos, inclusive de forma muito ampla com o projeto educativo em Brasília, não poderiam ser assim estanques.
Gostaria de poder receber uma resposta por parte da FUNARTE, assim como um posicionamento da comunidade.
Maria Beatriz de Medeiros