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setembro 29, 2008
Fundação Bienal diz apoiar curador, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Fundação Bienal diz apoiar curador
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 27 de setembro de 2008
Presidente do conselho afirma que "Ivo Mesquita é esperança" para o evento e põe a culpa em Manoel Pires da Costa
Mesquita nega cisão entre curadoria desta edição e fundação e diz que "sua argumentação foi aceita e não há ameaça" à mostra
O presidente do conselho da Fundação Bienal de São Paulo, Miguel Pereira, afirmou, ontem, que iria conversar com outros conselheiros da instituição para dar apoio às reivindicações do curador Ivo Mesquita, contra os cortes de 40% na mostra, sugeridos pelo presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa. "Estou surpreso em saber isso pelo jornal, mas sei que a Bienal está de bolso vazio. A carta do curador tem a intensidade do chumbo, e estou inteiramente de acordo com ele. Nós só resolvemos arriscar a realização da 28ª Bienal agora, por conta do Mesquita, ele é nossa esperança", disse Pereira. Entretanto, o presidente do conselho deixa para o presidente toda a responsabilidade da mostra: "Manoel é inteiramente responsável pelo sucesso ou insucesso da 28ª Bienal, já que ele não quis sair da direção da presidência, como havia prometido a vários conselheiros."
Acordo
Foi a primeira vez que se admitiu publicamente o acordo realizado, segundo o qual Pires da Costa seria reeleito para evitar um desgaste em sua imagem, mas renunciaria alguns dias depois, deixando no lugar o ex-secretário de Cultura do Estado Marcos Mendonça, então eleito vice-presidente. Procurado pela reportagem, o presidente da Bienal não quis comentar as declarações. Os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen enviaram, ontem, à Folha, uma carta, em tom diplomático, na qual afirmam que "não há uma cisão entre a curadoria da 28ª Bienal e a diretoria da fundação" e que "a curadoria confirma os termos do comunicado do presidente da Fundação Bienal de São Paulo publicado" ontem, no jornal. Segundo a reportagem da Folha apurou, Mesquita havia se recusado, anteontem, a assinar o comunicado junto com Pires da Costa. No texto, os curadores afirmam que "qualquer projeto da ambição de uma bienal internacional passa por ajustes e sofre perdas" e o "processo tem sido marcado pelo diálogo positivo e pelo entendimento entre as partes envolvidas". Para a dupla, "o presidente da fundação é um empresário e [...] é função do curador argumentar em favor das prioridades de um projeto cujas finalidades são muito diferentes das do mundo dos negócios", mas "a argumentação da curadoria foi aceita e respeitada, [...] não há nenhum tipo de ameaça". Ainda segundo a nota, a Bienal continuará gratuita e "todos os trabalhos encomendados estão em fase de produção, assim como as publicações e o site. Todos os profissionais necessários para esses serviços já estão contratados ou em processo de contratação".
Fischerspooner
Com um custo de US$ 350 mil, os shows do duo Fischerspooner, que contariam com a presença da companhia The Wooster Group, de Nova York, são a atração que corre maior risco até agora, segundo a Folha apurou. Faltam ainda US$ 200 mil para viabilizar a realização das performances. Para Lisette Lagnado, curadora da edição anterior, agora é "o momento do Ivo receber apoio do conselho da fundação". "Houve várias crises e dificuldades no decorrer da minha curadoria, mas sempre coloquei a instituição acima de tudo, mesmo diante de inúmeras pressões pessoais. A situação atual me parece muito pior, porque o que está em jogo é a própria realização da Bienal da maneira como foi concebida."
setembro 26, 2008
Pedido de corte ameaça 28ª Bienal, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Pedido de corte ameaça 28ª Bienal
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 26 de setembro de 2008
Entre outros itens, presidente da fundação quer cortar performances já anunciadas, programa educativo e traduções
Para secretário-adjunto de Estado da Cultura, obter recursos seria difícil com "falta de credibilidade" de Manoel Pires da Costa
A "Bienal do Vazio", programada para ser aberta ao público em um mês, corre o risco de ficar ainda mais vazia. No último dia 11, o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Francisco Pires da Costa, pediu ao curador da mostra, Ivo Mesquita, que cortasse nada menos que 40% do orçamento do projeto, indicando inclusive quais áreas deveriam sofrer redução ou mesmo ser eliminadas, entre elas as performances de Fischerspooner e do coreógrafo Ivaldo Bertazzo.
Tal corte foi contestado num e-mail enviado por Mesquita a Pires da Costa, no dia 12, ao qual a Folha teve acesso. "Agora é chegada a hora da presidência comparecer e fazer a parte dela [...]. Não podemos abrir a Bienal com ela parecendo desfalcada e mirrada", disse o curador na longa correspondência, com nove itens.
"Ajustes e acertos são absolutamente normais nesse processo. Mais ainda em projetos do porte e complexidade de uma Bienal. [...] Praticamente metade do orçamento previsto para a realização da exposição (R$ 8 milhões) já foi captado", afirma Pires da Costa, em nota enviada à Folha, ontem, após ter recebido sete questões da reportagem. Ao invés de responder as questões pontualmente, o presidente mandou um texto genérico, deixando de abordar alguns pontos, como o que se referia à manutenção da gratuidade da mostra para o público mesmo frente aos problemas de captação.
Verbas públicas
Nas últimas três edições, a Bienal teve a maior parte de seus gastos custeados pelo governo federal, por meio de emendas da bancada paulista no Congresso ao Orçamento da União. Em 2002, por exemplo, para a 25ª Bienal, foram alocados cerca de R$ 11 milhões dessa forma. Na Bienal passada, a contribuição da União foi de cerca de R$ 8 milhões -para um orçamento divulgado de cerca de R$ 12 milhões, que ainda não foram repassados na íntegra, segundo Pires da Costa.
Agora, em 2008, a Bienal não conseguiu repasse por meio desse dispositivo, já que ele foi alocado para o Projeto Guri, da Secretária de Estado da Cultura. "Isso não foi uma retaliação contra a Bienal, talvez nosso projeto fosse mais bem feito", diz Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto de Cultura do Estado de São Paulo. Contudo, no ano passado, Bianchi enviou correspondência aos conselheiros da Fundação Bienal na qual defendia a renúncia de Pires da Costa e, segundo ele, alertou o presidente que com a sua "falta de credibilidade seria difícil a captação de recursos para a 28ª Bienal".
No Ministério da Cultura, há três projetos inscritos para captação de recursos para a 28ª Bienal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura: um arquivado, no valor de R$ 3,1 milhões; outro retirado de pauta, no valor de R$ 6 milhões, por "falta de documentos e para ajustes na planilha orçamentária"; e o terceiro aprovado para obter R$ 3,6 milhões, mas que, até ontem, segundo o site do ministério, não tinha conseguido nenhuma captação.
Cortes graves
Em seu email, Mesquita comenta sobre os cortes propostos em seis áreas: educativo, arquitetura, traduções, assessoria de imprensa, documentação fotográfica da mostra e as performances do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, do grupo norte-americano Fischerspooner e da banda Los Super Elegantes.
"Cortar o educativo é grave. Esta é uma instituição pública e que presta um serviço para a comunidade", escreve Mesquita. Para o curador, "o corte do mesmo seria extremamente danoso para a imagem institucional da fundação porque existem recursos alocados para a Bienal que contemplam especificamente o seu plano educativo e [...] eles até já foram usados sobre essa rubrica".
Outro trecho relevante da correspondência aborda o corte proposto para as traduções no site, no jornal e na tradução simultânea das conferências. "Eles [...] mostrariam que a Fundação Bienal de São Paulo, mesmo depois de 58 anos de existência, ainda não se tornou internacional e bilíngüe", afirma o curador.
Mesquita lembra a Pires da Costa que quando o empresário precisou da "competência e confiabilidade" do curador, ele esteve presente e ajudando a recuperar a imagem da Bienal. Diz também que já há compromissos firmados, entre outros, com os patronos da Tate Gallery, de Londres, e do Museu de Arte Moderna de San Francisco para que compareçam ao evento.
setembro 25, 2008
Entre artistas, por Paula Alzugaray, Revista Isto É
Entre artistas
Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na Revista Isto É edição 2029, de 24 de setembro de 2008
Colaborou Fernanda Assef
Ateliês abrem espaços expositivos e tornam-se alternativa às galerias
Em bairro central de Campinas, um pequeno sobrado oferece um tipo de serviço nada usual na região: o intercâmbio e a experimentação de arte contemporânea. O Ateliê Aberto não é galeria, instituição, produtora ou escritório. “Somos um pouco de cada. Não há compromisso com o mercado, queremos incentivar o diálogo”, diz a artista Samantha Moreira, idealizadora desse espaço dedicado a site specific art (trabalhos feitos especificamente para um espaço) e a acolher artistas em início de carreira, como Isadora Gutmann, que exibe sua primeira individual até 10/10. Com esse programa, o ateliê de Samantha não apenas se sobressai do contexto do centro de Campinas, mas torna-se uma alternativa ao circuito oficial de galerias.
Em São Paulo, dois outros espaços atendem a anseios semelhantes. O nº 397 da Rua Wisard já serviu de ateliê para vários artistas. Em 2003, inaugurou seu espaço expositivo com uma mostra dos três artistas “da casa” e entrou para o roteiro dos espaços experimentais. “Tem muita gente boa sem lugar para expor”, diz Silvia Jábali. “Somos artistas trabalhando com artistas, expondo artistas. Estamos todos na mesma barca”. Atualmente em cartaz no Ateliê 397, Mariane Abakerli e Karen Kabbani, com curadoria de Rafael Campos. Em 18/10, entram Marcelo Amorim e Sofia Borges, com investigações sobre a natureza da imagem fotográfica. Segundo Campos, as aberturas são sempre aos sábados, “guarnecidas pelo já tradicional churrasco do William”.
A poucos quarteirões dali, Adriana Matos Alves Duarte, mais conhecida como Xiclet, comercializa arte “para quem não tem milhões para entrar numa grande galeria, mas também não quer comprar na praça Benedito Calixto”. Qualquer um pode expor na Casa da Xiclet, basta inscrever-se pela internet. “Não sou eu quem seleciona os artistas; são eles que selecionam a casa”, diz ela. A casa não tem curadoria, mas apresenta mostras com temáticas críticas, que questionam o sistema de arte. Em 10/10, Xiclet abre Bienal, Tô Cheia, em alusão à proposta da 28ª Bienal de deixar vazio o segundo andar do pavilhão.
Roteiros
Depois do muralismo mexicano
A Era da divergência/ Estação Pinacoteca, São Paulo/ até 16/11
Muralistas mexicanos como Diego Rivera (1886-1957) romperam com círculos culturais restritos e colocaram a arte nas ruas para projetar ideais revolucionários, mas acabaram monopolizando as atenções e ofuscando uma cena exuberante de experiências artísticas produzidas à margem das correntes dominantes. “Quando, nos anos 1990, a arte mexicana entrou no circuito global, apareceram mitos de que não havia acontecido nada depois dos muralistas. Mas esse vazio foi provocado: os historiadores deixaram de registrar a arte pós-68”, afirma o curador Cuauhtémoc Medina, que aborda os motivos dessa crise em A Era da divergência: arte e cultura visual no México 1968-1997. A exposição demonstra que, depois de Rivera, surgiu uma nova linguagem de arte política urbana e muita coisa aconteceu do lado de fora dos circuitos oficiais: desde a arte não objectual até a fotografia documental.
Perfil
Cao Guimarães: um andarilho no cinema
Autor do longa-metragem Andarilho, que essa semana entrou em circuito em São Paulo e em breve estará no Rio, Cao Guimarães é um criador passível de múltiplas definições. Ele é ao mesmo tempo um fotógrafo que chegou ao cinema trilhando o caminho das artes visuais e um cineasta que edita seus filmes em forma de videoinstalações, montadas em museus. Atualmente, duas delas estão no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte. “Quando era adolescente, sonhava em virar cineasta. Só que fazer cinema não era simples. Continuei exercitando formas de expressão solitárias como a fotografia e a literatura. Apenas com a revolução digital e o barateamento dos custos do exercício cinematográfico pude começar a fazer o que chamei de ‘cinema de cozinha’, onde eu participava de praticamente todas as etapas da feitura de um filme, feitos quase literalmente na cozinha de minha casa”, conta ele.
Nascido em Belo Horizonte há 42 anos, Cao Guimarães é um artista andarilho, que transita por três realidades: o circuito da arte, os festivais de cinema e o mundo real, de onde extrai toda sua poética. Ele tem obras em acervos importantes como a Tate Modern e o Museu Guggenheim e já participou de algumas bienais. Mas é a primeira vez que coloca um filme em circuito comercial. Andarilho é um filme de estrada, que acompanha as trajetórias de três caminhantes, mas não é uma história contada de forma convencional. Para o artista, no entanto, abdicar da narrativa linear que padronizou a linguagem do cinema, não afasta-o do grande público. “Quero crer que o público não é convencional. Um filme tem que ser uma obra aberta e o espectador deve ser considerado quase como um co-autor. Andarilho é um filme feito para espectadores ativos, que queiram criar um certo turbilhão interno, que queiram reinventar o filme”.
setembro 9, 2008
Cerca de 30 pichadores invadem galeria de arte e danificam obras expostas, por Daniela Mercier, Folha de São Paulo
Cerca de 30 pichadores invadem galeria de arte e danificam obras expostas
Matéria de Daniela Mercier, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 9 de setembro de 2008
Um grupo de pichadores invadiu, no último sábado, a Galeria Choque Cultural, no bairro de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), e danificou 20 obras de arte expostas no local.
A galeria é voltada à divulgação e à venda de trabalhos de arte underground, como grafite e design gráfico.
A ação foi organizada pelo artista Rafael Guedes Augustaitiz, o Rafael Pixobomb, que foi expulso do Centro Universitário Belas Artes em julho deste ano, por organizar uma pichação no prédio da faculdade.
Os pichadores fazem parte do movimento intitulado "PiXação: Arte Ataque Protesto", que tem como meta protestar contra a comercialização da arte de rua.
De acordo com o grupo, a galeria não representa a cultura urbana, e seus criadores não fazem parte do movimento de rua.
Entre as obras danificadas estão quadros de Gerald Laing, referência inglesa da pop art, e do artista de rua brasileiro Daniel Melim.
Invasão
A galeria estava em funcionamento quando o grupo de cerca de 30 pessoas, segundo informações do boletim de ocorrência, invadiu o local e pichou paredes, quadros e outros objetos em exposição. A ação durou aproximadamente cinco minutos.
O grupo foi chamado a fazer a pichação por meio de um "convite" enviado por e-mail, que dizia o seguinte: "Evadiremos com nossa arte protesto uma "bosta" de galeria de arte segundo sua ideologia abriga artista do movimento underground. Então é tudo nosso [sic]".
Procurado pela Folha, Augustaitiz não quis comentar a pichação e disse que "a ação falava por si mesma".
Baixo Ribeiro, um dos proprietários da Choque Cultural, afirmou que o evento teve "pouca importância" e não quis falar mais sobre a invasão ocorrida.
Na tarde de ontem, um boletim de ocorrência foi registrado no 14º Distrito Policial de São Paulo.
Segundo o DP, o proprietário já foi notificado para fazer representação contra o grupo, condição para abertura de inquérito no caso de um crime de natureza privada. O caso foi classificado como dano ao patrimônio.
Belas Artes
Na época em que Augustaitiz organizou a pichação no prédio da Belas Artes, ele alegou que a ação fazia parte do seu TCC (trabalho de conclusão de curso) em artes visuais. Augustaitiz não chegou a se formar.
Participaram da ação, ocorrida em 11 de junho, 40 jovens portando sprays. Eles chegaram à faculdade juntos, a pé, muitos deles mascarados, por volta das 21h, com latas escondidas sob as roupas. Cobriram a fachada, a recepção, as escadas e as salas de aula com letras pontudas que caracterizam a pichação paulista.
A Polícia Militar deteve sete jovens -incluindo o formando Augustaitiz.
Comentário de Daniel Melim sobre a matéria publicada.
Postado no dia 18 de setembro de 2008
ERRO.
Há um grande erro na materia acima.
Nenhum trabalho do artista plástico Daniel Melim (eu) foi danificado -
assim como afirma na materia.
Todo o ocorrido é uma série de mal entendidos que a mídia mal informada
ajuda a divulgar, sem apurar os fatos de verdade.
Hoje em dia recebemos uma série de informações, pelos mais váriados
meios....dificil saber qual é a veracidade das noticias.
Sem mais.
Att,
Melim