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janeiro 23, 2007
APCA 2006 premia "O Céu de Suely" e "vilões" da Globo
APCA 2006 premia "O Céu de Suely" e "vilões" da Globo
Matéria originalmente publicada no Folha Online, no dia 12 de dezembro de 2006
A APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) divulgou na noite de segunda-feira, em assembléia no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, os melhores de 2006 em dez áreas distintas: artes visuais, cinema, dança, literatura, música popular, música erudita, rádio, teatro adulto, teatro infantil e televisão.
Cerca de 50 jornalistas especializados em cultura e variedades participaram da eleição. O prêmio será entregue aos vencedores em cerimônia ainda a ser marcada no final de março de 2007. Reconhecido como a mais tradicional premiação na área de cultura, a primeira edição do APCA ocorreu em 1956.
Na categoria cinema, "O Céu de Suely" levou como melhor filme do ano, Karin Aïnouz como melhor diretor e Hermila Guedes como melhor atriz. Em música, Caetano Veloso venceu com o álbum "Cê" como melhor disco e Marisa Monte foi escolhida a melhor artista.
Em televisão, uma das categorias mais disputadas, "Os Filhos do Carnaval", de Cao Hamburger, ficou com o Grande Prêmio da Crítica. O melhor programa do ano, para os jurados, foi "Central da Periferia", comandado por Regina Casé na Globo, e os melhores atores foram Lília Cabral, por "Páginas da Vida", e Lázaro Ramos, por "Cobras & Lagartos", dois personagens que ganharam o público.
Apesar de não serem considerados vilões, Foguinho, vivido por Lázaro Ramos, e Marta, interpretada por Lília Cabral, surpreenderam por mostrarem suas fraquezas e, mesmo assim, cativarem a audiência. Na trama global, Foguinho roubou a fortuna do melhor amigo e, mesmo após crise de consciência, seguiu com a mentira.
Confira a lista completa dos vencedores:
ARTES VISUAIS
Grande Prêmio da Crítica: León Ferrari
Retrospectiva: Volpi (MAM)
Mostra Internacional: Calder no Brasil (Pinacoteca)
Exposição: Cildo Meireles (Estação Pinacoteca)
Obra Gráfica: Livio Abramo (Inst. Tomie Ohtake)
Fotografia: Geraldo de Barros (Galeria Brito Cimino)
Iniciativa Cultural - Iac - Inst. de Arte Contemporânea
CINEMA
Filme: "O Céu de Suely"
Diretor: Karin Aïnouz ("O Céu de Suely")
Fotografia: Murilo Salles (Árido Movie)
Roteiro: "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" (Cao Hamburger, Cláudio Galperin. Anna Muylaert, Bráulio Mantovani)
Montagem: Vania Debs ("Árido Movie")
Ator: Matheus Nachtergaele ("Tapete Vermelho")
Atriz: Hermila Guedes ("O Céu de Suely")
DANÇA
Espetáculo: "Sertão" - Marcelo Evelin
Intérpretes: Diogo Granato e Sheila Áreas
Revelação: Alexandre Tripiciano
Dança para Crianças: "Balangandança - O Tal do Quintal" (Georgia Lengos)
Iluminação: André Boll
Novos Circuitos: Sala Crisantempo
LITERATURA
Romance: "O Movimento Perdular" - Alberto Mussa (Record)
Contos: "A Máquina de Ser" - João Gilberto Noll (Nova Fronteira)
Tradução: "O Exército de Cavalaria" - Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade (Cosac)
Biografia: "Pretobrás" - Luiz Chagas e Mônica Tarantino (Ediouro)
Infanto-juvenil: "O Flautista Misterioso e Os Ratos de Hamelin" - Bráulio Tavares (Editora 34)
Poesia: "Poesia Reunida" - Orides Fontela (Cosac)
MPB
Disco: "Cê" -Caetano Veloso
Artista: Marisa Monte
Compositor: Lirinha (Cordel do Fogo Encantado)
Show: Bonde do Rolê
Grupo: Mombojó
Revelação: Érika Machado
Projeto especial: CD "Tributo a Odair José"
MÚSICA ERUDITA
Grande Prêmio da Crítica: Edino Krieger
Regente: Roberto Minczuk
Obra Vocal: Te Deum - Vilani Cortes
Obra Experimental: A Tempestade - Ronaldo Miranda
Personalidade: Arthur da Távola
Conjunto de Câmara: Trio Images Brasil
Especial: João Carlos Martins - Bachiana Filarmônica
RÁDIO
Grande Prêmio da Crítica: Arnaldo Jabor - CBN
Musical: Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil - Cultura AM
Cultura Geral: "A Voz Popular" - Luis Antonio Giron - Cultura AM/FM
Rádio Web: www.universidademetodista. Br
Humor: "Buemba Buemba" - José Simão - Band News
Iniciativa: "Rádio Parachoque" - Eldorado AM
TEATRO
Espetáculos: "Camaradagem" - Eduardo Tolentino de Araújo
"Inocência" - Rodolfo Garcia Vázquez
"A Pedra do Reino" - Antunes Filho
"Zona de Guerra" - André Garolli
Atriz: Cleyde Yáconis ("A Louca de Chaillot")
Ator: Marco Antônio Pâmio ("Edmond")
Autor: Rudifran Pompeu ("A Casa")
TEATRO INFANTIL
Espetáculo: "Era Uma Vez Um Rio" - Lavínia Pannunzio
Juvenil: "Os Meninos e As Pedras" - Núcleo Entrelinhas de Teatro
Texto Adaptado: "Evill Rebouças" - Teresinha e Gabriela
Direção: Henrique Sitchin - "Guarda Zool"
Ator: Ando Camargo - "Era Uma Vez Um Rio"
Atriz: Ana Luisa Lacombe - "Lendas da Natureza"
Revelação: Doutores da Alegria - "Vamos Brincar de Médico"
TELEVISÃO
Grande Prêmio da Crítica: "Os Filhos do Carnaval" - Cao Hamburger (HBO/O2)
Documentário: Série Chico Buarque de Hollanda - Roberto de Oliveira (DirecTV/Band)
Programa: "Central da Periferia" - Regina Casé (Globo)
Atriz: Lília Cabral - "Paginas da Vida" (Globo)
Ator: Lázaro Ramos - "Cobras & Lagartos" (Globo)
Infantil: "As Novas Aventuras do Menino Maluquinho" (TVE)
Humor: Dira Paes - "A Diarista" (Globo)
janeiro 17, 2007
Estatal doou R$ 500 mil a instituto de FHC, por Daniel Bramatti
Estatal doou R$ 500 mil a instituto de FHC
Matéria de Daniel Bramatti, originalmente publicada no Terra Magazine, no dia 17 de janeiro de 2007
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano passado com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Claudio Lembo (PFL).
O dinheiro saiu da Sabesp - então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho - e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é uma das sete empresas que, até o final do ano passado, haviam doado R$ 2.095.000,00 para o projeto de preservação e digitalização do acervo do iFHC, com incentivos fiscais da chamada Lei Rouanet - as contribuições podem ser descontadas do Imposto de Renda.
O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo - vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.
O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões - valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.
O site do iFHC afirma que a digitalização dos documentos será feita com softwares e equipamentos cedidos pela IBM e pela Sun Microsystems do Brasil, mas não faz referência à Sabesp e aos outros patrocinadores, nem detalha como serão aplicados os R$ 2 milhões já recebidos. Segundo o instituto, os logotipos dos demais doadores serão associados ao projeto quando os recursos começarem a ser gastos.
O Instituto Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de "organização ex-governamental" - reúne em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).
A entidade tem como fonte de inspiração as fundações mantidas por ex-presidentes norte-americanos. Mas as semelhanças são limitadas. A ONG do ex-presidente Bill Clinton, por exemplo, atua na prática: apóia e implementa programas de combate à aids, de redução do custo de medicamentos e de controle do aquecimento global, entre outros. Também administra uma biblioteca pública no Estado de Arkansas que recebe cerca de 300 mil visitantes por ano.
Já o iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários - que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que "o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública".
O site também anuncia que parte do acervo será aberto ao público quando for concluído seu processo de catalogação e digitalização. Não há informações sobre a possibilidade de pesquisar os itens mais interessantes, do ponto de vista histórico e jornalístico: as gravações e anotações que o ex-presidente fez, durante seus oito anos de governo, sobre temas polêmicos como privatizações e reeleição.
O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, foge à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.
Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.
Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. No ano passado, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch'an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin - o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.
A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.
Terra Magazine procurou ontem a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.
Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).
A Rio Bravo Investimentos foi fundada e é dirigida por Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central nos anos FHC. O BES Investimentos faz parte do grupo português Espírito Santo, cujo representante no Brasil, Ricardo Espírito Santo, teve seu nome relacionado ao escândalo do mensalão por supostas relações com o publicitário Marcos Valério. Em 2005, o banqueiro foi acompanhado por Valério a uma reunião com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em 2002, Ricardo Espírito Santo também estava no jantar do Palácio da Alvorada em que FHC pediu contribuições para a criação de sua ONG.