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março 28, 2006
Considerai apenas..., por Luiz Sôlha
Considerai apenas...
LUIZ SÔLHA
"Considerai apenas com a máxima atenção se é justo ou não o que eu disser. Cifra-se nisso o vosso julgo. O meu consiste em dizer a verdade" - (Sócrates- Apologia).
Iniciei o projeto que chamo de "A TINTA PINTADA" em 2001. Fiz fotografias que registram em close-up as esculturas de cor que formo quando espremo o tubo de tinta na palheta, e reproduzo em óleo sobre tela em grandes dimensões. (No meu site: www.luizsolha.com.br encontram-se exemplos no item "A TINTA PINTADA"). Esta idéia me ocorreu por estar envolvido, na época, com pinturas sobre o Budismo (ver no meu site no item "RETRATOS"), e pensei, a princípio, em formar imagens de BUDAS. Algumas obras adquiriram este aspecto, pois as envolvo numa aura de meditação e contemplação sempre, durante a produção. Budismo e Sócrates são os meus assuntos prediletos.
Deixei o trabalho seguir seu curso, e já tinha uma exposição quase pronta, ao término do ano de 2003 e início de 2004.
Nesta época, participei de mostras coletivas como ARTBA (Buenos Aires), Chapel Art Show (Chapel School- Escola Americana em São Paulo), Congresso de arte em Washington-DC, Salão de Arte Contemporânea no Clube Paineiras do Morumbi. Até que fiz a minha exposição individual em outubro de 2004, com registro em catálogo e mídia, que documentam e datam, obviamente.
Peço através deste documento a sua atenção para o fato de haver outros artistas (Ben Weiner, um americano que expôs agora em 2006 em Nova York, e outro, Richard Patterson, inglês) usando esta mesma idéia, em tempo posterior, pois suas obras datam de 2005, ano em que participei do PANORAMA DE ARTE CONTEMPORANEA no MAM de São Paulo, com a obra "Cerulean Blue" de 2004, que hoje faz parte do acervo deste Museu.
Penso ter feito um bom trabalho e talvez alguma descoberta, já que venho sendo "imitado", e gostaria de contar com seu auxílio, para que num futuro próximo, este cidadão brasileiro que vos solicita, não venha a ser retalhado em nenhuma instância que me impeça moral ou juridicamente de continuar sendo o artista ético e sério que sou, em sintonia com a cultura do Brasil.
Imagens de Ben Weiner e Richard Patterson:
Imagem Ben Weiner
www.artnet.com/artist/424453859/ben-weiner.html
Imagem Richard Patterson
www.artnet.com/artist/13174/richard-patterson.html
março 24, 2006
Livro capta R$ 1,1 mi, pede doação de obras e é vendido a R$ 280, por Fabio Cypriano
Livro capta R$ 1,1 mi, pede doação de obras e é vendido a R$ 280
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha Online, no dia 23 de março de 2006
Projeto "Brazilian Art Book VI" pediu trabalhos a artistas sem revelar recursos públicos
Como fazer de um livro de arte um negócio da China? Inscreva o projeto na Lei de Incentivo à Cultura para arrecadar R$ 1,3 milhão. Depois, convide bons artistas plásticos para participarem do livro, sem mencionar o valor que está sendo captado. Para maximizar recursos, peça aos artistas a doação de uma obra "para ajudar nos custos" -além de fotos e textos sobre o próprio autor, pagos também por eles.
O que seria uma das partes mais caras da publicação, já saiu de graça. Depois, com o dinheiro arrecadado de fato, no caso R$ 1,1 milhão, lance o livro e o coloque no mercado a R$ 280. Bem, isso é um caso real, e os valores da publicação estão no site do Ministério da Cultura.
Trata-se de "Brazilian Art Book VI", publicação da editora Jardim Contemporâneo, que é lançada hoje. "Sinto-me lesado. A Nair Barbosa Lima [diretora curadora do livro] falou que ela não tinha verba. Os artistas pagaram tudo, das imagens ao texto que as acompanha", diz Gustavo Rezende, um dos 43 artistas no livro.
"Não foi bem essa a conversa. O que a gente sempre pede é uma obra do artista para apresentarmos nas mostras de lançamento. Como essas obras viajam, a doação é para evitar preocupação do seguro. Mas, quem não está de acordo, não participa", diz Lima. A diretora confirma que fica com as obras. "Estamos montando um instituto para facilitar isso."
"Estou muito surpresa por saber que o projeto captou todo esse montante, pretende vender os livros a um preço lucrativo e ainda conduziu a relação com o artista na base da permuta. Para nós, fica a palavra de que a permuta seria para ajudar nos custos. Fico constrangida de ter feito isso", diz a artista Ana Maria Tavares.
"Isso é valor de cinema", disse à Folha um editor que pediu para não ser identificado. Por solicitação da reportagem, uma gráfica elaborou o orçamento de uma publicação com as mesmas especificações de "Brazilian Art Book VI". Resultado: R$ 720 mil. "Nós pagamos cerca de R$ 900 mil para a gráfica, mas há outros custos altos envolvidos", diz Álvaro César Ferrari, diretor executivo da Jardim Contemporâneo.
Tunga, Waltércio Caldas e Dora Longo Bahia estavam na lista apresentada aos artistas como convidados. Nenhum está no livro. "Eu não aceitei. Há muitos anos, alguém teve uma idéia parecida e fui com o Leonilson conhecer o projeto. Ele saiu "p" de lá, disse que aquilo era absurdo, que mais uma vez o artista não ganhava nada. Fiquei pensando: é igual", conta Dora.
Não foram só artistas que se recusaram a tomar parte do livro. O curador Cauê Alves, do MAM de SP, foi convidado a escrever a introdução do livro e organizar a mostra. Não aceitou. "Ofereceram R$ 10 mil, mas não concordei com o modelo de financiamento do livro; o correto seria comprarem os trabalhos dos artistas, afinal o livro está sendo realizado com verba pública", disse Alves.
"Esse é mais um vício do circuito da arte e a gente nem tem tempo de checar essas distorções. Eles deveriam abrir as contas", afirma Tavares. No site do Ministério da Cultura, já consta o orçamento para a próxima edição do "Brazilian Art Book", cerca de R$ 1,2 milhão, com R$ 731 mil já captados.
O lançamento do livro acontece, hoje, às 19h, no andar térreo do Pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera), na mostra "As Muitas Geografias do Olhar", com curadoria de Angélica de Moraes, que também escreve o texto introdutório da publicação. A mostra fica em cartaz até domingo, com entrada franca.
OUTRO LADO
Editora afirma que investiu na publicação
"O livro, a exposição no Brasil e as exposições no exterior formam um todo, nós não diferenciamos uma parte da outra", afirma Álvaro César Ferrari, diretor executivo do projeto, que se integrou à equipe recentemente, embora cada uma dessas partes esteja inscrita em projetos distintos, no Ministério da Cultura.
"Nosso objetivo é divulgar a arte brasileira aqui e por todo o mundo. Nós pedimos que artistas doem obras para expor em outros países e, agora, pela primeira vez, expor aqui também", afirma Ferrari. Nas edições anteriores, a mostra passou por espaços como a Britto Central, do brasileiro Romero Britto, em Miami, em 2000.
Entretanto, com a sexta edição do livro e a nova exposição, Ferrari afirma que o projeto entra em um novo patamar: "Este é um momento que representa um "turning-point" (momento de mudança); é a primeira vez que se faz um recorte mais específico na publicação; nas outras edições havia muita diversidade".
A curadora Angélica de Moraes diz que não considera adequado doar ou trocar obras, "mas esse projeto tem um potencial de se inscrever no calendário de artes da cidade. Temos a obrigação de mudar as coisas, mas elas não podem ocorrer todas ao mesmo tempo". (FCy)
março 22, 2006
FILMEATA na Cinelândia - A Re-Volta do Rei João, sobre a atualidade da política cultural (?) carioca
Carlota e César Mala, paixão incondicional - A Re-Volta do Rei João, com Godot Quincas, Poliana Paiva e imenso elenco de palhacinhos culturais
FILMEATA na Cinelândia - A Re-Volta do Rei João
O Canal Contemporâneo organiza uma série de textos e matérias impressas sobre a polêmica resolução da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que determina que todos os projetos culturais aptos a ingressar na Lei de Renúncia Fiscal Municipal nos dois próximos anos, são obrigados a falar sobre os 200 anos da chegada da Corte ao país, a serem celebrados em 2008
Reação no Século Mil, publicado no sítio Curta o Curta
Carta do Fórum de Produtores de Cultura do Rio de Janeiro, publicado no sítio Curta o Curta
Para mais informações:
Fórum de Produtores de Cultura do Rio de Janeiro
forumprocultrio@gmail.com
forumprocultrio@yahoo.com.br
21 2221-2832 - Viviane Ayres
21 2511-2039 - Silvia Frahia
Beco do Rato
Rua Morais e Vale, Beco
Programação às quintas: Receita de Choro, 20h, Cineclube, 23h
Poemas nos intervalos e após a sessão (depende dos frequentadores)
www.becodorato.blogspot.com
Originalmente publicado no sítio Curta o Curta, no dia 11 de março de 2006
Parece piada, de péssimo gosto, mas a prefeitura da cidade do Rio pretende gastar alguns milhões de moedas da população carioca no apoio a Peças de Teatro, exposições, livros, filmes e etc. de apenas um tema no próximo biênio. E o tema não poderia ser mais impróprio: os 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Então que sr. prefeito César Maia, através de sua macieria, cismou de homenagear A mesma família, a mesma força e ladainha que mataram eou escravizaram milhões de negros e índios, e que enforcou Tiradentes, exatamente por criticar o reino português. Não parece piada?
Como se hoje, no Rio, não existisse nenhum tema mais relevante do que este, de se homenagear reinos fedorentos e escravocratas... Mas a população que elegeu este governo biruta não perde por esperar... Antes mesmo do edital ser lançado ela já poderá curtir um curta feito na raça por um grupo de pessoas interessadas em não deixar esta babaquice estatal passar em branco... " A re-volta do Rei João" já esta sendo editado para em breve estar também aqui mesmo, no Curta o Curta, pra deleite de todos. Novas ações estão sendo organizadas contra este ridículo dirigismo cultural de cartas marcadas e que interessa apenas aos que íntimos desta pocilga que se tornou a política cultural em nossa cidade/estado. A população esta cansada de paliativos, ela quer soluções também de longo prazo e mais (ou pelo menos algum...)compromisso ÉTICO de seus governantes com as questões mais importantes de nossa atualidade e não com mentiras do passado. (Guiwhi)
Então que PARTE da comunidade audiovisual local fez uma FILMEATA sobre a péssima gestão cultural na cidade do Rio... Desde a incrível inércia da RIOFILME, que considera os curtas por ela incentivados nos últimos anos como "cadáveres na prateleira" (e se é isso mesmo, é muito por conta de sua própria lerdeza em sacar pra que serve mesmo a Riofilme?), também a questão da Receita Federal, que há 3 anos querendo tirar do SIMPLES as produtoras de cultura, e sem esquecer da ridícula homenagem que a citada prefeitura quer fazer à família real portuguesa, que matou Tiradentes, milhões de índios e negros e que deveria ser execrada e não homenageada!!
Carta do Fórum de Produtores de Cultura do Rio de Janeiro
Originalmente publicado no sítio Curta o Curta, no dia 21 de fevereiro de 2006
Prezada Alessandra (repórter do O Globo),
Primeiramente gostaríamos de parabenizar pela matéria que esperamos abrir debate público sobre esse importante assunto. Abrir debate, pois os produtores culturais que mais se utilizam da Lei do ISS carioca não tiveram voz. O Fórum de Produtores de Cultura do Rio de Janeiro vem promovendo reuniões periódicas desde maio do ano passado, justamente pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio ter apresentado inúmeros problemas, em 2005, assim como outros inúmeros problemas em anos anteriores. Propôs algumas mudanças no funcionamento da lei que, diga-se, todos acham uma boa lei, somente gerida de maneiras que não contemplavam (e ainda não contemplam) os principais interessados: os produtores culturais cariocas e, por conseguinte, a população beneficiada com suas obras. Ora é biênio do audiovisual, deixando de fora toda e qualquer forma de arte, ora
interferência em conteúdos, como o caso atual, ora a renúncia é utilizada em apenas 3 meses do ano, ora a lei é interrompida por meses, por conta de vontades nunca bem explicadas.
Ano passado o Fórum apresentou, em audiência com o secretário das culturas, propostas que julgava, e ainda julga, pertinentes. Em janeiro de 2006, já munidos das notícias dos jornais sobre o biênio do pan-americano, nova audiência aconteceu. O grupo de produtores presentes soube das opiniões da prefeitura sobre a proposta de 2005 e mostrou contrariedade quanto à prefeitura escolher o conteúdo a ser proposto pelos artistas. Foi esclarecido pelo secretário - ele e sua subsecretária assinaram a ata dessa
audiência que pode ser colocada à disposição - que o tema pan se referia às culturas dos países participantes do evento carioca, inclusive o Brasil, o quê abria muito mais o leque de opções e se configuraria como levar o espírito olímpico para os projetos, mas não interferir diretamente nos conteúdos. O Fórum aceitou as explicações.
Dois dias antes da publicação do polêmico decreto, em nova audiência com a subsecretária, tudo foi confirmado, apenas com a ressalva de que ainda estavam, na prefeitura, revisando alguns pontos para o lançamento do edital que apresentaria as regras do jogo e o cronograma a ser respeitado.
São dois os problemas:
1) Os produtores cariocas se uniram para propor e dialogar sobre a lei de incentivo clara, aberta e honestamente, como verdadeiros parceiros do poder público municipal, já que o bom funcionamento da nossa lei interfere positivamente nas vidas de cada cidadão do Rio. Quando a disposição para o diálogo é quebrada da forma como foi, por parte da prefeitura, demonstra que os anseios da população não estão sendo respeitados nem levados em consideração;
2) A obrigação de um único tema, além de transformar artistas cariocas em empregados a serviço da prefeitura - o quê poderia ocorrer sem essa carga negativa, caso fosse lançado um edital somente para isso e com investimento direto da prefeitura e não por uma lei de incentivo que não deve obedecer a critérios de conteúdos, mas sim a critérios técnicos e práticos. De outro modo, interfere na criação artística - trará à luz, com certeza, projetos caça níqueis, já que os produtores tem que viver da sua arte de alguma forma e uma bomba desse poder pegou a todos de surpresa. A medida é desnecessária, pois, com a proximidade dos 200 anos da chegada da família real ao Rio, naturalmente surgiriam projetos com esse tema, vide LC Barreto na matéria de hoje.
Terminamos nos colocando a disposição para entrar em contato com alguns representantes de algumas entidades que representam a cultura no nosso Rio de Janeiro (Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas - Rio, Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Empresas Produtoras de Cinema), que podem acrescentar elementos importantes à sua matéria e levar a público uma nova rodada de discussões.
Sem mais, aguardamos retorno na certeza da existência de um debate democrático.
Fórum de Produtores de Cultura do Rio de Janeiro
O Rio Faz Cultura.
para comunicar-se com o FórumProCultRio envie mensagem para
forumprocultrio@gmail.com
forumprocultrio@yahoo.com.br
ou através dos telefones:
21 2221-2832 - Viviane Ayres
21 2511-2039 - Silvia Frahia
Texto de Alessandra Duarte, originalmente publicado no Jornal O Globoe reproduzidono Observatório da Imprensa
"A chegada de Dom João VI ao Brasil, em 1808, está repercutindo até agora na vida cultural do Rio. E não estamos falando das bibliotecas e universidades que a vinda da Corte portuguesa trouxe: em resolução publicada no último dia 15 no Diário Oficial do município, a prefeitura determinou que todos os projetos culturais que queiram receber incentivo fiscal via ISS (Imposto sobre Serviços), este ano e em 2007, têm de falar sobre os 200 anos da chegada da Corte ao país, comemorados em 2008. O ato vem causando polêmica entre artistas e produtores culturais. Enquanto muitos se queixam da restrição de tema, alguns, como a produtora LC Barreto, que começa a rodar este ano uma trilogia sobre a história do Brasil-colônia e a chegada de Dom João, comemoram.
A previsão da prefeitura é de que o edital com as datas de inscrições para os projetos interessados saia até o fim do mês. No fim do ano passado, a prefeitura chegou a pensar em restringir o desconto de ISS (de até 20% mensais do imposto pago pela empresa) àqueles projetos que falassem dos Jogos Pan-Americanos, argumentando que o Pan influenciaria a vida cultural da cidade. Na época, artistas e profissionais do setor reclamaram da restrição.
Projetos do Pan teriam pouco tempo, diz governo
- Mas mudamos para os 200 anos da vinda da Corte porque vimos que, se o tema fosse o Pan, as pessoas não teriam tempo de propor, captar recursos e realizar os projetos até a realização dos Jogos - afirma o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira. - Além disso, existe a importância para a história da cultura no Brasil da chegada da Corte aqui. E até 2008, quando se comemoram os 200 anos disso, haverá tempo para os projetos serem produzidos.
Para o pesquisador musical Marcelo Fróes, poderia haver outras formas de se homenagear a chegada da Corte:
- A vinda deles mudou muito o país, e estimulou sua cultura. Mas estamos em 2006, e não podemos ficar fazendo cultura do passado. Essa determinação da prefeitura é algo limitador, e que pode provocar uma overdose de projetinhos de Dom João. Só que não sei se as empresas telefônicas e as grandes companhias têm interesse em patrocinar assuntos com pouco apelo para o público e a mídia.
O cineasta Eduardo Coutinho diz que não pretendia tentar incentivos fiscais pelo ISS para projetos seus:
- Mas, se estivesse nessa situação, acho que me mudaria para o Paraguai. Ou para a Turquia, quem sabe? É tão absurdo que não sei o que dizer.
O presidente da Associação de Produtores Teatrais do Rio, Eduardo Barata, afirma que a limitação é ainda pior por se tratar do ISS.
- É uma lei por meio da qual todo mundo gosta de investir, porque praticamente todo mundo paga ISS, por ser uma tributação sobre serviços. Não é como o ICMS, que só as indústrias pagam - diz Barata. - É válido o poder público homenagear a vinda da Corte, mas poderiam, por exemplo, separar uma parte dos recursos via ISS para isso. Da maneira que se fez, seria cômico se não fosse trágico. Vai ser algo muito ruim para o teatro do Rio. Há muito tempo ele não tem sido beneficiado pelos incentivos via ISS, porque nos últimos dois anos o tema para o incentivo foi o audiovisual. O poder público critica tanto a atitude de setores de marketing das empresas cercearem os projetos que aceita, mas está fazendo o mesmo. É como ter um marqueteiro no poder público.
Para o ator Antônio Pitanga, a restrição de projetos para incentivo fiscal é 'vestir um santo e deixar o outro nu':
- Todo tipo de provocação cultural é bem-vinda, mas essa idéia, apesar de louvável, atrela a criatividade a um ponto só. A prefeitura poderia, em vez disso, fazer algum concurso com este tema, e os premiados fariam projetos sobre ele. Seria uma ação mais inteligente. Destinar todo o dinheiro de incentivo do ISS a um só assunto é burrice, e um engessamento da cultura.
O artista plástico Luiz Alphonsus diz que o apoio a épocas históricas já é feito pelo meio acadêmico:
- Quando se fala de incentivo fiscal para a cultura, acho que estamos tratando é de arte, porque as outras áreas da cultura, que são a história e a ciência, já têm o apoio acadêmico. Com essa determinação da prefeitura, o que me parece é que estão restringindo a arte a uma questão histórica. E arte precisa de liberdade, principalmente a dos artistas jovens, que necessitam de incentivo.
Outro artista plástico, Thiago Rocha Pitta, lembra o episódio da tentativa da prefeitura de trazer o Museu Guggenheim ao Rio:
- Como o prefeito não conseguiu, passou a se vingar dos profissionais de cultura da cidade. E acho que essa restrição do benefício do ISS segue essa linha. A vinda de Dom João é algo a se comemorar, porque o Rio antes dele era um brejo, mas é um absurdo fazer isso limitando a liberdade de expressão.
Quem gostou da notícia foi a produtora LC Barreto.
- Acho que não deveria haver restrições, mas já que há, por que não esse tema? - diz a produtora Paula Barreto. - Devemos inscrever, para o incentivo pelo ISS, nosso projeto de três longas-metragens baseados nos livros de Eduardo Bueno sobre a história do Brasil.
Com roteiro do próprio Bueno, segundo Paula, e direção de Fábio Barreto, a superprodução falará sobre a chegada dos portugueses (o primeiro filme), a vinda de Dom João e a abertura dos portos (o segundo) e a proclamação da Independência (o terceiro). Nomes estudados para o elenco: Camila Pitanga, Cléo Pires, Letícia Sabatella, Thaís Araújo e Dira Paes para o papel das índias; Matheus Nachtergaele e Marcelo Serrado, para interpretar degredados; os atores portugueses Maria Medeiros e Joaquim D'Almeida (para viver Pedro Álvares Cabral); e Caio Blat, Daniel de Oliveira e Vinícius de Oliveira (o menino de 'Central do Brasil') para interpretar os grumetes dos navios.
Segundo Lucy Barreto, também será realizado um documentário sobre o período histórico:
- Devemos começar a filmar os dois projetos no fim deste ano, para estarem prontos no fim do ano que vem.
Outro projeto em que a Corte aparece é 'Império', musical que Miguel Falabella quer estrear este ano, com Stella Miranda e Sandro Cristopher.
- O incentivo via ISS deveria ser liberado para todo tipo de tema, mas, já que houve essa limitação, eu estou adorando. É genial se falar sobre a nossa história. E eu estou há quatro anos tentando montar esse musical. Vamos ver se agora vai - diz Falabella.
A diretora Carla Camurati, cujo 'Carlota Joaquina', que também trata da vinda da Corte e é o longa-metragem que marca a retomada do cinema nacional, preferiu a postura diplomática de não falar sobre o assunto."
março 16, 2006
Portaria ameaça mudar tudo no ensino de Artes, do JB Online
Portaria ameaça mudar tudo no ensino de Artes
Matéria originalmente publicada no JB Online, no dia 15 março de 2006
Estudantes e professores fazem seu protesto com fantasias e cenários
A praça em frente ao Palácio do Buriti, no Eixo Monumental, foi tomada na manhã de ontem pelo protesto de cerca 150 estudantes e professores do Ensino Fundamental e Médio. Eles estão inconformados com as novas normas para o ensino de Arte nas escolas públicas do Distrito Federal, estabelecidas pelo artigo 53, da Portaria nº 30, publicada em fevereiro deste ano pela Secretaria de Educação.
Segundo as modificações, os alunos não poderão mais optar entre as aulas de artes visuais, cênicas e música, como era feito até o ano passado. Essa disciplinas terão de ser ministradas juntas e por um único professor. Eles, consequentemente, ficam proibidos de dividir as turmas conforme o interesse dos estudantes.
O ensino, analisam os mestres, ficará muito prejudicado se todos os alunos de uma mesma classe tivessem de assistir às aulas juntos.
O conteúdo de Artes Visuais, Cênicas e Música precisa ser trabalhado como qualquer outra disciplina, pois assim como Português e Matemática, também é pré-requisito para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e o vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Este é um dos argumentos do professor de artes plásticas Oziel Primo Araújo, presente na manifestação.
- A Secretaria não pode fazer com que um apenas um professor aborde as três vertentes da arte como se fossem a mesma coisa. São, na verdade, estudos muito particulares e diferentes entre si, todos essenciais à formação cultural do aluno - explicou.
Uma abaixo-assinado com mais de 1.500 assinaturas foi entregue por uma comissão ao chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Corindo Miranda Júnior, que se comprometeu a entregar o documento à secretária. Segundo um dos integrantes da comissão, professor José Eduardo, Corinto adiantou que toda portaria pode ser revisada depois que forem analisadas as reivindicações da população, mas não confirmou se alguma mudança ocorrerá de fato.
- Por enquanto, ficamos sem saber o que vai acontecer - disse José Eduardo.
Para a deputada Érica Kokay, que também fez parte da comissão de professores, a portaria é uma forma de desvalorizar a educação artística, prejudica o aluno e ignora todo o trabalho feito na escola.
- A comunidade das escolas públicas representa um público que não tem tanto acesso à cultura e às artes como acontece em colégios particulares. Foi desrespeitado o valor da arte, importante para a construção de cidadania e para ampliar a visão das pessoas - avaliou.
Segundo Rosimeire Gonçalves, vice-presidente da Associação de Arte e Educação do DF, o trabalho dos professores com os alunos está sendo interrompido. Muitos são obrigados a transferir de escola porque não tiveram o trabalho valorizado.
- Estamos sendo vistos pela secretaria com excedente - reclamou..
A manifestação acabou antes do meio-dia, mas os alunos usaram toda a criatividade aprendida dentro das salas de aula. Pintaram os rostos, cartazes e roupas. Alguns estavam fantasiados. Chegaram a parar, por cerca de cinco minutos, o trânsito em frente ao Palácio do Buriti. (C.M.)
março 15, 2006
Museus demais, por Elio Gaspari
Museus demais
Texto de Elio Gaspari, originalmente publicado na Folha S. Paulo, no dia 12 de março de 2006
Depois do roubo dos mapas do Itamaraty, das fotografias da Biblioteca Nacional, dos quadros da Fundação Castro Maya e das peças do museu da Cidade, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, poderia chamar as companhias de seguro para conversar.
Ter Cezanne na parede, Marc Ferrez na prateleira e mapas de João Teixeira Albernaz nos gavetões não é para quem quer é para quem pode.
No Itamaraty, algumas raridades, depois de restauradas, não voltaram ao cofre porque nele havia bichos. A chave da mapoteca já sumira três vezes.
Se as seguradoras entrarem na discussão do patrimônio histórico nacional, os responsáveis pelos acervos assumirão publicamente os riscos a que estão submetidas as peças que lhes são confiadas. Só a crueza das seguradoras poderá informar quanto custa (em dinheiro e em equipamento) a proteção de um acervo cultural. Desde os anos 90 sabe-se que obras de arte roubadas são aceitas como colateral em grandes tratos do tráfico de drogas. (No caixa dois da arte mundial há uns 300 Picassos e 200 Chagalls.)
A burocracia faz milagres. No eixo Rio-Niterói-Petrópolis, há mais museus que em Roma (108 x 104). Falta segurança, mas abundam diretores que cuidam de acervos cada vez menores, sempre atribuindo as desgraças presentes às administrações passadas.
Se um museu não consegue receber 5.000 pessoas por mês (250 por dia) e não faz esforços para atrair visitantes, ele serve somente à burocracia que o habita. Se uma cidade não tem dinheiro para sustentar e proteger 108 museus, só há um jeito: fechar instituições redundantes e fundir acervos. No eixo Nova York-Washington, os museus são menos de cem.
março 9, 2006
Carta ao Jornal O Globo / Noite Livre na EAV
Carta ao Jornal O Globo / Noite Livre na EAV
E-meio enviado por Denise Cathilina ao Jornal O Globo, sobre a matéria Polêmica à vista no Parque Lage
Caro Andre Miranda
Foi com muita surpresa que vi o evento NOITE LIVRE por mim curado citado como uma festa ilegal e nefasta que ocorreu no Parque Lage. A NOITE LIVRE foi uma parceria da escola com o evento MOSTRA DO FILME LIVRE, atualmente na 5ª edição, realizado no CCBB e na CASA FRANÇA BRASIL, casas tradicionalmente culturais.
Os trabalhos por mim selecionados para o evento do dia 11/02, refletiam sobre a ausência de fronteiras na arte contemporânea, obras onde a imagem, o som, a palavra, a música,o movimento e o espaço se mesclam, se hibridizam, se decupam, não se adequando mais as tradicionais salas de exibições.
Convém ressaltar, que na referida mostra, estavam envolvidos os professores do núcleo de tecnologia, de fotografia e de cinema, bem como 25 alunos da escola, mostrando a vitalidade do núcleo tecnológico do Parque.Contamos também com a presença de artistas convidados de inegável trajetória no circuito das artes, bem como a novíssima geração do grafite. Sempre apontando caminhos para nossos alunos e para o público em geral.
Sou carioca, amo o Rio e todos concordamos com a necessidade de preservar o patrimônio de nossa cidade, mas devemos nos preocupar com os exageros de ambas as partes, correndo o risco de, em nome da falsa normatização, castremos cenas como a antológica feijoada antropofágica de Macunaíma na piscina do Parque Lage ou as cenas de Terra em Transe no terraço, para citar alguns dentre os muitos eventos que fizeram da arquitetura da EAV parte do imaginário cultural brasileiro.
DENISE CATHILINA
curadora da NOITE LIVRE e prof de fotografia da EAV
Polêmica à vista no Parque Lage
Matéria de André Miranda, originalmente publicada na seção Zona Sul do Jornal O Globo, no dia 23 de fevereiro de 2006
O Ministério Público Federal pediu à Justiça, na semana passada, a devolução da Mansão dos Lages, no Parque Lage, à União. O prédio serve como sede da Escola de Artes Visuais, de administração estadual, por um decreto federal datado de 25 de abril de 1991, sob a condição de seu uso exclusivo para atividades pedagógicas. O problema, segundo o procurador da República Maurício Manso, é que o prédio tem sido usado constantemente para festas, com alterações inclusive em sua estrutura.
A Mansão dos Lages é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1976. No contrato de cessão à Escola de Artes Visuais, prorrogado em 2002 por mais cinco anos, uma cláusula obrigava o estado a restaurar o prédio. Manso garante, porém, que projetos para sua restauração nunca foram apresentados.
No início do ano passado, uma liminar foi concedida contra a Escola de Artes Visuais, impedindo que fossem realizados festas ou shows que fugissem do objetivo pedagógico da instituição. Mas, para o Ministério Público federal, a decisão não foi cumprida. No dia 11 de fevereiro, a mansão foi palco do evento Noite Livre, reunindo DJs, bandas, performances e instalações. Em 2005, uma festa de uma grife de roupas tomou conta da Mansão dos Lages.
- A mansão é tombada e foi cedida ao estado para que ali funcionasse uma escola, não uma casa de festas. Há denúncias, com fotos, da instalação temporária de aparelhos de ar-condicionado num desses eventos, alterando a estrutura de um prédio tombado. Como o contrato não está sendo cumprido, estou pedindo que a Escola de Artes Visuais seja multada até que o prédio seja devolvido - explica o procurador Maurício Manso.
Diretor garante realizar restauração
O diretor da Escola de Artes Visuais, Reynaldo Roels, por sua vez, não vê razão para a ação do Ministério Público Federal. Ele garante que após a liminar, contratos de festas foram canceladas e até dinheiro foi devolvido.
- A festa do início de fevereiro era em comemoração a um evento realizado pelos alunos e a da grife de roupas era reconhecida pelo Conselho Estadual de Cultura. A função pedagógica de uma escola como a nossa é bem mais ampla do que simplesmente dar aulas - explica Roels.
- Estamos cumprindo o contrato sobre a restauração do prédio em etapas. Há dois anos fizemos a impermeabilização do terraço, por exemplo.
Representante do Ibama no Parque Lage, Beth Sarmento defende a Escola de Artes Visuais:
- Houve época em que realmente não se respeitava o meio ambiente, mas a atual administração solucionou o problema e até controlou o volume da música. Eu seria a primeira a correr para pedir ajuda à Justiça, mas hoje não é necessário.
Moradores do Jardim Botânico, porém, contestam as explicações. De acordo com Luiz Guilherme Chaves, da AMA-Jardim Botânico, a mansão sofre degradação ininterrupta há anos.
- A escola funciona no parque desde 1966. Em 1985, o Ibama entrou como uma ação de reintegração de posse para despejar a escola e retomar o imóvel. Porém, um acordo entre os governos do estado e federal cedeu a mansão para a escola no início dos anos 90 - lembra Chaves. - Como nada mudou, a associação entrou no Ministério Público Federal com uma ação civil pública em 1993, pedindo a reparação dos danos e a devolução do imóvel à União. O problema persiste e nada foi feito.