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julho 29, 2005
Arte polêmica, por Joaquim Ferreira dos Santos
Arte polêmica
Nota de Joaquim Ferreira dos Santos, publicada originalmente na coluna Gente Boa do Jornal O Globo do dia 29 de julho de 2005
A direção do Instituto Cultural Telemar quis censurar a videoinstalação de Leonardo Galvão na mostra "Programação de Mídias Eletrônicas". Freqüentadores reclamaram das imagens eróticas. Os curadores conseguiram driblar a proibição. Uma plaquinha informa agora que o trabalho exibe cenas fortes de sexo explícito.
julho 28, 2005
Serra reduz programação cultural de CÉUS, por Luciane Scarazzati
Serra reduz programação cultural de CÉUS
Matéria de Luciane Scarazzati, originalmente publicada na Folha de São Paulo do dia 28 de julho de 2005
Construídos para serem espaços de educação para as crianças e de lazer para a comunidade, os CEUs (Centros Educacionais Unificados) tiveram atividades culturais reduzidas desde janeiro, no governo José Serra (PSDB).
A reportagem visitou 10 dos 21 escolões entre quarta e sexta-feira da semana passada e constatou alterações na programação teatral e de cinema. A revisão dos contratos de segurança em unidades da zona sul também levou à redução da quantidade de vigilantes --de oito para cinco em cada turno.
Até dezembro, eram contratadas pela Secretaria da Cultura peças profissionais para serem apresentadas nos finais de semana. O catálogo de filmes para as sessões de cinema incluía novidades.
Desde janeiro, porém, as peças teatrais são somente de grupos da comunidade ou contatados pelos coordenadores das escolas. O catálogo de filmes não foi atualizado --as atrações são repetidas.
Com capacidade para 2.400 alunos, cada um dos 21 CEUs também tem um roteiro de aulas e cursos para a comunidade.
Em 2004, último ano do governo Marta (PT), a agenda de atividades estava movimentada. Havia aulas de iniciação artística --teatro, artes plásticas, dança e música. Mas os contratos com esses educadores acabaram em 31 de dezembro.
Entre janeiro e abril, foram mantidas as aulas em unidades que tinham voluntários ou professores contratados em regime diferenciado. Foi só em maio que novos profissionais chegaram.
Todos os CEUs possuem estúdios para fotografia e cinema, que estão equipados. São poucas as unidades, porém, que usam esse material, porque faltam profissionais. Em 2004, parcerias com a iniciativa privada garantiram a realização de alguns cursos.
No CEU Paz, na zona norte, a falta de pessoal levou à paralisação de atividades da oficina na padaria e no estúdio de foto. O material para revelação do laboratório do CEU São Rafael, na zona leste, não foi usado até agora.
Os CEUs Casa Blanca e Meninos, na zona sul, estão entre os que sofrem com a falta de professores e técnicos de educação física. No CEU Aricanduva, na zona leste, a pista de skate fica tomada pela terra quando há chuva.
Alunos e moradores reclamam. "A comunidade está perdendo espaço", diz a telefonista Delfina Custódio da Silva, 49, vizinha do escolão de Aricanduva.
Outro lado
A prefeitura afirma que está retomando as atividades culturais nos CEUs e que o quadro de profissionais e a agenda estarão completos até agosto.
A Secretaria da Cultura diz que avalia a contratação de peças profissionais e uma nova série de filmes para a programação do segundo semestre.
A chefe-de-gabinete da Secretaria da Educação, Maria Lúcia Tajal, diz que houve "interrupção" das aulas de iniciação artística por falta de pagamento da gestão Marta Suplicy (PT), no ano passado, e também por causa do fim do contrato dos arte-educadores.
Os professores não receberam os salários de pelo menos dois meses do final de 2004. A equipe petista diz que honrou pagamentos e deixou dinheiro em caixa para contas que venceriam em janeiro.
A troca de titulares da pasta da Cultura (Emanoel Araújo foi substituído por Carlos Augusto Calil) também teria atrapalhado as contratações.
Enviado por Oliver Cauã Cauê olivercauacaue@hotmail.com
Calil afirma que CCSP não era prioridade, por Valmir Santos
Calil afirma que CCSP não era prioridade
Matéria de Valmir Santos, originalmente publicada na Folha de São Paulo do dia 28 de julho de 2005
O secretário municipal da Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, 54, rebateu as críticas do ex-titular da pasta Celso Frateschi. Disse que o orçamento do Centro Cultural São Paulo chegou a R$ 8,5 milhões por meio de emendas orçamentárias, com apoio da Câmara Municipal.
Em 2004, porém, metade do orçamento teria sido congelada, "com agravante da constrangedora dívida deixada, no valor de R$ 1,4 milhão, de um total de R$ 20 milhões, que só estamos saldando agora".
"Sou grato à gestão anterior por nos ter permitido promover a revitalização do CCSP, que contou com apoio privado. Os recursos extra-orçamentários passaram de R$ 93 mil em 2001 para R$ 1,05 milhão em 2004. O CCSP não foi prioridade da gestão passada", diz ele.
Segundo Calil, o Museu da Cidade (que ocuparia o Palácio das Indústrias) teve recursos da Petrobras para sua implantação, mas não lhe foram previstos orçamento regular e funcionários, o que considera "irresponsabilidade". "Em situação semelhante, foram criados pela gestão anterior a Galeria Olido e o Museu Afro Brasil."
O secretário diz que promoverá atividades nos Centros Educacionais Unificados.
Segundo ele, o projeto de reforma da biblioteca Mário de Andrade estava incompleto. "Não foram previstas a restauração do edifício e a reforma da estrutura da biblioteca, hoje bastante comprometida, com graves problemas de infiltrações nas lajes."
Enviado por Oliver Cauã Cauê olivercauacaue@hotmail.com
Frateschi mergulha em dilemas éticos, por Valmir Santos
Frateschi mergulha em dilemas éticos
Entrevista de Valmir Santos, originalmente publicada na Folha de São Paulo do dia 28 de julho de 2005
Ex-secretário municipal da Cultura estréia no dia 4 peça baseada em Dostoiévski e comenta crise do PT e gestão Serra
Três dias depois do final da gestão do PT na Prefeitura de São Paulo (2001-2004), o ator e ex-secretário da Cultura Celso Frateschi já mergulhava na adaptação teatral de um conto do russo Fiodor Dostoiéski (1821-1881), "Sonho de um Homem Ridículo".
É a história algo surrealista de um sujeito ensimesmado, às turras com a autoconsciência do ridículo que o assombra desde a infância. No espetáculo solo, Frateschi, 53, transformou o protagonista em funcionário público, como que sublinhando a lida com o poder que ele mesmo experimentou. Daí a recrudescente atualidade do texto em meio à crise que abala o PT e o governo Lula.
Na viagem onírica que o projeta para outro planeta, o homem dostoievskiano parece ir ao longe para melhor enxergar a Terra, a si e a seus semelhantes, num processo de dor e tristeza, busca de uma verdade possível no reino das aparências éticas.
A seguir, trechos da entrevista com Frateschi, 35 anos de teatro.
Folha - Você saiu da secretaria, converteu o protagonista em funcionário público. O projeto tem a ver com sua experiência com o poder?
Celso Frateschi - Sem dúvida nenhuma. O bom do teatro é isso: é uma profunda reflexão sobre a vida. Eu não imaginava que fosse acontecer o que está acontecendo dentro do PT. E o texto resultou de uma violência, de uma contundência, de uma contemporaneidade, do ponto de vista ético -que é questão básica em Dostoiévski, que nem de longe pensei que ia ter essa força que tem.
Folha - Como vê a atual crise política do país?
Frateschi - O destino da história do PT está colocado numa encruzilhada que pode ser fundamental para o país. Torço para que se punam os culpados. O medo é que se perca o foco nessa briga contra a corrupção. Claro que fico triste e preocupado em ver gente histórica do partido, como o [José] Genoino, que não teve nada pessoalmente, mas fez uma ação que gerou uma confusão do cão.
É por isso que "Horácio" vem a calhar [texto do alemão Heiner Muller, outro solo do ator]. Horácio vence a guerra por Roma e, entusiasmado, acaba matando também a irmã, noiva do homem com quem duelou.
Ele é julgado pelos romanos, que sabiamente lhe dão o louro, como herói, mas também o machado, como assassino. É uma crueldade que a história demanda. Tem de ser assim. São dirigentes de cerca de 800 mil filiados, de 50 milhões de pessoas que acreditaram e votaram no presidente.
Folha - Depois que deixou a secretaria, teve encontros com Emanoel Araújo ou Carlos Augusto Calil [respectivamente, o ex e o atual secretário da Cultura]?
Frateschi - Com o Emanoel tive vários, antes de ele assumir. Foi surpreendente a virada de discurso dele, até uma reação patética, mas ele já pediu desculpas públicas, até lhe mandei flores. Acho que foi vítima do [José] Serra, mal informado pelo gabinete. Tenho o maior respeito pelo Emanoel.
Com o Calil, surpreendeu-me muito, de forma negativa. Ele participou do governo, não precisava ter invertido tanto, principalmente no que diz respeito à [biblioteca] Mário de Andrade. Usou números errados. Ele sabe que o que conseguiu fazer no Centro Cultural São Paulo, por exemplo, foi porque o orçamento pulou de R$ 2 milhões para R$ 8 milhões, e fui eu quem fiz isso, não foi à toa. Não tive contato com ele nem quero.
Folha - Sua atuação administrativa foi marcada pela reafirmação de políticas públicas. Essa filosofia pode ser disseminada?
Frateschi - Deixei uma contribuição para ser analisada positiva ou negativamente por qualquer governo. Hoje, você tem um governo [na cidade de São Paulo] que se pauta para ser contrário ao governo anterior.
Infelizmente, os programas de cultura não foram votados, sempre ficam na sombra dos outros programas. Vejo com muita tristeza alguns abandonos, como o Museu da Cidade, que tem verba depositada no Instituto Florestan Fernandes, cerca de R$ 6 milhões, R$ 7 milhões, e dinheiro do BID para ser reformado, R$ 15 milhões ou R$ 20 milhões, e todas as ações são de pé no freio, de não se tocar o Museu da Cidade por ser uma marca do governo anterior. A própria Galeria Olido, que tinha dinheiro de patrocinador, e não da prefeitura.
E a maior tristeza de todas, de chorar, que é o abandono dos CEUs, uma visão pedagógica que compreendia cultura, esporte e educação. Eles descaracterizaram, malharam tanto, que a primeira ação foi tirar a responsabilidade da ação cultural da Secretaria da Cultura. Isso é jogar fora os 21 centros culturais. E isso com dinheiro constitucional, não tem como falar que não tem. Com a Mário de Andrade foi a mesma coisa, todo o processo de reativação descaracterizou o trabalho já feito. O problema é quando o debate não atinge o nível propositivo e sim o da desqualificação.
Enviado por Oliver Cauã Cauê olivercauacaue@hotmail.com
Falta de verba ameaça museu afro, por Fabio Cypriano
Falta de verba ameaça museu afro
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo do dia 28 de julho de 2005
Secretário de Cultura afirma que instituição "contraria a Constituição"
Aberto no dia 23 de outubro do ano passado, no parque Ibirapuera, uma das últimas inaugurações da gestão Marta Suplicy, o Museu Afro Brasil, pode encerrar suas atividades antes de completar um ano. Com patrocínio da Petrobras de cerca de R$ 4,2 milhões, a instituição tem apoio garantido apenas até o próximo domingo.
Segundo Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura, em nota divulgada ontem, o museu foi criado "contrariando o que determina a Constituição Federal" e "sem que fossem garantidos à instituição recursos orçamentários ou quadro de funcionários, necessários à sua continuidade e estabilidade".
O secretário de Cultura, ainda segundo a nota, afirma que há três alternativas para a preservação da instituição: a criação do museu, em nível municipal, mediante lei a ser enviada à Câmara de Vereadores, destinando-lhe dotação orçamentária e quadro de pessoal, tornando-se assim um museu municipal; sua criação como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) ou, ainda, como uma fundação de direito privado a ser instituída a partir da vontade de seu curador, em ambos os casos independente do poder e das verbas municipais.
Em qualquer um dos casos, a solução para o impasse não se resolve a curto prazo, situação que inviabiliza a manutenção de 47 funcionários no museu. Como solução emergencial, no entanto, Calil diz contar com "recursos remanescentes do patrocínio da Petrobras [que] serão aplicados para mantê-lo vivo e bem aberto".
Entretanto, de acordo com Paulo Cauhy, do Instituto Florestan Fernandes, organização responsável pela implantação do museu, "a verba remanescente está empenhada em projetos em curso e, para ser usada na manutenção da instituição, eles precisam ser cancelados e a alteração aprovada pelo Ministério da Cultura e pela própria Petrobras". Caso isso ocorra, estariam disponíveis R$ 115 mil.
"Com esse dinheiro conseguimos funcionar por, no máximo, mais dois meses", diz Emanoel Araujo, criador e diretor do museu, que não vê com bons olhos a proposta da transformação do museu em fundação ou Oscip. "Esse museu trata de um assunto que deveria ser parte fundamental de uma política pública, pois é um tema relevante da nossa história e esse é um país onde essa questão sempre é adiada. Claro que o museu está baseado numa coleção que é minha, mas ele é mais do que isso", afirma Araujo. Mesmo assim, o curador diz que vai resistir: "Só sairemos como Antonio Conselheiro em Canudos: abatidos por canhão".
Enviado por Oliver Cauã Cauê olivercauacaue@hotmail.com
julho 21, 2005
Falta de atrações em exposição no Município, por Eduardo Fradkin
Falta de atrações em exposição no Município
Matéria de Eduardo Fradkin, publicada originalmente no Jornal O Globo no dia 20 de julho de 2005
Castelinho do Flamengo e Centro de Artes Hélio Oiticica pouco ou nada têm a oferecer ao público atualmente
Apostos no saguão do Castelinho do Flamengo, onde desde 1992 funciona o Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, o guarda Ricardo Santos recebe com simpatia os visitantes. Apontando para a frente e depois para o lado, ele informa:
- Nesta sala, estão panfletos e revistas. Naquela, fica a videoteca. Pode escolher um filme do nosso catálogo e vê-lo numa cabine. É de graça.
A recepção deixa de ser animadora, contudo, quando o visitante descobre se tratar da tour completa. E os andares superiores, indicados pelas placas "2º piso: Sala de exposições" e "3º piso: Espaço alternativo"?
- Se quiser subir para conhecer a arquitetura do castelinho, fique à vontade. Mas as salas estão vazias - adverte o guarda.
A franqueza de Santos é compartilhada pelos telefonistas do Centro de Artes Hélio Oiticica, também administrado pela prefeitura, no Centro.
- No dia 20 de agosto, será inaugurada uma exposição. Antes disso, nem adianta vir, porque o centro está fechado - esclareciam os telefonistas de plantão na quinta e na sexta-feira da última semana.
Não é o que diz o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira. Segundo ele, o casarão só é fechado às segundas-feiras. Equívoco dos telefonistas? Aparentemente sim, a julgar pelas quatro espectadoras enfileiradas na lateral do prédio na tarde de sexta. Mas as aparências enganam. Rodando suas bolsinhas perto dos portões fechados a cadeado, elas aguardavam outro tipo de programa.
A partir de dia 20 de agosto, espera-se que a freqüência melhore com a abertura da exposição "Cosmococas", com cinco obras inéditas do falecido artista homenageado pelo centro. O vazio atual, explica Macieira, deve-se a um convênio feito com o Museu de Houston para restaurar grande parte do legado de Oiticica. O secretário conta que o amplo terceiro andar está reservado para uma exposição permanente desse acervo. Reservado desde a sua inauguração, em 1996, aliás.
- Sempre lutei para que o terceiro piso abrigasse uma retrospectiva permanente, desde a inauguração da casa. Agora isso poderá se concretizar. O diretor, Luciano Figueiredo, listou uma grande quantidade de obras e cerca de 60% delas foram enviadas para Houston, no meio do ano passado, para restauração. Quando elas retornarem, faremos uma exposição permanente em que algumas peças serão trocadas a cada dois ou três meses. Enquanto isso, haverá outras, como a "Cosmococas" - anuncia o secretário.
Família do artista chegou a retomar o acervo de Hélio
Em janeiro de 2002, a família de Oiticica chegou a retirar o acervo do artista do centro, alegando não haver ali condições básicas para a sua manutenção. Hoje, a relação entre eles e a prefeitura está bem melhor, garante um dos responsáveis pelo espólio de Hélio, o irmão César Oiticica. Mas ele dá uma explicação diferente para a subutilização daquele espaço.
- As obras que foram para Houston são da fase até 1960 do Hélio. As posteriores, em melhor estado, poderiam ser expostas. Acho que o problema é dinheiro. Exposição custa caro e não adianta manter sempre as mesmas peças, pois o público perde o interesse. Mas o centro conta com uma programação. Depois de "Cosmococas", haverá uma exposição de fotos de José Oiticica Filho, pai do Hélio, e, no ano que vem, haverá uma de penetráveis inéditos do Hélio - comenta.
Aficionados por artes plásticas podem esquecer o Castelinho do Flamengo. Apesar de ainda ostentar uma placa de "Sala de exposições", o secretário das Culturas tem planos diferentes para o prédio gótico-barroco-neoclássico construído entre 1916 e 1918.
- A falta de atividades no Castelinho é algo que me incomoda muito, mas isso está para mudar. A sua vocação não é para abrigar esculturas, pois a estrutura é frágil e não as suporta, nem pinturas, pois não dá para esburacar paredes - explica Macieira.
O que resta então? O secretário já tem a resposta:
- Em cerca de 45 dias, vai chegar lá um novo equipamento de DVD, televisão e computadores (hoje os filmes do acervo são em VHS). O Castelinho vai abrigar também uma série de debates, que se iniciaram já neste mês. Os andares superiores serão ocupados por eles.
Como ainda não há cartazes na fachada anunciando as atividades, a freqüência do prédio se limita a curiosos que passam pela área. É o caso do estudante Max Hinden, de 19 anos.
- Estava passando em frente, vi as portas abertas e resolvi entrar. Nem sabia o que funcionava aqui. É um centro cultural, é? - indagava. - gostei dos vídeos gratuitos.
julho 14, 2005
Estréia discordante no Sérgio Porto, por Ana Wambier
Proposta de um trabalho de mídia tática: Com a participação da coletividade - enviando emeios para os jornalistas, comentando as matérias publicadas, ou a ausência delas, em jornais e revistas, com cópia, dos emeios e matérias, para o Canal Contemporâneo, pretendemos ampliar o debate sobre política cultural e a visibilidade para a arte contemporânea brasileira nas mídias convencionais.
Estréia discordante no Sérgio Porto
Matéria de Ana Wambier publicada originalmente no jornal O Globo, quinta-feira, 14 de julho de 2005
As galerias de arte do Espaço Cultural Sérgio Porto, agora sob o comando do nova-iorquino Luís Cancel, foram reabertas esta semana com a exposição Chino/Latino. A primeira das seis mostras que ocuparão o espaço até janeiro do ano que vem é composta por obras do brasileiro Chico Cunha e do porto-riquenho Miguel Trelles.
No início do ano, a nomeação de Luís Cancel para o cargo de curadoria das galerias do espaço causou uma crise no meio das artes plásticas. Sua indicação produziu a saída da artista plástica Anna Bella Geiger e do crítico de arte Fernando Cocchiarale, que estavam justamente na função de curadores das galerias. A troca de nomes por parte da Secretaria das Culturas aconteceu sem maiores explicações. Ambos (Anna e Cocchiarale) haviam sido convidados para o trabalho pela então diretora da Divisão de Artes Visuais da RioArte, Cláudia Saldanha, que, em junho, pediu demissão do cargo.
Paisagem é a temática que predomina nas obras
A exposição Chino/Latino ocupa os dois andares do espaço e tem a intenção de promover um diálogo entre as obras de Chico Cunha e Miguel Trelles.
- O trabalho dos dois tem temas muito próximos. Achei pertinente esse intercâmbio. Embora bastante diferentes entre si visualmente, o trabalho dos dois passa por uma temática semelhante. São dois caminhos paralelos que passam pela mesma direção mas com vocabulários diferentes e particulares - explicou Luís Cancel.
As dez telas de Miguel Trelles e as seis de Chico Cunha (todas essas pertencentes a uma série que o pintor fez na década de 90) tratam de temas relativos a paisagens e são inspiradas, em certos aspectos, numa visão espacial própria da pintura chinesa, que abandona a idéia de perspectiva ocidental.
Os trabalhos de Trelles são, em geral, muito brilhantes e coloridos. Suas pinturas usam tinta acrílica, óleo, nanquim e até mesmo carvão. Já as obras de Chico são mais translúcidas graças à técnica encáustica (espécie de preparado de cera misturado a pigmentos) utilizada nas telas. As paisagens geográficas são também criadas com instrumentos próprios da xilogravura. Todas as obras de Chico expostas na galeria pertencem a coleções particulares ou a acervos de museus, como o MAC de Niterói.
Para a exposição no Sérgio Porto, Trelles preparou uma tela ("Parabéns Guajiro a Cunha") especialmente para fazer um contraponto com seu par, Chico Cunha.
- Pintei-a em menos de três semanas para fazer parte da mostra. Não conhecia a obra de Chico e fiquei encantado - explicou.
Tanto Chico Cunha como Miguel Trelles foram convidados por Cancel mesmo estando à parte do processo de seleção pelo qual passaram os outros artistas: eles não enviaram portfólios para a instituição.
- Na maior parte respeitei o processo. Todos os outros artistas que vão expor ao longo do ano enviaram portfólios. Mas o curador sempre tem a opção de convidar artistas que julga apropriados. Achei relevante e interessante para os moradores do Rio conhecerem o trabalho particular de paisagem dos dois pintores.
Os artistas plásticos que ficaram revoltados com o processo de seleção de Cancel ainda pensam em produzir um abaixo-assinado.
- Eu acho essa exposição de abertura um equívoco curatorial. A proposta do Sérgio Porto sempre foi mostrar a produção atual, recente. Não é uma proposta museológica. A partir do momento em que se expõem trabalhos feitos há mais de dez anos e que pertencem a coleções particulares, a exposição foge do seu caráter primordial, que é mostrar obras inéditas, com frescor - defendeu a artista plástica Ana Holck.
julho 3, 2005
Confusão no Sérgio Porto provoca desligamento de diretora do RioArte por Ana Wambier
Confusão no Sérgio Porto provoca desligamento de diretora do RioArte
Matéria de Ana Wambier publicada originalmente no jornal O Globo, sábado, 1º de julho de 2005
Em meio à crise das galerias do Espaço Cultural Sérgio Porto, a diretora da Divisão de Artes Visuais do RioArte, Cláudia Saldanha, responsável por coordenar o processo de seleção dos artistas plásticos que lá expõem, pediu demissão do cargo. A causa do desligamento, explicou, foi a descontinuidade no trabalho de curadoria que vinha elaborando ao lado de Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale.
O cancelamento das decisões tomadas pelo trio foi provocado por Luís Cancel, nomemeado para o cargo de curador do Sérgio Porto pelo secretário das Culturas, Ricardo Macieira. No comando da seleção, Cancel invalidou a escolha do júri anterior e definiu a sua própria.
Na carta de desligamento que Cláudia Saldanha diz ter enviado ao presidente do RioArte há mais de 15 dias, ela afirma ter ficado insustentável permanecer no posto, uma vez que estaria corroborando com práticas que julgou desrespeitosas.
Não me identifico com a atual curadoria. Eu me senti desrespeitada e achei que a atitude foi também um grande desrespeito com os curadores Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale, e com os artistas que já haviam sido selecionados disse Cláudia Saldanha.
Cancel se explica em carta na internet
O novo curador das galerias, Luís Cancel, fez divulgar na internert uma carta em que justificava a razão de ter rejeitado a seleção de Anna Bella, Fernando e Cláudia.
Neste documento, Cancel diz: "Após ter aceito o convite do secretário, fui então ao RioArte para conhecer a Sra. Claudia Saldanha, que me informou haver feito uma revisão dos portfólios enviados à instituição com Anna Bella e Fernando, mas também me informou que esta seleção não era oficial e que a listagem dos escolhidos ainda não havia sido divulgada".
Eu nunca disse que a seleção que eu tinha feito com Anna e Fernando não era oficial. O fato de convidar essas duas pessoas com a importância delas já mostra que eu não estava simplesmente revisando as obras enviadas pelos artistas disse Cláudia Saldanha, que em resposta, decidiu também escrever uma carta que tornou pública no site do Canal Contemporâneo.