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setembro 15, 2019
Pela primeira vez, negros são maioria em principal prêmio de artes plásticas do país por Clara Balbi, Folha de S. Paulo
Pela primeira vez, negros são maioria em principal prêmio de artes plásticas do país
Matéria de Clara Balbi originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 12 de outubro de 2019.
Desde a criação do Marcantonio Vilaça, há 15 anos, apenas dois artistas negros haviam vencido a premiação
Mais tradicional premiação de artes plásticas do Brasil, o prêmio Marcantonio Vilaça anunciou, na noite desta quinta (12), os vencedores de sua sétima edição. São eles Aline Motta, Dalton Paula, Dora Longo Bahia, Ismael Monticelli e Rodrigo Bueno.
Como em edições anteriores, a lista de ganhadores equilibra nomes fortes no circuito, aqui Paula e Longo Bahia, e emergentes, caso de Motta, Monticelli e Bueno.
Esta é a primeira vez, no entanto, que três dos cinco vencedores da edição —Paula, Motta e Bueno— são negros. Desde a criação do prêmio, há 15 anos, apenas dois artistas negros haviam sido escolhidos pelo júri da premiação, Jaime Lauriano e Lucia Laguna, respectivamente em 2017 e 2006.
"Estamos de certo modo recuperando um espaço que foi silenciado", diz Marcus Lontra, membro da banca avaliadora ao lado dos curadores Daniela Bousso, Denise Mattar, Moacir dos Anjos e Paulo Herkenhoff, e do diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Fabio Szwarcwald. "A presença de artistas negros em coleções, por exemplo, é irrisória. E eles são um grupo importante na arte contemporânea brasileira."
Lontra acrescenta ainda que a presença de Paula, Motta e Bueno na premiação é representativa porque "a situação negra não pode ser reduzida a apenas um artista".
Paula, por exemplo, tematiza a violência colonial e o lugar de prazer dos corpos negros em suas pinturas e instalações. Motta costura memórias pessoais e coletivas em sua busca pelas lacunas da história relacionada à escravidão no país. E, com seu Ateliê Mata Adentro, Bueno recupera e transforma resíduos da cidade.
Além deles, Longo Bahia é conhecida por obras de alta voltagem política, em que retrata a violência das grandes metrópoles. Por fim, Monticelli tem um prática mais conceitual, dedicando-se a reordenar espaços, objetos, materiais e narrativas e, assim, apresentar uma nova maneira de compreendê-los.
Cada um dos cinco ganhadores receberá uma bolsa de R$ 50 mil e terá sua obra acompanhada por um curador durante um ano. Eles também participarão de uma exposição itinerante, a ser exibida em Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Campo Grande no ano que vem —a organização ainda negocia levar a mostra para o Rio de Janeiro.
Em São Paulo, os trabalhos dos vencedores podem ser vistos ao lado de obras dos outros 25 finalistas do prêmio no Museu de Arte Brasileira (MAB-Faap) a partir desta sexta (13).
Uma mostra paralela no mesmo local homenageia Anna Bella Geiger por meio de um diálogo entre obras da carioca e de outros 11 artistas.