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março 10, 2019
Artistas levam à Bienal de Veneza nova expressão de dança das periferias de Recife por Gustavo Fioratti, Folha de S. Paulo
Artistas levam à Bienal de Veneza nova expressão de dança das periferias de Recife
Matéria de Gustavo Fioratti originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 7 de março de 2019.
Bárbara Wagner e Benjamin de Burca documentaram competição realizada entre jovens em praças e quadras de escolas públicas
Expressão de dança e música que deu forma a um movimento de jovem nos bairros de periferia de Recife (PE), a swingueira será retratada em um trabalho inédito em vídeo e foto assinado pela dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca na próxima edição da Bienal de Veneza.
A instalação “Swinguerra” ocupará as duas salas do Pavilhão Brasileiro do evento, que será realizado na cidade italiana a partir de maio, sob curadoria do espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, curador da última Bienal de São Paulo. Depois, prossegue em cartaz até o fim do ano.
Como explica Wagner, a swinguera é um fenômeno criado em torno de competições anuais realizadas por jovens que têm idades entre 15 a 25 anos. “É muito acrobático e muito energético”, qualifica de Burca, e por isso oferecem mais dificuldades a quem está em faixa etária acima desta.
O trabalho estuda as competições realizadas entre os grupos formados por esses jovens. Os coletivos costumam ter entre 10 e 50 integrantes.
As apresentações são realizadas em geral em quadras esportivas de escolas públicas na periferia da capital pernambucana, em condomínios populares ou ainda em praças. Após as apresentações, os grupos são avaliados por jurados, o que também aproxima essa manifestação do universo das escolas de samba. São analisados diversos elementos, como figurinos, composição coreográfica e música.
Os competidores não costumam ganhar prêmios em dinheiro, motivam-se tanto pela experiência como pelo prestígio que conquistam junto à rede de grupos formados na expansão dessa expressão, explica Wagner.
Os artistas fazem com essa experiência mais um acréscimo ao repertório criado a partir da associação com artistas ligados a movimentos populares, o que resulta em uma forma específica de documentação.
Assim como fizeram em trabalhos sobre o funk, o frevo, o brega ou mesmo o universo musical das igrejas evangélicas, eles chamam os retratados a colaborarem com o conceito geral da mostra, colocando-os na iminência de uma coautoria. O filme acompanha ensaios de três grupos de dança: um de swingueira; outro de brega, movimento já abordado pelo duo no filme “Estás vendo coisas” (2016).
Wagner estabelece uma diferença entre esse novo campo de pesquisa e os demais. “No caso da swingueira, o que há de mais interessante é que ele não é um fenômeno do mercado”, diz.
A comparação imediata é o estudo realizado com o frevo, que a Unesco reconhece como patrimônio da humanidade, o que estimulou o uso de sua imagem em propagandas do governo de Pernambuco.
O duo também vai documentar neste trabalho as maneiras como a swingueira criou metodologias singulares, como a utilização do pagode baiano nas bases rítmicas. “O que essa garotada faz é cortar e colar música do pagode baiano e fazer coreografias para isso”, diz Wagner.
A mostra será composta de uma videoinstalação com dois canais que se complementam na sala maior. Também haverá uma instalação ‘site-specific’ com retratos dos participantes que toparam participar deste novo trabalho.
Embora sua realização tenha tido início no final de 2018, “Swinguerra” vem sendo gestado desde 2015. Pérez-Barreiro lembra que o público da Bienal de Veneza tem a especificidade de ser composto por profissionais do próprio meio artístico, o que permite a projeção internacional de seus participantes.
Para ele, embora haja ali o retrato de um universo popular, “Swinguerra" se caracteriza pela autenticidade e por ser também hermético, colocando em evidência artistas à margem.