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janeiro 23, 2019
Para um tempo de guerra por Paula Alzugaray, revista seLecT
Para um tempo de guerra
Crítica de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista seLecT em 14 de janeiro de 2019.
Iconografias da paz e da militância pela arte e a cultura sobressaem em panorama da obra de Regina Vater
Regina Vater, Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, SP - 30/10/2018 a 24/01/2019
A instalação Para Um Tempo de Guerra (1987) foi concebida por Regina Vater quando vivia nos Estados Unidos, sob a cultura bélica do governo Ronald Reagan. Trata-se de uma mandala feita de pães e pedras, inscrevendo no solo um discurso pela paz, que sempre orientou o trabalho da artista em seus 50 anos de carreira. A remontagem dessa obra na primeira individual de Regina Vater na Galeria Jaqueline Martins é considerada pela artista como um statement para o presente momento de polarização da política e da sociedade brasileira. Sobre os pães e as pedras, ela esclarece: “É sobre aqueles que batem e aqueles que alimentam”.
A exposição ocupa os três andares da galeria e apresenta cerca de 50 obras, entre fotografias, vídeos e instalações, o que acaba por configurar uma retrospectiva. Abrange desde os desenhos da série Nouvelle Figuration, dos anos 1960, em que a representação abstrata de órgãos sexuais e reprodutivos da mulher dava o tom feminista e ativista da então jovem artista, até símbolos da paz e de uma combatividade ritualística em favor da arte, que permeiam todo o seu percurso. A série Art (1978) inclui vídeos e fotoperformances em que a artista inscreve a palavra em várias instâncias da vida cotidiana: na mesa do almoço, na areia da praia, na bandeira branca ou no próprio corpo, como no autorretrato Assalto, em que veste a carapuça da guerrilheira cultural.
Integra também a exposição a escultura performática Mulher Mutante (1969-2017), resgatada na individual da artista no MAC Niterói, em 2017. A obra, pioneira no discurso de performatividade de gênero, ganha agora uma edição limitada de três múltiplos.