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setembro 27, 2018
ArtRio aposta no mercado nacional para driblar crise econômica e política por Nelson Gobbi, O Globo
ArtRio aposta no mercado nacional para driblar crise econômica e política
Matéria de Nelson Gobbi originalmente publicada no jornal O Globo em 26 de setembro de 2018.
Com 87 galerias, feira de arte abre sua oitava edição nesta quarta, na Marina da Glória
RIO — Principal evento do mercado de arte carioca, a ArtRio chega hoje à oitava edição (a segunda realizada na Marina da Glória, após anos na Praça Mauá, na Zona Portuária) com 87 galerias, 17 a mais do que no ano passado, e mais focada no mercado nacional. A orientação, segundo a presidente e idealizadora da feira, Brenda Valansi, segue a tendência dos últimos anos, nos quais o evento reduziu o investimento na vinda de galerias estrangeiras e passou a fazer de seu espaço uma vitrine para a produção brasileira, trazendo curadores e colecionadores de fora do Rio e do país. O movimento também acompanha a temperatura do mercado, com a moeda enfraquecida e o câmbio favorável aos compradores internacionais.
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Mas será que fatores como a instabilidade do cenário político, a indefinição na tributação no setor, a exemplo das taxas de armazenagem de obras de arte em aeroportos, e tragédias como o incêndio no Museu Nacional podem isolar o Brasil em relação ao circuito internacional?
— No que se refere à relação das galerias internacionais com o país, retrocedemos 30 anos. Eles têm medo de investir e ter de pagar taxas maiores que o previsto, como aconteceu com a cobrança dos aeroportos, além dos nossos impostos para o setor, que já são altos — comenta Brenda. — Mas o interesse dos colecionadores estrangeiros continua enorme. Este ano, trouxemos 140 convidados, mais que o triplo do ano passado. Mesmo com o noticiário negativo, eles querem ver nossa produção contemporânea, visitar ateliês e instituições, conhecer os artistas.
Para a presidente da ArtRio, o momento político e social conturbado pode favorecer a emergência de novos discursos, que começam a ganhar espaço em galerias e instituições.
— Períodos de instabilidade costumam refletir na produção artística. Hoje vemos uma presença forte de artistas mulheres e negros, ou ainda a questão de gênero abordada com intensidade. É parte dessa produção jovem, que desperta curiosidade lá fora — observa Brenda. — As crises sempre dão uma chacoalhada nas expressões artísticas. São trabalhos assim que ficam para a história.
As 87 galerias estarão distribuídas entre os dois setores principais, Panorama (para marchands consolidados no mercado) e Vista (para empresas com até dez anos de mercado), e programas curados, como o Mira, Palavra e Solo — que este ano terá a seleção assinada por duas colecionadoras, Genny Nissenbaum e Mara Fainziliber. Contando também com o programa Intervenções ArtRio, com dez obras de larga escala instaladas no Morro da Urca, com curadoria de Ulisses Carrilho, a feira vai lançar amanhã para o público sua plataforma digital, voltada à venda online de galerias que integram o evento. Outra novidade da oitava edição é o programa Brasil Contemporâneo, que se insere dentro das ações voltadas a ampliar a visibilidade da produção nacional ao destacar galerias que atuam fora do eixo Rio-São Paulo ou que representem artistas de fora dos grandes centros.
— Queremos destacar não só a diversidade da produção de outros locais do país, mas também os diferentes modelos deste mercado e suas formas de atuação. São expressões que vão além dos cânones da arte contemporânea, abarcando a arte popular, a arte indígena ou o artesanato — ressalta Bernardo Mosqueira, curador do Brasil Contemporâneo e diretor do Prêmio Foco, voltado a artistas emergentes.
Curador do Mira, programa dedicado à videoarte, em sua segunda edição na feira, o americano David Gryn acredita que a cena brasileira possa vencer as questões atuais.
— Alguns problemas podem afetar a vinda de algumas galerias, mas sempre acho que mudanças podem ser boas. Precisamos olhar além da política e das normas no mercado, e permitir que o mundo da arte nos ofereça um alívio e um descanso da vida cotidiana — comenta Gryn, que assina o programa de vídeo da Art Basel Miami.
Onde: Marina da Glória — Av. Infante Dom Henrique, s/nº, Glória. Quando: Qui a sab., das 13h às 21h. Dom., das 13h às 20h (abertura para convidados nesta quarta).Quanto: R$ 40. Classificação: Livre. Como chegar: Metrô (Estação Glória), táxis no local e estacionamento (sujeito a lotação).