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Como atiçar a brasa

 


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fevereiro 20, 2018

Arte acovardada por Fabio Cypriano, Bravo

Arte acovardada

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na revista Bravo.

Em um período marcado por censura e intolerância, as instituições de arte têm pouco do que se orgulhar

As instituições de arte entram em 2018 mais fragilizadas e acovardadas do que começaram 2017. De certa forma, isso é consequência da polarização enlouquecida das redes sociais que também contaminou o mundo das artes visuais. O início desse percurso ocorreu em Porto Alegre, quando o Santander Cultural encerrou a mostra Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira em setembro, quase um mês antes do prazo previsto, por conta de denúncias nas redes sociais de apologia à pedofilia e zoofilia, apontadas em 3 das 264 obras expostas.

Não foi a primeira mostra dessa temática no país. A 31ª Bienal de São Paulo, Como Falar de Coisas Que Não Existem, em 2014, reuniu um segmento muito mais radical, em torno de três projetos: Deus é Bicha, do peruano Miguel López; o Museu Travesti do Peru, de Giuseppe Campuzano; e Zona de Tensão, uma homenagem a Hudinilson Jr. (1957-2013), organizada por Marcio Harum. Com muito mais visibilidade do que o Santander, a Bienal não passou por nenhum tipo de constrangimento, mesmo que polêmicas não sejam raras em sua história – é só lembrar dos urubus de Nuno Ramos, em 2012, e dos pichadores, em 2008.

Certo é que o Brasil de 2014 era muito mais tolerante e aprazível que o país surgido do golpe, em 2016, marcado pela quebra das regras democráticas e o fortalecimento de movimentos reacionários contra a liberdade de expressão. O posicionamento de censura do Santander certamente deu forças para o segundo ato dessa ópera bufa: os protestos contra a performance La Bête, de Wagner Schwartz, na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Novamente, pelas redes sociais, criou-se uma enxurrada de falsas acusações, de que uma criança estaria interagindo com o artista nu e que, portanto, o museu estaria fazendo apologia da pedofilia.

Posted by Patricia Canetti at 2:13 PM