|
novembro 13, 2017
Masp abre 'Histórias da Sexualidade' com obras que vão além do nu artístico por Isabella Menon, Folha de S. Paulo
Masp abre 'Histórias da Sexualidade' com obras que vão além do nu artístico
Matéria de Isabella Menon originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de outubro de 2017.
Engana-se quem acredita que o Masp aproveita a onda de conservadorismo que vem resultando em críticas a exposições no Brasil para chamar atenção para a mostra que inaugura nesta quinta (19) e que dialoga sobre questões de sexualidade e gênero.
Na verdade, a instituição colocou a mostra em sua programação em 2016, quando foi introduzido o projeto "Histórias da Sexualidade", que inclui além dela um ciclo de palestras sobre o tema.
A exposição, que se distribui em três espaços do museu, "nunca foi tão necessária", afirma Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de história do Masp, em entrevista à Folha."Uma série de direitos que julgávamos assegurados, na verdade, encontra-se em risco".
Com conteúdo de violência, sexo explícito e linguagem imprópria, a exposição foi classificada para 18 anos.
A faixa, autoatribuída pelo museu, impede que um menor, mesmo se acompanhado dos responsáveis, tenham acesso à mostra –o Ministério da Justiça não determina a classificação para instituições culturais, que devem fazê-lo por si, seguindo manual da pasta.
A exposição conta com um batalhão de 150 nomes fortes para o ambiente artístico, que vão desde Renoir (1841-1919), a contemporâneos, como Adriana Varejão –o Masp escolheu sua "Cena de Interior 2", que foi alvo de críticas no "Queermuseu" em Porto Alegre, por, segundo manifestantes, fazer incitação à zoofilia.
As mais de 300 obras estão divididas em nove temas, como "Corpos Nus", "Jogos Sexuais", "Religiosidades".
Cibelle Cavalli Bastos e Alexandre da Cunha, por exemplo, estão na ala "Totemismo", dedicado à representação dos órgãos sexuais.
A obra "Xannayonnx Portal" pode parecer só uma grande espuma rosa. Bastos explica que o trabalho foi construído sobre uma indagação: "E se todos tivéssemos uma genitália híbrida?".
"A alma de uma pessoa não tem gênero, e a energia do masculino e feminino não garante o que a pessoa é."
Para ela, um mundo ideal seria o do filme "Avatar" (2009), onde o alienígena "gruda o rabinho no cabelo [para reproduzir]. Seria incrível se fizéssemos isso".
Do título ao uso de materiais, a obra de Cunha carrega um forte teor sexual."Morning", para ele, é uma expressão que remete à "sensualidade, do acordar para um ciclo".
Além disso, ele utiliza a camiseta como fundo do quadro, em vez da tela habitual; a peça de roupa, diz, está ligada ao "comum uso sobre a pele e o corpo humano". Materiais que a sobrepõem formam relevos que fazem alusão "até mesmo à genitália", explica.
QUEBRA DE PARADIGMAS
Militante dos direitos LGBTs e de profissionais do sexo, Amara Moira participou do ciclo de seminários do projeto em 2016.
Moira, que é travesti, diz ver o Masp como uma instituição "elitizada", "excessivamente pautada por padrões europeus, brancos, masculinos, colonizadores". "Para apreciá-la, a pessoa precisa ter intimidade com os valores e ideais que a produziram."
Por isso, Amara Moira defende a introdução de temas como a sexualidade e gênero para dentro do museu.
"A sociedade começa a se dar conta de que, se quer mesmo discutir sexualidade, pessoas trans e prostitutas devem obrigatoriamente participar do debate."
HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE
ONDE Masp - av. Paulista, 1.578; tel. (11) 3149-5959
QUANDO abertura hoje, às 20h, para convidados; de 20/10 a 14/2; ter. a dom. das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h
QUANTO R$ 30 (inteira); 18 anos