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maio 25, 2017
Casa França-Brasil tem sua direção e parte da equipe demitida por Nelson Gobbi, O Globo
Casa França-Brasil tem sua direção e parte da equipe demitida
Matéria de Nelson Gobbi originalmente publicada no jornal O Globo em 19 de maio de 2017.
Ex-diretor teve funcionárias dispensadas para abrigar indicados da secretaria de Cultura; pasta alega 'decisão administrativa'
RIO — Convidado há pouco mais de um ano para dirigir a Casa França-Brasil pela ex-secretária de Cultura do Estado, Eva Doris Rosental, o curador e pesquisador Marcelo Campos foi exonerado do cargo na última segunda-feira, através de uma ligação do gabinete do atual secretário, André Lazaroni. A saída de Campos, seguida do pedido de demissão de parte de sua equipe, é mais um episódio envolvendo a instituição francófila. A Casa França-Brasil enfrentava dificuldades financeiras que culminaram com o fim do contrato com a organização social Oca Lage, que geria o espaço e o Parque Lage, antes da indicação do curador para a direção.
Na sua gestão, Campos remodelou a programação e contratou uma equipe enxuta para manter a Casa França-Brasil dentro do orçamento destinado pela secretaria estadual de Cultura, suficiente apenas para a folha de pagamento e a manutenção do espaço, segundo o seu ex-diretor. Da equipe montada por Campos constavam cinco profissionais voltados à pesquisa e produção de conteúdo, oriundos em sua maioria do ambiente acadêmico.
No início de maio, o curador — que também é professor do Instituto de Artes da Uerj — diz ter recebido um pedido da secretaria para ceder dois cargos na Casa França-Brasil, o que negou diante da falta de orçamento da instituição. Alguns dias depois, duas pessoas de sua equipe foram exoneradas sem o seu prévio conhecimento, uma pesquisadora e uma profissional administrativa que já ocupava o cargo antes de Campos ser convidado para gerir o espaço. Campos apelou à secretaria pela volta das funcionárias demitidas, mas conseguiu apenas a volta da profissional do administrativo, mediante a perda do cargo de uma outra funcionária.
— Me foram apresentadas duas pessoas que passariam a integrar a esquipe, que não haviam sido selecionadas por mim e nem possuíam afinidade com o universo com que trabalhávamos ali. Sequer cheguei a passar demandas para elas. Já era difícil manter o espaço com a equipe que tínhamos, que era enxuta, mas formada apenas de pessoas capacitadas — aponta Campos. — Toda a parte de produção, conteúdo e, em muitos casos, de montagem, era realizada por essa equipe. Não daria para manter o trabalho sem os profissionais que foram trocados.
Campos continuou tentando recuperar os postos perdidos, quando foi surpreendido com a ligação da secretaria de Cultura na última segunda, solicitando o seu próprio cargo.
— Que eu saiba, não havia nada contra mim ou meu trabalho à frente da Casa. Muito pelo contrário, boa parte da programação foi realizada a partir de meus contatos carreira e dos esforços da equipe. Não havia dotação orçamentária para nenhuma exposição, conseguimos que os próprios artistas ou produtores arcassem com os custos de transporte e montagem — ressalta Campos, que não acredita ter sido demitido como retaliação à negativa aos cargos solicitados. — Não acho que passe por aí, mas queria entender a razão da exoneração. Não me apresentaram nenhum motivo para a decisão.
Com a demissão de Campos, o restante da equipe convidada por ele pediu demissão. Em seu post de despedida na página da Casa França-Brasil no Facebook, a equipe enumerou seus resultados no período, destacando que "a programação chegou a receber 25 mil pessoas em menos de um mês, número comparável a importantes museus e centros culturais no Brasil e no mundo". No site da instituição, os nomes de Marcelo Campos e dos demais funcionários ainda permanecem no espaço destinado à gestão.
Em nota, a secretaria estadual de Cultura informa que a alteração na direção da Casa França-Brasil "foi uma mudança de rotina, por questões de administração" e que "há quadros na secretaria com vasto currículo e larga experiência em gestão pública de espaços culturais com capacidade de atender de forma plena aos anseios do público em todos os equipamentos culturais da pasta". A secretaria não se pronunciou em relação aos cargos solicitados e não deu previsão para a indicação de outro nome para a direção do espaço.