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maio 25, 2017
Itaú quer liderar inclusão de negros nas grandes coleções por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Itaú quer liderar inclusão de negros nas grandes coleções
Análise de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 23 de maio de 2017.
Todo acervo tem suas lacunas. O do Itaú Cultural, construído ao longo das últimas três décadas e celebrado agora com uma exposição grandiloquente aos modos do banco, também tem as suas.
Na verdade, o que chama a atenção é a timidez de uma parte de seu recorte construtivo, com poucas peças de nomes incensados como heróis da mais potente vanguarda nacional -o neoconcretismo.
Isso revela, no caso, não um desinteresse do banco por esse momento histórico, mas sim uma demora a entrar na briga por essas obras, hoje caras demais e já em acervos indispostos a se desfazer delas.
O centro cultural se firmou no circuito apostando primeiro em obras de difícil exibição e ainda mais difícil conservação -peças da chamada arte cibernética que hoje já integram a vasta gama das artes visuais criadas no planeta e então eram patinho feio de um cenário cultural que tentava -e ainda tenta- entender muitos desses trabalhos.
Mas o esforço agora na Oca parece ser uma tentativa de mostrar os músculos muito fortes deste que se anuncia como oitavo maior acervo corporativo do planeta e o primeiro do tipo na América Latina, com 15 mil obras.
Nas entrelinhas, o Itaú, que tem forte influência financeira sobre grande parte das instituições de peso do país -entre elas, Masp e MAM-, também parece querer assumir a dianteira de outro movimento -a inclusão de artistas negros nas grandes coleções.
Suas aquisições mais recentes podem ser vistas agora e merecem total atenção. Com todo o poder do banco, o debate sobre a possível instrumentalização dessas obras a favor de modismos e a mais do que necessária inclusão de autores negros num circuito ainda racista talvez passe para outro patamar, mais denso e bem mais rico.