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abril 29, 2017
'Estamos quase em bancarrota', diz diretor do Parque Lage por Árion Lucas, O Globo
'Estamos quase em bancarrota', diz diretor do Parque Lage
Matéria de Árion Lucas originalmente publicada no jornal O Globo em 27 de abril de 2017.
Para contornar a crise, nova gestão planeja reestruturar modelo de captação de recurso
Sob a paisagem do Corcovado, os jardins em frente ao palacete do Parque Lage se enchem de turistas tirando fotos e de famílias fazendo piqueniques. Por semana, cerca de 12 mil pessoas passam pelo local. Uma caminhada pelo entorno, porém, revela uma infraestrutura precária, enquanto a insegurança aumenta pela falta de vigias. Pichações no muro externo, bancos quebrados e água parada se tornaram parte do cenário, cujo turismo é ainda dificultado pela falta de sinalização, uma vez que muitas placas estão quebradas ou pichadas. O palacete, por sua vez, apresenta manchas de mofo e rachaduras.
— Estamos quase em bancarrota — diz o novo diretor do parque, Fabio Szwarcwald.
A situação financeira do parque é grave e com pouca perspectiva de melhora a curto prazo, avalia Szwarcwald. Prestes a completar dois meses de gestão, ele diz lamentar o estado de abandono do terreno. Explica ainda que as melhorias na infraestrutura dependem de repasses do governo, da mesma forma que o parque precisa de leis de incentivo para se manter. Segundo Szwarcwald, os cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), por si só, não garantem os custos de manutenção do espaço.
Atualmente, o estado paga por limpeza, segurança, luz, água e telefone, mas abaixo do que seria necessário. Em 2014, a média de repasses era de R$ 5 milhões: hoje mal chega a R$ 500 mil.
Szwarcwald conta que, já para o próximo mês, está previsto o lançamento do programa Amigos do Parque Lage, pelo qual pessoas físicas e jurídicas poderão financiar a escola em troca de benefícios, como descontos em eventos. A ideia é aproximar o público do patrimônio.
— Acho que a escola é um bem da cidade. As pessoas precisam entender que isso aqui é um pulmão onde você respira arte e natureza — afirma o diretor.
Outro projeto traçado pela nova gestão é a criação de semanas de arte — eventos similares a congressos —, com encontros para desenvolver novas perspectivas e debater questões relativas ao meio cultural.
Há, ainda, planos para novos cursos, como o chamado Parquinho Lage, que seguirá moldes parecidos com a atual EAV, mas com aulas voltadas para crianças entre 6 e 12 anos.
Além disso, serão criados cursos de formação com duração de um ano, nos quais o aluno poderá estudar diversas disciplinas. No final, receberá um diploma. Todos os estudos serão pagos. Mas, segundo Szwarcwald, o objetivo é buscar patrocínios que viabilizem bolsas de estudo.
— Na crise, os cursos fazem a pessoa olhar com outro enfoque para a própria carreira. Estudar é uma ferramenta para mantê-la atualizada, aumentar o networking e inseri-la no mercado de trabalho — diz o diretor.
Szwarcwald acredita que a nova matriz financeira da EAV dará conta de reverter a situação do Parque Lage.
— Precisamos ter um planejamento para poder ir às empresas captar esses recursos via parcerias institucionais, financiamentos de empresas, de pessoas físicas e de órgãos internacionais. E a ideia é, sim, que parte desses recursos seja utilizada para reformas — conclui ele.