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maio 17, 2016
Marieta Severo, Leoni e outros artistas armam resistência contra fim do MinC por Luiza Franco, Folha de S. Paulo
Marieta Severo, Leoni e outros artistas armam resistência contra fim do MinC
Matéria de Luiza Franco originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 17 de maio de 2016.
Ocupações, shows, carta de repúdio. Essas são algumas das estratégias que a classe artística pretende usar para lutar contra a extinção do Ministério da Cultura.
Cerca de 60 deles se reuniram na noite desta segunda (16) em um casa em Botafogo, zona sul do Rio. O encontro foi convocado pela APTR (Associação de Produtores de Teatro do Rio).
Estavam presentes artistas como Marieta Severo, Renata Sorrah, Leoni, Marcelo Serrado, Marco Nanini, Tonico Pereira, Bruna Linzmeyer e representantes de entidades, como Paula Lavigne, do Procure Saber.
Aplausos e homenagens deixaram evidente o apoio dos artistas à ocupação do Palácio Gustavo Capanema, prédio histórico no centro do Rio. O edifício, onde hoje funciona a Funarte, foi ocupado no início da tarde desta segunda por manifestantes contrários à extinção do Ministério da Cultura e por movimentos contrários ao governo do presidente interino Michel Temer (PMDB).
Tudo indica que o local virará um centro de resistência. Lavigne anunciou que a Procure Saber pretende montar um palco no pilotis do edifício e organizar shows e apresentações ali todas as noites, às 19h. A programação ainda não foi definida, mas as atividades devem começar na próxima quarta (18). Otto e Lenine já disseram que participarão dos atos.
Depois de duas horas de votações e debates, ficou decidido que uma carta de repúdio ao fim do ministério será entregue ao governo interino de Temer. Ela será assinada por associações, como a APTR, a Procure Saber, o GAP (Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música) e sindicatos (veja íntegra da carta abaixo).
Não se chegou lá sem muita discussão. Isso porque todos os presentes estavam unidos no desejo de repudiar a extinção do ministério, mas houve divergência sobre como articular o movimento pois muitos se recusam a dialogar com um governo que consideram ilegítimo.
A questão foi trazida logo no início do encontro por Marieta Severo. A grande questão que está no ar é: como a gente negocia com um governo que a gente considera ilegítimo?", perguntou ao microfone.
Tonico Pereira brincou: "Eu reconheço o governo Temer. Vejo filme de vampiro desde criancinha."
Até Marcelo Serrado, que foi a manifestações pedindo a queda da presidente Dilma Rousseff (PT) com camiseta do #morobloco, um trocadilho entre os nomes do juiz Sergio Moro e da banda Monobloco, estava resistente.
"Aquele governo não me representa, mas este também não. Quero novas eleições. Eu não vou a Brasília apertar a mão do Temer", disse o ator.
A resposta veio de pessoas como Lavigne, Frejat e o presidente da APTR, Eduardo Barata. "Se a gente não dialogar, o que vai ser de nós? Ficaremos acéfalos? Nossa proposta é tentar garantir as mínimas condições de diálogo", afirmou Barata.
"Para não dividir a classe, escolhemos fazer o 'Fica MinC'. Eu sou daqueles que não reconhecem a legitimidade política desse governo, mas, mesmo que não concordemos, ele extinguiu o ministério. Uma vez resolvida a questão política, queremos que essa estrutura esteja lá. É uma conquista nossa de 30 anos", disse Junior Perim, do Circo Crescer e Viver.
AÇÃO NO STF
Lavigne também anunciou que o Procure Saber deve entrar com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a extinção de departamentos específicos do ministério, por exemplo, o que lida com propriedade intelectual. A empresária, no entanto, não deu mais detalhes dessa iniciativa.
O presidente interino Michel Temer (PMDB) pretende definir até o final desta semana o nome que comandará a secretaria nacional de Cultura, estrutura que será subordina ao Ministério da Educação.
Em reunião nesta segunda, o peemedebista definiu que, embora seja dependente financeiramente do Ministério da Educação, a pasta terá autonomia gerencial.
A tentativa é, assim, diminuir a repercussão negativa da extinção da pasta.
Segundo a Folha apurou, o presidente interino está entre dois nomes para a estrutura: da ex-secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro, Adriana Rattes, e da atual diretora de Educação do Banco Mundial, Claudia Costin.
Veja a íntegra da carta dos artistas a Michel Temer:
Às vésperas das comemorações do bicentenário da independência do Brasil, o setor cultural recebe com repúdio a Medida Provisória que extinguiu o Ministério da Cultura. Este ato promoveu um retrocesso de 30 anos. O MinC é uma conquista da sociedade brasileira e não pode deixar de existir, especialmente num cenário de ausência completa de debate com os interlocutores necessários.
A alegada demanda por uma máquina pública enxuta não pode ser implementada à custa do desmonte de estrutura dedicada à guarda e preservação da identidade nacional.
Encaminhamos este documento público para expressar a fundamental importância da permanência do Ministério da Cultura, como órgão superior e nacional para formulação de políticas a altura da relevância de um projeto de cidadania e desenvolvimento.