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fevereiro 14, 2016
Andrey Zignnatto reage à polêmica dos tijolos por Silas Martí, Plástico blog Folha
Andrey Zignnatto reage à polêmica dos tijolos
Artigo de Silas Martí originalmente publicado no blog Plástico no jornal Folha de S. Paulo em 12 de fevereiro de 2016.
É uma polêmica de tijolos. Um post do crítico francês Maxence Alcalde em seu blog Osskoor acusa o artista brasileiro Andrey Zignnatto de plagiar a obra do francês Vincent Mauger. Zignnatto despontou há pouco tempo no cenário nacional com grandes instalações feitas com tijolos cortados, lembrando paisagens em erosão que se desmancham em contato com o lugar onde estão montadas. Um artista autodidata, que trabalhou como ajudante de pedreiro, Zignnatto arrebatou uma parte da crítica no país com essas obras bastante simples, mas de visual acachapante.
Não conhecia Vincent Mauger, o francês que também cria verdadeiras avalanches de tijolos. Uma rápida busca no Google, no entanto, revela imagens de obras quase iguais às de Zignnatto. Não é a primeira vez que artistas em lugares diferentes do mundo fazem trabalhos muito parecidos, mas a semelhança é estarrecedora. Alcalde, em seu texto, conclui então que esse é um caso de plágio, já que Mauger teria feito primeiro essas peças, no início dos anos 2000. “Zignnatto retoma uma das formas de Mauger que consiste em produzir grandes instalações de tijolos truncados. O plagiador não se contenta com uma simples inspiração (usar o tijolo como material artístico) e usa exatamente o mesmo tipo de tijolo e as mesmas formas de exposição do artista francês”, escreveu o crítico. “Além do problema de originalidade, o que me parece mais problemático é que o caso revela um desconhecimento da arte atual pelas pessoas que expõem as obras de Zignnatto.”
No caso, o crítico ataca instituições como o Paço Imperial, no Rio, o Centro Cultural São Paulo, o Paço das Artes e a galeria Blau Projects, em São Paulo, lugares que já mostraram o trabalho de Zignnatto. Tentei falar com Vincent Mauger, mas não tive resposta de sua galeria, a Bertrand Grimont, em Paris. Em São Paulo, liguei para Zignnatto, que comentou o caso nesta entrevista. Ele expõe agora na galeria Fabien Castanier, em Los Angeles, e na Torre Santander, em São Paulo.
Você já conhecia o trabalho de Vincent Mauger?
Pois é, estou deixando ele famoso aqui. Eu vim conhecer a obra dele por uma galera que começou a me mostrar depois que eu já tinha exposto no Paço Imperial e já estava desenvolvendo esses projetos para o Paço das Artes e outros editais. Fiquei chocado. Quando a gente desenvolve um trabalho, na inocência a gente espera estar fazendo a coisa mais original possível. Segui meu caminho, focado nos meus interesses. Foi um pouco depois que estava rolando a exposição do Paço Imperial, que foi quando eu tive o primeiro acesso a uma imagem.
Ficou impressionado com a semelhança entre o seu trabalho e o dele?
Olhando por imagens do Google, é claro que a gente nota inúmeras semelhanças. Não tem como negar. Quando eu vi a primeira vez, fiquei em choque. A gente fica um pouco chateado. Chateia, é lógico. A única maneira que eu encontro de responder essas questões é através do próprio trabalho.
Como você reage a essa acusação de plágio?
O que eu tenho procurado fazer é conversar com outros profissionais mais experientes. Eu comecei como autodidata. Comecei a mostrar meu trabalho no final de 2012. Não tinha contato nem convívio no circuito, no meio da arte contemporânea. Então, eu procuro continuar desenvolvendo o meu trabalho. A melhor resposta que eu posso dar é desenvolver minhas pesquisas.
Como surgiram esses trabalhos com tijolos?
Eu desenvolvi a partir do que eu via nas fábricas, como os operários cortavam os tijolos. Meu instrumento é uma faca simples de cozinha, pego o tijolo úmido e vou cortando. Depois eu ponho para queimar e levo para o espaço expositivo. É simples, rústico e manual. Não envolve tecnologia.