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janeiro 31, 2016

Vamos sair fazendo barulho', diz diretora na última festa do Paço por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Vamos sair fazendo barulho', diz diretora na última festa do Paço

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 29 de janeiro de 2016.

"Está de arrasar", dizia Priscila Arantes, a diretora do Paço das Artes, enquanto puxava o repórter pelo braço para dentro do museu que em março será despejado de sua sede na Cidade Universitária. "Vamos sair daqui, mas vamos sair fazendo barulho."

No último vernissage do lugar, nesta quinta, o clima era de despedida. Mas foi um velório elétrico -da blusa prateada de Arantes que cintilava entre os convidados à performance da dupla Maurício Dias e Walter Riedweg.

Mascarados, eles declamavam contos do esquizofrênico suíço Robert Walser enquanto mostravam cartazes com frases -infelizes e reais- de políticos e celebridades.

Entre elas, "se me virem dançando com mulher feia, é porque a campanha já começou", "só confio nas estatísticas que manipulo" e "quando se tem de matar um homem, não custa nada ser educado".

Nas palavras de Dias, a ação foi uma "sobreposição de realidade política e poética louca". Não é difícil, aliás, ver nesse discurso um eco da situação do museu -o Instituto Butantan vai usar seu espaço para criar uma fábrica de vacinas contra a dengue. Enquanto isso, a instituição levará mostras para endereços alternativos até encontrar uma casa nova.

Na última leva de exposições no Paço, além de uma seleção de trabalhos do artista alemão Harun Farocki, estão obras de jovens artistas como Anaisa Franco, Clara Ianni, Deyson Gilbert e Lucas Simões.

Esse último remontou ali uma instalação que simula um piso de concreto que racha sob os pés de quem caminha -crianças eufóricas sapateavam em cima da coisa observadas pelo artista.

"É uma coincidência meio triste, mas essa obra é um comentário sobre o que acontece quando muda o uso de uma arquitetura", dizia Simões. "Tem essa instabilidade."

Outra instabilidade é o abalo que o meio artístico deve sofrer com o fim do Paço. Nos catálogos das bienais mais influentes do mundo, estão nomes que despontaram ali -toda abertura no museu, aliás, sempre teve olheiros de galerias atrás de novas estrelas do circuito.

"Está escrevendo o obituário?", perguntou o artista Deyson Gilbert ao repórter. Minutos depois, um abaixo-assinado começou a circular pedindo que o governo do Estado dê uma nova sede ao museu. Ninguém deixou de assinar.

Posted by Patricia Canetti at 8:37 PM