|
janeiro 22, 2016
MAC, em nova fase, busca parceiros para dinamizar sua sede por Antonio Gonçalves Filho, Estado de S. Paulo
MAC, em nova fase, busca parceiros para dinamizar sua sede
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 13 de janeiro de 2016.
A diretora em exercício, Kátia Canton, pretende instalar um restaurante e um café no museu ainda este ano
Com 97,4% de sua dotação orçamentária (mais de R$ 5 bilhões) comprometida com as despesas da folha de pagamento, a Universidade de São Paulo (USP) não terá dinheiro para outra coisa este ano e ainda será obrigada a enfrentar um déficit calculado em R$ 543 milhões. Contra esse quadro desanimador, agravado pela atual crise econômica, as alternativas são poucas, mas a criação do programa Parceiros da USP, que busca a colaboração da sociedade civil por meio de doações, pode representar uma saída, especialmente para o seu Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP).
Recentemente fechado na Cidade Universitária, o museu, agora restrito à sede no Ibirapuera, terá de recorrer à iniciativa privada para realizar suas exposições temporárias. Nada demais. Vale lembrar que o museu foi instituído em 1963 por vontade de um mecenas, Ciccillo Matarazzo, e doações internacionais (Fundação Nelson Rockefeller). Ele migrou para a universidade, mas não perdeu suas feições particulares.
Com a demissão do diretor do museu, Hugo Segawa, no fim do ano passado, assumiu seu posto a vice-diretora Kátia Canton, que pretende enfrentar esse período crítico justamente com a ajuda da iniciativa privada. Já no fim do mês, quando for inaugurada a exposição do futurista italiano Fortunato Depero (1892-1960), o patrocínio da Campari surgirá como uma dádiva num momento em que o MAC vai gastar R$ 400 mil só com a transferência de sua biblioteca e instalações administrativas para a nova sede no Ibirapuera.
Reformado pela Secretaria de Cultura do Estado ao custo de R$ 76 milhões, o prédio tem alguns problemas, como todo edifício adaptado a novas funções. É naturalmente limitado para expor arte contemporânea, além de seu acervo com quase 10 mil obras, que integram a mais importante coleção de arte moderna da América Latina (Kandinsky, Modigliani, Matisse, Klee, Morandi, Picasso e outros). As limitações não param por aí. Sua reserva técnica, de dimensões espetaculares, não pode receber essa coleção. Não está adequadamente equipada para enfrentar a umidade do subsolo do anexo nem tem as condições técnicas que oferece a antiga, no câmpus da universidade, onde as obras devem ficar até segunda ordem.
“Nossa prioridade, agora, é instalar a biblioteca, no piso térreo, e as salas da administração, no primeiro andar”, diz a diretora em exercício Kátia Canton, que deve permanecer no cargo após o reitor assinar a exoneração de Segawa. Ela tem planos para atrair novos visitantes ao museu, que terá três dos seus últimos andares reservados ao acervo permanente (com obras icônicas como o único autorretrato de Modigliani e a tela O Enigma de Um Dia, de De Chirico). Hoje, apenas 6% do acervo é mostrado ao público. “Nosso primeiro passo em direção à sociedade civil será para instalar o restaurante no último piso”, revela a nova diretora, que pretende ver funcionando esse e uma cafeteria no museu até o fim do ano. “Também estamos acertando com a Edusp a criação de uma livraria e a instalação de uma loja no museu.”
São projetos viáveis. O problema maior é mesmo a reserva técnica. Hoje, 84% das obras estão na antiga sede da Cidade Universitária e 7% no terceiro andar do prédio da Bienal, emprestado ao MAC. A reserva técnica do antigo MAC tem um sistema de prevenção de incêndio que usa um gás especial parecido com o do Louvre. Na gestão do professor Teixeira Coelho foi criado o Gabinete de Papel, que tem obras preciosas no suporte e exigem, portanto, condições de temperatura e segurança semelhantes às existentes no câmpus. “Não vejo alternativa além de recorrer à iniciativa privada, até mesmo porque o MAC não é um museu da universidade para a universidade, mas para a sociedade”, comenta.
Ao fechar a sede do Museu de Arte Contemporânea no câmpus, a USP dificultou a própria dinâmica educacional, uma vez que os docentes usam a coleção e o local para suas aulas e pesquisas. Tudo fica mais difícil para eles. Quando foi inaugurada a nova sede, das 17 exposições, 15 eram do acervo, lembra o ex-diretor Tadeu Chiarelli. Nada indica que a mostras temporárias devam crescer. A notícia boa é que a Secretaria de Estado da Cultura vai ceder em caráter definitivo o prédio do Ibirapuera ao MAC, como revela o secretário Marcelo Araújo. “O processo de transferência para a USP já está em tramitação.”
Parceria. A cessão do prédio onde funciona o MAC, no Ibirapuera, foi, segundo o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, “um grande ganho para a universidade”. Ainda que o déficit orçamentário previsto para 2016 seja de R$ 543 milhões, a USP não pretende suspender os planos para equipar o museu com um restaurante no topo do prédio e agilizar as obras de adequação da reserva técnica para receber as obras que ainda estão no antigo MAC. “Essa mudança não é tão rápida, mas o modelo de licitação do restaurante já está pronto”, diz. “Embora as dificuldades financeiras existam, a USP não está parada e vejo com bons olhos a participação da iniciativa privada, regulamentada pelo programa Parceiros da USP.”
Segundo o programa, ela pode vir por meio de doações de bens móveis e imóveis ou doações para reformas ou construções. “Todos os museus têm apoio externo, não só para realizar exposições ou aumentar o acervo.” Com a transferência do MAC, os professores passarão o dia todo no Ibirapuera. “Somos um museu universitário e temos de pensar no conforto dos pesquisadores e do público”, conclui Agopyan.