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janeiro 18, 2016
'A Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos’ por Marcio Botner, O Globo
'A Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos’
Artigo de Marcio Botner originalmente publicado no jornal O Globo em 18 de janeiro de 2016.
Em artigo, Marcio Botner fala sobre a situação da EAV Parque Lage e da Casa França-Brasil
RIO - A Oca Lage não pode deixar que o governo do Rio de Janeiro se esqueça de suas obrigações com a EAV Parque Lage e a Casa França-Brasil. Uma organização social na área da cultura tem a função primordial de exigir do estado, por meio de contrato, que ele esteja presente na manutenção do patrimônio artístico e cultural. A Oca Lage sente-se, portanto, no dever de pressionar o governo a repassar os recursos contratados, apesar das dificuldades orçamentárias do momento.
No ano passado, a Oca Lage honrou seu planejamento, mesmo sem receber do governo do Rio metade do repasse compromissado para o período. Nos últimos seis meses, a Oca Lage cumpriu o programa de 120 alunos bolsistas — 80 selecionados no início de 2015 por duas comissões, entre mais de 1.700 inscritos, dentro do programa Práticas Artísticas Contemporâneas, mais 40 vindos do ano anterior —, que recebem ainda auxílio de alimentação e transporte.
A Oca Lage realizou na EAV Parque Lage dezenas de eventos abertos ao público, com a participação de artistas, poetas, pensadores, cineastas, coreógrafos, em que se destacam as três exposições dentro do programa Curador Visitante — com curadorias de Bernardo Mosqueira, Bernardo José de Souza e Luisa Duarte —, performances, palestras, oficinas, shows gratuitos com Jards Macalé e Rodrigo Amarante, Cine Lage, aulas públicas e ações educativas, parcerias de residências artísticas, entre outros. Todas essas ações foram feitas com receitas próprias da Oca Lage, obtidas a partir de eventos dentro do selo Reverte pra Escola, como o show beneficente comemorativo dos 40 anos da EAV Parque Lage, com Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Arto Lindsay, e a gravura criada pelo artista Luiz Zerbini para celebrar a data.
A Oca Lage, também com recursos levantados ao longo de 2015, realizou exposições na Casa França-Brasil, como a comemorativa de seus 25 anos, que fez uma memória da trajetória da instituição, e as individuais dos artistas Rodrigo Braga e Barrão, além de mostras com obras de Alfredo Jaar, Beto Shwafaty e Marta Neves, e com filmes de Tamar Guimarães, de Manon de Boer, de Wendelien van Oldenborgh e da dupla Peter Fischli & David Weiss. Atualmente está em cartaz o Projeto Pergunta, do coletivo chileno Mil M2, e trabalhos de Ivan Grilo e Cildo Meireles. Também com receita gerada por eventos, a Oca Lage fez as obras de adequação necessárias na Casa França-Brasil para integrá-la à reurbanização da região portuária, devolvendo ao público a entrada principal do edifício de 1820, de frente para o mar.
A passagem para 2016, sem sinalização de cronograma de recursos do governo, no entanto, exigiu medidas administrativas de contenção e readequação à realidade. Criada pelo governo do estado para profissionalizar e compartilhar com a sociedade civil a gestão de duas importantes instituições culturais, a Oca Lage se viu obrigada a adequar seu planejamento e suas ações, além de continuar pressionando o governo para que cumpra seu dever de repassar os recursos contratados. No último dia 23 de dezembro, a Oca Lage colocou seus 70 funcionários administrativos e de suporte em aviso prévio. Entre várias outras medidas de contenção de despesas e ampliação de receitas, a Oca Lage estuda fórmulas para diluir os custos de manutenção do parque, para garantir a gratuidade dos frequentadores. É preciso lembrar que a Oca Lage mantém sob sua guarda, manutenção e limpeza os 175 mil metros quadrados de área verde do Parque Lage. Estudamos parcerias com empresas ligadas à conservação de energia e meio ambiente, e ainda outras soluções produtivas e criativas.
Iniciada em abril de 2014, a organização social Oca Lage foi criada por iniciativa do governo do estado, implementada pela Secretaria de Cultura, para compartilhar e garantir a continuidade, estabilidade e transparência dos programas das duas casas. A Oca Lage tem agilidade administrativa para estabelecer conexões com as redes de instituições públicas e privadas no Brasil e no exterior, sem que o patrimônio deixe de ser do estado. Ou seja: a EAV Parque Lage e a Casa França-Brasil continuam aparelhos do estado, mas sua administração passou a ser da OS, por meio de contrato, prestação de contas e auditoria. Poderíamos dizer, portanto, que não é uma privatização, ao contrário: torna-se pública e ampla a função de cada uma dessas instituições do estado.
Neste momento, apesar de todas as suas ações pró-ativas, a Oca Lage espera que o governo do estado cumpra seus compromissos orçamentários contratuais, de modo a permitir a continuidade desse trabalho bem-sucedido de ativação e preservação desses dois espaços tão importantes para a vida social, cultural e educacional da cidade.
*Marcio Botner é presidente da Oca Lage, organização social gestora da EAV Parque Lage e da Casa França-Brasil