|
agosto 4, 2015
Gênios da lâmpada por Paula Alzugaray, Istoé
Gênios da lâmpada
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na edição 2383 da revista Istoé em 31 de julho de 2015.
Exposição faz um panorama da arte contemporânea mundial a partir de um passeio pela história da ciência nos últimos 150 anos
Invento: As Revoluções que nos Inventaram, Oca, São Paulo, SP - 05/08/2015 a 04/10/2015
A lâmpada elétrica incandescente, essa brilhante invenção de Thomas Edison que iluminou lares, fábricas e cabeças durante todo o século 20 e que em 2015 chega ao fim de sua comercialização no mercado brasileiro, ganha um obituário à altura de sua relevância, na exposição “Invento”, em cartaz em São Paulo, a partir de quarta 5. O triste fim das lâmpadas com filamento incandescente é o tema da obra “Crepúsculo”, que o artista francês Christian Boltanski realiza especialmente para a exposição, a convite dos curadores Marcello Dantas e Agnaldo Farias. “Existe um homem que fez quase toda sua obra baseada na morte. Ele é Christian Boltanski. Estava na hora dele fazer uma homenagem a um objeto que vai morrer”, diz Marcello Dantas. A obra é composta por 480 lâmpadas que queimarão uma a uma, de hora em hora, durante toda a duração da exposição, até 10 de outubro. Esta é, sem dúvida, uma grande ideia – uma entre as 35 (obras) de 30 artistas e inventores, que estão expostas na Oca. “Invento” reúne as grandes invenções dos últimos 150 anos, desfuncionalizadas ou reinventadas por alguns dos mais geniais artífices da arte moderna e contemporânea. A obra mais antiga – e talvez mais emblemática – da exposição é “Gift”, realizada em 1921 pelo surrealista Man Ray. Trata-se de um ferro de passar, invenção de 1882, que tem sua função subvertida por uma linha de pregos afiados. Televisão, rádio, telefone, telefone celular, elevador, máquina de escrever, automóveis, aparelho de barbear, avião, asa delta, sistemas de vigilância, raio-x e guitarra elétrica tampouco passam incólumes pelo crivo da arte.
Um dos trabalhos mais esperados é a alternativa criada pelo artista mexicano Pedro Reyes para uma das maiores invenções do século 20, a psicanálise. Reyes montará dentro da Oca um complexo de ambientes terapêuticos, inspirados em métodos de Paulo Freire, Lygia Clark e Augusto Boal, aberto ao público para sessões coletivas de análise. Um sucesso garantido, na linha das sessões do Método de Marina Abramovic, ministradas no Sesc Pompéia no começo do ano. Destaque também para “Little Sun”, criação do artista-inventor Olafur Eliasson, lâmpadas de energia solar, concebidas com o objetivo de favorecer populações que não tem acesso à eletricidade. Resta saber se o voraz mercado de arte internacional vai permitir que o objetivo se cumpra, sem inflacionar o preço de maneira irreversível. Entre os artistas, não poderia faltar, é claro, Guto Lacaz, o Professor Pardal da arte brasileira, com sua já célebre invenção “Rádios Pescando”, de 1986, instalação com um conjunto de rádios colocados em linha para um fim inusitado: a pesca com antenas.