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julho 8, 2015
Exposição apresenta a arte de lidar com o impalpável por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Exposição apresenta a arte de lidar com o impalpável
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 1 de julho de 2015.
Na mostra 'Imaterialidade', no Sesc Belenzinho, artistas criam obras usando elementos como a luz, o som e as palavras
Imaterialidade, Sesc Belenzinho, São Paulo, SP - 02/07/2015 a 27/09/2015
Quando o francês Claude Monet (1840-1926) pintou a Catedral de Rouen sob a luminosidade de diferentes momentos do dia, a “percepção começou a ter um lugar essencial na compreensão daquilo que se vê”, explica a curadora Ligia Canongia. Ainda no século 19, ela completa, o impressionismo colocou a “questão da desmaterialização” na arte. Entretanto, este tema da história da arte não ficou no passado, tornando-se candente e sendo retomado de tempos em tempos por distintos artistas, como se pode ver na exposição Imaterialidade, que será inaugurada nesta quarta-feira, 1º, para convidados, e na quinta-feira, 2, para o público no Sesc Belenzinho.
A mostra, com curadoria de Ligia Canongia e Adon Peres, apresenta uma bela seleção de obras de criadores nacionais e estrangeiros – entre eles, Waltercio Caldas, James Turrell, Anthony McCall, Carlito Carvalhosa, Laura Vinci e José Damasceno –, que, exclusivamente ou pontualmente, dizem os curadores, enfatizam o – “filosófico” – tema do intangível através do uso da luz, de palavras, sons, transparência – e até do ar.
Cinco frases (em francês e em espanhol) de Ben Vautier, um dos integrantes do histórico grupo Fluxus, estão espalhadas pela exposição como “sopros”, descreve Peres, que dizem “Eu Sou Transparente” (1990) e “É Difícil Amar” (2006), mas é a sentença “Como Into the (W) Hole” (2002), do carioca Marcos Chaves, estampada em vinil sobre a parede, que sintetiza a discussão proposta em Imaterialidade. O jogo de palavras refere-se às ideias de cheio e de vazio – e as indagações filosóficas, define Ligia, colocadas nos trabalhos da coletiva também abrem-se para questões sobre o ser e o não ser, a luz e a sombra, o real e o irreal. A riqueza ou potência da mostra está, assim, na união que os trabalhos expostos criam entre o conceitual e o sensorial – ou até o poético, em muitos casos.
A obra de Turrell, de 1968, é das mais emblemáticas da exposição. Em uma sala escura, o artista estabelece no espaço, apenas com o uso da luz, a “ilusão de um volume” (verde), diz Ligia Canongia. “Turrell trabalha essencialmente sobre o impalpável”, afirma Adon Peres. A criação do efeito ótico também está relacionada à instalação Seção Diagonal (2008), de Marcius Gallan, entretanto, é melhor destacar a histórica peça do norte-americano como elemento fundamental de um segmento dedicado a trabalhos feitos com uso de lâmpadas ou projetores.
Desse conjunto ainda, Você e Eu, Horizontal II (2006), de Anthony McCall, é primordial. Pioneiro da relação entre arte e cinema, o britânico “transforma a luz em volume”. Lamentável Vermelho (2006), do francês François Morellet, também é importante presença com seus tubos de néon, assim como o trabalho do norte-americano Keith Sonnier.
Outro nicho interessante da mostra é o dedicado ao som e à efemeridade da performance (representada por Bruce Nauman). Em outro espaço expositivo do Sesc Belenzinho, a sala da inglesa de origem paquistanesa Ceal Floyer tem apenas um amplificador e alto-falantes que reproduzem uma voz dizendo repetidamente a frase “Till I get it Right” (Até eu Acertar). Seria como se a artista se referisse à imaterialidade de uma ação através da obsessão – uma obra que, ainda define a curadora, remete ao “mito de Sísifo”.