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julho 5, 2015
Exposição retrospectiva destaca ousadia de Geraldo de Barros por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Exposição retrospectiva destaca ousadia de Geraldo de Barros
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de maio de 2015.
Geraldo de Barros e a fotografia, SESC Belenzinho, São PAulo, SP - 08/04/2015 a 31/05/2015
No princípio era a pintura. Assim como grande parte dos artistas que passaram da produção moderna para a contemporânea, Geraldo de Barros (1923-1998) começou sua carreira usando os pincéis.
Contudo, o percurso da ótima retrospectiva de sua obra, "Geraldo de Barros e a Fotografia", em cartaz no Sesc Belenzinho, em parceria com o Instituto Moreira Salles, não se inicia com seus primeiros trabalhos nas telas, mas com uma espécie de reencenação de um dos momentos mais significativos de sua carreira: a exposição "Fotoforma", realizada no Masp, quando o museu ainda ocupava o primeiro andar da sede dos Diários Associados, em 1951.
É realmente impressionante como a mostra foi ousada, apresentando até mesmo fotografias recortadas e amparadas em pedestais, como se fossem esculturas.
TOM RADICAL
É com esse tom radical que a retrospectiva, com curadoria de Heloisa Espada, segue a partir de então com um percurso do artista de maneira cronológica, apresentado entre as primeiras obras um autorretrato do artista.
É inegável, no entanto, que a pintura de 1947, um tanto convencional, ganha outro contorno a partir do impacto do experimentalismo da primeira sala.
A ampla exposição, com 258 obras, abarca as distantes e variadas produções importantes de sua carreira como artista: as fotografias realizadas a partir de 1946, quando adquire sua primeira câmera; a série das "Fotoformas", realizada a partir das múltiplas exposições na mesma chapa fotográfica; as pinturas concretas dos anos 1950; as obras pop dos anos 1970; a série "Sobras", dos anos 1980.
Em cada uma dessas fases, a curadora selecionou peças significativas, nas quais é possível vislumbrar algumas particularidades de sua poética, como a influência das aulas de gravura que teve com Lívio Abramo –o que certamente estimulou o desenho realizado em alguns negativos fotográficos.
Além de um começo potente, a mostra se encerra com um conjunto de impacto: a série completa de 268 colagens de negativos e positivos sobre vidro, realizado pelo artista no fim de sua carreira.
Inovador, esse trabalho, junto a 70 ampliações das colagens, atesta o que se viu já na primeira sala: Barros é um dos mais radicais criadores em artes visuais na segunda metade do século 20 no país.