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junho 12, 2015
Reler Marx por Paula Alzugaray, Istoé Dinheiro
Reler Marx
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé Dinheiro em 10 de junho de 2015.
Em tempos de crise e incerteza, O Capital de Marx é tema de evento na 56ª Bienal de Veneza e de obra em exposição em galeria paulistana
Embalados pelo best-seller do momento, O Capital no Século 21, do economista francês Thomas Piketty, estudiosos de países de alta renda alardeiam o que na América Latina e em tantas outras regiões do planeta – longe das capitais do mundo – vive-se na pele: o capitalismo e a concentração de riqueza produzem desigualdades insustentáveis. O debate se estende à 56ª edição da Bienal de Veneza, intitulada All The World’s Futures (Todos os Futuros do Mundo), com curadoria do nigeriano Okwui Enwezor, o primeiro negro a dirigir a mais antiga e influente bienal do mundo.
Se Piketty traz à tona um conjunto de dados econômicos de 20 países nos últimos 200 anos para realizar sua análise sobre a desigualdade e as dinâmicas do capitalismo contemporâneo, Orkui Enwezor reúne 136 artistas de 53 países (14% deles vindos de países africanos), para falar sobre as crises, as incertezas e “a mais profunda instabilidade” de todas as regiões do mundo.
Entre os trabalhos em cartaz até 22 de novembro, destaca-se a Arena, um espaço no pavilhão central dos Giardini de Veneza, formatado para receber performances, recitais e fóruns de discussões públicas. A principal atração é o livro Das Kapital, de Karl Marx, que está sendo lido página a página, diariamente, por um grupo de atores, sob a direção do artista e cineasta britânico Isaac Julien, ao longo dos sete meses de duração da mostra.
Enquanto isso, em São Paulo, o mesmo Das Kapital foi dividido em 16 partes pelo artista pernambucano Lourival Cuquinha, que participa da exposição coletiva O Tempo e os Tempos, na galeria Carbono. Com curadoria de Daniela Bousso, a exposição investiga as trajetórias do meio fotográfico ao longo da história das técnicas de reprodutibilidade da imagem. Intitulada “1/16avos do Kapital”, a obra de Cuquinha, um múltiplo com tiragem de 16 cópias, consiste em um painel de led que transmite 16 fragmentos do texto da obra de Marx.
A obra dá sequência a uma pesquisa do artista sobre os sistemas de formação de valor da obra de arte. Consequentemente, faz todo sentido que a etiqueta com o preço da obra – R$ 6.000,00 – faça parte dela, e seja colada no canto inferior do quadro de led.
De volta aos paralelos entre arte e economia, se Piketty inicia no século 18 sua investigação sobre a dinâmica mundial da distribuição da riqueza, até chegar ao século 21, Daniela Bousso busca na fotografia contemporânea os rastros das três grandes revoluções que marcaram o homem moderno: a revolução industrial, que dá origem à fotografia e ao cinema; a revolução eletro-eletrônica no século 20, com a TV e o vídeo; e a revolução digital, a partir de 1970.
A exposição O Tempo e os Tempos fica em cartaz até 18 de julho, com obras de Albano Afonso, André Parente, Angela Santos, Bob Wolfenson, Caetano Dias, Cássio Vasconcellos, Celina Portela, Claudia Jaguaribe, Eide Feldon, Isidro Blasco, Katia Maciel, Lourival Cuquinha, Lucas Lenci, Raquel Kogan, Ricardo van Steen e Yuri Firmeza.