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maio 30, 2015
Retrospectiva de José Resende apresenta gestos do escultor através de novas obras por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Retrospectiva de José Resende apresenta gestos do escultor através de novas obras
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 2 de maio de 2015.
Artista foge da exibição cronológica e exibe trabalhos produzidos entre 2011 e 2015 na Pinacoteca do Estado
José Resende, Pinacoteca do Estado, São Paulo, SP - 26/04/2015 a 14/06/2015
Uma retrospectiva de 12 trabalhos inéditos é como o escultor José Resende descreve a mostra que apresenta até 14 de junho na Pinacoteca do Estado. Provocador, o artista recusa a exibição cronológica de uma trajetória de 50 anos de atividade escultórica – “não tem atestado de óbito aqui” – para revisitar, afirma, gestos e momentos de sua carreira por intermédio de novas peças e de trabalhos nunca antes mostrados em São Paulo – como as obras Senzala e Covo, destaques da exposição que ele realizou em 2011 no Museu de Arte Moderna do Rio.
José Resende, que já utilizou os mais variados materiais em suas criações – entre eles, o couro, o feltro, o gesso, o vidro, a madeira, o granito e a borracha –, opta pela monumentalidade em sua antologia ao exibir esculturas predominantemente metálicas, feitas de aço, cobre e ferro. Segundo o artista, o espaço do museu convocou a grande escala dos trabalhos escolhidos, conferindo a eles uma carga pública – entretanto, diferente das ruas. “Na Praça da Sé (onde colocou sua primeira obra em espaço público, em 1979), ainda estamos buscando o reconhecimento público que os mendigos buscam como cidadãos”, considera o escultor, que já realizou peças para o Rio, o Parque do Ibirapuera e para Porto Alegre.
O diálogo de suas obras com o edifício da Pinacoteca desencadeou, assim, a concepção da retrospectiva do artista paulistano, ele conta. Suas criações ocupam não apenas as principais salas do prédio, como o octógono do museu (que recebe Duas Vênus Deitadas, recriação de trabalho de 1998, e Politécnica) e um dos halls da instituição. “Discordo do termo site specific”, diz Resende sobre o conceito de criação específica de instalações para espaços. “É o lugar que se torna especial por causa da obra”, completa o artista, de 70 anos.
Elogiando a moderna reforma que o arquiteto Paulo Mendes da Rocha promoveu na década de 1990 na Pinacoteca, originalmente, neoclássica, o escultor, que cursou arquitetura nos anos 1960, começa o percurso de sua retrospectiva apresentando uma peça sob a passarela de entrada do museu. Apelidada de “Sorriso”, a escultura, na qual prevalece uma estrutura metálica que faz uma meia elipse, confere “aspecto poético” à certa solenidade do local. “É o olho do espectador que vai promovendo os nexos”, afirma Resende, destacando que devolve aos visitantes, assim, a “autoridade” que tanto se é dada aos curadores.
O tom provocador de José Resende está presente em seu discurso crítico, mas também é fortemente representado nas relações de tensão e de expansão exploradas ao longo de toda a exposição. A inédita Instrumento de Medição (2015), de 13 metros de comprimento, é uma sucessão de formas tubulares comprimidas por chapas metálicas, representa, materialmente, essa característica tão pulsante e presente na produção do artista. Já nas cinco salas expositivas, cada escultura, separadamente e na conversa com um trabalho vizinho, reforça essa condição.
Preocupado com a preservação de suas obras, algumas, monumentais, o escultor, um dos fundadores do Grupo Rex, em 1966, e da Escola Brasil, em 1970, conta que está se dedicando à criação de um instituto em São Paulo com seu nome.