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maio 26, 2015

Rio espera resposta da Casa Daros sobre resgate público por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Rio espera resposta da Casa Daros sobre resgate público

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 22 de maio de 2015.

Uma pista sobre o destino da Casa Daros pode chegar nesta sexta (22), de Zurique. Na última semana, quando o centro cultural no Rio anunciou que fecharia as portas em dezembro, após dois anos em atividade, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) encontrou dirigentes da instituição e ofereceu ajuda financeira para evitar que ela chegasse ao fim.

Christian Verling, presidente do conselho da coleção suíça responsável pelo espaço, ficou de levar a proposta de resgate à sede da empresa e retornar agora com uma possível resposta.

De acordo com a prefeitura, valores não foram discutidos. Verling disse à Folha que o "custo Brasil" havia levado à decisão de fechar a Casa Daros. Ainda segundo ele, a instituição espera que o casarão em Botafogo reformado a um custo de R$ 67 milhões seja assumido por outra empresa, mas continue funcionando como um centro cultural.

Nesta semana, o conselho do patrimônio museológico do Instituto Brasileiro de Museus, órgão do Ministério da Cultura, divulgou uma nota pedindo que, caso a decisão de fechar a Casa Daros fosse mesmo definitiva, a coleção suíça cedesse o edifício para o poder público, que então se encarregaria de ocupar o espaço com um novo museu.

Uma das ideias em debate é que a coleção de João Sattamini, hoje no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – que está fechado para reformas–, seja transferida para lá.

Mas talvez seja cedo para especular sobre o futuro quando o presente ainda não foi digerido. Comprado por R$ 16 milhões em 2006 e reformado ao longo de sete anos, o casarão foi inaugurado em 2013 como centro cultural e funcionou só por dois anos com recursos privados, sem recorrer a leis de incentivo.

Depois de realizar cerca de 20 exposições e se tornar um dos endereços mais potentes da cena carioca, a Casa Daros anunciou que fecharia as portas alegando dificuldades financeiras, mesmo estando ancorada numa das maiores fortunas da Suíça, a da família Schmidheiny, dona da empresa de material de construção Eternit, entre outros negócios.

Estabelecida há 15 anos por Ruth Schmidheiny, a coleção Daros tem 1.200 obras de 117 artistas de toda a América Latina, 19 deles brasileiros. É considerado um dos maiores acervos privados de arte dessa região em todo o mundo.

No dia 12 de maio, Schmidheiny, na condição de dona da coleção Daros, enviou uma carta lacônica aos artistas, dizendo que sua empresa passaria a "explorar novos horizontes" e que a decisão de fechar o espaço no Rio, ao qual se dedicou "de corpo e alma", não foi algo simples.

Essa mensagem chegou ao Rio um dia depois que a Justiça italiana reabriu um processo contra Stephan Schmidheiny, ex-marido de Ruth e um dos idealizadores da coleção Daros, acusado de causar a morte de 258 operários por intoxicação com amianto nas fábricas da Eternit na Itália.

Ele fora absolvido em novembro passado, quando o delito teria prescrito, mas o caso foi restabelecido em 11 de maio no rastro de uma revolta popular na Itália, algo que pode levar o empresário para atrás das grades e a pagar indenizações milionárias.

Verling e outros dirigentes da Casa Daros insistem em desvincular Stephan Schmidheiny da instituição, mas, segundo arquitetos que trabalharam na reforma do imóvel no Rio, o empresário começou como sócio do espaço e depois tomou distância do projeto.

De acordo com pessoas ligadas à implementação da Casa Daros, o afastamento de Stephan Schmidheiny, com uma fortuna avaliada em R$ 9 bilhões, coincidiu com uma mudança brusca de rumos na empreitada, levando à saída de Paulo Mendes da Rocha, primeiro arquiteto escalado para a reforma, e à opção por um plano mais modesto.

Segundo a Folha apurou, Ruth passou a trabalhar com um orçamento menor, perdeu poder frente ao conselho e, sem o apoio do ex-marido, acabou cedendo a pressões para fechar a Casa Daros.

Enquanto a situação se agravava na Europa, o centro cultural passou a demitir figuras importantes de sua equipe, como a diretora administrativa Isabella Rosado Nunes, o diretor do programa educativo Eugenio Valdés e o curador Hans-Michael Herzog, maior idealizador da coleção.

Posted by Patricia Canetti at 12:29 PM