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maio 26, 2015
Ibram negocia com Casa Daros cessão do imóvel por Nani Rubin, O Globo
Ibram negocia com Casa Daros cessão do imóvel
Matéria de Nani Rubin originalmente publicada no jornal O Globo em 20 de maio de 2015.
Presidente do instituto pensa em fazer do local um braço do Museu Nacional de Belas Artes
RIO - O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão do Ministério da Cultura, manifestou interesse em ficar com o imóvel da Casa Daros, em Botafogo, Zona Sul do Rio. O objetivo seria fazer do local um braço do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), situado na Cinelândia, no Centro da cidade, num imóvel tombado. Segundo o presidente do Ibram, Carlos Roberto Brandão, o MNBA tem várias restrições para exibir seu acervo, principalmente o de arte contemporânea, que requer, muitas vezes, pé-direito alto e espaços abertos. Ligada à Coleção Daros Latinamerica, em Zurique, na Suíça, a Casa Daros informou na semana passada que encerraria suas operações no Rio em 13 de dezembro. O anúncio, feito apenas dois anos depois da abertura da casa, causou comoção e perplexidade no meio cultural, depois do grande investimento feito pela instituição: R$ 83 milhões na compra e na restauração do imóvel. Também surpreso com o anúncio, o presidente do Ibram procurou o diretor da Casa Daros, Dominik Casanova, manifestando interesse na gestão do imponente casarão. Nesta entrevista, por telefone, ele fala sobre o assunto.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico, ligado ao Ibram, divulgou uma nota hoje (quarta-feira) sugerindo que a Casa Daros ceda o imóvel ao instituto. Foi esse o tom da sua conversa com Casanova?
— Essa foi a nota oficial do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico, no qual metade dos membros são representantes da sociedade civil. É um conselho democrático, que discutiu essa questão e avaliou que seria uma solução se houvesse a cessão do imóvel ao Ibram. Essa é a proposta que o conselho fez. Não foi o tom da minha manifestação.
Qual foi o tom de sua conversa com a Casa Daros?
— Assim que li sobre o encerramento das atividades da Casa Daros, liguei para o ministro Juca Ferreira, que me autorizou a conversar com a direção. Falei com o Dominik (Casanova, diretor da Daros) e disse a ele que temos interesse em assumir o imóvel. Eles têm interesse na continuidade do local com uma atividade cultural, ligada à arte contemporânea. Seria muito ruim para o Rio não ter mais esse equipamento. O Rio tem uma deficiência cronica em espaços para exposições temporárias, o que impede que exposições montadas em outros locais venham para cá.
E por que o Museu Nacional de Belas Artes?
Há cerca de 12 anos, na gestão anterior do MNBA (de Paulo Herkenhoff) foi feito um grande projeto arquitetônico de requalificação do edifício, elaborado por Paulo Mendes da Rocha. É um projeto muito interessante, muito ambicioso e muito caro, e por uma série de motivos não prosperou. Reformar o edifício com o museu funcionando é um enorme desafio. É um prédio tombado, uma obra desse porte seria bem difícil. O museu tem um dos maiores acervos brasileiros, e não é lembrado porque não é exibido. Uma solução dessas (a gestão pelo Ibram) seria digna tanto para a Casa Daros quanto para o Belas Artes, que teria local para exibir suas obras com ênfase em arte contemporânea. O museu tem dificuldade para exibir o acervo de arte contemporânea, porque as obras exigem pé-direito alto, espaços abertos. Seria um grande ganho para o Rio de Janeiro. O Belas Artes está num lugar muito emblemático mas ganharia um pé na Zona Sul. E o Rio não perderia o equipamento (o imóvel em Botafogo).
Mas o Ibram já não tem dificuldade em manter seus museus? Ele tem condições de arcar com os custos do imóvel?
A gente não quer dar um passo maior do que a perna. O ministro (Juca Ferreira) perguntou: quanto custa? quantos funcionários são necessários? Pedimos esses dados, estão sendo enviados. Não vamos tomar nenhuma atitude se avaliarmos que não temos condições. Mas acho que temos. Se não tiver vou lutar com unhas e dentes para que consiga. Temos 29 museus do Ibram, todos em prédios tombados, ou seja, não foram feitos para serem museus, têm problemas de acessibilidade, de espaço. A Casa Daros é um equipamento que está pronto, é só chegar com um caminhão de mudança. Os custos são os de água, luz, manutenção predial e funcionários. Para tamanha empreitada esses desafios são pequenos, não são impedidores. Temos a obrigação de oferecer ao povo do Rio e de outros locais que nos visitam uma excelente programação.
Depois de seu primeiro contato, em que pé estão as conversas?
Essa não é uma negociação para ser feita em 15 dias. As condições (econômicas) não são as melhores agora, mas até lá (13 de dezembro, quando se encerram as atividades da Daros) espero que melhorem. Estou indo a Paris, para uma reunião da Unesco, e vamos retomar isso daqui a dez dias. Estou achando bom essa história amadurecer um pouco. Não estamos entrando nisso para ganhar, estamos entrando nisso para não perder. A ideia é que eu vá ao Rio, ou o ministro, para aprofundar as conversas. A Coleção Daros fez um enorme investimento, criou uma grande expectativa aqui, e depois de dois anos ela frustra assim as expectativas. Acredito que seria muito razoável que ela ceda o espaço para atividades culturais. Porque se coaduna com as intenções da Coleção.