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outubro 14, 2014
Crítica: Retrospectiva do Rumos vale pela importância de edital na cultura por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Retrospectiva do Rumos vale pela importância de edital na cultura
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 13 de outubro de 2014.
Entre os centros culturais vinculados a instituições financeiras, o Itaú Cultural desponta como um dos locais com maior coerência em sua programação. Isso ocorre graças a uma política cultural consistente que não só foge do mero evento como tampouco terceiriza a outros produtores suas exposições.
Nos últimos 16 anos, o programa Rumos Artes Visuais é uma ação exemplar muito além da organização de algumas mostras. Ele mobilizou curadores de todo país a estimularem a produção local por meio de debates e visitas.
Essa iniciativa ímpar, mais próxima do que deveria ser uma ação do governo, inspirou a curadora Lisette Lagnado, em 2005, a usar o Acre como um dos eixos da Bienal que organizou, em 2006, após participar do programa.
REFORMULAÇÃO
Sem se ater a uma receita que se revelou de sucesso, o Itaú reformulou o Rumos no ano passado. Agora, a seleção de projetos não se dá mais por área específica de expressão, o que é totalmente coerente com o que de melhor vem sendo feito. Grupos como o Teatro da Vertigem transitam entre teatro, performance e artes visuais.
Para marcar a mudança, o Itaú encomendou a três curadores – Aracy Amaral, Paulo Miyada e Regina Silveira – a seleção de artistas representativos da trajetória do edital, que resultou na mostra "Singularidades/Anotações", que compreende o período entre 1998 e 2013.
Em primeiro lugar, a constatação da dificuldade de ocupação da sede da instituição é incontornável. Mesmo após diversas reformas, as salas expositivas seguem com pé direito baixo demais e com uma divisão que não ajuda mostras que se desenvolvem nos três andares.
Outra dificuldade em uma exposição que revê dezenas de artistas em um período tão abrangente é a sua própria seleção. Ela tem o risco de se tornar óbvia em excesso, com os nomes de sempre, que se tornaram quase obrigatórios em exposições sobre a recente produção nacional, como Thiago Martins de Melo, Rodrigo Braga, Cinthia Marcelle e Marcius Galan.
A questão aí, e nisso os curadores não podiam se eximir, é que se trata de uma exposição sobre o Rumos e, afinal, não se podiam tirar justamente os nomes que despontaram no programa.
Assim, é notável a inclusão de artistas que trabalham em uma chave já um tanto desgastada como o binômio arte-tecnologia, em que se destacam Gilbertto Prado, Katia Maciel e Lucas Bambozzi. Tratando-se de uma mostra retrospectiva, faz sentido.
Vista apenas como uma exposição, "Singularidades/Anotações" é um panorama um tanto óbvio e desconexo da produção atual.
Contudo, dentro do contexto do programa Rumos, a exposição aponta que o evento só faz sentido dentro de uma política cultural que fortaleça o meio artístico.