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julho 18, 2014
Centro Internacional de Fotografia nos EUA tem mostra de Caio Reisewitz por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Centro Internacional de Fotografia nos EUA tem mostra de Caio Reisewitz
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 26 de junho de 2014.
Caio Reisewitz, International Center of Photography - ICP, New York, EUA - 16/05/2014 a 07/09/2014
O reconhecimento, diz Caio Reisewitz, está vindo no momento certo. Artista, prefere definir-se, que trabalha com fotografia, ele realiza, até 7 de setembro, uma grande mostra individual em um dos templos do gênero fotográfico, o International Center of Photography (ICP) de Nova York. Não se trata de uma retrospectiva, mas há oito anos o curador da instituição, Christopher Phillips, queria promover uma ampla apresentação da produção do brasileiro, "de reputação internacional", escreve, no renomado centro americano.
A primeira fotografia - e a mais antiga - da exposição é Butantã (2003), trabalho que sintetiza algumas características da obra de Caio Reisewitz. "Pensei essa imagem em minha cabeça e fui atrás dela", afirma o paulistano, de 47 anos, no ICP. "Os gringos poderiam pensar: O que é isso? Prédios dentro da floresta? É esse truque que eu queria captar." De fato, um conjunto de edifícios parece se erguer de um horizonte verde e denso de árvores nesta criação, de grande escala (180 cm x 282 cm), a partir de um ângulo da realidade.
É o campo fotográfico que permite a Reisewitz, como ele diz, explorar as bordas ou o limite da dúvida, através de sua obra. "Trabalho muito na margem da representação do real, no caminho de montar uma imagem que parece real, mas é artificial, ou o contrário”, explica o artista, apontando, na mostra, uma peça impressionante, Boituva (2008), clique aproximado de um pedaço de terra vermelha de barranco, no qual repousa uma folha seca. O tamanho da fotografia (232,3 cm x 180 cm) contribui para a estranheza - e beleza - do motivo.
Nesse sentido, a exposição no ICP, na verdade, destaca esse terreno da produção de Caio Reisewitz em que ele "assume" o duvidar. Boa parte da mostra apresenta uma produção mais recente do artista, baseada no desenvolvimento - ora mais, ora menos explícito - de colagens. "Para mim, a elaboração dessas obras está muito mais relacionada à pintura", diz.
Em um dos trabalhos expostos, por exemplo, plantas transbordam, artificialmente, do interior da Casa das Canoas de Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro. É uma imagem montada e essa característica é evidente - entretanto, não é sempre que temos essa certeza ao longo do percurso da exibição em Nova York. Basta chegar perto de outras obras, como Sucupira (2011) e Paretinga (2010), para identificarmos, em meio ao registro de matas exuberantes, fragmentos de imagens da cidade de Goiânia. "A fotografia é muito poderosa, ela é um objeto que representa uma realidade, mas que nesta dimensão se torna bombástica", define o artista fotógrafo, considerando ser esta a razão de a potência do gênero fotográfico ser tão reconhecida atualmente “dentro da arte contemporânea".
Poder
Serras e florestas - a natureza - são temas recorrentes na produção de Caio Reisewitz, mas a arquitetura também se faz presente como um dos campos de interesse do brasileiro. Tanto que estão na entrada da exposição criações nas quais ele ressalta a grandiosidade estática e imponente de interiores de construções brasileiras como o Real Gabinete Português, a Igreja São Francisco de Assis de Ouro Preto (representada por seu teto, pintado por Mestre Ataíde) e o Palácio do Itamaraty em Brasília. "São obras que apresentei na Bienal de Veneza, sobre as 'Utopias Ameaçadas', que era a representação do poder do Brasil através da arquitetura”, conta o artista, representante do País na 51.ª edição da mostra italiana, em 2005.
É inegável que o trabalho de grande escala de Reisewitz, com formação na Alemanha, tenha sofrido a influência da estética e do romantismo alemães, mas desde sempre interessaram ao curador do ICP as qualidades que diferenciam o paulistano dos europeus. Próximo (intimamente) de fotógrafos como Andreas Gursky, Thomas Struth e Candida Höfer, o brasileiro considera que sua conduta é própria. Ele agrega o truque ("trick", diz, em inglês) à beleza.