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janeiro 28, 2014
Museu em SP expõe obra de americana 'precursora do Twitter' por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Museu em SP expõe obra de americana 'precursora do Twitter'
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 26 de janeiro de 2014.
Projeto Parede 2014: Jenny Holzer, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP - 29/01/2014 a 15/06/2014
Muito antes da escalada de poder das redes sociais, a artista americana Jenny Holzer estampou uma breve súplica em letras gigantes num painel de luz da Times Square, no coração de Nova York. Ela pedia proteção contra tudo aquilo que então desejava.
Essa e outras máximas que ela espalha desde os anos 1980 com lambe-lambes, pôsteres e até em letreiros na carroceria de um BMW parecem ter antecipado a era atual, com frases cuspidas em ritmo vertiginoso na internet como verdades inquestionáveis.
Seus textos sobre "crenças fundamentais" e "ideias conflitantes para fomentar a tolerância" estarão agora em lambe-lambes coloridos no corredor que liga as duas salas de exposição do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
É o elo entre duas partes da mostra "140 Caracteres", inspirada na lógica de frases curtíssimas postadas no Twitter.
Da mesma forma que todos os olhos hoje se voltam para as telas dos smartphones, Holzer diz sempre ter colocado suas mensagens nos "lugares que as pessoas querem olhar". E, por isso, depois de décadas trabalhando nas ruas, a artista está desenvolvendo obras para o celular.
"Sem querer, as pessoas sempre olham para displays eletrônicos", diz Holzer, em entrevista à Folha. "Então pensei em fazer obras para aparelhos portáteis, que cabem no bolso das pessoas."
Mas o teor dos textos não muda. "Essas mensagens com o tempo vão decantando até sobrar só o essencial", afirma. "É o caráter breve e sucinto dos textos que os ajuda a sobreviver até agora."
De fato, sobreviveram, mas tiveram de se adaptar a uma nova esfera de convívio público dominada pelas redes sociais, que, na opinião de Holzer, "mudaram o jogo".
Ela não se espanta com o fato de essas ferramentas terem fomentado revoluções mundo afora, mas questiona até que ponto essas mensagens, da mesma forma que sua obra plástica, são capazes de mudar algo para valer.
"Essas redes de comunicação sustentam protestos necessários e um planejamento de ideias sem hierarquia, mas não sei se são eficazes para apoiar governos sustentáveis além de influenciar o futuro imediato", diz Holzer.
"Mesmo que ideias de liberdade, mudança e justiça pareçam necessárias, e às vezes demorem demais a chegar, sempre ronda a ameaça de uma vida pior se instaurar nos vácuos do poder."