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novembro 17, 2013
1ª FotoBienalMasp não justifica a própria criação por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
BienalMasp não justifica a própria criação
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 16 de novembro de 2013.
Há 23 anos, uma parceria entre o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Pirelli construiu um dos principais acervos de fotografia do país. Iniciada em 1990, quando a fotografia ainda não havia conquistado tanto espaço nos museus, bienais e galerias, como ocorre hoje, essa associação legou ao Masp cerca de 1.100 imagens, principalmente da chamada fotografia documental.
Mudam-se os tempos, é preciso atualizar projetos em andamento. Foi criada, então, a FotoBienalMasp, com sua primeira edição em cartaz no museu, que demanda algumas reflexões conceituais. Se há 23 anos a fotografia merecia de fato um esforço para sua inserção no circuito contemporâneo, hoje, esse não é mais o caso. A edição passada da Bienal de São Paulo, realizada no ano passado, por exemplo, reuniu um significativo grupo de fotógrafos, do clássico August Sander ao experimental Alair Gomes.
A primeira questão que surge entorno desse evento, portanto, é se faz sentido uma bienal dedicada a um suporte. Afinal, seria o caso de se propor também uma bienal de pintura ou de escultura?
Pode-se recordar que uma mostra similar, o Festival Videobrasil, que comemora, agora em 2013, 30 anos de existência e surgiu para incentivar a produção audiovisual, já deixou de se dedicar a um único suporte, o próprio vídeo que é mantido em seu nome.
Parece, portanto, um tanto deslocado da cena contemporânea o projeto do Masp. Aliás, a própria exposição contradiz seu nome. Com curadoria de Ricardo Resende, que reuniu 35 artistas, nem todos de fato trabalham com fotografia de forma literal. Entre as obras escolhidas, há pintura, vídeos e instalações que se utilizam da imagem em movimento, em uma forma expandida de se pensar a fotografia.
No conjunto, há bons trabalhos, como as fotografias de Cinthia Marcelle, as instalações do colombiano Oscar Muñoz e do brasileiro Ivan Grilo, e as pinturas de Dora Longo Bahia. Contudo, longe de uma discussão sobre a linguagem fotográfica, o que seria uma razão de ser para uma Bienal de Fotografia, a mostra é um recorte um tanto desconexo da produção contemporânea, portanto uma exposição frágil. O formato anterior, de apresentação das aquisições para a coleção Masp-Pirelli, era mais consistente.