|
outubro 10, 2013
Fala Julio Le Parc: entrevista exclusiva para Paula Alzugaray, seLecT
Fala Julio Le Parc
Uma entrevista exclusiva de Paula Alzugaray com o mestre argentino da op art originalmente publicada na revista seLecT em 7 de outubro de 2013.
Durante montagem de três exposições no Brasil, pioneiro da arte cinética conversa com seLecT
Julio Le Parc - Uma busca contínua, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP - 04/10/2013 a 30/11/2013
2013 foi um ano de consagrações para Julio Le Parc. No primeiro semestre, uma exposição individual do artista argentino levou 170 mil pessoas ao Palais de Tokyo, de Paris. Esta semana, ele está no Brasil para a abertura de três exposições (leia nota publicada na seLecT #14). Com importantes trabalhos realizados da década de 1950 até hoje – todos à venda –, “Uma busca contínua” abriu em 3 de outubro na galeria Nara Roesler, em São Paulo; na Carbono Galeria, na mesma cidade, o artista apresenta uma retrospectiva de seus múltiplos, todos inéditos no país. E no sábado, 12, a Casa Daros inaugura no Rio “Le Parc Lumière”, exposição antológica das trinta obras de Le Parc que integram a coleção Daros Latinamerica. Durante a montagem em São Paulo, o artista conversou com seLecT.
seLecT: Uma arte transitória e sem fins comerciais foi a proposta lançada pelo sr. nos anos 1960. Mas em que medida a conotação sócio-política que sua obra instaurou nos anos 1960 permanece em um momento de soberania do mercado?
Julio Le Parc: A crítica que eu continuo a fazer com minha obra é em relação à postura exclusivista de certo meio social. O que nós buscávamos eram outras locações para a criação contemporânea, que não passassem unicamente pelos circuitos estabelecidos. As instituições onde estou expondo no Brasil são espaços de difusão dessas ideias.
seLecT: A Casa Daros é a maior colecionadora de sua obra. Qual a importância de ter trinta de suas obras nessa coleção?
JLP: A Daros é muito meticulosa no cuidado com a obra. Fiquei impressionado, por exemplo, com o material levado para a montagem da exposição Le Parc Lumière, no México. Eles têm um trabalho meu dos anos 1960, feito com lampadinhas russas. E eles conseguiram várias peças de reposição do mesmo modelo e procedência russa! Além disso, a coleção Daros não é uma coleção imóvel. Eles colocam a obra em permanente confronto e difusão, em exposições, conversas, seminários, livros... Há um livro meu dos anos 1960, “Historieta” que será editado agora em português. É um livro que especula se a arte é uma mercadoria ou não.
seLecT: Mas sua relação com instituições nem sempre existiu. Nos anos 1970, você recusou um convite de expor no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris. A recusa foi decidida na sorte. Como foi essa história?
JLP: Havia uma mobilização de artistas contra uma exposição de arte francesa que estavam organizando em segredo no Grand Palais, e que cobriria a arte francesa de 1962 a 1972. Nós pedimos para sermos informados sobre os critérios e o processo de concepção dessa exposição, mas as autoridades nos negaram acesso. Logicamente, os artistas condenaram essa forma de proceder. Dentro desse contexto, me convidaram para fazer uma exposição no Musée d’Arte Moderne de Paris. Então, convoquei uma reunião com os representantes de meu meio: colegas artistas, galerista, família, colecionadores e os funcionários do museu. Foi uma ação. Eu li um texto e depois dei uma moeda para meu filho Yamil jogar. Deu negativa, então não expus.
seLecT: Como Estrellita B. Brodsky, colecionadora e curadora de sua exposição na galeria Nara Roesler me disse, a animação é a estrutura formal intrínseca de toda a sua obra. Muitos de seus desenhos parecem roteiros visuais, frames de flip books. Como se relaciona com o cinema?
JLP: Há um paralelismo. Assim como minha obra, o cinema é feito de imagens em movimento. Mas meu trabalho não pode ser interpretado como uma forma experimental de cinema. Meus desenhos não têm nenhuma pretensão de competir com o cinema, porque se limitam a esquemas. A partir deles, desenvolvo outros temas, como móbiles e instalações que colocam a luz em movimento.
seLecT: Sua experimentação com luz em movimento se faz sempre a partir dos mesmos elementos: espelhos, transparências... Os elementos são os mesmos. O que muda é a relação entre eles?
JLP: O espectador é o outro elemento central de minha obra. Minha atitude de experimentação me levou de uma coisa a outra, e fui incorporando outros materiais. Todas as técnicas surgem dentro de uma problemática. O meio por si mesmo não importa, mas a problemática. Se sua preocupação é pela atualidade de uma tecnologia, pode correr o risco de se esvaziar.