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outubro 2, 2013
A febre do arquivo por Paula Alzugaray, Istoé
A febre do arquivo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé em 27 de setembro de 2013.
Artistas vasculham gavetas, escaninhos, livros, documentos e pinturas antigas para criar novas versões da história
Arquivo Vivo, Paço das Artes, São Paulo, SP - 02/10/2013 a 08/12/2013
Um arquivo é, por excelência, um espaço incompleto, aberto a novas intervenções e escrituras. Esta é a concepção que norteia a exposição coletiva “Arquivo Vivo”, no Paço das Artes, a partir da terça-feira 1º. A escolha dos 22 artistas participantes indica que o espectro de pesquisas sobre o tema hoje é bastante amplo. A curadoria traz desde o francês Christian Boltanski, um dos primeiros a assumir os arquivos pessoais como matéria de trabalho – retratos da infância, roupas, sapatos –, até a pesquisa com biotecnologia do brasileiro Eduardo Kac, residente nos EUA, que nos anos 1990 realizou a obra “Time Capsule”, que usa informações de um chip implantado em seu calcanhar esquerdo. Em “Arquivo Vivo” serão mostrados os registros dessa performance que levanta uma discussão sobre a ética na era digital, em que a memória artificial é armazenada no corpo.
“Pensar o arquivo como um espaço em transformação e de possíveis reescrituras pode apontar, em um primeiro momento, para a ideia de um suposto infinito; para a impossibilidade de uma única construção; de um único discurso legitimador”, diz a curadora Priscila Arantes, diretora-técnica do Paço das Artes. “E é exatamente isto que me interessa: a possibilidade de sempre termos outros olhares em relação ao que é dito. Cabe a nós escolher o olhar que iremos ou queremos defender.”
O olhar crítico em relação aos documentos e discursos da história faz-se presente, por exemplo, nas obras do londrino Yinka Shonibare MBE, que trabalha sobre a temática do pós-colonialismo; da argentina Nicola Constantino, que se debruça sobre a história da arte, reinterpretando seus papéis; e da espanhola Cristina Lucas. Em “La Liberté Raisonnée”, de 2009, ela reencena em vídeo a famosa pintura de Delacroix que representa a revolução de julho de 1830. Em quatro minutos, a artista faz uma releitura sobre os sentidos da liberdade exaltados na história da França.