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setembro 27, 2013
Perfil - Anna Barros: “Sempre a mais velha, com o trabalho mais novo” por Rafael Munduruca, Vila Mundo
Anna Barros 1932-2013
“Sempre a mais velha, com o trabalho mais novo”
Publicamos o perfil originalmente publicado no Vila Mundo, em 27 de julho de 2010, por Rafael Munduruca, por ocasião do falecimento da artista Anna Barros em 26 de setembro de 2013.
Quem poderia imaginar que uma senhora, de 79 anos, com três filhos e quatro netos, poderia ser um dos principais nomes em arte digital no Brasil? Anna Barros é uma artista multimídia, que mora logo ali, na rua Harmonia. Ela tem um currículo extenso. Desenvolveu pesquisa de pós-doutoramento em comunicação e semiótica. Participa de simpósios e congressos nacionais e internacionais e apresenta seu trabalho artístico no Brasil e no exterior desde 1974.
Anna morou por muitos anos em Los Angeles, Califórnia, onde cursou o Otis Art Institute. Durante o tempo em que esteve por lá, recebeu influência dos artistas locais que exploravam o uso da luz no espaço das instalações. No Brasil, ela traduziu todo esse conhecimento para a linguagem dos meios tecnológicos.
Desenvolveu diversos trabalhos em que a luz virava matéria aplicada a ambientes. Mas não faz mais esse tipo de instalação. A última, realizada há três anos no Centro Cultural São Paulo, propunha um “mergulho no azul, uma coisa silenciosa, que sugeria uma atitude de meditação”.
"Eu sou sempre a mais velha, com o trabalho mais novo."
Desde 1993 ela vem trabalhando com animações através do computador, sempre explorando o tema da luz e sua imaterialidade. Há cinco anos começou a pesquisar a nanotecnologia. Foi até São Carlos, no Instituto de Física da USP, para saber como funcionava esta ciência. Em 2008 ela realizou a curadoria da exposição “Nano, Poética de um Mundo Novo”. A mostra, criada para o Museu de Arte Brasileira da FAAP, era composta por seis instalações interativas, que integravam arte, ciência e tecnologia, criadas pela artista multimidiática Victoria Vesna e pelo nanocientista James Gimzewski, da Universidade da Califórnia em Los Angeles – UCLA.
Este ano Anna deu o primeiro curso de Nanoarte do Brasil, intitulado “NANOARTE: Um novo mundo para a criação de trabalhos de arte”, que teve como objetivo tecer uma trama risomática entre a nanociência e a arte por meio da apresentação, análise e conteúdo de trabalhos de artistas em colaboração com cientistas. O curso aconteceu no mês de junho, no MuBE – Museu Brasileiro de Esculturas.
No vídeo, Anna Barros fala sobre sua pesquisa atual que envolve uma semente, uma árvore e uma árvore petrificada de 200 milhões de anos.
Anna explica que “o mundo nano é tão diminuto, que a gente nunca vai enchergar”. O que o computador faz é rastrear a amostra, captando a corrente elétrica presente, criando uma imagem como se fosse a topografia de um terreno. “O computador traduz isso para imagem”. Ela vai apresentar parte desta pesquisa na próxima quarta-feira, dia 28, às 17h30, no Instituto Cervantes, numa palestra que tem como tema “Acredite ou não, nós somos nano”, dentro da programação do Symposium no FILE 2010 – Festival Internacional de Arte Eletrônica.
Apesar da idade, Anna não para. Depois do FILE, no início de setembro, ela segue para o Rio Grande do Sul, onde participará do 5º Simpósio de Arte Contemporânea: poéticas digitais, na Universidade Federal de Santa Maria. Na sequência vai para a Bahia e depois Brasilia, onde montará uma exposição no Museu da República, sempre com trabalhos utilizando a nanotecnologia.
Segundo Anna, não é possível viver de seus trabalhos de arte. Não são animações comerciais, são muito específicas e abstratas. “As vezes eu fico dias em cima de uma luz até acertar aquela que eu quero”. Ela Foi professora universitária, na graduação e pós-graduação, durante “vinte e tantos anos”. Ela escreve e publica muitos artigos em congressos e as vezes capítulos de livros. Entre suas publicações, se destacam: “A Arte da Percepção – um namoro entre a luz e o espaço” e “Nano – Poética de um mundo novo.
"Com cultura e com arte, nesta terra, a gente não vive. Você tem que dar aula, fazer alguma outra coisa, senão não dá para viver."
No ano passado Anna foi indicada para o 8º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia 2009/2010, na categoria “Percurso de Carreira”.
Outros trabalhos
Entre os trabalhos que ela mais gostou de realizar se destaca um processo desenvolvido com borracha, em que ela pincelava latéx liquido em árvores. “Eu escolhia um lugar da árvore, como se fosse uma ferida ou algo assim. Pincelava, pincelava, pincelava e depois arrancava (…) Quando eu fiz isso foi um sucesso louco. Fiz uma árvore que tinha três metros de comprimento, depois não conseguia nem arrancar da árvore”. Também gostava do trabalho de laboratório quando produzia fotografias.
Primeiro ela pintava. Na sala de sua casa há trabalhos de quase trinta anos, são telas de 1982. Passou dez anos pintando em azul. Mas ela conta que quando você olha para as telas de outros ângulos é possível perceber um monte de cores embaixo. Conforme a luz, você vai enxergando várias cores. Foi quando parou de pintar que ela iniciou os trabalhos com computador.
Uma das obras que estampam as paredes da sala de Anna foi extraida de um frame de animação. “É um tipo de gravura feito somente em Nova York, chamado Iris Print”. É uma impressão em papel e tinta especiais utilizados em museu. “Uma coisa que dura pra sempre”. Esse trabalho não é mais desmaterializado porque está impresso em um suporte de papel, mas representa uma obra imaterial. Ele está assumindo uma corporeidade.
O vídeo acima é uma animação, que foi parte da instalação “Viveiro Svetliná”, exibida na exposição “Luz da luz”, no Sesc São Paulo, entre outubro de 2006 e Janeiro de 2007. As animações eram projetadas sobre um jardim criado especialmente com plantas da Mata Atlântica. Um projeto do Grupo SDVila – Anna Barros, Alberto Blumenschein, Nicoleta Kerinska, Rafael Carlucci. A trilha sonora é de Wilson Sukorski.
Outras animações de Anna Barros podem ser conferidas em seu canal do youtube (youtube.com/annamcbarros). Informações sobre suas pesquisas e trabalhos no site annabarros.art.br.