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setembro 8, 2013
Após tumulto, feira ArtRio chega enxuta à 3ª edição por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Após tumulto, feira ArtRio chega enxuta à 3ª edição
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 4 de setembro de 2013.
ArtRio 2013: Panorama, Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ - 05/09/2013 a 08/09/2013
Depois de dobrar de tamanho e sofrer com graves problemas estruturais no ano passado, a ArtRio levou sua equipe para uma espécie de retiro num hotel em Santa Teresa. Lá no alto, decidiram fazer da edição que começa hoje, no Rio, uma feira menor, talvez mais direta ao ponto.
Querem evitar o tumulto do ano passado, quando 74 mil pessoas foram à feira e alguns mais afoitos chegaram a subir em cima das obras, aterrorizando os galeristas.
Também se livraram da área externa, então reservada a galerias emergentes, que sofreram com a invasão de pombos e gaivotas, apelidando o espaço de "favelinha".
Sem "favelinha" e com ingressos limitados a 60 mil, a ArtRio também fez uma seleção mais enxuta de galerias, reduzidas de 120 para 106.
"Fizemos isso pensando mais nos artistas", diz Brenda Valansi, uma das diretoras da ArtRio, em entrevista à Folha. "Somos um mercado em ascensão, então não adianta ter um monte de galerias super 'avant-garde'."
Talvez não sejam mesmo tão vanguardistas assim, nem é isso que se espera de um evento comercial, mas as melhores e mais caras do mundo parecem ter esquecido os problemas e voltaram à feira.
Na lista mais enxuta, há espaço para algumas das maiores casas do mundo, como as norte-americanas Gagosian, David Zwirner e Pace e a britânica White Cube. Estreiam no Rio mais duas gigantes --as também americanas Gladstone e Marian Goodman.
Todas elas parecem ter a intenção de criar um eco com o circuito dos museus no país, levando à feira os nomes de seus times agora em cartaz no Brasil ou que em breve devem ganhar mais espaço nos museus brasileiros.
No caso da Marian Goodman, esse foi o fator decisivo para a galeria decidir entrar na ArtRio. A casa representa a artista espanhola Cristina Iglesias, que agora tem uma mostra na Casa França-Brasil, no Rio, e o sul-africano William Kentridge, agora na Pinacoteca, em São Paulo.
"Instituições brasileiras têm apoiado nossos artistas, então pensamos em melhorar a conversa com os colecionadores também", diz Rose Lord, uma das diretoras da Marian Goodman. "Já vendemos para compradores no país e vemos que há um público muito bem informado."
Essa abertura a obras de fora é tão forte entre os brasileiros que a galeria britânica White Cube abriu sede em São Paulo no ano passado.
Mas vendas nas feiras costumam ser mais intensas por causa da isenção de alguns impostos sobre obras importadas, medida implantada na ArtRio desde sua primeira edição, em 2011, e depois copiada na paulistana SP-Arte.
É um desconto que pode chegar a 50% do valor da obra, mas que só vale para transações realizadas na feira. Não deixa de ser um incentivo quando peças nos estandes ultrapassam cifras de alguns milhões de dólares.
DÓLAR E CRISE
Esse, aliás, deve ser o fantasma a rondar esta edição da feira. Com a disparada da moeda americana, obras estrangeiras com preços cotados em dólar vão custar mais caro mesmo que galerias tenham mantido valores no patamar normal dos artistas.
"É a primeira vez que vamos ver o reflexo disso", diz Karla Meneghel, diretora da White Cube em São Paulo. "Toda negociação é feita em cima disso. As obras vêm de fora, então não tem jeito."
Talvez por isso, a direção da ArtRio, que diz que a feira movimentou R$ 150 milhões no ano passado, não arrisca nenhuma previsão agora. "Estamos vivendo uma crise, sim", diz Valansi. "Mas não vai ter uma percepção tão grande dessa crise, porque teremos novos compradores."
Despreocupada, a Gagosian está levando ao Rio obras de seu caríssimo "elenco habitual", como o cubista Pablo Picasso e o escultor Alberto Giacometti, duas das maiores estrelas do mercado internacional. A casa não divulga valores, mas numa estimativa conservadora são peças que chegam fácil a R$ 10 milhões.
"Compradores querem o melhor e mais raro", diz Victoria Gelfand-Magalhães, da Gagosian. "Então, mesmo com a recessão, ninguém hesita ao investir em arte. Nunca tantas pessoas entraram nesse mercado na história."