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agosto 13, 2013
O mercado em fase retraída por Paulo Carvalho, Continente
O mercado em fase retraída
Matéria de Paulo Carvalho originalmente publicada na revista Continente em 7 de agosto de 2013.
Cancelamento da última edição do SPA das Artes. Orçamentos reduzidos em todos os museus e equipamentos públicos do estado e da prefeitura. Atraso do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Migração para outros estados de artistas, críticos e curadores. Adiamento do Olinda Arte em Toda Parte. Galerias fechadas ou vazias. Quem observa o campo das artes visuais do Recife, em 2013, encontra uma terra desolada. O observador de hoje pouco consegue encontrar a euforia que se vivia na primeira metade da década passada, quando a cidade parecia pegar o bonde nacional de um mercado tão promissor como complexo.
Esse mercado é complicado porque agencia um conjunto de variáveis interdependentes. Nele, exigem-se harmonia entre a produção artística, o fortalecimento dos espaços de exposição e ambientes de formação de todos os profissionais da cadeia e do público, o despontar de um pensamento crítico e a possibilidade de que a produção encontre compradores, seja no mercado primário (com obras adquiridas diretamente dos artistas ou através de galerias), seja no mercado secundário (em que obras adquiridas por pessoas físicas ou jurídicas são revendidas para pessoas físicas ou jurídicas, principalmente através de leilões).
O próprio estado, com a aquisição de acervo para os museus, colecionadores, grandes empresas ou pessoas que vejam mais significado na aquisição de uma obra de arte que de uma cortina automática representam esse vértice consumidor que, no Recife, é quase nulo, segundo constatou esta reportagem, e insignificante, se comparado ao restante do país.
A dificuldade nas vendas reflete a fragilidade dos outros pontos do sistema. Problemas como poucos museus, ausência de importantes coleções em exposição permanente, carência de catálogos que documentem a produção de artistas consagrados e jovens e facilitem o entendimento crítico dos seus trabalhos, e a última posição para as artes visuais na captação de recursos da principal Lei de Incentivo, a Rouanet, fazem com que espaços de venda flutuem em uma órbita sem sentido.
Moacir dos Anjos, pesquisador e curador vinculado à Fundação Joaquim Nabuco, figura angular para a compreensão crítica da produção de arte contemporânea no país e responsável pela consolidação do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães no cenário nacional, responsabiliza o poder público pelo cenário atual. “A impressão que dá é a de que o campo das artes visuais, de dois anos para cá, não tem a menor importância dentro das políticas públicas. Os equipamentos não têm verba, alguns deles são dirigidos por senhoras da sociedade e, na melhor das hipóteses, por pessoas ligadas à cultura popular. O engraçado é que temos um discurso no campo econômico desenvolvimentista, mas, no campo simbólico, algo profundamente conservador. O que temos hoje é uma polarização entre a riqueza econômica e a pobreza nas artes”, afirma.
Bruna Pedrosa, ex-diretora do Museu Murillo La Greca e, hoje, coordenadora de Artes Visuais da Fundação Joaquim Nabuco, afirma que as leis orçamentárias anuais não foram cumpridas. “O La Greca saiu de uma verba anual pequena, de R$ 120 mil, para uma menor, de R$ 40 mil; depois, para uma irrisória de R$ 18 mil, até não ter nenhum recurso disponível, tendo sobrevivido praticamente pela doação da sociedade de amigos que se formou em torno dele.”
No período de apuração desta reportagem, estavam sem gestores o Murillo La Greca, o Centro de Formação em Artes Visuais, Cefav, e o Museu de Arte Popular.
Leia a matéria na íntegra na edição 152 da Revista Continente