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julho 19, 2013
Artista brasileira mistura sonhos e tecnologia em obra realizada em Berlim por Marco Sanchez, Deutsche Welle
Artista brasileira mistura sonhos e tecnologia em obra realizada em Berlim
Matéria de Marco Sanchez originalmente publicada no Deutsche Welle em 2 de julho de 2013.
Em estúdio aberto, Anaisa Franco mostrou o processo de criação de sua instalação "Flutuações Oníricas". O trabalho da artista mistura robótica, arte digital e psicologia em obras que desafiam a imaginação.
O trabalho de Anaisa Franco é uma ponte entre o físico e o digital, quase como um jogo entre o corpo e a alma. A artista plástica usa conceitos da psicologia para criar esculturas e instalações que brincam com os sentimentos e com a imaginação.
Franco foi convidada para uma residência de seis meses no Zentrum für Kunst und Urbanistik (Centro para Arte e Urbanismo), em Berlim, um coletivo que desenvolve projetos e promove o intercâmbio entre artistas de todo o mundo.
Na quinta-feira passada (27/06), a artista realizou seu primeiro estúdio aberto para mostrar o projeto que vem desenvolvendo desde o início de sua residência, em fevereiro. "Esse projeto se chama "Flutuações Oníricas". Nele, eu coleto sonhos das pessoas e vou criando plataformas efêmeras. Através de animações, eu transformo esses sonhos em realidade, projetando esses sonhos [imagens] nessas plataformas", explicou Franco, em entrevista à DW Brasil.
No caso de "Flutuações Oníricas", essas plataformas de matéria efêmera são água, fumaça e bolhas de sabão. "Busco misturar materiais e criar outra visualidade, que não seja apenas uma tela", disse a artista brasileira.
Transformando sonhos em arte
"Eu primeiro desenvolvo desenhos em cima de fotografias de neve e do céu. Preciso experimentar as formas porque, para as projeções funcionarem nas plataformas propostas, elas têm que ser simples. Esse processo é um estudo do que eu vou transformar em animação", disse Franco, sobre o processo de trabalho.
"Flutuações Oníricas" é uma extensão do trabalho de Franco, no qual ela costuma investigar a relação entre os materiais físicos e digitais que compõem suas esculturas. Assim, a tecnologia tem um papel importante em explorar e traduzir como os sonhos são moldados nas mentes do ser humano.
"Você pode ver a imagem sendo desenhada através da água. Isso [por exemplo] é um sonho. Outro sonho eu represento através de pequenas bolas de água, o que torna a projeção mais abstrata. A fumaça cria uma espécie de céu, onde os sonhos são projetados", exemplificou a artista.
Para conduzir o público a uma espécie de realidade paralela, que brinca com o inconsciente, Franco quis que o espaço e o tempo fossem percebidos de forma tão passageira quanto as plataformas que criou.
No projeto interdisciplinar na Alemanha, Franco trabalhou em colaboração com os músicos Fernando Epelde (Espanha) e Paula Reis. Eles desenvolveram a trilha sonora para as obras. Cada som foi inspirado em um dos sonhos representados na exposição, que são de amigos da artista e cujos relatos foram enviados por e-mail.
"Meu objetivo é representar dez sonhos. Até agora, só fiz três. A plataforma da água e da fumaça já está resolvida, a das bolhas de sabão está em desenvolvimento", afirmou.
Físico e digital
Franco nasceu em Uberlândia (MG) e, desde 2006, desenvolve trabalhos em laboratórios de mídia, estudos artísticos e residências ao redor do mundo. Para a artista plástica, a tecnologia é uma ferramenta de expressão. Usando algo concreto, como a mecânica e a robótica, ela cria seus "sonhos digitais".
A convivência com a mãe psicóloga teve grande influência em seu trabalho. Franco usa a psicologia para investigar questões do comportamento humano. Tenta traduzir o sonho por animações digitais e por sensações criadas através das mais diferentes plataformas e tecnologias. Sua arte inclui também a pesquisa científica e o desenvolvimento de diversos materiais e técnicas.
Na instalação "Controlled Dream Machine" (2007), por exemplo, ela criou um par de pernas robóticas que sonhavam. "O digital funciona como [se fosse] a imaginação das máquinas. Sempre crio relações entre o corpo físico e a mente digital", explicou.
Depois de Berlim, "Flutuações Oníricas" deve ser exposta em uma galeria em São Paulo. "Peças como essas são comercializadas através dos desenhos ou por partes. A grande bola de água com projeção pode ser vendida. Quero arrumar uma maneira de apresentar essa instalação em festivais de luzes. Tenho uma proposta em Dubai e outra na França", disse Franco.
Outro projeto da artista é levar a obra "Reflexões Oníricas", que ela desenvolveu durante uma residência em Paris, para a fachada do prédio da Fiesp, na Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo. "Essa peça usa câmera e espelhos que criam projeções no rosto dos espectadores. Quero fazer isso em grande escala", projeta a artista.