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julho 3, 2013
O boom atual dos negócios de arte no Brasil por Alex Ricciardi, Forbes Brasil
O boom atual dos negócios de arte no Brasil
Matéria de Alex Ricciardi originalmente publicada na Forbes Brasil em 30 de março de 2013.
Compra e venda de obras já é uma atividade econômica de grande porte no país
O momento é belo para a compra e venda de obras de arte no Brasil. Quarenta galerias de sete Estados brasileiros, que juntas representam, aproximadamente, 900 artistas, reportaram, por meio de uma pesquisa, um forte aumento dos negócios. Essas empresas atuam no chamado mercado primário (ou seja, trabalham com o artista em atividade) e cresceram em média 44% nos últimos dois anos.
O segmento de arte do país registrou, em 2011, um recorde de exportações, com vendas de US$ 60,1 milhões. Em 2013, sairá um livro da prestigiada editora alemã Taschen sobre a trajetória de uma das artistas plásticas brasileiras de maior sucesso fora do país, a carioca Beatriz Milhazes – há apenas três meses, uma obra dela foi vendida por U$S 2,1 milhões.
O mesmo levantamento aponta que o perfil dos compradores de arte no Brasil tem forte predominância de colecionadores particulares brasileiros – estes já são responsáveis por 66% das vendas, contra 15% de colecionadores vindos do exterior e apenas 8% das instituições culturais nacionais, mesmo percentual das empresas privadas. A pesquisa foi conduzida pela Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) e pelo projeto setorial de arte contemporânea da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), e terá evento de lançamento durante a SP-Arte (uma grande feira de galerias de arte), em maio.
O mercado de arte brasileiro estaria, enfim, decolando? “Nos últimos cinco anos, observamos o crescimento e fortalecimento do setor em um ritmo acelerado. E vários são os motivos”, responde Alexandre Roesler, um dos responsáveis pela galeria paulistana Nara Roesler, das maiores da cidade. “O aumento do interesse internacional em tudo que está acontecendo no Brasil, inclusive no mercado de arte, tem ajudado a divulgar nossa produção no exterior.
Importantes instituições como o MoMA, de Nova York, e a Tate Modern, de Londres, têm apresentado artistas brasileiros como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Mira Schendel, Carlito Carvalhosa etc., confirmando que a arte brasileira está cada vez mais no radar de seus comitês de aquisição.” E ele observa: “Artistas como Vik Muniz, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes estão sempre presentes nos leilões internacionais. E outros mais jovens, como Cinthia Marcelle, Paulo Nazareth, Marcius Galan e Rodolpho Parigi, também vêm conquistando, por seu lado, uma crescente visibilidade no exterior”.
Um dos sintomas mais claros deste novo momento do setor artístico brasileiro é o fortalecimento acelerado do Brazil Golden Art. Trata-se do primeiro fundo de investimentos em arte do país. O BGA é gerido pelo banco Brasil Plural. A aposta do fundo é a arte contemporânea brasileira. Seu acervo hoje conta com cerca de 600 peças. Atualmente, trata-se de um fundo fechado, que foi criado há um ano e meio e tem 70 investidores. À época de seu lançamento, o BGA ficou aberto para captação durante 15 dias – e conseguiu, nesse período, amealhar R$ 40 milhões. O plano do fundo é investir esse dinheiro durante três anos, comprando obras, e então se desfazer das peças em cerca de 24 meses. O lucro virá, para os investidores, justamente da forte valorização das obras. “O que motivou a criação do BGA foi o momento de especial prestígio e visibilidade que a produção artística brasileira vive no mercado nacional e internacional”, confirma Heitor Reis, sócio-fundador do BGA.
É interessante observar que o surgimento do Brazil Golden Art coloca o país no mesmo diapasão que o de alguns dos maiores mercados mundiais de compra e venda de obras artísticas. Atualmente existem outros fundos semelhantes ao BGA atuando no restante do mundo, tais como o The Fine Art Fund Group, que tem abrangência global e US$ 150 milhões captados. Há também o Art Collection Fund, com sede em Luxemburgo, e o Art Mundi Global Fund, que atua em Miami, México, Xangai e Espanha e possui outros US$ 150 milhões em carteira.
Cada fundo tem suas especificidades, com prazos, estratégias e regulamentos diferenciados. “O mercado de arte brasileiro, salvo exceções, está começando a se profissionalizar agora”, pondera Reis. “A grande diferença dele em relação ao mercado internacional são os valores das obras comercializadas. As obras internacionais estão com valores muito acima das brasileiras de uma maneira geral. Entretanto, a médio e longo prazo a nossa produção, por sua excelente qualidade, chegará a preços equivalentes aos praticados no mercado internacional”, aposta o executivo.
Mas o tamanho do mercado artístico nacional é qual, dentro do contexto latino-americano? “Imagino que seja um dos dois maiores da América Latina, ao lado do mexicano. Logo atrás deles, a atividade de compra e venda de obras de arte na Colômbia é outra que se destaca”, responde Alexandre Gabriel, diretor da Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo. “O vigor deste setor no país é tal que até mesmo galerias famosas da Europa estão vindo para cá. É o caso da inglesa White Cube, que em dezembro passado inaugurou sua segunda filial fora do Reino Unido – a outra fica em Hong Kong –, na Vila Clementino, em São Paulo”, lembra Gabriel.
A White Cube resolveu vir para cá graças, em especial, à boa performance que seus negócios já vinham apresentando no Brasil. Em maio do ano passado, a companhia faturou 1,4 milhão de libras (R$ 4,6 milhões) apenas no dia da inauguração da SP-Arte, uma das maiores feiras do setor no país. Em setembro, ela teve também fortes vendas na ArtRio, outro grande evento nacional da área. “As feiras têm um papel importante, pois colocam a arte brasileira no mapa mundial do setor”, reforça Alexandre Roesler. “Várias galerias locais participam do circuito das feiras internacionais, levando a arte brasileira para os mais diversos destinos como Miami, Nova York, Basel, Londres, Hong Kong, Dubai etc. E as feiras brasileiras SP-Arte e ArtRio atraem cada vez mais galerias estrangeiras, aumentando o intercâmbio cultural”, completa ele.
Até mesmo ações inovadoras estão sendo geradas nesse meio. O site Nail on Wall tem como objetivo oferecer para os usuários uma maneira nova de encontrar arte. Uma série de obras está exposta no endereço eletrônico – e havendo interesse do usuário em uma tela no Nail on Wall, o site o coloca em contato com a galeria que a comercializa, para que o interessado possa vê-la ao vivo e adquiri-la. “Esperamos, até o final do ano, ter mais de mil trabalhos sendo exibidos no Nail on Wall, de galerias nacionais e internacionais”, conta Luca Parise, criador do site.
Nos próximos anos, o setor deve continuar se expandindo com força. “As perspectivas para o mercado brasileiro são as melhores possíveis, pois a arte local é diferenciada em sua estética e poética”, afirma Heitor Reis, do BGA. “Por isso, ela se internacionalizou e passou a ser reconhecida e respeitada pela crítica especializada e pelo mercado mundial, tendo forte presença nas principais catedrais da arte, a exemplo da Tate Modern, do Louvre, do MoMA, das bienais e das feiras. Trata-se de uma conjunção fundamental para que os artistas brasileiros estejam hoje no patamar dos melhores do mundo, propiciando excelentes oportunidades de investimento e retorno de capital”, afirma Reis, confiante.