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maio 22, 2013

Abril em outros salões por Alan Santiago, O Povo

Abril em outros salões

Matéria de Alan Santiago originalmente publicada no jornal O Povo em 20 de maio de 2013.

64º Salão de Abril - Inscrições

Salões têm mudado em outras partes do Brasil. Em Belo Horizonte, a Bolsa Pampulha oferece residência artística. Em Recife, as bolsas contemplam desde projetos artísticos tradicionais até mais experimentais

Com premiações que chegam a R$ 160 mil, a 64ª edição do Salão de Abril – que marca seu aniversário de 70 anos – está indo na contramão de salões análogos em outras partes do Brasil. “De um modo geral, os salões têm feito o esforço de deixar de se considerar eventos para pensar uma abordagem da arte o mais processual possível”, explica a curadora pernambucana e crítica de arte Clarissa Diniz.

Isso significa que o salão não age mais como legitimador de uma produção – simplesmente fazendo seleções de artistas e os premiando –, mas passa a apostar, por exemplo, em residências artísticas, bolsas de pesquisa e publicações. Dois casos emblemáticos são o Salão Nacional de Artes de Belo Horizonte e o Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Ambos passaram por metamorfose em 2002.

O primeiro mudou de nome, inclusive. Virou Bolsa Pampulha, que toca bienalmente um programa de residência artística para jovens criadores de todas as partes do Brasil. Os contemplados são acompanhados por uma comissão de críticos, curadores e pesquisadores em artes visuais. Há um ateliê coletivo para os artistas, que recebem bolsa durante um ano, o tempo da pesquisa. No segundo ano, as obras gestadas viram exposição no Museu de Arte da Pampulha na capital mineira. Em 2008, o artista visual cearense Yuri Firmeza foi um dos admitidos.

Segundo a curadora Lisette Lagnado, com a Bolsa Pampulha, a cidade se converte em um campo de investigação na medida em que os contemplados de outros Estados mudam de residência e conseguem efetivamente estabelecer trocas. “Dialogar mais com a cena local é algo que só a residência artística permite, isto é: deixar-se impregnar por uma realidade urbana por uma duração razoável”, pontua.

O Salão de Artes Plásticas de Pernambuco se compartimentaliza: há bolsas para pesquisa e produção em artes visuais, videodocumentário, fotografia e também residência artística. O projeto deve se estender por 10 meses. Aqui, como em Minas Gerais, os artistas são acompanhados por equipe de críticos, curadores e pesquisadores.

“As bolsas oferecidas permitiram abordagens das mais diversas, desde o estabelecimento de relações aparentemente mais tradicionais de pesquisa até mais experimentais, como esforços de diluição da autoria, da dissolução da obra de arte, ou de projetos que ocorrem entre campos distintos da criação e do conhecimento”, explica a coordenadora-geral da 47ª edição do Salão, Luciana Padilha, no texto do catálogo sobre artistas contemplados em 2008.

Para Clarissa, essas alternativas, condensadas em Minas Gerais e em Pernambuco, são significativas para jovens artistas que garantem estabilidade financeira para produzir projetos. Assim, os salões conseguiriam envolver grupos de artistas com a discussão de processo criativo. “O modelo de prêmio causa disfunção social, porque está criando hierarquias e traz um pensamento exclusivista. A própria arte contemporânea é o mais coletiva e horizontal possível”, critica.

O quê
entenda a notícia

Nessa semana, O POVO publicou artigo do professor e artista visual Yuri Firmeza criticando a atual edição do Salão de Abril. Ele reclamava do prêmio como ação de marketing e destacava a ausência de uma ação contínua. A experiência de outros salões pelo Brasil pode iluminar o que o nosso poderá ser no futuro.

Posted by Patricia Canetti at 1:18 PM