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Como atiçar a brasa

 


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março 13, 2013

Nota de Esclarecimento - MAR / Opavivará!

Nota de Esclarecimento

O Abrigo e o Terreno: Arte e Sociedade no Brasil I, Museu de Arte do Rio - MAR, Rio de Janeiro, RJ - 05/03/2013 a 14/07/2013

O MAR – Museu de Arte do Rio convidou e patrocinou o coletivo Opavivará! a desenvolver, em parceria com a Escola Mirim Pimpolhos do Grande Rio, a performance Arqueofagia Carioca – As Maravilhas da Pequena África, prevista para ocorrer na noite de sua abertura como parte da exposição O Abrigo e o Terreno, uma das mostras inaugurais do Museu, com curadoria de Clarissa Diniz e Paulo Herkenhoff.

Desde abril de 2012, os artistas e demais instâncias envolvidas (parceiros diversos, curadoria, Escola do Olhar) estiveram dedicados à preparação do trabalho, constituído por um cortejo com crianças e população em geral, carro alegórico, cozinha, comida e uma bateria de panelas que sairia do Barracão da Pimpolhos na direção do MAR, localizado na Praça Mauá.

Desde o início das conversas em torno da inauguração, ainda em janeiro, tendo em vista que a sexta-feira seria um evento institucional, com a presença de autoridades de várias instâncias do poder público – cujos protocolos e regras de segurança não ficariam sob controle do Museu –, entendemos e propusemos que a performance ocorresse no dia dedicado aos artistas e ao mundo da cultura, agendado para o sábado, dia 02 de março, dentro do ciclo inaugural do MAR. Até pelo fato de a ação do Opavivará! envolver crianças, reforçamos a recomendação de que o cortejo ocorresse no sábado, sugestão que naquele momento foi acatada pelo Opavivará!. Contudo, pouco tempo depois, o coletivo reviu sua posição e nos informou que manteria a performance no evento que contaria com a presença das autoridades.

Mais adiante, em 31 de janeiro, assim que tomamos conhecimento da presença da Presidenta da República no evento inaugural da sexta, dia 01 de março, a preocupação do Museu em torno da realização da ação se acentuou e imediatamente informamos ao Opavivará! que as condições de circulação daquela noite passariam a ser conduzidas pelo cerimonial e segurança da Presidência da República, o que poderia inviabilizar o acesso do cortejo ao Museu. Ciente de todos os riscos, o coletivo manteve a decisão de realizar a ação mesmo com a presença da Presidenta Dilma. Desde então, o MAR e a Fundação Roberto Marinho comunicaram aos órgãos responsáveis a decisão do Opavivará! de manter a ação no dia 1 de março.

Na última semana, diante da ampla mobilização para o evento através das redes sociais, os órgãos responsáveis solicitaram que, paralelamente aos comunicados emitidos pelo Museu, também o proponente da ação adotasse os procedimentos padrões de autorização para eventos dessa natureza – a saber, a consulta prévia junto à Subprefeitura –, orientação que, ao que consta, não foi atendida pelo Opavivará!. Por sua vez, o MAR recebeu notificações acerca da não-autorização – tendo em vista a presença da Presidenta e a decorrente alteração das lógicas de circulação e segurança no perímetro do evento – da ação por parte da CET-Rio, Subprefeitura e Guarda Municipal, as quais foram prontamente repassadas ao coletivo. Mais adiante, o Museu sublinhou também sua disponibilidade em receber a ação no dia 2 de março, caso o coletivo entendesse que seria mais adequado. Todavia, o Opavivará! manteve sua posição e optou pela realização do cortejo na noite da sexta-feira.

Ainda assim, visando auxiliar o desenvolvimento da ação, o Museu de Arte do Rio entregou ao coletivo uma carta de apresentação do trabalho que, destinada a todos os órgãos responsáveis pela manutenção da circulação e da ordem pública, explicitava que a ação integrava a exposição O abrigo e o terreno e pedia que quaisquer questões relativas à mesma – previamente ou durante a realização do cortejo – fossem imediatamente relatadas ao MAR.

Contudo, em torno das 16h30 da sexta-feira, tivemos conhecimento, através dos membros do Opavivará!, que a Guarda Municipal estava no Barracão da Pimpolhos impedindo a saída do carro alegórico, dada a ausência de autorização. A partir de então, e no decorrer do evento com a Presidenta, através da curadora Clarissa Diniz, o Museu de Arte do Rio intermediou com todas as autoridades envolvidas e junto à segurança da Presidência da República, a liberação da autorização de saída do carro alegórico, o que ocorreu às 20h. Ao longo de toda a negociação, o Opavivará! esteve em contato com Clarissa Diniz por telefone, sendo informados de todos os passos até o momento da liberação, cuja execução foi pessoalmente acompanhada pela curadora, no Barracão, momento no qual, todavia, o coletivo optou por não realizar a ação.

Desde o princípio do planejamento do trabalho, o Opavivará! e demais envolvidos estiveram cientes do risco de mantê-lo no dia 1 de março, tendo em vista que toda a ordenação do perímetro do evento estaria a cargo da segurança da Presidência. Nesse sentido, sublinhamos que o impedimento à saída do carro alegórico do Barracão da Pimpolhos não foi um ato de censura ao conteúdo da ação do coletivo.

O Museu de Arte do Rio tem autonomia em sua função curatorial, do que a mostra O abrigo e o terreno é evidência. Do mesmo modo como Arqueofagia Carioca – As Maravilhas da Pequena África integra a exposição, outros trabalhos de caráter crítico e político estão sendo apresentados. É o caso da participação dos coletivos Dulcinéia Catadora, USINA, Poética do Dissenso ou, ainda, dos artistas Graziela Kunsch e Márcio Almeida, cujas obras fazem referências diretas aos processos de gentrificação e remoções compulsórias, bem como mencionam os processos de transformação social e urbanística atualmente vivenciados no Rio de Janeiro. Tais questões não são tabus para o Museu de Arte do Rio – MAR, ou para a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Na contramão das acusações de censura, o MAR ressalta, inclusive, que na abertura do sábado, 2 de março, estiveram presentes no Museu, a convite de sua curadoria e com o apoio da Fundação Roberto Marinho, 45 moradores e artistas engajados no processo de resistência e reintegração sem posse (entre 2003 e 2007) da Ocupação Prestes Maia, em São Paulo. Por meio do trabalho Gentrificado, da Bijari, estampado em suas camisas, todos carregavam a consciência das assimetrias dos processos de requalificação urbana. Consciência que, por sua vez, deve encontrar ressonância simbólica, social e política no âmbito da esfera pública, missão com a qual está comprometido o Museu de Arte do Rio.

Por essa razão, lamentamos a não realização da ação do Opavivará! conforme planejado pelos artistas e curadores envolvidos. Enfatizamos ainda que o Museu se mantém aberto à concretização da ação, bem como à inclusão – como parte da mostra O abrigo e o terreno, como acordado desde o princípio – do registro em vídeo do que aconteceu na última sexta-feira. Sobremaneira, o Museu de Arte do Rio – MAR continua aberto ao diálogo e, especialmente, à escuta.

Museu de Arte do Rio – MAR, Instituto Odeon e Fundação Roberto Marinho

Posted by Patricia Canetti at 9:41 AM