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dezembro 4, 2012
Uruguaio dá forma a questionamentos do mundo da arte em obras interativas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Uruguaio dá forma a questionamentos do mundo da arte em obras interativas
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de dezembro de 2012.
O artista uruguaio Luis Camnitzer, 75, um dos precursores da arte conceitual na América Latina, está em cartaz em sua terra natal, no Museu Nacional de Artes Visuais, com a maior retrospectiva sobre sua carreira.
Organizada em 2010, no Daros Museum, em Zurique, na Suíça, pelos curadores Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen, a mostra já foi vista em instituições da Colômbia, do México, do Canadá e dos Estados Unidos.
A exposição segue para o Chile e o Paraguai e deve concluir sua intinerância no Rio, na Casa Daros, que inaugura sua filial carioca no dia 23 de março do próximo ano.
A data da retrospectiva no Rio ainda não está definida.
Em cada local, dependendo do espaço, ela se transforma. No Uruguai, reúne 59 obras, a maioria da própria Daros, a grande colecionadora de obras do artista.
Radicado nos Estados Unidos desde 1964, Camnitzer saiu do seu país motivado pelo recrudescimento do regime político, o que, de certo modo, foi importante na transformação de sua poética.
"Em Montevidéu, eu fazia gravuras expressionistas, mas ficava entediado porque sempre sabia o que ia surgir [delas]; então, nos EUA, fui trabalhar com palavras, que se desdobraram em imagens", disse o artista à Folha.
Uma das obras emblemáticas dessa passagem, incluída na mostra em Montevidéu, é a instalação "Living Room" (sala de estar), criada em 1969: em um espaço branco, palavras como mesa ou almofada ocupam as paredes e o chão, levando o visitante a imaginar a sua própria sala de estar.
Fazer com que o espectador complete a obra do próprio artista é uma das principais características da arte conceitual.
QUESTIONAMENTOS
Outra de suas marcas é o questionamento do sistema da arte, o que Camnitzer faz em muitas das obras na mostra ao abordar sua própria assinatura.
Afinal, a assinatura é sempre o que acaba atribuindo valor a uma obra, dando seu atestado de originalidade e de autenticidade.
Camnitzer, em "Autosserviço", permite que o visitante carimbe sua assinatura em folhas com frases como "Uma assinatura é ação, duas assinaturas são transação", criando originais a partir de modelos de reprodução.
"Todo meu trabalho diz respeito ao poder e a como distribuí-lo", resume o artista. A exposição fica em cartaz, em Montevidéu, até 10 de fevereiro de 2013.
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite da Casa Daros Rio.