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Como atiçar a brasa

 


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novembro 5, 2012

(Des)encontros com o real por Paula Alzugaray, Isto é

(Des)encontros com o real

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 05 de novembro de 2012

Estante
Deriva para a fotografia
Paisagem Zero/ Fabio Miguez/ Martins Fontes Editora/ 216 págs./ R$ 72

“Em 1993, sentado de frente para o mar, em Ubatuba, vi aquilo que já tinha visto inúmeras vezes: o tempo fechar e a chuva e a neblina apagarem lentamente a paisagem ampla e profunda.” Assim Fabio Miguez começou a série fotográfica “As Derivas”, em processo até este ano, com imagens realizadas durante a exposição individual do artista no Centro Maria Antônia, em São Paulo.

As primeiras fotografias documentam um nevoeiro que avança progressivamente, do horizonte, no fundo do quadro, até ganhar toda a cena. Registram também a espuma branca do mar que bate nas pedras e inunda a imagem. É verdade que as fotografias de Fabio Miguez evocam uma reflexão sobre os limites da visualidade. Daí o ímpeto do crítico Lorenzo Mammi, que assina o texto do livro “Paisagem Zero”, em associar os procedimentos de Miguez como fotógrafo às suas estratégias como pintor, surgido nos anos 1980, interessado no expressionismo abstrato americano.

Porém, depois que a neblina toma o quadro e anula a figura, aparece um barco para navegar esse campo abstrato e confirmar os vínculos que a fotografia tem com a representação do mundo e das formas discerníveis. Vale, portanto, olhar para essas imagens como uma deriva, da pintura para a fotografia.

Poesia do concreto
Alexandre da Cunha/ Editora Cobogó/ 136 págs./ R$ 120

Alexandre da Cunha não fotografa, mas se relaciona intimamente com o real. O artista brasileiro, residente em Londres há dez anos, não faz a representação da vida cotidiana, mas promove a sua transformação. Sua escultura se faz a partir de ações de manipulação da produção cultural e da vida urbana. Com esculturas em exibição na 30ª Bienal de São Paulo até dezembro, o artista “re-fabrica” o mundo com materiais tão banais como escovões, toalhas de praia e chapéus de palha. Com isso, não está fazendo uma arte ecologicamente correta nem uma ode à reciclagem. Ele também nega estar simplesmente transformando o mundano em precioso.

Em um percurso consistente, que hoje está bem representado em monografia lançada pela Cobogó, Da Cunha afirma sua habilidade de extrair poesia do mundo concreto. Como Zöe Gray afirma no texto do livro, “Da Cunha é fascinado pela nossa experiência diária com os objetos, transformando ou manipulando objetos soltos ou industrializados de modo a romper os sistemas tradicionais de classificação”. Assim, em gesto similar à transformação de um urinol em fonte, por Duchamp, em 1917, aqui garrafas de plástico são convertidas em taças de vinho.

Cidade-arquivo
Repaisagem São Paulo/ Marcelo Zocchio/ Editora Porto de Cultura/ 100 págs./ R$ 60

Há sete anos, o curador Marcio Doctors concebeu para a Fundação Eva Klabin o “Projeto Respiração”. “Pensei em arejar o ambiente. Era preciso insuflar um novo ar capaz de fornecer o oxigênio necessário para interessar os antigos frequentadores e atrair um novo público”, escreve Doctors no livro que reúne as 14 intervenções artísticas que deram novos ares à coleção Eva Klabin, até 2011. Ocuparam a casa projetos vigorosos de Brígida Baltar, Carlito Carvalhosa e Ernesto Neto, entre muitos. Com o lançamento desse livro, um 15º projeto criativo vem à tona: é o texto do curador, que realiza uma reflexão filosófica de fôlego sobre a ação não cronológica do tempo na subjetividade humana e na história da arte. Imperdível.

Posted by Marília Sales at 12:21 PM