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outubro 5, 2012
Mudanças no CCBNB afetam exposições por Pedro Rocha, O Povo
Mudanças no CCBNB afetam exposições
Matéria de Pedro Rocha originalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo em 4 de outubro de 2012.
Centro Cultural do Banco do Nordeste entregou o terceiro andar do prédio que ocupa no Centro. Prazo para a saída completa se encerra em março de 2013
Aberta no último dia 14 de setembro, a exposição Perambular, Experimentar e Correr Perigo já foi desmontada, ao menos por enquanto. Resultado da primeira turma do Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza, a exposição foi a mais afetada pelas recentes mudanças no Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBNB), depois deste ser obrigado a entregar na semana passada o terceiro dos quatro andares que ocupa no edifício Raul Barbosa, no Centro.
O espaço agora será ocupado pela Justiça Federal do Ceará, instituição que funciona desde 2001 na maior parte do prédio e que em outubro do ano passado comprou por R$ 10 milhões o restante dos 15 andares.
No lugar da exposição dos alunos do curso – uma parceria entre a Vila das Artes e o próprio CCBNB –, será instalada a biblioteca do centro cultural, que por anos funcionou no terceiro andar e é hoje um dos serviços mais procurados do equipamento. As obras artísticas devem ser deslocadas para outro local no próprio térreo, que antes servia de espaço de convivência. Tanto a exposição quanto a biblioteca devem ser reinauguradas no próximo dia 9, afirma Jacqueline Medeiros, coordenadora de artes visuais e gerente interina do centro cultural.
Uma reforma no térreo do prédio foi feita em três dias para se adequar à nova disposição. “Nessa data não estava programado, porque estávamos esperando pra novembro”, fala Jacqueline. De fato, o aviso sobre a desmontagem da exposição foi feito aos participantes apenas dias antes, como confirma Enrico Rocha, coordenador do Programa de Pesquisa em Artes Visuais, que criticou a decisão.
“O banco trabalha com uma grade de programação fechada com muita antecedência, então era previsível fazer essa alteração, adequar a programação, mas a gente foi surpreendido.”, afirma Enrico. “O novo lugar destinado é muito menor do que o anterior, a gente ainda está estudando a possibilidade de adequar, mas sabe que não vai poder montar a exposição como estava”.
Para ele, a redução do espaço do CCBNB preocupa por representar a visão da diretoria do banco sobre a cultura. A avaliação é semelhante a feita pelo artista plástico Eduardo Frota, que estava programado para abrir a exposição Diagramas em Monocromias no segundo e terceiro andares e também foi afetado pela mudança de última hora – apesar da exposição ter sido aberta e permanecer em cartaz, agora com obras no primeiro andar também.
“É inverter o papel. A burocracia do banco tem que entender exatamente o contrário, que o que dá aval ao banco é um projeto sociocultural, é o que dá aval pra essa instituição merecer um status”, opina Eduardo.
Planejamento
Por trás dos comentários dos artistas, está a razão da mudança repentina. O contrato de compra pela Justiça Federal dos quatro andares do prédio, onde hoje funcionam o centro cultural e uma agência do BNB, estabeleceu prazos para a desocupação gradual do espaço.
De acordo com o juiz federal Leonardo Resende, ficou previsto que a agência sairia do local em um ano após a compra, ou seja, em outubro agora; e o centro cultural, em março de 2013. Todavia, o banco não conseguiu concluir a tempo a transferência da agência e sacrificou o terceiro andar do CCBNB para cumprir o acordo.
“Recentemente, diante da dificuldade do BNB, negociamos a liberação de um outro espaço - no caso, o 3º andar do edifício -, a fim de que a Justiça Federal pudesse seguir com a reforma. É que dispomos de recursos orçamentários para esse fim que devem ser necessariamente gastos no decorrer do ano de 2012.”, explica Leonardo.
Os prazos são confirmadas pela gerente em exercício do Ambiente de Gestão da Cultura do BNB, Tessi Letícia, que nega que a instituição foi surpreendida. “Não pegou de surpresa, já que a negociação vinha sendo realizada há algum tempo”, afirma.
Quanto à desocupação total, que deve ser realizada até março de 2013, ela afirma que a nova sede do CCBNB está sendo viabilizada: “As negociações para a mudança de local estão em andamento, mas ainda não podemos adiantar nenhum detalhe”.