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outubro 3, 2012
Verbo reúne performances com ar teatral por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Verbo reúne performances com ar teatral
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de outubro de 2012.
Festival da galeria Vermelho traz ações que usam roteiro, cenografia e iluminação
De efêmero e visceral para algo estruturado e teatral. Performances já não são mais o que eram quando o gênero estourou nas artes visuais nas décadas de 1960 e 1970.
Na atual etapa de ações do Verbo, festival dedicado a esse suporte na galeria Vermelho, em São Paulo, o foco se volta para um híbrido de performance e elementos tradicionalmente ligados ao teatro, como cenografia, roteiro, direção, figurino, trilha sonora e iluminação.
"Há um controle que foi retomado no campo da performance", analisa Julia Rodrigues, que montou o programa de seis performances encenadas hoje na galeria. "É quase artificial: a ação é construída, tem roteiro, regras, toda uma estrutura teatral."
Essa é uma mudança que extrapola o festival. Museus de peso no mundo todo, como o MoMA, em Nova York, a Tate, em Londres, e instituições brasileiras, como o Museu de Arte Moderna do Rio e o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, vêm repensando a forma de encaixar performances em exposições e preservar essas ações em seus acervos.
Na última Documenta, em Kassel, na Alemanha, o artista Tino Sehgal ocupou um galpão escuro com músicos e dançarinos que provocavam quem entrasse na sala. Embora parecesse improviso, ali também havia um roteiro.
É o caso igualmente das performances que podem ser vistas agora em São Paulo. Vivian Caccuri, a única brasileira do time de artistas, encena uma espécie de leitura dramática arrastada.
Junto de outros atores, ela lê um texto em que as palavras foram decantadas em sílabas e cada fonema é pronunciado de forma isolada. Cada ator aguarda o término da sílaba pronunciada pelo antecessor para então recitar a sua parte do verso, alongando o texto por uma hora.
Lilibeth Cuenca Rasmussen, artista dinamarquesa que já participou do Verbo, encena agora uma performance em que se veste de homem e encarna alguns estereótipos masculinos -uma reflexão sobre o território perdido pelos homens numa sociedade que já reconheceu a importância da mulher.
Rasmussen troca de figurino várias vezes e tem também músicos e atores em ação no palco. "Esses artistas pensam em como expandir a performance para o espaço", diz Rodrigues. "São personagens surreais, improváveis, e tudo é construído, roteirizado."
Tanto que outras ações, como a do grupo A Kassen, em que uma goteira de vinho foi instalada na galeria, a do francês Julien Bismuth, em que o artista lê um texto com projeções, e a da dinamarquesa Hannah Heilmann, em que a artista cria uma representação do mundo virtual, também respeitam a ideia de mise-en-scène e construção.