|
setembro 25, 2012
Mostra em SP revê evolução da fotografia britânica no século 20 por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra em SP revê evolução da fotografia britânica no século 20
Exposição tem obras de grandes nomes como Cecil Beaton, Wolfgang Tillmans e Martin Parr
Dos anos 1930 até hoje, panorama de imagens documenta evolução histórica do país e suas transformações sociais
Entre 1936 e 1947, um grupo de 1.500 observadores varreu o Reino Unido fotografando os hábitos dos britânicos.
Chamado "mass observation", esse movimento serve de ponto de partida para um amplo painel da fotografia britânica que está agora numa mostra na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo.
Não escapam nomes mais badalados da história imagética do país, dos fru-frus do fotógrafo de moda Cecil Beaton às excentricidades inglesas capturadas pelas lentes de Martin Parr. Mas há espaço para nomes menos conhecidos, que documentaram a evolução de uma sociedade.
Enquanto os registros dos anos 1930 e 1940 ainda simulam um olhar frio e documental, a fotografia britânica também soube retratar a realidade de formas mais engajadas.
No começo do século, Bill Brandt lançou um olhar crítico à estratificação da sociedade britânica, que então se tornava mais evidente. Mais adiante, na Segunda Guerra, outros fotógrafos, como George Rodger, mostram as barricadas erguidas em Londres contra os bombardeios.
São visões que oscilam entre documento histórico e crônica social. Mas é no pós-Guerra que a fotografia do país se torna mais crítica e parece tomar gosto pelo retrato da classe média, o glamour e os modos de vestir dos mais ricos e as mudanças arquitetônicas e sociais nas cidades.
"Nos anos 1960 e 1970, fotógrafos começam a questionar a ideia de fotografia como um meio objetivo", diz Martin Caiger-Smith, um dos curadores da mostra. "São aspectos do caráter da nação que chamam a atenção, coisas estranhas e peculiares pinçadas da realidade do país."
TRANSFORMAÇÃO
Nesse momento de transição, em que a fotografia também passa a ser colorida e se torna uma ferramenta crítica nas mãos dos artistas, surgem retratos de uma juventude multiétnica, dos punks, dos neonazistas e da depressão na era Margaret Thatcher.
Chris Killip é talvez o nome mais forte da mostra nesse período de desmanche do parque industrial britânico. Suas imagens de personagens sem rumo em cenários urbanos destroçados são flagrantes do que ele enxergou como "vidas descartáveis".
Outros nomes, como James Evans, que retratou jovens negros com roupas de alta-costura em cenários suburbanos sem graça, tentam desconstruir estereótipos sobre classe social e raça no país.
Shirley Baker também testemunha o surgimento de uma Londres cosmopolita, o turbilhão de sotaques e cores que marcam a metrópole.
De olho no hedonismo dos jovens londrinos, o alemão Wolfgang Tillmans fez imagens que diluem fronteiras entre os gêneros fotográficos, alternando entre registros da vida pública e privada.
Em exercícios metonímicos, os fotógrafos Gareth McConnell e Richard Billingham retratam família e amigos como um microcosmo que ilustra os rumos da nação.
É dessa forma, com um olhar ácido sobre os ingleses em veraneio, que Martin Parr constrói sua obra -a praia como símbolo torto do país.