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setembro 21, 2012
A Bienal e suas perspectivas por José Henrique Fabre Rolim, Panorama Brasil
A Bienal e suas perspectivas
Matéria de José Henrique Fabre Rolim originalmente publicada na seção de Artes Plásticas do Panorama Brasil em 21 de setembro de 2012
A intensa programação de mostras impressiona pelo teor de suas intenções, abrangendo uma diversidade espantosa
A intensa programação de mostras impressiona pelo teor de suas intenções, abrangendo uma diversidade espantosa. Percorrendo os museus, galerias e espaços culturais institucionais percebe-se certo clima efusivo que emana do circuito das artes visuais que atingiu também o Rio de Janeiro com a extraordinária Art Rio, em sua segunda edição, uma Feira Internacional de Arte Contemporânea que aconteceu semana passada no Pier Mauá, já considerada a mais importante da América Latina.
Enquanto em São Paulo, a 30º Bienal, se estende por diversos espaços nobres como o Museu de Arte Brasileira da Faap com as obras de José Arnaud Bello, Robert Smithson e Xu Bing, o Instituto Tomie Ohtake com a mostra individual de Bruno Munari que será aberta no dia 4 de outubro a Capela do Morumbi com a proposta plástica de Maryanne Amacher, o Masp com trabalhos de Benet Rossell e Jutta Koether, a Casa Modernista, por sua vez abriga performances e instalações de Sergei Tcherepnin e Ei Arakawa, a Casa do Bandeirante expõe Hugo Canoilas, enquanto na Avenida Paulista acontecerá as intervenções de Alexandre Navarro Moreira e na Estação da Luz, na Passarela Central, Charlotte Posenenske apresenta sua obra proporcionando uma integração com a complexidade de uma metrópole com sua malha cultural.
Dando um giro pelas artes visuais fora do âmbito da Bienal, onde até a famosa dupla Gilbert & George circularam pela cidade, várias mostras se sobressaem, como a individual de Alejandro Otero (1921-1990) que com seus Coloritmos envolve o visitante, pois, deve-se notar que de 1955 a 1960, ele criou 75 dessas obras, um capítulo importante da abstração geométrica na América Latina. Dessa série memorável, 44 peças estão expostas na Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66, Luz), uma oportunidade extraordinária para se aquilatar a força da arte venezuelana no século XX, num diálogo constante com os construtivistas brasileiros. A musicalidade da cor numa escala tridimensional, em certo sentido, arquitetônica.
Comparações poderão ser feitas com as obras de Lygia Clark e Willys de Castro coincidentemente com mostras em cartaz, respectivamente no Itaú Cultural e no IAC – Instituto de Arte Contemporânea, que aquecem os eventos paralelos à Bienal, aprimorando o olhar do espectador com a verdadeira dimensão do construtivismo que protagonizou uma revolução estética sem precedentes. A vibração cromática na obra de Alejandro Otero é intensa, que tem origem em seus profundos estudos sobre as incursões de Piet Mondrian, construtivista holandês que dimensionou espaço, forma e cor com sutileza e ritmo. Paralelamente a mostra “Cruz-Diez: A Cor no Espaço e no Tempo”, com 150 obras, montada na Pinacoteca do Estado (Praça da Luz, 2) possibilita um confronto do percurso de dois mestres da arte de raiz concreta da Venezuela.
No outro lado da cidade, em Pinheiros, acontece no Instituto Tomie Ohtake (Avenida Faria Lima, 201) uma mostra de grande impacto estético, com a obra do arquiteto Thom Mayne, que recentemente ganhou o concurso para projetar a nova sede da Cornell University, em Roosevelt Island, Nova York. A exposição denominada “Morphosis, Formas Combinatórias”, formada por 86 maquetes e painéis fotográficos dá uma visão geral da obra de um arquiteto que prima pelo inesperado, pela surpresa. Projetos arrojados como Phare (Farol) , uma imponente torre comercial, a ser inaugurada em 2015, em La Defense, famoso bairro de Paris por sua arquitetura inovadora. O escritório do arquiteto, o Morphosis tem se notabilizado por posturas onde predomina a transparência em conexão com as mais avançadas tecnologias. Dos projetos elogiados por especialistas se destacam o San Francisco Office Building (2006), o centro estudantil da University of Cincinnati (2006) e a Wayne L. Morse United States Courthouse em Oregon entre tantos como o impressionante prédio Cooper Union, em Nova York, que parece florescer de um abalo sísmico. A montagem da mostra é também especial com iluminação focada nas surpreendentes maquetes além da sutil elevação do piso para entrar no clima da linha arquitetônica de um revolucionário da forma.
Prosseguindo no mesmo espaço numa outra sala o espectador se defronta com a obra de Paulo Bruscky, um dos artistas mais atuantes, representante máximo da mail art, que nos anos 70 e 80 agitaram as visuais criando uma rede de artistas que produziam uma infinidade de obras em suportes inimagináveis. Na atual mostra “Banco de Ideias”, Bruscky apresenta uma série de projetos inconclusos, delineados desde o final dos anos 60 até a atualidade. Suas obras revelam o seu caráter multifacetado, como os curiosos classificados que divulgam máquinas incríveis, aquelas que gravam sonhos, além de iniciativas contrárias a forte censura da ditadura militar. Dentre as propostas provocadoras e/ou perturbadoras da época se destaca a mostra “Nadaista”, que fazia uma homenagem ao vazio organizada em virtude de ter sido seguido por olheiros do exército. Uma das instalações marcantes foi o velório da arte realizado pelo artista em 1971, conduzido por um antigo rabecão, que foi inteiramente reproduzida no Instituto. A instalação é denominada Way, uma homenagem atualíssima ao artista chinês Ai Wewei, que sofreu uma série de agressões do governo chinês, tendo até sido encarcerado. A presente obra tem também o intuito de criticar a liquidez e o artificialismo do mercado financeiro que reflete atual crise mundial.
Seguindo uns passos a mais o espectador vislumbra ainda no Instituto Tomie Ohtake, uma mostra proveniente da Escandinávia, que focaliza a obra de Asger Jorn (1914-1973), um dos membros mais ativos do grupo CoBrA ( acrônimo de Copenhague, Bruxelas e Amsterdam). No período de 1948 a 1951, o CoBrA se estruturou com 6 artistas provenientes das três cidades, que realizaram uma série de pesquisas sobre o inconsciente, com pinturas gestuais com cores exuberantes. Espírito agudo, experimentador em iniciativas múltiplas, o dinamarquês Asger Jorn deixou uma obra plástica de grande liberdade, tanto na pintura como no desenho, na cerâmica, na escultura, na tapeçaria e na arte gráfica.