|
setembro 21, 2012
Canteiros de obras por Paula Alzugaray, Isto é
Canteiros de obras
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 14 de setembro de 2012
Quatro exposições individuais em São Paulo ostentam a inteligência e o rigor brasileiro pela construção
Ana Holck – Perimetrais, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 05/09/2012 a 11/10/2012
Lucia Koch – Materiais de Construção/ Galeria Nara Roesler, SP/ até 6/10
Jac Leirner - Hardware seda – Hardware silk, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 04/09/2012 a 27/10/2012
Héctor Zamora – Inconstância material, Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP - 03/09/2012 a 27/10/2012
A arte e a poesia concreta surgem no início dos anos 1950 no Brasil, intimamente associadas ao impulso modernizador que levantou Brasília e ao boom desenvolvimentista que prometia um avanço histórico de “50 anos em cinco”. Mais de meio século se passou, e tanto o empenho construtivo quanto a abstração geométrica que modificou os parâmetros artísticos naqueles anos ainda ecoam na arte brasileira. Quatro exposições em cartaz hoje evocam a inteligência e o rigor brasileiro pela construção. Ou pela desconstrução.
Com uma consistente pesquisa sobre as relações entre a escultura e a arquitetura, a artista carioca Ana Holck trabalhou sobre a estrutura do elevado da Perimetral, no Rio de Janeiro, cuja construção começou a ser realizada nos anos de Juscelino, e está com os dias contados – sua demolição faz parte do projeto de revitalização da área portuária. Na mostra “Perimetrais”, a artista “dissecou” a perimetral em cortes, representados em gravuras de metal. Com o mesmo rigor analítico com que desconstruiu a perimetral, a artista usou de cálculos de peso para criar estruturas com mourões de concreto e outros objetos de delicado equilíbrio.
Lucia Koch, que há 20 anos realiza intervenções com cor, luz e sombra nos espaços arquitetônicos onde expõe, montou na Galeria Nara Roesler uma espécie de arquivo de todos os seus projetos. “Materiais de Construção” é formado por esculturas que funcionam como mostruários dos materiais com os quais trabalhou: placas de acrílico, MDF, chapas recortadas a laser com padrões vazados, telas translúcidas, mosaicos fotográficos compostos a partir de imagens de azulejos, pastilhas e cerâmicas, trazidas das fachadas de cidades que frequenta.
Na individual “Hardware Seda”, Jac Leirner aproxima matérias leves – como papel de seda e cartões-postais antigos – com outras mais pesadas como ferragens, correntes, porcas, extensores e cabos de aço. Obedecendo a uma prática já consolidada – mas cada vez mais surpreendente – de reagrupar objetos do cotidiano em estruturas de rigor formal, Jac Leirner elabora composições de delicadeza e engenhosidade ímpares. Mais que obras de engenharia, cada uma das 12 obras expostas na Fortes Vilaça pode ser comparada a uma joia, elaborada por um ourives.
Em sua primeira individual em São Paulo, o artista mexicano Héctor Zamora, radicado no Brasil desde 2007, investiga a fundo questões como a “desmaterialização da arte” e os processos e caminhos de construção da obra de arte. No projeto “Inconstância Material”, o artista levou 20 pedreiros para dentro da galeria Luciana Brito e arregimentou uma dinâmica coreográfica de “passa mão” (ação de jogar tijolos que ajuda os trabalhadores da construção civil a dinamizar o processo das grandes construções). De mão em mão, a tradição construtiva da arte brasileira ganha novas dinâmicas e contornos.