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setembro 14, 2012
Brasil com Z por Paula Alzugaray e Nina Gazire, Isto é
Brasil com Z
Matéria de Paula Alzugaray e Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012
Com a participação de importantes galerias estrangeiras como a Gagosian e a David Zwirner, a feira ArtRio dobra sua área e prova que os olhos do mundo estão voltados para a arte brasileira
Em sua segunda edição, a feira ArtRio, que acontece a partir da quinta-feira 13 no Rio de Janeiro, dobrou a área expositiva e aposta em vendas superiores a R$ 150 milhões, um crescimento de 25% no faturamento.
O que salta aos olhos, no entanto, é como essa performance sinaliza para a crescente participação da América Latina no mercado internacional – com o Brasil à frente. Entre as 120 galerias participantes (contra 83 no ano passado), a Sonnabend Gallery, de Nova York, marca presença abrindo mão de participar de qualquer outro evento do gênero no mundo. “O aumento do número de colecionadores interessados em arte brasileira é algo que nos atrai”, disse à Istoé o seu diretor, Jason Ysenburg. Comprometida com 15 feiras internacionais, a tradicional David Zwirner Gallery vem à América do Sul pela primeira vez. “Trata-se de uma plataforma essencial para atingirmos compradores privados e também museus”, afirma o seu diretor de venda, Greg Lulay.
Números recentemente revelados respaldam essas expectativas: pesquisa da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), em conjunto com o programa setorial integrado (Apex), aponta que, nos últimos dois anos, o volume de negócios de galeristas brasileiros cresceu, em média, 44%, bem acima de outros setores da economia. Ainda segundo a Apex, o Brasil é o país que mais exporta arte em sua região. É um aumento de 225% no período entre 2010 e 2011. Esses índices são extremamente atraentes para as galerias da Europa e dos EUA, que apostam nas feiras brasileiras, fugindo de seus mercados em crise e mudando o foco de investimentos após o flerte com Rússia e China.
A Gagosian, por exemplo, reuniu 80 obras de 30 estrelas como Damien Hirst, Takashi Murakami e Pablo Picasso, avaliadas entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões. Segundo estimativas da Bloomberg, o pacote totaliza US$ 130 milhões. A coincidência do evento com a Bienal de São Paulo e a abertura de novos pavilhões em Inhotim (MG) contribuiu para o clima positivo. “Esperamos que esse ambiente traga mais colecionadores e curadores internacionais ao Brasil”, diz Serena Cattaneo Adorno, diretora da filial de Paris da Gagosian. Outro fator de atração é a isenção de 100% de ICMS para obras comercializadas dentro da feira, benefício também concedido à SP-Arte. Na avaliação de galeristas brasileiros, contudo, estamos distantes das facilidades oferecidas pelo mercado europeu, com taxas inferiores à metade dos valores cobrados aqui. “As políticas públicas favorecem os automóveis brasileiros, mas fazem o contrário em relação à arte”, afirma a galerista Luisa Strina, de São Paulo. Segundo Alessandra D’Aloia, diretora da Galeria Fortes Vilaça, o imposto sobre a importação de obras de arte é de 60%. “Devido ao potencial de negócios, o governo diminui as taxas durante a feira e atrai galerias a investir no País. Mas isso está longe de ser a solução”, afirma ela.
Quando esteve à frente da Abact, Alessandra encomendou uma pesquisa que já apontava esse momento favorável. Da casa de leilões Christie’s à European Fine Art Foundation, produtora de um dos mais importantes relatórios sobre o mercado de arte, o Tefaf, todos se mostravam de olho no Brasil. “Clare McAndrew, organizadora do Tefaf, acaba de me contatar. Quer ter um capítulo sobre o País no relatório de 2013”, diz Ana Leticia Fialho, autora da pesquisa. Sociedade entre empresários dos setores de arte, entretenimento e comunicações, que estão investindo R$ 9,5 milhões, a ArtRio é empreendimento em expansão. “Nosso objetivo não é crescer em números, mas em qualidade e eventos paralelos”, afirma Brenda Valansi, uma das sócias da ArtRio.