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setembro 14, 2012
Bienal em expansão por Paula Alzugaray, Isto é
Bienal em expansão
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de Artes Visuais da Revista Istoé em 6 de setembro de 2012.
Curador venezuelano Luis Pérez-Oramas organiza 2.900 obras de 111 artistas em constelações e realiza 12 exposições em uma
30ª Bienal de São Paulo/ A Iminência das Poéticas/Pavilhão da Bienal, SP/ de 7/9 a 9/12
As exposições de arte são geralmente organizadas segundo um grande conceito que norteia a escolha de todas as obras. Mas Luis Pérez-Oramas, o primeiro curador estrangeiro a coordenar a Bienal de São Paulo, propõe 12 conceitos para a 30a Bienal. A construção da imagem, a teatralidade, o objeto encontrado, o mundo ficcionalizado, a dimensão sonora da imagem, a serialidade, o olhar antropológico sobre a realidade cotidiana, o inesperado, a linguagem, o âmbito público, o arquivo, o território. Temos aí 12 temas pungentes da produção artística contemporânea, que dividem os 25 mil metros quadrados do Pavilhão da Bienal, na mostra “A Iminência das Poéticas”.
Sem apelar para grandes estrelas, a Bienal de Oramas oferece um panorama contundente da arte mundial, apresentando microexposições de cada um dos 111 artistas convidados. Segundo o curador, elas correspondem a “constelações pessoais” desses artistas. “Em Bienais anteriores tínhamos salas especiais dedicadas a artistas históricos, mostrando a diversidade de sua obra. Agora todos os artistas têm direito a salas especiais, porque afinal todos são especiais”, diz o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, à Istoé. “Sabemos que as obras não produzem sentido sozinhas, mas pertencem ao mundo e suas relações. Por isso fizemos uma bienal constelar”, afirma o curador Luis Pérez-Oramas. “Fizemos uma Bienal para a ressonância dos artistas e de suas obras. Uma Bienal inteligente, não bombástica, cheia de vínculos construídos e por construir”, completa.
Nos vínculos construídos por Oramas, a instalação “Monumento à Deriva Continental”, do artista mineiro Thiago Rocha Pitta, por exemplo, pertence ao mesmo universo conceitual dos protótipos de carros utópicos criados pelo norte-americano Dave Hullfish Bailey. Ambos são artistas que trabalham com territórios, trajetos, percursos, distâncias. Já David Moreno, que na obra “Silence” joga com a visualidade do som, interage com obras sonoras como “Imperial Distortion”, do músico e artista visual australiano Marco Fusinato, ou com os trabalhos da compositora, performer
e artista Maryanne Amacher.
Assim, as microexposições dos 111 artistas se espalham na Bienal, como universos particulares que se relacionam entre si. “Porém, a exposição não se concentra em apenas 12 constelações”, adverte Oramas, sugerindo que o conceito se expande para além do espaço expositivo. Estimulada pela proposta, a comunicação visual da mostra, comandada por André Stolarski, projetou 30 cartazes em vez de apenas um. O aplicativo para iPad e celular é outra forma de materialização constelar da mostra. Realizado em parceria com a revista “seLecT”, o app “#30Bienal seLecTed – powered by Bloomberg” vai permitir, além de uma viagem imersiva, que cada visitante crie e compartilhe com outros visitantes suas próprias constelações de obras e conceitos contidos na exposição, expandindo e multiplicando aquilo que é visto no recinto da mostra.
No contrafluxo do movimento expansionista da curadoria, a gestão de Heitor Martins apresenta números em encolhimento: este ano a Bienal foi realizada com R$ 22,4 milhões. “A Bienal está 20% mais enxuta que a edição passada. Essa redução é reflexo da busca por um modelo sustentável. A longo prazo, queremos ser um exemplo de gestão cultural”, disse o presidente da Bienal.