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setembro 10, 2012
Diante do espelho por Adriana Martins, Diario do Nordeste
Diante do espelho
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no Caderno 3 do jornal globo.com em 8 de setembro de 2012.
O espanhol Antoni Muntadas cria obras que se propõem a refletir sobre o campo da criação estética
As primeiras atividades iniciaram-se em outubro de 2011. De lá para cá, foram 10 cursos modulares de caráter teórico e uma carga horária de 200 horas/aula, que resultaram, quase um ano depois, na primeira turma formada pelo Programa de Pesquisa do Centro de Artes Visuais de Fortaleza - mantido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Vila das Artes, em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
Em seus trabalhos, Antoni Muntadas se aventura pelo terreno de intercessão entre as artes e o universo dos meios de comunicação. Recursos de vídeo e experimentos com as mídias digitais contribuem para uma obra que pensa a própria arte hoje
Para marcar a ocasião, foi concebida a exposição "Perambular, experimentar e correr perigo", que reúne pesquisas e produções dos integrantes do programa - os artistas André Quintino, Bartira Dias, David da Paz, Mariana Smith, Marina de Botas, Sabyne Cavalcanti e Simone Barreto e as pesquisadoras Ana Cecília Soares, Júlia Lopes, Lara Vasconcelos e Naiana Cabral. A abertura acontece na próxima sexta-feira, no espaço Centro Cultural Banco do Nordeste; lá, a exposição permanece aberta a visitação até 10 de outubro.
Entre os professores, artistas e pesquisadores convidados a colaborar com programa esteve o espanhol Antoni Muntadas, um dos pioneiros da arte multimídia (especialmente a partir de suportes como vídeo e internet) e autor de trabalhos emblemáticos no campo da reflexão que liga arte e comunicação.
Metodologia
Em Fortaleza, Muntadas ministrou a palestra "A metodologia do projeto" (La metodologia del proyecto), aberta ao público geral, e um minicurso exclusivo para alunos do programa do Centro de Artes Visuais para bolsistas do programa Conexões Estéticas, do curso de Cinema e Audiovisual da UFC. Em entrevista ao Caderno 3, ele falou sobre sua carreira, seu processo criativo e a relação com o Brasil.
Nascido em Barcelona, em 1942, Muntadas mudou-se para Nova York no início dos anos 1970, onde iniciou sua carreira. Antes, chegou a se dedicar brevemente à pintura, linguagem da qual se afastou gradualmente frente ao interesse pelos diferentes meios de comunicação e produção audiovisual.
Ao longo de sua atuação profissional, estabeleceu-se como referência mundial no campo da arte contemporânea, especialmente pelo fato de circular por diferentes países e pela relevância dos temas abordados em seus projetos - entre eles a comunicação e seus mecanismos de significação, tradução e recepção, os limites entre o público e o privado, a construção da opinião pública e do senso comum, o medo, a pertença e as territorialidades, as esferas de poder e a problematização da mídia.
Para tanto, Muntadas recorre a conceitos de diferentes áreas, desde a comunicação até a antropologia, a sociologia e a história. Não por acaso, até hoje o espanhol divide seu tempo entre a atuação como artista e como professor: atualmente é professor visitante do Centro para Estudos Visuais Avançados, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT, onde foi pesquisador entre 1977 e 1984.
Para compreender a natureza do trabalho de Muntadas, uma boa estratégia é conhecer alguns de seus projetos mais emblemáticos. Entre eles está, por exemplo, "Between the frames", uma série de oito vídeos que reúne características marcantes do processo de criação do artista espanhol. A começar pelo tempo de elaboração, em torno de dez anos (1983-1993).
Durante esse período Muntadas entrevistou diferentes agentes relacionados à cadeia de produção, circulação e mediação da arte - cada tipo de profissional ou instituição constitui um capítulo: marchands, colecionadores, galerias, museus, professores, críticos, mídia e, claro, artistas.
Nesse sentido, "Between the frames" constitui um amplo olhar sobre o sistema artístico dos anos 1980, ao se debruçar sobre as relações entre arte, sociedade, mídia, comércio e cultura popular, além de aspectos como representação e interpretação.
Outro projeto emblemático do artista é "The file Room", um dos mais conhecidos, criado em 1994 e até hoje em continuidade (thefileroom.org). Trata-se de um banco de dados que coleta, em escala mundial, casos de censura no campo da arte. Em exposições, tanto "Between the frames" quanto "The file room" e outros trabalhos de Antoni Muntadas materializam-se na forma de instalações.